segunda-feira, 25 de junho de 2012

ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS


ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS
Estudo com base in O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Livro II, Cap. II, FINALIDADE DA ENCARNAÇÃO.
Pesquisa: ClaudiaC e Elio Mollo


Os Espíritos são criados simples e ignorantes e se instruem através das lutas e adversidades da vida corporal. Em sua origem, o Espírito possui apenas consciência de si mesmos e de seus atos agindo de forma instintiva. Sua inteligência se desenvolve lentamente e passo a passo. (1) Por isso, a encarnação é uma necessidade do Espírito, onde a cada nova existência, ele avança em seu progresso.

A vida do espírito é constituída de uma seqüência de existências corporais, sendo cada uma delas uma valiosa oportunidade de progresso, da mesma forma que cada existência se compõe de uma seqüência de dias, onde o homem adquire mais experiência e instrução. Pela Lei de Conservação o espírito encarnado tem a obrigação de prover a nutrição do corpo, a sua segurança e o seu bem-estar, obrigando ele a aplicar suas faculdades em investigações, a exercê-las e a desenvolvê-las. (2)

Desta forma a finalidade da encarnação dos Espíritos é trabalhar para a conquista da perfeição. Para uns pode ser uma expiação e para outros uma missão. Para chegar a essa perfeição, os Espíritos devem passar por todas as vicissitudes da existência corpórea: nisto é que está a expiação. Mas encarnação não é, pois, em absoluto, uma expiação para o Espírito, como qualquer um possa pensar, mas uma condição inerente à inferioridade do Espírito e um meio de progredir (3). A encarnação tem ainda outra finalidade, que é a de por o Espírito em condições de enfrentar a sua parte na obra da criação. É para executá-la que ele toma um aparelho em cada mundo, em harmonia com a sua matéria essencial, a fim de nele cumprir, daquele ponto de vista, os propósitos de Deus. Dessa maneira, concorrendo para a obra geral, também progride. (4)

A encarnação é necessária ao duplo progresso do Espírito: moral e intelectual. Ao progresso intelectual pela atividade obrigatória do trabalho e ao progresso moral pela necessidade recíproca dos homens entre si. Como não consegue progredir sozinho, pois não possui todas as faculdades, busca a sociedade por instinto a fim de participar com o progresso, não só individual, como o coletivo. Portanto, a vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades. (5)

Todos os Espíritos estão sujeitos à encarnação, pois é necessário que se submetam às provas da vida material, cujo objetivo é o de adquirir conhecimentos essenciais para chegar à perfeição. A vida puramente espiritual (existência incorpórea), não é suficiente para a conquista de todos os conhecimentos necessários para o justo adiantamento moral e intelectual.

Da mesma maneira que um escolar não chega a colar seus graus senão depois de ter passado pela fieira de todas as classes, o Espírito, não tendo cumprido completamente o dever na classe ao qual pertence é constrangido a recomeçar sua tarefa, e assim, multiplica suas existências corpóreas que se lhe tornam penosas pela sua própria falta. (6)

Passar por cada classe não é uma punição, é uma necessidade, uma condição indispensável para o seu adiantamento, mas se por sua preguiça, é obrigado a repeti-las, aí está a punição. Conseguir passar por elas é um mérito. A encarnação sobre a Terra pode ser considerada uma punição para muitos daqueles que a habitam, porque teriam podido evitá-la. Mas, como o Espírito age em relação ao seu livre arbítrio, pode negligenciar as leis naturais, e assim retardar seu avanço, consequentemente, prolonga a duração de suas encarnações nos mundos materiais, permanecendo em lugares inferiores, sendo necessário recomeçar a mesma empreitada. Depende, assim, do Espírito abreviar, através de um trabalho de depuração em si próprio (autoconhecimento), a duração do período de encarnações.

Uma só existência corporal é insuficiente para o Espírito adquirir todo o bem que lhe falta e eliminar o mal que lhe sobra. Eis porque a reencarnação é uma necessidade. (7) Quando tiver eliminado de si todas as impurezas não precisará mais das provas da vida corpórea, tornando-se um espírito puro. (8) 

Um selvagem, por exemplo, não conseguiria em uma só encarnação nivelar-se moral e intelectualmente ao mais adiantado homem civilizado. A sensatez rejeita tal suposição, que seria, tanto, a negação da justiça e da bondade divina, como das próprias leis evolutivas da Natureza. Com o processo da reencarnação, certamente, ele não ficará eternamente na ignorância nem na selvageria, privado da felicidade que só o desenvolvimento das faculdades pode proporcionar-lhe. Como Deus fez essas leis de acordo com a Sua bondade e justiça, naturalmente, é concedido ao Espírito tantas encarnações quantas lhes forem necessárias para atingir seu objetivo à perfeição. (9) Nessa caminhada evolutiva o Espírito, qualquer que seja o grau de seu adiantamento, na situação de encarnado, ou na erraticidade, estará sempre colocado entre um superior, que o guia e aperfeiçoa, e um inferior, para com o qual tem que cumprir esses mesmos deveres. (10) É assim que, por uma lei admirável da providência divina, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza. (11)

Em cada nova existência o Espírito se apresenta com o cabedal que adquiriu em vidas anteriores. Aptidões, conhecimentos intuitivos, inteligência e moralidade se somam com as conquistas da existência atual. É assim, que em cada encarnação, ele dá um passo avante no caminho do progresso. (12)

Aqueles que progrediram espiritualmente nas existências corporais, encarnam em mundos cada vez mais superiores, onde a materialidade é mais suave que a terrestre. A encarnação, assim, torna-se por conseqüência, cada vez mais desnecessária, tornando-se voluntária, onde podem exercer sobre os encarnados em mundos inferiores uma ação mais produtiva e tendente ao cumprimento de missões que escolhem para atuar junto aos mesmos. É desse modo que aceitam abnegadamente as vicissitudes e sofrimentos da encarnação num mundo adverso. (13)

À medida que os Espíritos progridem participam cada vez mais ativamente no mecanismo da Criação, devendo dirigir a ação dos elementos materiais. Presidindo às leis que põem os fluidos em movimento constante determinam todos fenômenos naturais. Só que eles não podem chegar a um tal resultado senão pelo conhecimento dessas leis, por isso, não as poderão conhecer adequadamente sem primeiro aprenderem a obedecê-las para depois dirigi-las. (14)

O Espírito na proporção que progride moralmente, gradualmente, irá livrando-se da influência da matéria e, assim vai se depurando. Espiritualizando-se, suas faculdades e percepções vão se ampliando, sendo assim, sua felicidade estará sempre na razão do progresso completado. Deus, que é justo, não podia fazer felizes alguns Espíritos, sem dificuldades e sem labor, consequentemente, sem méritos. Os que seguem o caminho do bem chegam mais depressa à meta. Além disso, as vicissitudes da vida são freqüentemente a conseqüências da imperfeição do Espírito. Quanto menos imperfeito for, menos tormentos sofrerá. Aquele que não for invejoso, nem ciumento, nem avarento ou ambicioso, não passará pelos tormentos que se originam desses defeitos. (15)

Um ponto freqüentemente questionado é que o Espírito sendo criado simples e ignorante com liberdade de fazer o bem ou o mal, não sofre queda moral se tomar o mau caminho, uma vez que chega a fazer o mal que não fazia antes. Todavia, esta argumentação não é sustentável, pois, não há queda senão na passagem de um estado relativamente bom à um estado pior. O Espírito criado simples e ignorante está, em sua origem, num estado de nulidade moral e intelectual, como a criança que acaba de nascer. Se não fez o mal, também não fez o bem. Assim, não é nem feliz nem infeliz. Age sem consciência e sem responsabilidade, por isso, se nada tem, nada pode perder, e, também, não há como retrogradar. Sua responsabilidade só começa do momento em que se desenvolve nele o livre arbítrio. Consequentemente, o mal que vier a fazer mais tarde infringindo as leis de Deus e abusando das faculdades a ele concedidas, não é um retorno do bem ao mal, mas a conseqüência do mau caminho que escolheu. (16)

As faltas cometidas pelo Espírito têm como fonte primeira sua imperfeição, já que ainda não alcançou a superioridade moral que terá um dia, mas que, nem por isso, deixa de ter o seu livre-arbítrio. A vida corporal lhe é concedida para se livrar das imperfeições através das provas que nela padece. São precisamente essas imperfeições que o tornam mais frágil e mais acessível às sugestões de outros Espíritos imperfeitos, que se aproveitam para tentar fazê-lo sucumbir na luta que empreende. Se sair vencedor, terá se elevado se fracassar, continuará a ser o que era, nem pior, nem melhor. Será uma prova a recomeçar, podendo até durar um tempo maior que na encarnação passada. Quanto mais depurar-se, mais diminuirão seus pontos fracos e menos se entregará àqueles que procuram induzi-lo ao mal, pois sua força moral crescerá em razão de sua elevação e os maus Espíritos, naturalmente, se afastarão. (17)

É nas convulsões sociais que o Espírito pode avançar mais rápido, pois a experiência adquirida através das relações difíceis resulta sempre numa melhora. O infortúnio pode ser um estimulante útil para impeli-lo a procurar um remédio para o mal.

Quando na erraticidade, reflete, pode tomar novas resoluções para quando voltar a encarnar, fazer coisa melhor. É assim que, de encarnação em encarnação (reencarnação), o progresso se efetua no Espírito. (18)

NOTAS

  (1) Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro II, cap. II e IV, questões 133 e 189.
  (4) __________, O Livro dos Espíritos, Livro III, cap. V.
  (3) __________, A Gênese, cap. XI, item 25.
  (4) __________, O Livro dos Espíritos, Livro II, cap. II, questão 132.
  (5) __________, O Livro dos Espíritos, Livro III, cap. VII, questões 767 e 768.
  (6) __________, Revista Espírita, junho de 1863, Do princípio da não-retrogradação dos Espíritos
  (7) __________, O Céu e o Inferno, cap. III, item 9.
  (8) __________, O Livro dos Espíritos, Livro II, cap. IV, questão 170.
  (9) __________, O Céu e o Inferno, cap. III, item 9.
(10) __________, O Livro dos Espíritos, Livro II, caps. X, questões 558 e 566, Livro III, cap. XI, q. 888a.
(11) __________, O Livro dos Espíritos, Livro II, cap. II, Kardec em nota a q. 132 e cap. IX, questões 540, 573, 604 e 607.
(12) __________, O Céu e o Inferno, cap. III, item 9.
(13) __________, O Céu e o Inferno, cap. III, itens, 8 e 9.
(14) __________, Revista Espírita, agosto de 1869.
(15) __________, O Livro dos Espíritos, Livro II, cap. II, questão 133.
(16) __________, Revista Espírita, junho de 1863, Do princípio da não-retrogradação dos Espíritos
(17) __________, Revista Espírita, outubro de 1858, Teoria do Móvel de Nossas Ações.
(18) __________, Obras Póstumas, As expiações coletivas

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sábado, 23 de junho de 2012

CONCEITOS DE ALLAN KARDEC EM RELAÇÃO AO CARÁTER RELIGIOSO DO ESPIRITISMO


CONCEITOS DE ALLAN KARDEC EM RELAÇÃO AO CARÁTER RELIGIOSO DO ESPIRITISMO
(Estudo)
Obras citadas no texto.
Pesquisa: Elio Mollo


Além dos textos de Kardec achamos útil refletir sobre o significado das palavras Moral, Cristo, Cristianismo, Fé e Religião. Nesta pesquisa usamos as informações do dicionário Michaelis eletrônico da UOL e do site Wikipédia - enciclopédia livre.

MORAL
Significado(s) de MORAL segundo o dicionário Michaelis

mo.ral   adj   (lat morale)
1 Relativo à moralidade, aos bons costumes.
2 Que procede conforme à honestidade e à justiça, que tem bons costumes.
3 Favorável aos bons costumes.
4 Que se refere ao procedimento.
5 Que pertence ao domínio do espírito, da inteligência (por oposição a físico ou material).
6 Diz-se da teologia que se ocupa dos casos de consciência.
7 Diz-se da certeza que se baseia em grandes probabilidades, e não em provas absolutas.
8 Diz-se da atitude ou comportamento de quem está perturbado, confuso ou embaraçado por qualquer circunstância.
9 Diz-se de tudo que é decente, educativo e instrutivo.

sf 1 Parte da Filosofia que trata dos atos humanos, dos bons costumes e dos deveres do homem em sociedade e perante os de sua classe.
2 Conjunto de preceitos ou regras para dirigir os atos humanos segundo a justiça e a eqüidade natural.
3 Tratado especial de moral.
4 Conclusão moral que se tira de uma fábula, de uma narração etc.
5 Lição de moral.
6 Modo de proceder.
7 As leis da honestidade e do pudor.

sm 1 Conjunto das nossas faculdades morais.
2 Disposição do espírito, energia para suportar as dificuldades, os perigos; ânimo: O moral das tropas. Com moral alto.
3 Tudo o que diz respeito ao espírito ou à inteligência (por oposição ao que é material). M. cristã: a moralidade que em si contém os preceitos evangélicos (*). M. de funil: moral liberal e ampla para uns, mas restrita e apertada para outros. M. em ação: o ensino da moral através de exemplos. M. pública: designativo dos preceitos gerais de moral que devem ser observados por todos os membros da sociedade.

(*) Conter preceitos evangélicos ao que parece nada tem a ver com religião, pois Jesus não fundou ou criou nenhuma religião, porém legou a humanidade um ensino moral da mais alta qualidade.

O Espiritismo, segundo Kardec, “tem conseqüências morais, como todas as ciências filosóficas. Suas conseqüências são no sentido do cristianismo, porque é este, de todas as doutrinas, a mais esclarecida, a mais pura,...”. 

MORAL
(Moralidade)
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O termo moral é derivado do latim mores, que significa relativo aos costumes. A moralidade pode ser definida como a aquisição do modo de ser conseguido pela apropriação ou por níveis de apropriação, onde se encontram o caráter, os sentimentos e os costumes. Alguns dicionários definem moral como "conjunto de regras de conduta consideradas como válidas, éticas, quer de modo absoluto para qualquer tempo ou lugar, quer para grupos ou pessoa determinada" (Aurélio Buarque de Hollanda), ou seja, regras estabelecidas e aceitas pelas comunidades humanas durante determinados períodos de tempo.

Portanto, o termo moral significa tudo o que se submete a todo valor onde devem predominar na conduta do ser humano as tendências mais convenientes ao desenvolvimento da vida individual e social, cujas aptidões constituem o chamado sentido moral dos indivíduos. 

CRISTO
Significado(s) de Cristo segundo o dicionário Michaelis

cris.to   sm   (gr khristós, ungido)
1 Rel Aquele que é ungido do Senhor. 2 Rel Imagem de Jesus Cristo. 3 pop A vítima de enganos, ardis ou maus tratos. 4 Posição em que o ginasta se mantém nas argolas, com os braços abertos horizontalmente. Bancar o cristo: expiar, pagar pelos outros. Ser o cristo: ser a vítima que paga as faltas de outros.

CRISTO
Significado da palavra CRISTO in Wikipedia

Um conceito do Judaísmo, o Messias (hebreu משיח Māšîªħ, Mashíach, Mashíyach ou hammasiah, "O consagrado"; a forma Asquenazi é Moshiach; a forma aramaica é mesiha) refere-se, principalmente, à profecia da vinda de um humano descendente do Rei David, que irá reconstruir a nação de Israel e restaurar o reino de David, trazendo desta forma a paz ao mundo.

