Influência dos Espíritos sobre os acontecimentos da vida
Texto com base no cap. IX, qq. 525 à 535 e notas do codificador in O LIVRO DOS ESPÍRITOS
Obra codificada por Allan Kardec
Obra codificada por Allan Kardec
Pesquisa: Elio Mollo
Os Espíritos exercem influência sobre os acontecimentos da vida, uma vez que nos aconselham. Normalmente, eles exercem essa influência pelo pensamento que nos sugerem. Têm também uma ação direta sobre a realização das coisas, mas nunca agem fora das leis da natureza.
Imaginamos erroneamente que a ação dos Espíritos deva manifestar-se somente por fenômenos extraordinários. Desejaríamos que nos viessem ajudar por milagres e nós os representamos sempre armados de uma varinha mágica. Mas não é assim; e porque sua intervenção nos é oculta, o que fazemos, embora com a sua cooperação, nos parece muito natural. Assim, por exemplo, provocarão a reunião de duas pessoas que parecerão se reencontrar por acaso; inspirarão a alguém o pensamento de passar por determinado lugar; chamarão sua atenção sobre certo ponto, com vistas a determinado resultado, de tal modo que o homem, acreditando seguir somente um impulso próprio, conserve sempre seu livre-arbítrio.
É certo que os Espíritos têm uma ação sobre a matéria, mas para o cumprimento das leis naturais, e não para anulá-las. Fazer surgir num certo momento um acontecimento inesperado seria contrário a essas leis. Por exemplo, uma escada se quebra porque estava gasta e fraca ou não era suficientemente forte para suportar o peso do homem. Se por expiação um homem tivesse que morrer através desse tipo de acidente, os Espíritos lhe inspirariam o pensamento de subir nessa escada, que, por ser velha, se quebraria com seu peso, e sua morte teria lugar por efeito natural, sem que fosse necessário fazer um milagre, isto é, anulando uma lei natural de fazer quebrar uma escada boa e forte.
Tomemos um outro exemplo em que o estado natural da matéria não seja importante. Um homem deve morrer fulminado por um raio; ele se refugia sob uma árvore, o raio brilha, explode e o mata. É ainda a mesma coisa. O raio atingiu a árvore nesse momento porque estava nas leis da natureza que fosse assim; não foi dirigido para a árvore porque o homem estava debaixo dela. Ao homem, sim, foi lhe inspirado o pensamento de se refugiar debaixo da árvore em que o raio deveria cair, porém a árvore seria atingida, estivesse o homem debaixo dela ou não.
Ainda um outro exemplo: Um homem mal-intencionado dispara uma arma contra outro, a bala passa de raspão e não o atinge. Um Espírito benevolente pode tê-la desviado? Ora, se o indivíduo não deve ser atingido, o Espírito benevolente lhe inspirará o pensamento de se desviar ou poderá dificultar a pontaria do seu inimigo de modo a fazê-lo enxergar mal. Mas a bala, uma vez disparada, segue a direção que deve percorrer.
Os contos sobre os projéteis de algumas armas encantadas que atingem fatalmente um alvo são pura imaginação; o homem adora o maravilhoso e não se contenta com as maravilhas da Natureza.
Mesmo que os Espíritos que dirigem os acontecimentos da vida possam ser contrariados por outros espíritos que desejam o contrário não há neles nenhuma autoridade para isso, pois o que Deus quer deve acontecer; se há um atraso ou um impedimento, é por Sua vontade.
Os Espíritos levianos e zombeteiros podem desejar criar pequenos embaraços para atrapalhar nossos projetos e confundir nossas previsões, pois eles se satisfazem em causar aborrecimentos - que são provas para exercitar nossa paciência, mas se cansam quando não conseguem nada. Entretanto, não seria justo nem exato acusá-los de todas as nossas decepções, de que somos os primeiros responsáveis, pela nossa leviandade. Portanto, se a nossa baixela de louça se quebra, é antes pela nossa falta de cuidado do que por culpa dos Espíritos.
Os Espíritos que provocam essas inquietações podem agir por conseqüência de uma animosidade pessoal ou podem investir no primeiro que lhes estiver à frente, sem nenhum motivo determinado, unicamente por brincadeira ou malícia. Em ambos os casos, algumas vezes, podem ser inimigos que fizemos durante essa vida ou mesmo em uma outra, e que por isso nos perseguem; mas, outras vezes, não há motivos, a não ser para se divertirem.
As maldades dos que nos prejudicaram na Terra muitas vezes podem se extinguir com a morte, por reconhecerem sua injustiça e o mal que fizeram. No entanto, continuam a nos perseguir com persistência, se estiver nos desígnios da Providência, para continuar a nos provar. Mas pode-se pôr um fim a isso se orarmos por eles e retribuirmos o mal com o bem, pois acabarão por compreender seus erros. Além disso, se nos colocarmos acima de suas maquinações, eles cessarão, vendo que nada ganham com isso.
A experiência demonstra que alguns Espíritos prosseguem sua vingança de uma existência a outra, e que assim expiam, cedo ou tarde, os males que se pode ter feito a alguém.
Os Espíritos não têm o poder de afastar inteiramente os males sobre nossas vidas e de nos atrair prosperidade, pois há males que estão nos desígnios da Providência, contudo podem amenizar nossas dores ao nos oferecer a paciência e a resignação.
Devemos prestar atenção porque depende muitas vezes de nós afastar esses males ou pelo menos atenuá-los. Deus nos deu a inteligência para nos servirmos dela, e é principalmente por meio dela que os Espíritos vêm nos ajudar ao sugerir pensamentos benéficos; mas estes apenas assistem àqueles que sabem ajudar-se a si mesmos. É o sentido destas palavras: “Procurai e encontrareis, batei e se vos abrirá”.
Ainda: o que nos parece um mal nem sempre o é. Freqüentemente, do mal que nos aflige sairá um bem muito maior. É o que não compreendemos, enquanto pensarmos somente no momento presente ou em nós mesmos.
Os Espíritos podem nos fazer obter a riqueza, se para isso forem solicitados, mas algumas vezes isto ocorre como prova, pois, freqüentemente, recusam, como se recusa a uma criança a satisfação de um pedido absurdo. E os que atendem esses pedidos podem ser os bons ou os maus, dependendo da intenção. Geralmente são Espíritos que querem nos conduzir ao mal e que encontram um meio fácil de consegui-lo oferecendo-nos os prazeres que a riqueza proporciona, já que sabem das dificuldades de administrar essas posses.
Quando sentimos obstáculos fatais em oposição aos nossos projetos, algumas vezes pode ser influência de um Espírito, contudo, na maioria das vezes, é que escolhemos mal a elaboração e execução do projeto. A posição e o caráter influem muito. Ora, se insistimos num caminho que não é o nosso, não é devido aos Espíritos: é que na verdade somos nosso próprio mau gênio.
Quando alguma coisa feliz nos acontece, devemos agradecer a Deus, sem cuja permissão nada se faz; depois, aos bons Espíritos, que são seus agentes. Se não agradecermos, seremos ingratos.
Há, também, pessoas que não oram nem agradecem e para as quais tudo dá certo, mas é preciso ver o final, pois pagarão bem caro essa felicidade passageira que não merecem, já que, quanto mais tiverem recebido, mais contas deverão prestar.
Colaborou no desenvolvimento ortográfico deste texto Maria Luiza Palhas
12 out 2006
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário