TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS
Estudo feito através «O Livro dos Médiuns» - 2ª. parte - Cap. I à VII
obra codificada por Allan Kardec
Pesquisa: Elio Mollo
DAS MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS
As manifestações são:
· Ocultas, quando não tem nada de ostensivo (evidente) e o Espírito se limita a agir sobre o pensamento;
· Patentes, quando são apreciáveis pelos sentidos;
· Físicas, quando se traduzem por fenômenos materiais, tais como ruídos, movimentos e deslocamentos de objetos;
· Inteligentes, quando revelam um pensamento;
MANIFESTAÇÕES INTELIGENTES
Se os fenômenos de que acabamos de falar se tivessem limitado a efeitos materiais, não há dúvida de que se poderia tê-los atribuído a uma causa puramente física, à ação de algum fluido cujas propriedades nos são ainda desconhecidas. O mesmo não se pode dizer quando eles oferecem sinais incontestáveis de inteligência. Ora, se todo efeito tem uma causa, todo o efeito inteligente tem uma causa inteligente. É fácil distinguir-se em um objeto que se agita, o movimento simplesmente mecânico, do movimento intencional. Se este objeto, pelo ruído ou pelo movimento, faz um sinal, é evidente que há intervenção de uma inteligência. Como a razão nos diz que o próprio objeto material não é inteligente, concluímos que ele é movido por uma causa inteligente estranha. Tal é o caso dos fenômenos de que nos ocupamos.
Se as manifestações puramente físicas de que acabamos de falar são de natureza a nos captar o interesse, com maior razão tal se daria quando elas nos revelam a presença de uma inteligência oculta, pois que, então, não é mais simplesmente um corpo inerte que temos diante de nós, porém um ser capaz de nos compreender e com o qual podemos estabelecer uma troca de pensamentos. Concebe-se então que o método de experimentação deve ser completamente material, e que nossos processos de laboratórios são impotentes para explicar fatos que pertencem à ordem intelectual. Não se pode cogitar aqui, de análises nem de cálculos matemáticos de forças. Ora, é precisamente este o erro em que caiu a maior parte dos cientistas. Julgaram-se em presença de um desses fenômenos que a ciência reproduz à vontade e sobre o qual pode-se operar como sobre um sal ou um gás. Não que isso lhes diminua o saber e a capacidade. Mencionamos apenas que se enganaram crendo poder colocar os Espíritos em uma retorta, como o espírito do vinho. Os fenômenos espíritas, tanto quanto as questões da Teologia e Metafísica, não são da alçada das ciências exatas.
Allan Kardec no livro Instruções Práticas Sobre as Manifestações Espíritas
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· Espontâneas, quando são independentes da vontade e ocorrem sem que nenhum Espírito seja chamado;
· Provocadas, quando são efeito da vontade, do desejo ou de uma evocação determinada;
· Aparentes, quando o Espírito se faz visível à vista.
Os Espíritos agem sobre os homens de maneira oculta, pelos pensamentos que lhes sugerem, e por certas influências; de maneira patente, por efeitos apreciáveis aos sentidos.
A maior parte dos fenômenos espíritas, principalmente os que pertencem ao gênero das manifestações físicas e aparentes, podem produzir-se espontaneamente, isto é, sem que a vontade tenha alguma parte nisso, ou melhor, não há a intervenção da vontade das pessoas envolvidas.
Esses fenômenos, cuja manifestação se poderia considerar como de prática espírita natural, são muito importantes porque excluem as suspeitas de conivência, ou seja, de cumplicidade.
As manifestações espontâneas tem lugar repentinamente e de improviso. Produzem-se, muitas vezes, com as pessoas mais estranhas às idéias espíritas e que, por isso mesmo, não podendo toma conhecimento do que se trata, atribuem-nas a causas sobrenaturais. As que são provocadas verificam-se por meio de certas pessoas dotadas, para esse efeito, de faculdades especiais, e que se designam pelo nome de médiuns.
Entre os médiuns de influência física distinguem-se os:
· Médiuns naturais, que são aqueles que produzem fenômenos espontaneamente e sem nenhuma participação de sua vontade;
· Médiuns facultativos, aqueles que tem o poder de provocá-los por ato da vontade.
Os Espíritos podem manifestar-se de maneiras bastante variadas: pela visão, pela audição, pelo tato, pelos ruídos, pelo movimento de corpos, a escrita, o desenho, a música, etc.
Os Espíritos se manifestam às vezes espontaneamente por ruídos e batidas. Esse é muitas vezes o meio de atestarem sua presença e chamarem sobre eles a atenção, exatamente como quando uma pessoa bate para avisar que há alguém. Existem alguns que não se limitam a ruídos moderados, mas que chegam até a fazer um estrépito semelhante ao da louça que se quebra, de portas que se abrem e fecham ou de móveis que se movem e se derrubam; alguns chegam mesmo a causar perturbação real e verdadeiros prejuízos.
Local destas manifestações
As manifestações espontâneas se produzem muito raramente em locais isolados. É quase sempre em casas habitadas que elas se dão e motivadas pela presença de certas pessoas que exercem uma especial influência sem o perceberem. Essas pessoas, embora não o saibam e, por essa razão denominá-las-emos médiuns naturais.
Bom senso
As pessoas que se ocupam com esta espécie de fenômenos espíritas devem recolher todos os fatos que lhes vierem ao conhecimento, mas, sobretudo, a lhes verificarem, cuidadosamente, a realidade, para evitar tornarem-se vítimas da ilusão ou do embuste, o que só se pode alcançar por uma observação consciente.
Precauções
Devemos nos precaver não somente contra narrações que podem estar repletas de exageros, mas também contra as nossas próprias impressões, e não atribuirmos a uma origem oculta tudo quanto não compreendemos, pois, existe uma infinidade de causas muito simples e muito naturais que podem produzir efeitos estranhos à primeira vista, e seria uma verdadeira superstição ver por toda parte Espíritos ocupados em derrubar móveis, quebrar louças, suscitar, enfim, mil e uma perturbações domésticas que, mais racionalmente, devem ser levadas à conta do desmazelo.
Pesquisando o fenômeno
O que se deve fazer em tal caso, é procurar a causa, e pode-se apostar cem contra um, que se descobrirá uma bem simples onde se julgava estar às voltas com um Espírito perturbador.
Quando se produz o fenômeno inexplicado, o primeiro pensamento que devemos ter é que ele pode ser devido a uma causa material, pois que uma verdadeira multidão de causas naturais podem produzi-las, ou seja, o vento que assobia ou agita um objeto, um corpo que nós mesmos movemos, sem o perceber, um objeto que nos mesmos movemos sem o perceber, um efeito acústico, um animal oculto, um inseto, etc.
Aquele que por exemplo, sem que ninguém se lhe aproxime, recebe uma bofetada ou bengaladas nas costas, como é evidente, não pode duvidar da presença de um ser invisível.
Mas, de todas as manifestações espíritas, as mais freqüentes e as mais simples são as pancadas e os ruídos. E é aqui, sobretudo que se deve ter cuidado com a ilusão, pois, como já falamos, muitas coisas materiais ou naturais podem produzi-las.
Identificando o fenômeno
Os ruídos espíritas tem, um caráter particular, tomando embora um timbre e uma intensidade muito variadas, que se tornam facilmente reconhecíveis e não permite confundi-los com o estalo da madeira que se movimenta, o crepitar do fogo ou o tique-taque monótono de um relógio de parede. São pancadas deliberadamente desferidas, ora surdas, fracas e ligeiras, ora claras, distintas, algumas vezes ruidosas, que mudam de lugar e se repetem sem ter uma regularidade mecânica. De todos os meios de controle , o mais eficaz, o que não pode deixar dúvida sobre a origem das manifestações, é a sua obediência ao comando do experimentador. Se as pancadas se fazem ouvir no local designado; se elas respondem ao pensamento através de seqüências estabelecidas ou por sua intensidade, não se pode negar-lhes uma causa inteligente. Entretanto, a não obediência não é sempre uma prova em contrário.
Essas manifestações adquirem em certas circunstâncias, é preciso convir, proporções e persistências desagradáveis, despertando o desejo, muito natural, de nos livrarmos delas.
Utilidade dessas manifestações
As manifestações físicas tem por fim despertar nossa atenção e convencer-nos da presença de um poder superior ao do homem. Como já sabemos os Espíritos elevados não se ocupam com esta espécie de manifestações. Eles se servem dos Espíritos inferiores, da mesma forma de como nos servimos de serviçais para os trabalhos mais pesados, e isto com a finalidade de despertar nossa atenção para alguma coisa útil. Uma vez atingido esse fim, cessa a manifestação material, já que não é mais necessária.
Os Espíritos que se manifestam assim, podem, igualmente atuar por sua própria conta. São, muitas vezes, Espíritos sofredores que pedem assistência moral. Quando podem traduzir seu pensamento de um modo inteligível, pedem assistência da maneira que lhes era familiar em vida, ou que está nas idéias e nos hábitos daqueles a quem eles se dirigem, pois pouco importa essa forma, contando que a intenção parta do coração.
Cessando com as manifestações importunas
O meio de fazer cessar essas manifestações indesejáveis é procurar entrar em comunicação inteligente com o Espírito que vem nos perturbar, a fim de saber que é ele e o que quer. Satisfeito seu desejo ele nos deixa em paz. É como alguém que bate em uma porta até que lha tenham aberto. Mas que fazer, dirão, se não se dispõe de um médium?
Normalmente podemos orar por ele, enquanto procuramos um Centro Espírita idôneo, para relatar o caso, e fazer com que o Espírito perturbador possa ser esclarecido.
Sempre devemos procurar os meios racionais para estabelecer uma comunicação, devendo-se evitar meios mágicos ou exorcismos para fazer cessar essas manifestações, pois, pode acontecer de que ao invés de cessar essas manifestações, ao contrário, podem aumentar as perturbações.
Os Fenômenos de Transporte
O fenômeno de transporte é o movimento de pessoas e de coisas orgânicas e inorgânicas de um lugar para outro.
No que consiste fenômeno de transporte
Este fenômeno consiste no transporte espontâneo de objetos que não existem no lugar da reunião. Trata-se geralmente de flores, algumas vezes frutos, de confeitos, de jóias, etc. Este fenômeno só difere dos que tratamentos anteriormente pela intenção benévola do Espírito que o produz, pela natureza dos objetos quase sempre graciosos e pela maneira suave e quase delicada por que são transportados.
Precauções
Digamos que esse fenômeno é dos que mais se prestam à imitação e portanto é necessário estar prevenido contra o embuste. Sabe-se até onde pode chegar a arte da prestidigitação, ou melhor, ilusionismo, ante experiências desse gênero. Mesmo, porém, que não tenhamos de enfrentar um profissional, poderíamos ser facilmente enganados por uma manobra hábil e interessada. A melhor de todas as garantias é o caráter, a honestidade notória, o desinteresse absoluto da pessoa que obtém esses efeitos. Em segundo lugar, no exame atento de todas as circunstâncias em que os fatos se produzem. Por fim, no conhecimento esclarecido do Espiritismo, único meio de se descobrir o que houvesse de suspeito.
Obtenção dos fenômenos de transporte
Para obter fenômenos desta ordem, é indispensável dispor de médiuns que podemos chamar de sensitivos, ou seja, dotados do mais alto grau de faculdades medianímicas de expansão e de penetrabilidade. Porque o sistema nervoso desses médiuns, facilmente excitável, por meio de certas vibrações, projeta profusamente ao seu redor o fluido animalizado.
Um sujeito dessa natureza, e cuja demais faculdades não sejam hostis à mediunização, mais facilmente se obterão os fenômenos de tangibilidade, os golpes nas paredes e nos móveis, os movimentos inteligentes, e até mesmo a suspensão no espaço da mais pesada matéria inerte. Com maior razão, os mesmos resultados serão obtidos se, em vez de um médium, se dispuser de numerosos e igualmente bem dotados.
Para obtenção dos fenômenos de transporte há todo uma imensidade de coisas. Porque, neste caso não só o trabalho do Espírito é mais complexo, mais difícil, como ainda o Espírito só pode operar com um único aparelho medianímico. Isso quer dizer que muitos médiuns não podem contribuir simultaneamente para a produção do mesmo fenômeno. Acontece mesmo, ao contrário que a presença de certas pessoas antipáticas ao Espírito operador faz parar radicalmente, ou melhor impede a sua ação. São importantes conhecer esses motivos, porque para que aconteçam esses fenômenos de transporte, exigem sempre das pessoas maior concentração, e ao mesmo tempo maior difusão dos fluidos que só podem ser obtidos com médiuns muito bem dotados , médiuns numa palavra, cujo aparelho eletromedianímico esteja em condição apropriada.
Afinidade entre o médium e o Espírito
Em geral, os fenômenos de transporte são e continuarão a ser excessivamente raros. Esses fenômenos são de tal natureza que além de nem todos os médiuns servirem para produzi-los, nem todos os Espíritos podem realizá-los. É necessário que exista entre o Espírito e o médium uma certa afinidade, uma certa semelhança que permita à parte expansível do fluido perispirítico do encarnado misturar-se, unir-se, combinar-se com o do Espírito que deseja fazer o transporte. Essa fusão deve ser de tal maneira que a força resultante se torne por assim dizer una: da mesma maneira que uma corrente elétrica, agindo sobre o carvão, produz um foco, uma claridade única. Porque essa união, essa fusão? É que, para a produção desses fenômenos, é necessário que as propriedades essenciais do Espírito agente sejam aumentadas com algumas das propriedades do mediunizado. Porque o fluido vital, apanágio exclusivo do encarnado, deve obrigatoriamente impregnar o Espírito agente. Só então ele pode, por meio de algumas propriedades do vosso ambiente, desconhecidas para vós, isolar, tornar invisíveis e movimentar alguns objetos materiais e mesmo encarnados.
Como e onde se produzem esses fenômenos
Esses fenômenos de transporte quase sempre se produzem espontaneamente nas reuniões particulares, no mais das vezes à revelia dos médiuns e sem que se espere, dando-se muito raramente quando aqueles estão prevenidos. Assim, devemos concluir que há motivo legítimo de suspeita todas as vezes que um médium se vangloria de obtê-los à vontade ou de dar ordens aos Espíritos como se fossem empregados, o que é simplesmente absurdo.
Advertência de Erasto (discípulo de São Paulo)
Os fenômenos espíritas não servem para espetáculos e para divertir curiosos. Se alguns Espíritos se prestam a isso, só pode ser através da produção de fenômenos simples e não dos que, como transporte, exigem condições excepcionais.
É absurdo repelir sistematicamente todos os fenômenos de além túmulo, também não é prudente aceitá-los a todos de olhos fechados. Quando um fenômeno de tangibilidade, de aparição, de transporte se verifica espontaneamente e de improviso, pode-se acreditar. Mas nunca será demasiado repetir; não se deve aceitar nada cegamente sem antes fazer um exame minucioso, aprofundado e severo.
Observações
Esse fenômeno apresenta uma particularidade bem característica: a de que alguns médiuns só a obtém em estado sonambúlico, o que facilmente se explica. O sonâmbulo apresenta um desprendimento natural, uma espécie de isolamento do Espírito e seu perispírito em relação ao corpo, que deve facilitar a combinação dos fluidos necessários.
Ver o «O Livro dos Médiuns» item 96 e seguintes.
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MANIFESTAÇÕES VISUAIS
· APARIÇÃO (do latim apparitionem). Ato do aparecimento de um Espírito, encarnado ou desencarnado; se encarnado, poderá ser em estado de vigília ou em sonho; se desencarnado, em sonho ou em estado de materialização.
A APARIÇÃO, sobretudo nas obras de Kardec, é sempre tomada como equivalente de materialização. Kardec ora fala simplesmente em aparição, ora em aparição vaporosa.
Há certa confusão entre aparição e visão. Quem tem um Espírito pela frente — tem uma aparição ou uma visão?
Parece-nos mais prudente, como aliás o fazia Kardec, dar a aparição o significado de Espírito materializado e a visão o de Espírito que, através da mediunidade de vidência, se mostra apenas.
É termo empregado, pelos Espíritos codificadores, que, no sentido de Espírito “acidentalmente visível e até tangível”, fizeram uso dele em O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
João Teixeira de Almeida em seu Dicionário Enciclopédico Ilustrado de Espiritismo, Metapsíquica e Parapsicologia
Editora Bels S/A - 3a edição - 1976
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· APARIÇÃO, fenômeno pelo qual os seres do mundo incorpóreo se manifestam à vista.
Aparição vaporosa ou etérea: a que é impalpável e inatingível, e não oferece nenhuma resistência ao toque.
Aparição tangível ou estereológica: a que é palpável e apresenta a consistência de um corpo sólido.