Os cristãos, com algumas exceções, consideram que Jesus Cristo é o Messias, bem como o Filho de Deus e uma das três Pessoas da Trindade, doutrina que foi confirmada terminologicamente, a título dogmático, no Concílio de Niceia de 325 d.C.. A palavra "Cristo" (em grego Χριστός, Christós, "O Ungido" ou "O Consagrado") é uma tradução para o grego do termo hebraico "mashiach".

No Velho Testamento, a palavra específica Messias aparece apenas duas vezes: em Daniel 9:25 e 26, quando um anjo anuncia ao profeta Daniel que o Messias surgiria e seria morto 62 semanas proféticas após a reedificação de Jerusalém, antes da cidade e do templo serem novamente destruídos.

No Novo Testamento, a palavra grega Μεσσίας (Messias) está registrada também apenas duas vezes: em João 1:41, quando o André contou a seu irmão Pedro que recém haviam encontrado o Messias (que traduzido é o Cristo), e em João 4:25, onde uma mulher samaritana comenta com Jesus que sabia que o Messias (que se chamava Cristo) estava vindo, e que quando viesse, nos anunciaria tudo, ao que Jesus prontamente lhe respondeu: "Eu o sou, eu que falo contigo".

Um pouco de História sobre o Cristianismo:

Paulo de Tarso não se contava entre os apóstolos originais, ele era um zeloso judeu que perseguiu inicialmente os primeiros cristãos. No entanto, ele tornou-se depois um cristão e um dos seus maiores, senão o maior missionário (sem contar o próprio Cristo). Boa parte do Novo Testamento foi escrito ou por ele (várias epístolas) ou por seus cooperadores (o evangelho de Lucas e os actos dos apóstolos). Paulo afirmou que Jesus era o Messias profetizado no Antigo Testamento e que a salvação já não dependia das leis descritas na Torá, mas da fé (**)em Cristo. Entre 44 e 58 ele fez três grandes viagens missionárias que levaram a nova doutrina aos gentios e judeus da Ásia Menor e de vários pontos da Europa. 

CRISTIANISMO
Significado(s) de Cristianismo segundo o dicionário Michaelis

cris.ti.a.nis.mo   sm   (lat christianu+ ismo)
1 Doutrina de Cristo.
2 A religião de Cristo.
3 Conjunto das confissões religiosas com base nos ensinamentos de Jesus Cristo.
4 Moral fundada no preceito de amor a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo ou a todos os homens, como criaturas de Deus: O cristianismo é o fundamento da civilização moderna.

CRISTIANISMO
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O cristianismo é uma religião monoteísta baseada na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré, tais como estes se encontram recolhidos nos Evangelhos, parte integrante do Novo Testamento. Os cristãos acreditam que Jesus é o Messias e como tal referem-se a ele como Jesus Cristo. Com cerca de 2,13 bilhões de adeptos, o cristianismo é hoje a maior religião mundial[1], adotada por cerca de 33% da população do mundo[2]. É a religião predominante na Europa, América, Oceania e em grande parte de África e partes da Ásia.

O cristianismo começou no século I como uma seita do judaísmo, partilhando por isso textos sagrados com esta religião, em concreto o Tanakh, que os cristãos denominam de Antigo Testamento. À semelhança do judaísmo e do Islão, o cristianismo é considerado como uma religião abraâmica.

Segundo o Novo Testamento, os seguidores de Jesus foram chamados pela primeira vez "cristãos" em Antioquia (Actos 11:26). 

(**)
Significado(s) de segundo o dicionário Michaelis

  sm desus
Outro nome da letra F, f (efe). Pl: fês ou ff.

  sf   (lat fide)
1 Crença, crédito; convicção da existência de algum fato ou da veracidade de alguma asserção.
2 Crença nas doutrinas da religião cristã.
3 A primeira das três virtudes teologais.
4 Fidelidade a compromissos e promessas; confiança: Homem de fé.
5 Confirmação, prova.
6 Testemunho de certos funcionários que faz força nos tribunais; confirmação de um testemunho. F. conjugal: fidelidade que reciprocamente se devem os cônjuges. F. de carvoeiro: crença inabalável, que não tende a razões ou argumentos. F. de Cristo: a crença ou a religião cristã. F. de ofício: a) folha de serviços de um funcionário ou de um militar; b) fé baseada na honra do cargo ou profissão de quem atesta ou abona. F. de réu: certidão pela qual o oficial público declara haver citado alguém para qualquer fim. F. divina: crença que se apóia na revelação. F. humana: a que se assenta na autoridade dos homens. F. implícita: a que, sem prévio exame, se deposita em alguma coisa. F. pública: confiança que as instituições ou os magistrados públicos nos inspiram. F. púnica: promessa desleal, traição. "Mais vale a fé que o pau da barca" (provérbio): aplica-se quando algo aconteceu como por milagre. Boa fé: a) convicção de agir de acordo com a lei; b) ausência de má intenção. Má fé: má intenção; maldade.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livrehttp://pt.wikipedia.org/wiki/F%C3%A9

Alegoria da fé, por L.S. Carmona (1752–53). O véu simboliza a impossibilidade de conhecer directamente as evidências. Fé (do grego: pistia e do latim: Fides [1]) é a firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que depositamos neste algo ou alguém.

[1] Fé é uma firme convicção de que algo seja verdade, sem nenhuma prova de que este algo seja verdade, pela absoluta confiança que depositamos neste algo ou alguém. A palavra Fé veio da palavra grega pí·stis, que transmite a idéia de confiança, fidúcia, firme persuasão.

A fé se relaciona de maneira unilateral com os verbos acreditar, confiar ou apostar, isto é, se alguem tem fé em algo, então acredita, confia e aposta nisso, mas se uma pessoa acredita, confia e aposta em algo, não significa, necessariamente, que tenha fé. A diferença entre eles, é que ter fé é nutrir um sentimento de afeição, ou até mesmo amor, pelo que acredita,confia e aposta.

É possível nutrir um sentimento de fé em relação a um pessoa, um objeto inanimado, uma ideologia, um pensamento filosófico, um sistema qualquer, um conjunto de regras, uma crença popular, uma base de propostas ou dogmas de uma determinada religião. A fé não é baseada em evidências físicas reconhecidas pela comunidade científica. É, geralmente, associada a experiências pessoais e pode ser compartilhada com outros através de relatos. Nesse sentido, é geralmente associada ao contexto religioso.

A fé se manifesta de várias maneiras e pode estar vinculada a questões emocionais e a motivos nobres ou estritamente pessoais[carece de fontes?]. Pode estar direcionada a alguma razão específica ou mesmo existir sem razão definida. Também não carece absolutamente de qualquer tipo de evidência física racional.

Fé Publica

Presunção legal de autenticidade, verdade ou legitimidade de ato emanado de autoridade ou de funcionário devidamente autorizado, no exercício de suas funções. Tudo o que for registado possui fé pública. O registador age em nome do Estado quando usa a expressão “Dou fé”, significando que, o afirmado, transcrito e certificado, é verdadeiro. Visa proteger o terceiro, que contrata, confiando no que o registo publica. Em sentido geral, esse princípio possibilita que o terceiro, realize de boa-fé um negócio oneroso, passando a ter a presunção de segurança jurídica.

Tipos variados

Normalmente a expressão popular "dar fé" significa acreditar em, crer. Em termos gerais "dar fé" é afirmar como verdade, testificar, autenticar, prestar testemunho autêntico.

Em Cabo Verde o termo Tomar fé é o mesmo que tomar conhecimento, notar.

Contexto religioso

No contexto religioso, "fé" tem muitos significados. Às vezes quer dizer lealdade a determinada religião. Nesse sentido, podemos, por exemplo, falar da "fé católica" ou da "fé islâmica".

Para religiões que se baseiam em crenças, a fé também quer dizer que alguém aceita as visões dessa religião como verdadeiras. Para religiões que não se baseiam em credos, por outro lado, significa que alguém é leal para com uma determinada comunidade religiosa.

