domingo, 25 de março de 2012

A NECESSIDADE DO TRABALHO


A NECESSIDADE DO TRABALHO
Estudo com base no livro terceiro, caps. III do O Livro dos Espíritos (Allan Kardec)

Pesquisa: ClaudiaC e Elio Mollo


O trabalho é uma lei da Natureza e por isso mesmo é uma necessidade. A civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque aumenta as suas necessidades e satisfações. (1) Porém não se deve entender por trabalho somente as ocupações materiais, pois o Espírito também trabalha como o corpo. Toda ocupação útil é trabalho. (2)

O trabalho é uma conseqüência da natureza corpórea do homem. A vida corpórea é necessária ao Espírito, para que possa cumprir no mundo material as funções que lhe são designadas pela Providência: é uma das engrenagens da harmonia universal. A atividade, através do trabalho, lhe surge naturalmente, sem o suspeitar, e na função apropriada. Acreditando agir por si mesmo, desenvolve sua inteligência e facilita o seu adiantamento. (3)

O trabalho pode ser uma prova ou uma expiação, e ao mesmo tempo um meio de aperfeiçoar a sua inteligência. Sem o trabalho, o homem permaneceria na infância intelectual. O homem busca a sua alimentação, a sua segurança e o seu bem-estar pelo seu trabalho e à sua atividade. (4)

Tudo trabalha na Natureza, até os animais, se bem que o trabalho dos animais, assim como a inteligência, é limitado aos cuidados da conservação. Por isso, entre eles, o trabalho não conduz a um progresso semelhante ao do homem. No homem o trabalho tem duplo objetivo: a conservação do corpo e ao desenvolvimento do pensamento, cuja necessidade, o eleva acima de si mesmo. (5)

Quando se diz que o trabalho dos animais é limitado aos cuidados de sua conservação, refere-se ao fim a que eles se propõem, laborando, mesmo sem terem noção, eles se entregam inteiramente a prover as suas necessidades materiais e ao mesmo tempo, se tornam agentes que colaboram com os desígnios do Criador. Portanto, o trabalho dos animais concorre com o objetivo final da Natureza, embora muitas vezes não se possa observar o seu resultado imediato. (5)

A natureza do trabalho é relativa à natureza das necessidades; quanto menos necessidades materiais, menos material será o trabalho. Mas não se deve julgar, por isso, que o homem permanecerá inativo e inútil, pois a ociosidade lhe seria um suplício, ao invés de um benefício. (6)

Ninguém esta livre do trabalho, talvez aquele que possui bens suficientes esteja fora do labor material, mas não da obrigação de se tornar útil na proporção dos seus meios e de aperfeiçoar a sua inteligência ou a dos outros, o que também é um trabalho. Se o homem a quem Deus concedeu bens suficientes para assegurar sua subsistência não está obrigado a comer o pão com o suor da fronte, a obrigação de ser útil a seus semelhantes é tanto maior para ele, quanto a parte que lhe coube por adiantamento lhe der maior lazer para fazer o bem.  (7)

Diz Kardec na Revista Espírita de julho de 1862: Considerando as coisas deste mundo do ponto de vista extra-corpóreo, o homem, longe de ser excitado pela negligência e pela ociosidade, compreende melhor a necessidade do trabalho. Falando do ponto de vista terrestre, esta necessidade é uma injustiça, aos seus olhos, quando se compara com aqueles que podem viver sem fazer nada: tem-lhes ciúme, os inveja. Falando do ponto de vista espiritual, esta necessidade tem sua razão de ser, sua utilidade, e a aceita sem murmurar, porque compreende que, sem trabalho, ficaria indefinidamente na inferioridade e privado da felicidade suprema a que aspira, e que não saberia esperar se não se desenvolve intelectualmente e moralmente. (8)

A lei natural prevê direitos e deveres, assim, a solidariedade é sempre necessária. Os homens devem trabalhar em prol de seu conjunto de relação. Faz parte do progresso geral. Eis porque Deus fez do amor filial e do amor paterno um sentimento natural, a fim de que, por essa afeição recíproca, os membros de uma mesma família sejam levados a se auxiliarem mutuamente. (9)

Porém, não basta dizer ao homem que ele deve trabalhar, é necessário que ele encontre uma ocupação, e isso nem sempre acontece. Então, quando a falta de trabalho se generaliza, toma as proporções de um flagelo e surge a miséria. A humanidade procura uma solução para que haja equilíbrio entre a produção e o consumo, mas esse equilíbrio, supondo-se que seja possível, sempre terá intermitências e durante essas fases o trabalhador tem necessidade de viver. Mas, há um elemento que é importante analisar, e sem o qual a ciência econômica não passa de teoria: é a educação moral, pois é nela que consiste a arte de formar os caracteres, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos.

Quando se analisa sobre a massa de indivíduos que diariamente são lançados no meio da população, sem regras, sem educação, entregue aos próprios instintos, pode-se prever as conseqüências desastrosas desse fato. Contudo, quando essa arte for conhecida, compreendida e praticada, o homem poderá melhorar os hábitos de ordem e previdência para si mesmo e para os seus, com respeito. E estes novos costumes lhe permitirão atravessar os inevitáveis maus dias de maneira menos dolorosa.

A desordem e a imprevidência são duas chagas que somente uma educação bem compreendida pode curar. Nisso está o ponto de partida, o elemento real do bem-estar, a garantia da segurança de todos. (10)

Se o homem necessita passar por situações que lhe oferecem o aprendizado moral, ou seja, da boa conduta, pela experiência precisa aprender o que é o bem e o mal. O trabalho como é sempre uma atividade coletiva, fornece ao espírito as provas essenciais para este aprendizado.

NOTAS:  (1) Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, questão: 674.
  (2)  __________, O Livro dos Espíritos, questão: 675.
  (3)  __________, Revista Espírita, O Ponto de vista, julho de 1862.
  (4)  __________, O Livro dos Espíritos, questão: 676.
  (5)  __________, O Livro dos Espíritos, questão: 677.
  (6)  __________, O Livro dos Espíritos, questão: 678.
  (7)  __________, O Livro dos Espíritos, questão: 679.
  (8)  __________, Revista Espírita, O Ponto de vista, julho de 1862.
  (9)  __________, O Livro dos Espíritos, questão: 681.
(10) Ver nota de Allan Kardec após a resposta à questão 685 de O Livro dos Espíritos.

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