A aparição difere da visão por ocorrer em estado de vigília, através dos órgãos visuais e enquanto o homem tem plena consciência de suas relações com o mundo exterior. A visão dá-se no estado de sono ou de êxtase. Ocorre igualmente no estado de vigília, por efeito da segunda-vista. A aparição é registrada pelos olhos do corpo; produz-se no próprio lugar em que nos encontramos; a visão tem por objeto coisas ausentes ou distantes, percebidas pela alma em seu estado de emancipação, e quando as faculdades sensitivas estão mais ou menos suspensas.
Allan Kardec no livro Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas
De todas as manifestações espíritas, as mais interessantes são sem dúvida aquelas pelas quais os Espíritos podem se tornar visíveis. Essas manifestações como veremos a seguir nada tem de sobrenatural.
Ensaio teórico sobre as aparições
Os Espíritos podem se tornar visíveis, sobretudo durante o sono. Entretanto, certas pessoas o vêem em estado de vigília, mas isso é mais raro.
Os Espíritos que se manifestam pela visão não pertencem a uma determinada categoria; podem pertencer a todas as categorias, das mais elevadas às mais inferiores.
Todos os Espíritos podem se manifestarem visivelmente, mas nem sempre tem a permissão nem o desejo de fazê-lo.
A intenção dos Espíritos se manifestarem visivelmente depende de sua natureza, o intuito pode ser bom ou mau.
Quando a intenção é má, pode ser permitido para por à prova aqueles que os vêem. A intenção do Espírito é má, mas o resultado pode ser bom.
Já o objetivo dos Espíritos que aparecem com boa intenção e para consolar os que lamentam a sua partida; provar-lhe que continuam a existir e estão perto deles; dar conselhos e algumas vezes pedir assistência para si mesmos.
Aquele que vê um Espírito pode conversar com ele, aliás, é justamente o que se deve fazer, perguntando quem é o Espírito, o que deseja e o que se pode fazer por ele. Se o Espírito for infeliz e sofredor, o testemunho de comiseração o aliviara. Se for um Espírito benévolo, pode acontecer que tenha a intenção de dar bons conselhos.
Particularidade
Uma particularidade a notar é que, exceto em circunstâncias especiais, as partes menos precisas da aparição são os membros inferiores, enquanto a cabeça, o tronco, os braços e as mãos aparecem nitidamente. Assim, não os vemos quase nunca andar, mas deslizar como sombras. Quanto as vestes, ordinariamente se constituem de um planejamento que termina em longas pregas flutuantes. São essas, em resumo, acrescentadas por uma cabeleira ondulante e graciosa, as características da aparência dos Espíritos que nada conservam da vida terrena. Mas os Espíritos comuns, das pessoas que conhecemos, vestem-se geralmente como faziam nos últimos dias de sua existência.
Muitas vezes se apresentam com símbolos de sua elevação, com auréola ou asas, pelo que são considerados anjos. Outros carregam instrumentos que lembram suas atividades terrenas: assim um guerreiro pode aparecer com uma armadura, um sábio com seus livros, um assassino com sua arma, e assim por diante. Os Espíritos superiores apresentam uma figura bela, nobre e serena. Os mais inferiores tem algo de feroz e bestial, e algumas vezes ainda trazem os vestígios dos crimes que cometeram ou dos suplícios que sofreram. O problema das vestes e dos objetos acessórios é talvez o mais intrigante. Voltaremos a tratar disso num capítulo especial, porque ele se liga a outras questões muito importantes.
A visão e a influenciação
A aparição tem algo de vaporoso. Em alguns casos pode-se compará-la à imagem refletida num espelho sem ação, que apesar de nítida deixa ver através dela os objetos detrás. É geralmente assim que os médiuns videntes as distinguem. Eles as vêem ir e vir, entrar num apartamento ou sair, circular por entre a multidão com ares de quem participa, ao menos os Espíritos vulgares, de tudo o que se faz ao seu redor, de se interessarem por tudo e ouvirem o que se diz. Muitas vezes se aproximam duma pessoa para lhe assoprar idéias, influenciá-la positivamente, quando são Espíritos bons, e zombar dela, quando são maus, mostrando-se tristes ou contentes com o que obtiveram. São, em uma palavra, a contraparte do mundo corporal.