Algumas vezes, fé significa compromisso numa relação com Deus. Nesse caso, a palavra é usada no sentido de fidelidade. Tal compromisso não precisa ser cego ou submisso e pode ser baseado em evidências de carácter pessoal. Outras vezes essa fé pode ser forçada, ou seja, imposta por uma determinada comunidade ou pela família do indivíduo, por exemplo.

Para muitos judeus, por exemplo, o Talmud mostra um compromisso cauteloso entre Deus e os israelitas. Para muitas pessoas, a fé, ou falta dela, é uma parte importante das suas identidades.

Muitos religiosos racionalistas, assim como pessoas não-religiosas, criticam a fé, apontando-a como irracional. Para eles, o credo deve ser restrito ao que é directamente demonstrado por lógica ou evidência. 

Fé em Deus

Algumas vezes, fé pode significar acreditar na existência de Deus. Para pessoas nesta categoria, "Fé em Deus" simplesmente significa "crença de alguém em Deus".

Muitos Hindus, Judeus, Cristãos e Muçulmanos alegam existir evidência histórica da existência de Deus e sua interacção com seres humanos. No entanto, uma parte da comunidade de historiadores e especialistas discorda de tais evidências. Segundo eles, não há necessidade de fé em Deus no sentido de crer contra ou a despeito das evidências, eles alegam que as evidências são suficientes para demonstrar que Deus certamente existe, e que credos particulares, sobre quem ou o quê Deus é e por que deve-se acreditar nele são justificados pela ciência ou pela lógica.

Consequentemente a maioria acredita ter fé em um sistema de crença que é de algum modo falso, o qual têm dificuldade em ao menos descrevê-lo. Isso é disputado, embora, por algumas tradições religiosas, especialmente no Hinduísmo que sustenta a visão de que diversas "fés" diferentes são só aspectos da verdade final que diversas religiões têm dificuldade de descrever e entender. Essa tradição dizem que toda aparente contradição será entendida uma vez que a pessoa tenha uma experiência do conceito Hindu de moksha. O que se é acreditado em referência a Deus nesse sentido é, ao menos no princípio, somente a confiança como evidência e a lógica por qual cada fé é suportada.

Finalmente, alguns religiosos - e muitos dos seus críticos - frequentemente usam o termo fé como afirmação da crença sem alguma prova, e até mesmo apesar de evidências do contrário. Muitos judeus, cristãos e muçulmanos admitem que pode ser confiável o que quer que as evidências particulares ou a razão possam dizer da existência de Deus, mas que não é essa a base final e única de suas crenças. Assim, nesse sentido, "fé" pode ser: acreditar sem evidências ou argumentos lógicos, algumas vezes chamada de "fé implícita". Outra forma desse tipo de fé é o fideísmo: acreditar-se na existência de Deus, mas não deve-se basear essa crença em outras crenças; deve-se, ao invés, aceitar isso sem nenhuma razão. Fé, nesse sentido, simplesmente a sinceridade na fé, crença nas bases da crença, frequentemente é associado com Soren Kierkegaard e alguns outros existencialistas, religiosos e pensadores. William Sloane Coffin fala que fé não é aceita sem prova, mas confiável sem reserva. 

Judaísmo

A teologia Judaica atesta que a crença em Deus é altamente meritória, mas não obrigatória. Embora uma pessoa deva acreditar em Deus, o que mais importa é se essa pessoa leva uma vida decente. Os racionalistas Judeus, tais como Maimónides, mantêm que a fé em Deus, como tal, é muito inferior ao aceitar que Deus existe através de provas irrefutáveis. 

Na Tanakh

Na Bíblia Hebraica a palavra hebraica emet ("fé") não significa uma crença dogmática. Ao invés disso, tem uma conotação de fidelidade (da forma passiva "ne'eman" = "de confiança" ou "confiável") ou confiança em Deus e na sua palavra. A Bíblia hebraica também apresenta uma relação entre Deus e os filhos de Israel como um compromisso. Por exemplo, Abraão argumenta que Deus não deve destruir Sodoma e Gomorra, e Moisés lamenta-se por Deus tratar os Filhos de Israel duramente. Esta perspectiva de Deus como um parceiro com quem se pode pleitear é celebrada no nome "Israel," da palavra Hebraica "lutar".


Todo o conjunto dos ensinos transmitidos por Jesus Cristo e seus discípulos constitui a “fé” cristã. (Gálatas 1:7-9) A fé cristã baseia-se em toda a Bíblia como a Palavra de Deus, que inclui as Escrituras Hebraicas, as quais Jesus e os escritores das Escrituras Gregas Cristãs frequentemente citaram em apoio das suas declarações. Segundo estas Escrituras, para ser aceitável a Deus, é necessário exercer fé em Jesus Cristo, e isto torna possível obter uma condição justa perante Deus.


... Fé é acreditar em coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem, independentemente daquilo que vemos, ou ouvimos". ...
- Hebreus 11:1.

Na Bíblia, a palavra fé transmite a ideia de confiança, fidúcia, firme persuasão. A fé é "o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem" (Hebreus 11:1), é a convicção de algo subjacente a condições visíveis e que garante uma posse futura, sendo a base de esperança para se ter convicção a respeito de realidades não vistas. Segundo Romanos 10:17 a fé vem pelo aprendizado da bíblia.

Comentando a função da fé em relação ao convénio com Deus, o escritor das cartas aos Hebreus traduz fé com a mesma palavra que geralmente aparece em antigos papiros oficiais de negócios, dando a ideia que um convénio é uma troca de garantias que garantam que futuras transferência de posses descritas no contrato. Nessa visão, Moulton e Milligan sugerem a rendeção: "Fé é o título da ação esperada."[5]. Sintetizando o conceito, no Novo Testamento a fé é a relação sobre a auto-revelação de Deus, especialmente no sentido de confidência com as promessas e medo de ameaças que estão nas escrituras. Os escritores evidentemente supõem que os seus conceitos de fé estão enraizados nas escrituras hebraicas. No mais, os escritores do Novo Testamento igualam fé em Deus com crença em Jesus.

Catecismo da Igreja Católica

Segundo o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica (CCIC), a fé "é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele nos revelou e que a Igreja nos propõe para acreditarmos, porque Ele é a própria Verdade. Pela fé, o homem entrega-se a Deus livremente. Por isso, o crente procura conhecer e fazer a vontade de Deus, porque «a fé opera pela caridade»" (Gálatas 5:6). 

Catecismo de Westminster

Nas palavras do Catecismo de Westminster: "Fé em Jesus Cristo é a graça da salvação, por meio de qual nós recebemos e repousamos sobre ele para a salvação, como ele é ofertado para nós no evangelho". O objecto da fé salvadora é toda a revelação da palavra de Deus. Fé aceita e acredita nisso como verdade mais certa. Mas o ato especial de fé que une a Cristo tem como seu objecto a pessoa e o trabalho do Senhor Jesus Cristo. Esse é o ato específico de fé que um pecador é justificado perante Deus.

ReferênciasOrigem da palavra Fé (em portugês). Página visitada em 21 de Fevereiro de 2009.
http://www.terraespiritual.locaweb.com.br/espiritismo/artigo07.htmlPor exemplo, uma pessoa pode identificar-se como um muçulmano ou um céptico.
As ideias de Soren Kierkegaard a respeito da fé estão descritas no livro Temor e tremor.
Veja o artigo sobre princípios judaicos de fé para mais detalhes sobre a teologia Judaica.
Vocabulário do testamento Grego, 1963.

A FÉ
Cap. II - 3
(FROMM, Erich, A Revolução da Esperança,  Editora Zahar,  Rio de Janeiro, 1968.)

Quando a esperança desaparece, a vida termina, na realidade ou potencialmente. A esperança é um elemento intrínseco da estrutura da vida, da dinâmica do espírito do homem. Ela está intimamente ligada a outro elemento da estrutura da vida: a fé. A fé não é uma forma fraca da crença ou conhecimento; não é a fé nisto ou naquilo; a fé é uma convicção sobre o que ainda não foi provado, o conhecimento da possibilidade real, a consciência da gravidez. A fé é racional quando se refere ao conhecimento e compreensão, que penetra a superfície e vê o âmago. A fé, como a esperança, não é a previsão do futuro; é a visão do presente num estado de gravidez.

A afirmação de que a fé é certeza necessita de uma restrição. É certeza sobre a realidade da possibilidade – mas não é certeza no sentido da previsão indiscutível. A criança pode ser natimorta prematuramente; pode morrer no parto; pode morrer nas duas primeiras semanas de vida. Este paradoxo da fé: é a certeza do incerto. É certeza em termos de visão e compreensão do homem; não é certeza em termos de resultado final da realidade. Não precisamos de fé naquilo que é cientificamente previsível, nem tampouco pode haver no que é impossível. A fé é baseada em nossa experiência de vida, de nos transformamos. A fé que outros podem mudar é o resultado da experiência de que posso mudar.

Existe uma distinção importante entre fé racional e a irracional. Enquanto a fé racional é o resultado da atividade interior da pessoa, em pensamento ou sentimento, a fé irracional é a submissão a determinada coisa que se aceita como verdadeira, independente de sê-lo ou não. O elemento essencial em toda fé irracional é seu caráter passivo, seja o seu objeto um ídolo, um líder ou uma ideologia. Até mesmo o cientista precisa estar livre da fé irracional nas idéias tradicionais a fim de ter fé racional no poder do seu pensamento criador. Uma vez “provada” a sua descoberta, ele não precisa mais de fé, exceto na próxima etapa que ele estuda.

Na esfera das relações humanas, “ter fé” em outra pessoa significa estar certo da sua essência – isto é, da confiança e imutabilidade das suas atitudes fundamentais. No mesmo sentido podemos ter fé em nós mesmos – não na constância das nossas opiniões – mas na orientação básica com relação à vida, na matriz da estrutura do nosso caráter. Essa fé é condicionada pela experiência do eu, pela nossa capacidade de dizer “eu” legitimamente, pelo sentido da nossa identidade.

A esperança é o estado de espírito que acompanha a fé. A fé não poderia ser sustentada sem o estado de espírito da esperança. A esperança não pode basear-se senão na fé.

A FÉ SEGUNDO KARDEC:
In O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIX, trechos dos parágrafos dos itens de 2 à 7.

"A fé robusta confere a perseverança, a energia e os recursos necessários para a vitória sobre os obstáculos, tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas. A fé vacilante produz a incerteza, a hesitação..."

"...considera-se fé a confiança que se deposita na realização de determinada coisa, a certeza de atingir um objetivo. Nesse caso, ela confere uma espécie de lucidez, que faz antevê pelo pensamento os fins que se tem em vista e os meios de atingi-los, de maneira que aquele que a possui avança, por assim dizer, infalivelmente."

"A fé sincera e verdadeira é sempre calma. Confere a paciência que sabe esperar, porque estando apoiada na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao fim. A fé insegura sente a sua própria fraqueza, (...) e de falta de confiança em si mesmo."

"Necessário guardar-se de confundir a fé com a presunção, da verdadeira fé se alia à humildade. Aquele que a possui deposita a si confiança em Deus, mais do que em si mesmo,..."
 
"...uma fé ardente, pode operar, unicamente pela sua vontade, dirigida para o bem, esses estranhos fenômenos de cura e de outra natureza que antigamente eram considerados prodígios, e que entretanto não passam de conseqüências de uma lei natural."
 
"No seu aspecto religioso, a fé é a crença nos dogmas particulares que constituem as diferentes religiões, e todas elas têm os seus artigos de fé. Nesse sentido, a fé pode ser raciocinada ou cega. A fé cega nada examina, aceitando sem controle o falso e o verdadeiro, e a cada passo se choca com a evidência da razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Quando a fé se firma no erro, cedo ou tarde desmorona. (...)"
 
"...a fé não pode ser prescrita, ou o que é ainda mais justo: não pode ser imposta. Não, a fé não se prescreve, mas se adquire, e não há ninguém que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários."

"Para algumas pessoas, a fé parece de alguma forma inata: basta uma faísca para desenvolvê-la. Essa facilidade para assimilar as verdades espíritas é sinal evidente de progresso anterior."

"A fé necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo em que se deve crer. Para crer, não basta ver, é necessário sobretudo compreender. A fé cega não é mais deste século (***). É precisamente o dogma da fé cega que hoje em dia produz o maior número de incrédulos. Porque ela quer impor- se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: a que sã constitui do raciocínio e do livre-arbítrio."

(...)

A fé raciocinada, que se apóia nos fatos e na lógica, não deixa nenhuma obscuridade: crê-se, porque se tem a certeza, e se está certo quando se compreendeu. Eis porque ela não se dobra: porque só é inabalável a fé que pode enfrentar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.

(***) Kardec referia-se ao século XIX, de maneira que a sua afirmação é hoje ainda adequada. (Nota de J. Herculano Pires)

RELIGIÃO
Significado(s) de Religião segundo o dicionário Michaelis

re.li.gião   sf   (lat religione)

1 Serviço ou culto a Deus, ou a uma divindade qualquer, expresso por meio de ritos, preces e observância do que se considera mandamento divino.
2 Sentimento consciente de dependência ou submissão que liga a criatura humana ao Criador.
3 Culto externo ou interno prestado à divindade.
4 Crença ou doutrina religiosa; sistema dogmático e moral.
5 Veneração às coisas sagradas; crença, devoção, fé, piedade.
6 Prática dos preceitos divinos ou revelados.
7 Temor de Deus.
8 Tudo que é considerado obrigação moral ou dever sagrado e indeclinável.
9 Ordem ou congregação religiosa.
10 Ordem de cavalaria.
11 Caráter sagrado ou virtude especial que se atribui a alguém ou a alguma coisa e pelo qual se lhe presta reverência.
12 Conjunto de ritos e cerimônias, sacrificais ou não, ordenados para a manifestação do culto à divindade; cerimonial litúrgico.
13 Filos Reconhecimento prático de nossa dependência de Deus.
14 Filos Instituição social com crenças e ritos.
15 Filos Respeito a uma regra.
16 Sociol Instituição social criada em torno da idéia de um ou vários seres sobrenaturais e de sua relação com os homens.
17 Mística ou ascese. R. do caboclo, Reg (Rio de Janeiro): prática feiticista negra a que se misturam entidades da mística ameríndia. R. do Estado: a professada oficialmente por um Estado sem que, com isso, seja proibida ou impedida a prática das outras. R. natural: a que se baseia somente nas inspirações do coração e da razão, sem dogmas revelados; a religião dos povos primitivos. R. naturalista: veneração ou adoração religiosa da natureza nos animais, nos astros etc.; panteísmo. R. reformada: o mesmo que igreja reformada. R. revelada: a que, como o cristianismo, se baseia numa revelação divina conservada pelas Escrituras Sagradas e pela tradição. Ciência das religiões: estudo das religiões como fenômeno humano universal; pode-se considerar seu aspecto histórico (história das religiões), psíquico (psicologia da religião) e social (sociologia da religião). Filosofia da religião: tratado das questões relativas à sua essência e verdade.  (****)

(****) Segundo esse dicionário pode-se observar que praticamente nenhum dos itens que tratam sobre o significado da palavra religião tem algo a ver com o caráter da Doutrina Espírita ou Espiritismo. 

RELIGIÃO
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Religi%C3%A3o

A Religião (do latim: "religio" usado na Vulgata, que significa "prestar culto a uma divindade", “ligar novamente", ou simplesmente "religar") pode ser definida como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que a humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças.