As aparições tangíveis
O Espírito que deseja, e tem permissão de aparecer, reveste algumas vezes uma forma mais nítida, com todas as aparências de um corpo sólido, a ponto de dar uma ilusão perfeita e fazer crer que se trata de um ser corpóreo. Em alguns casos, e dentro de certas circunstâncias, a tangibilidade pode tornar-se real, o que quer dizer que podemos tocar, palpar, sentir a resistência e o calor de um corpo vivo, o que não impede a aparição de se esvanecer com a rapidez de um relâmpago. Nesses casos, não é só pelos olhos que se verifica a presença do Espírito, mas também pelo tato.
As aparições tangíveis são raras, porém existem muitos casos autênticos presenciados por testemunhos irrecusáveis.
O perispírito e a manifestação visual
O perispírito, por sua própria natureza, é invisível no estado normal. Isso é comum a uma infinidade de fluidos que sabemos existirem e que jamais vimos. Mas ele pode também, à semelhança de certos fluido, passar por modificações que o tornem visível, seja por uma espécie de condensação ou por uma mudança em suas disposições moleculares, e é então que nos aparece de maneira vaporosa. A condensação pode chegar ao ponto de dar ao perispírito as propriedades de um corpo sólido e tangível, mas que pode instantaneamente voltar ao seu estado etéreo e invisível. (É necessário não tomar ao pé da letra a palavra condensação, pois só a empregamos por falta de outra e como simples recurso de comparação.) Podemos entender esse processo ao compará-lo ao do vapor, que pode passar da invisibilidade a um estado nebuloso, depois ao líquido, a seguir ao sólido e vice-versa.
Esses diversos estados do perispírito, entretanto, resultam da vontade do Espírito e não das causas físicas exteriores, como acontece com os gases. O Espírito nos aparece quando deu ao seu perispírito a condição necessária para se tornar visível. Mas a simples vontade não basta para produzir esse efeito, porque a modificação do perispírito se verifica mediante a sua combinação com o fluido específico do médium. Essa combinação nem sempre é possível, e isso explica por que a visibilidade dos Espíritos não é comum.
Não é suficiente que o Espírito queira aparecer, nem apenas que uma pessoa o queira ver. É necessário que os fluidos de ambos possam combinar-se, para o que tem de haver entre eles uma espécie de afinidade. É necessário ainda que a emissão de fluido da pessoa seja abundante para operar a transformação do perispírito, e provavelmente há outras condições que desconhecemos. Por fim, é preciso que o Espírito tenha a permissão de aparecer para aquela pessoa, o que nem sempre lhe é concedido, ou pelo menos não o é em certas circunstâncias, por motivos que não podemos apreciar.
Outra propriedade do perispírito é a penetrabilidade, inerente à sua natureza etérea. Nenhuma espécie de matéria lhe serve de obstáculo: ele atravessa a todas, como a luz atravessa os corpos transparentes. Não há pois, meios de impedir a entrada dos Espíritos, que vão visitar o prisioneiro em sua cela com a mesma facilidade com que visitam um homem no meio do campo.
O perispírito é o princípio de todas as manifestações. Conhecê-lo, é importante entender os numerosos fenômenos, permitindo um grande avanço à Ciência Espírita e fazendo-a entrar num novo caminho, ao tirar-lhe qualquer vestígio de maravilhoso. No perispírito é que se encontra a explicação da possibilidade de ação do Espírito sobre a matéria, da movimentação dos corpos inertes, dos ruídos e das aparições. Nele encontramos a explicação de muitos fenômenos ainda por examinar, antes de passar ao estudo das comunicações propriamente ditas. Tanto melhor as compreendermos, quanto mais nos inteiramos de suas causas fundamentais. Se bem compreendemos esse princípio, facilmente poderemos aplicá-lo aos diversos fatos que se apresentarem à observação.
Alucinação
Alucinação é o mesmo que erro ou engano.
Aparente percepção de objetos externos, não presentes no momento; ilusão; devaneio. Os fenômenos espíritas, que provém da emancipação da alma, provam que o que se qualifica de alucinação é, muitas vezes, uma percepção real semelhante à da dupla-vista, do sonambulismo ou êxtase, provocada por um estado anormal, um efeito das faculdades da alma desprendida dos laços corpóreos. Sem dúvida ocorre, em certas circunstâncias, uma verdadeira alucinação no sentido correlato ao termo. Mas a ignorância e a pouca atenção que se tem dado, até o presente, a essas espécies de fenômenos, fizeram considerar como ilusão o que é, freqüentemente, uma visão real. Quando não se sabe explicar um fato psicológico, acha-se mais simples classificá-lo de alucinação.
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