Etimologia

Pormenor de uma Bíblia do século XVA palavra portuguesa religião deriva da palavra latina religio, mas desconhece-se ao certo que relações estabelece religio com outros vocábulos. Aparentemente no mundo latino anterior ao nascimento do cristianismo, religio referia-se a um estilo de comportamento marcado pela rigidez e pela precisão.

A palavra "religião" foi usada durante séculos no contexto cultural da Europa, marcado pela presença do cristianismo que se apropriou do termo latino religio. Em outras civilizações não existe uma palavra equivalente. O hinduísmo antigo utilizava a palavra rita que apontava para a ordem cósmica do mundo, com a qual todos os seres deveriam estar harmonizados e que também se referia à correcta execução dos ritos pelos brâmanes. Mais tarde, o termo foi substituído por dharma, termo que atualmente é também usado pelo budismo e que exprime a idéia de uma lei divina e eterna.

Historicamente foram propostas várias etimologias para a origem de religio. Cícero, na sua obra De natura deorum, (45 a.C.) afirma que o termo se refere a relegere, reler, sendo característico das pessoas religiosas prestarem muita atenção a tudo o que se relacionava com os deuses, relendo as escrituras. Esta proposta etimológica sublinha o carácter repetitivo do fenómeno religioso, bem como o aspecto intelectual. Mais tarde, Lactâncio (século III e IV d.C.) rejeita a interpretação de Cícero e afirma que o termo vem de religare, religar, argumentando que a religião é um laço de piedade que serve para religar os seres humanos a Deus.

No livro "A Cidade de Deus" Agostinho de Hipona (século IV d.C.) afirma que religio deriva de religere, "reeleger". Através da religião a humanidade reelegia de novo a Deus, do qual se tinha separado. Mais tarde, na obra De vera religione Agostinho retoma a interpretação de Lactâncio, que via em religio uma relação com "religar".

Macróbio (século V d.C.) considera que religio deriva de relinquere, algo que nos foi deixado pelos antepassados.

Independente da origem, o termo é adotado para designar qualquer conjunto de crenças e valores que compõem a fé de determinada pessoa ou conjunto de pessoas. Cada religião inspira certas normas e motiva certas práticas.

* * *

Obs: Para um entendimento melhor e mais completo sugerimos ler os artigos na integra nas obras originais citadas nesta pesquisa acionando o < link > abaixo:

Textos extraídos das obras de Kardec sobre Conceitos de Allan Kardec em relação ao caráter religioso do Espiritismo (*):

O LIVRO DOS ESPÍRITOS
CONCLUSÃO - ÍTEM VII - 1857

O Espiritismo se apresenta sob três aspectos diferentes: o das manifestações, o dos princípios de filosofia e moral que delas decorrem e o da aplicação desses princípios. Daí as três classes, ou antes, os três graus de adeptos:

1º.) os que crêem nas manifestações e se limitam a constatá-las;
2º.) os que compreendem as suas conseqüências morais;
3º.) os que praticam ou se esforçam por praticar essa moral. 

REVISTA ESPÍRITA
JANEIRO de 1858

in Introdução

Talvez nos contestem a qualificação de ciência que damos ao Espiritismo. Ele não poderia, sem dúvida, em alguns casos, ter os caracteres de uma ciência exata, e está precisamente aí o erro daqueles que pretendem julgá-lo e experimentá-lo como uma análise química, como um problema matemático: já é muito que tenha o de uma ciência filosófica. Toda ciência deve estar baseada sobre fatos; mas só os fatos não constituem a ciência; a ciência nasce da coordenação e da dedução lógica dos fatos: é o conjunto de leis que os regem. O Espiritismo chegou ao estado de ciência? Se se trata de uma ciência perfeita, sem dúvida, seria prematuro responder afirmativamente; mas as observações são, desde hoje, bastante numerosas para se poder, pelo menos, deduzir os princípios gerais, e é aí que começa a ciência.

in Contradições na Linguagem dos Espíritos
AGOSTO de 1858

Se bem que o Espiritismo esteja na Natureza, e que tenha sido conhecido e praticado desde a mais alta antigüidade, constata-se que em nenhuma outra época foi assim universalmente difundido como nos nossos dias. É que outrora dele não se fazia senão um estudo misterioso no qual o vulgo não estava iniciado; conservou-se por uma tradição que as vicissitudes da Humanidade e a falta de meios de transmissão, enfraqueceram insensivelmente. Os fenômenos espontâneos que não cessaram de se produzir, de vez em quando, passaram desapercebidos, ou foram interpretados segundo os preconceitos e a ignorância dos tempos, ou foram explorados em proveito de tal ou tal crença. Estava reservado ao nosso século, onde o progresso recebe um impulso incessante, revelar uma ciência que não existia, por assim dizer, senão no estado latente. Não foi senão há poucos anos que os fenômenos foram seriamente observados; o Espiritismo é, pois, uma realidade, uma ciência nova que se implanta pouco a pouco no espírito das massas, à espera de que tome uma posição oficial. No início, essa ciência pareceu bem simples; para as pessoas superficiais, ela não consistia senão na arte de fazer girar as mesas; mas uma observação mais atenta mostrou-a bem diferente, complicada pelas suas ramificações e suas conseqüências, do que se havia suposto.

(...)

A resposta a esta pergunta repousa sobre o conhecimento completo da ciência espírita, e essa ciência não se pode ensinar com algumas palavras, porque ela é tão vasta quanto todas as ciências filosóficas. Não é ela adquirida, como todos os outros ramos do conhecimento humano, senão pelo estudo e a observação. Não podemos repetir aqui tudo o que publicamos sobre este assunto; a ele remetemos, pois, nossos leitores, limitando-nos a um simples resumo. Todas essas dificuldades desaparecem para quem lança, sobre esse terreno, um olhar investigador e sem prevenção. 

REVISTA ESPÍRITA
FEVEREIRO de 1859

in ESCOLHOS DOS MÉDIUNS

A ciência espírita exige uma grande experiência que não se adquire, como em todas as ciências filosóficas e outras, senão por um estudo longo, assíduo e perseverante, e por numerosas observações. Ela não compreende somente o estudo dos fenômenos propriamente ditos, mas também, e sobretudo, o dos costumes, se podemos nos exprimir assim, do mundo oculto, desde o mais baixo até o mais alto degrau da escala. Seria muita presunção crer-se suficientemente esclarecido e passar a senhor depois de algumas experiências. Uma tal pretensão não seria de um homem sério; porque quem lança um olhar escrutador sobre esses mistérios estranhos, vê desdobrar-se diante de si um horizonte tão vasto que anos são suficientes apenas para alcançá-lo; há os que pretendem fazê-lo em alguns dias!

MAIO DE 1859.
in REFUTAÇÃO DE ARTIGO DE "L'UNIVERS"

Em segundo lugar, é ele uma religião?

Fácil é demonstrar o contrário.

O Espiritismo está baseado na existência de um mundo invisível, formado de seres incorpóreos que povoam o espaço e que não são outra coisa senão as almas dos que viveram na Terra ou em outros globos, onde deixaram os seus invólucros materiais. São esses seres aos quais demos, ou melhor, que se deram o nome de Espíritos. Esses seres, que nos rodeiam continuamente, exercem sobre os homens malgrado seus, uma poderosa influência; representam um papel muito ativo no mundo moral e, até certo ponto, no mundo físico. Assim, pois, o Espiritismo pertence à Natureza e pode-se dizer que, numa certa ordem de idéias, é uma força, como a eletricidade é outra, sob diferente ponto de vista, como a gravitação universal é uma terceira.

Melhor observado desde que se vulgarizou, o Espiritismo vem lançar luz sobre uma porção de problemas até aqui insolúveis ou mal resolvidos. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não o de uma religião. E a prova é que conta como aderentes homens de todas as crenças, os quais, nem por isso renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos, que praticam todos os deveres de, seu culto, protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e até budistas e bramanista.

Há de tudo, menos materialistas e ateus, porque estas idéias são incompatíveis com as observações espíritas; Assim, pois, o Espiritismo se fundamenta em princípios gerais independentes de toda questão dogmática. É verdade que ele tem conseqüências morais, como todas as ciências filosóficas. Suas conseqüências são no sentido do cristianismo, porque é este, de todas as doutrinas, a mais esclarecida, a mais pura, razão por que, de todas as seitas religiosas do mundo, são as cristãs as mais aptas a compreendê-lo em sua verdadeira essência.

O Espiritismo não é, pois, uma religião. Do contrário teria seu culto, seus templos, seus ministros. Sem dúvida cada um pode transformar suas opiniões numa religião, interpretar à vontade as religiões conhecidas; mas daí à constituição de uma nova Igreja há uma grande distância e penso que seria imprudência seguir tal idéia. Em resumo, o Espiritismo ocupa-se da observação dos fatos e não das particularidades desta ou daquela crença; a pesquisa das causas, da explicação que os fatos podem dar dos fenômenos conhecidos, tanto na ordem moral quanto na ordem física, e não impõe nenhum culto aos seus partidários, do mesmo modo que a Astronomia não impõe o culto dos astros, nem a Pirotecnia o culto do fogo.

Ainda mais: assim como o sabeísmo nasceu da Astronomia mal compreendida, o Espiritismo, mal compreendido na antigüidade, foi a fonte do politeísmo. Hoje, graças às luzes do cristianismo, podemos julgá-lo com mais segurança; ele nos põe em guarda contra os sistemas errados, frutos da ignorância. E a própria religião pode haurir nele a prova palpável de muitas verdades contestadas por certas opiniões.. Eis porque, contrariando a maior parte das ciências filosóficas, um dos seus efeitos é reconduzir às idéias religiosas aqueles que se tresmalharam num cepticismo exagerado.

A Sociedade a que vos referis tem seu objetivo expresso no próprio título; a denominação Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas não se assemelha ao de nenhuma seita; tem ela um caráter tão diverso que os seus estatutos proíbem tratar de questões religiosas; está classificada na categoria das sociedades científicas porque, na verdade, seu objetivo é estudar e aprofundar todos os fenômenos resultantes das relações entre o mundo visível e o invisível; tem seu presidente, seu secretario, seu tesoureiro como todas as sociedades; não convida o público às suas sessões, nas quais não há discursos nem qualquer coisa com o caráter de um culto qualquer. Processa seus trabalhos com calma e recolhimento já porque é uma condição necessária para as observações, já porque sabe que devem ser respeitados aqueles que não vivem mais na Terra.

Ela os chama em nome de Deus, porque crê em Deus, em sua Onipotência e sabe que nada se faz neste mundo sem a suapermissão. Abre as sessões com um apelo geral aos bons Espíritos, porque, sabendo que os existem bons e maus, cuida para que estes últimos não se venham intrometer fraudulentamente nas comunicações que são recebidas e induzir em erro.

Que prova isto?

Que não somos ateus. Mas de modo algum implica que sejamos adeptos de uma religião. Disto teria ficado convencida a pessoa que vos descreveu o que se passa entre nós, se tivesse acompanhado os nossos trabalhos, principalmente se os tivesse julgado com menos leviandade e, talvez, com espírito menos prevenido e menos apaixonado.

Os fatos protestam, assina contra a qualificação de novaseita que destes à Sociedade, certamente por não a conhecerdes melhor.

JULHO de 1859
in SOCIEDADE PARISIENSE DE ESTUDOS ESPÍRITAS.
(DISCURSO DO ENCERRAMENTO DO ANO SOCIAL 1858-1859.)

A comunhão de pensamentos e de sentimentos para o bem é, assim, uma coisa de primeira necessidade, e essa comunhão não pode encontrar-se num meio heterogêneo, onde teriam acesso as baixas paixões do orgulho, da inveja e do ciúme, paixões que sempre se trairiam pela malevolência e pela acrimônia da linguagem, por espesso que seja, aliás, o véu com o qual se procure cobri-las; é o a, b, c, da ciência espírita.

JULHO DE 1859.
in RESPOSTA À RÉPLICA DO ABADE CHESNEL EM "L'UNIVERS"

Realmente, senhor abade, é abusar do direito de interpretar as palavras. Como já o disse, o Espiritismo está fora de todas as crenças dogmáticas, com o que não se preocupa; nós o consideramos uma ciência filosófica que nos explica uma porção de coisas que não compreendemos e, por isso mesmo, em vez de abafar as idéias religiosas como certas filosofias, fá-las brotar naqueles em que elas não existem. Se, entretanto, o quiserdes elevar a todo custo ao plano de uma religião, vós o atirais num caminho novo

O QUE É O ESPIRITISMO.
(1859)
"Iniciação Espírita"
EDICEL - 11ª. edição - São Paulo, 1987
Tradução de Joaquim da Silva Sampaio Lobo

in PREÂMBULO pág. 44

O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que decorrem dessas relações.

Podemos assim defini-lo:

O ESPIRITISMO É UMA CIÊNCIA QUE TRATA DA NATUREZA, DA ORIGEM E DO DESTINO DOS ESPÍRITOS, E DE SUAS RELAÇÕES COM O MUNDO CORPORAL.

in DIÁLOGO COM O CÉTICO, pág. 55

O Espiritismo é uma ciência que acaba de nascer e onde há muito que aprender.
 
(...)
 
O Espiritismo toca todos os ramos da Filosofia, da Metafísica, da Psicologia e da Moral; é um campo imenso que não pode ser percorrido em apenas algumas horas.

in pág. 62

...O Espiritismo esclarecido, como o é hoje, tende, ao contrário, a destruir as idéias supersticiosas, porque mostra o que existe de verdadeiro ou de falso nas crenças populares, e tudo o que a ignorância e os preconceitos aí misturaram de absurdo.

Vou mais longe, e digo que é precisamente o positivismo do século que nos faz adotar o Espiritismo e que é aquele que este deve sua rápida propagação.

in pág. 95

Existem duas coisas no Espiritismo: a parte experimental das manifestações, e a doutrina filosófica. (...) o fundo, é a doutrina, a ciência.

in DIÁLOGO COM O PADRE, pág. 99

O Espiritismo não se impõe, porque, ele respeita a liberdade de consciência.

in pág. 101

O Espiritismo prova e faz ver o que a religião ensina pela teoria.

in pág. 102

O Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência e não se ocupa das questões dogmáticas. Essa ciência tem conseqüências morais, como todas as ciências filosóficas. Essas conseqüências são boas ou más? Podemos julgá-las pelos princípios gerais que acabo de lembrar. Algumas pessoas enganaram-se sobre o verdadeiro caráter do Espiritismo. A questão é suficientemente grave para merecer alguns esclarecimentos.

in pág. 103

O Espiritismo, melhor observado desde que se vulgarizou, veio lançar luz sobre uma quantidade de questões até aqui insolúveis ou mal compreendidas. Seu verdadeiro caráter é, portanto, o de uma ciência, e não o de uma religião. A prova disso é que ele conta entre seus partidários homens de todas as crenças, que nem por isso renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos que não praticam menos os deveres de seu culto, quando não são repudiados pela Igreja, protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos, e até budistas e brâmanistas. Repousa então sobre princípios independentes de toda e qualquer questão dogmática. Suas conseqüências morais estão na linha do Cristianismo, pois que este é, de todas as doutrinas, a mais esclarecida e a mais pura, e é por essa razão que, de todas as seitas religiosas do mundo, os cristãos são os mais aptos a compreendê-lo em sua verdadeira essência. Pode-se censurá-lo por isso? Cada um pode, sem dúvida, fazer uma religião de suas opiniões, interpretar à vontade as religiões conhecidas, mas daí até a constituição de uma nova Igreja há uma grande distância.

in pág. 106

Acredite se quiser, que Josué parou o sol: isso não impedirá a Terra de girar. Acredite que o homem está na Terra somente há 6.000 anos: isso não impedirá os fatos de mostrarem a sua impossibilidade. E que dirá o senhor se, um belo dia, esta inexorável geologia vier a demonstrar, por traços patentes, a anterioridade do homem, como demonstrou tantas outras coisas? Creia, portanto, em tudo que quiser, mesmo no diabo, se essa crença o torna bom, humano e caridoso para com seus semelhantes. O Espiritismo como doutrina moral, impõe apenas uma coisa: a necessidade de fazer o bem e não praticar nenhum mal. É uma ciência de observação que, repito, tem conseqüências morais, e essas conseqüências são a confirmação e a prova dos grandes princípios da religião. Quanto às questões secundárias, deixa-as ao julgamento da consciência de 'cada um.  (Ver Revista Espírita de março de 1860: "OS PRÉ-ADAMITAS".

in pág. 116

Qual é o maior inimigo da religião? O materialismo, pois este em nada crê. Ora, o Espiritismo é a negação do materialismo, o qual não tem mais razão de ser. Não é mais pelo raciocínio ou pela fé cega que se diz ao materialista que nem tudo acaba com seu corpo, e sim pelos fatos; ele os mostra, fá-lo tocar com o dedo e ver com os olhos. Aí está um pequeno serviço que o Espiritismo presta à humanidade, à religião. Mas não é tudo: a certeza da vida futura, o quadro vivo daqueles que nos precederam, mostram a necessidade do bem e as conseqüências inevitáveis do mal. Eis porque sem ser em si mesmo uma religião, o Espiritismo está ligado essencialmente às idéias religiosas. Ele as desenvolve naqueles que não as possuem, fortifica-as naqueles em que estão incertas. A religião nele encontra, portanto, um apoio, não para as pessoas de vistas estreitas que a vêem toda na doutrina do fogo eterno, na letra mais que no espírito, mas para aquelas que a vêem segundo a grandeza e a majestade de Deus. 

REVISTA ESPÍRITA
ABRIL DE 1860.

in CONSIDERAÇÕES SOBRE O OBJETIVO E O CARÁTER DA SOCIEDADE.

"Senhores,
 
"Algumas pessoas parecem estar equivocadas sobre o verdadeiro objetivo e sobre o caráter da Sociedade; permiti-me lembrá-los em poucas palavras.

"O objetivo da Sociedade está nitidamente definido em seu título e no preâmbulo do regulamento atual; este objetivo é essencialmente, e pode-se dizer exclusivamente, o estudo da ciência Espírita; o que queremos, antes de tudo, não é convencer-nos, pois já o somos, mas instruir-nos e aprendermos o que não sabemos.

(...)...Não impomos as nossas idéias a ninguém; aqueles que as adotam é porque as acham justas; aqueles que vêm a nós é porque pensam e acham ocasião para aprenderem, mas não o é como filiação, porque não formamos nem seita, nem partido; estamos reunidos para o estudo do Espiritismo, como outros para o estudo da frenologia, da história ou de outras ciências; e como as nossas reuniões não repousam em nenhum interesse material, pouco nos imporia que se formem outras ao nosso lado. Isso seria, em verdade, supor-nos idéias bem mesquinhas, bem estreitas, bem pueris, crer que as veríamos com olhos de ciúme, e aqueles que pensassem criássemos rivalidades mostrariam, por isso mesmo, o quão pouco compreendem o verdadeiro espírito da Doutrina; não nos lamentamos senão de uma coisa, de que nos conheçam tão mal para nos crerem acessíveis ao ignóbil sentimento do ciúme.

(...)

Não impomos nossas idéias a ninguém. Os que as adotam é porque as consideram justas. Os que vêm a nós é porque pensam aqui encontrar oportunidade de aprender, mas isto não é como uma filiação, pois nem somos uma seita, nem um partido.

SETEMBRO DE 1860.
in O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL

Os fenômenos espíritas bem como os magnéticos, devem ter passado por prodígios, antes que suas causas fossem conhecidas. Ora, como os céticos, os espíritos fortes, isto é, os que tem o privilegio exclusivo da razão e do bom senso, não crêem que uma coisa seja possível desde que não a compreendem. Por isso todos os fatos tidos como prodigiosos são objeto de suas zombarias; e como a religião contém grande numero de fatos desse gênero, não crêem na religião. Daí a incredulidade absoluta há apenas um passo. Explicando a maioria desses fatos, o Espiritismo lhes da uma razão de ser. Ele, pois, vem em auxílio à religião, demonstrando a possibilidade de certos fatos que, por não mais terem caráter miraculoso, não são menos extraordinários; e Deus nem é menos grande, nem menos poderoso por não haver derrogado as suas leis. 

REVISTA ESPÍRITA
OUTUBRO DE 1861.

Discurso do Sr. Allan Kardec

Em seu nascimento, teve o cristianismo que lutar contra uma potência terrível: o Paganismo, então universalmente espalhado. Não havia entre eles qualquer aliança possível, como não ha entre a luz e as trevas. Numa palavra, não poderia propagar-se senão destruindo o que havia. Assim, a luta foi longa e terrível, de que as perseguições são a prova. O Espiritismo, ao contrario, nada tem a destruir. Porque assenta suas bases no próprio cristianismo; sobre o Evangelho do qual é simples aplicação. Concebeis a vantagem, não de sua superioridade, mas de sua posição. Não é pois, como pretendem alguns, sempre porque não o conhecem, uma religião nova, uma seita que se forma à custa das mais antigas: é uma doutrina puramente moral, que absolutamente, não se ocupa dos dogmas e deixa a cada um inteira liberdade de crenças, desde que nenhuma impõe. E a prova disto é que tem aderentes em todas, entre os mais fervorosos católicos como entre os protestantes, os judeus e os muçulmanos. O Espiritismo repousa sobre a possibilidade de comunicação com o mundo invisível, isto é, com as almas. Ora, como os judeus, os protestantes e os muçulmanos têm alma como nós, resulta que estas podem comunicar-se, tanto com eles quanto conosco, e que, conseqüentemente, eles podem ser Espíritas como nós.

Não é uma seita política, como não é uma religiosa: é a constatação de um fato que não pertence mais a um partido do que a eletricidade e as estradas de ferro; é, repito, uma doutrina moral e a moral esta em todas as religiões e em todos os partidos.

(...)

Não sei de ninguém que jamais tenha atacado a moral do Espiritismo; apenas dizem que a religião pode produzir tudo isto. Concordo perfeitamente. Mas então, porque não produz sempre? É porque ninguém a compreende. Ora, o Espiritismo, tornando claro e inteligível para todos aquilo que não é evidente, aquilo que é duvidoso, ele conduz à aplicação, ao passo que jamais se sente necessidade daquilo que se não compreende. Portanto, longe de ser o antagonista da religião, é o seu auxiliar; e a prova é que conduz às idéias religiosas os que as haviam repelido. Em resumo, o Espiritismo jamais aconselhou a mudança de religião, nem o sacrifício de suas crenças, não pertence realmente a nenhuma religião ou, melhor dito, está em todas elas. 

REVISTA ESPÍRITA
FEVEREIRO DE 1862.

Resposta à mensagem de ano novo dos espíritas lioneses

O Espiritismo é uma doutrina moral que fortifica os sentimentos religiosos em geral e se aplica a todas as religiões.

É de todas e não é de nenhuma em particular. Por isso não diz a ninguém que a troque. Deixa a cada um a liberdade de adorar Deus à sua maneira e de observar as práticas ditadas pela consciência, pois Deus leva mais em conta a intenção que o fato.

Ide, pois, cada um ao templo do vosso culto e, assim, provareis que vos caluniam quando vos tacham de impiedade. 

REVISTA ESPÍRITA
ABRIL DE 1862.

Conseqüências da doutrina da reencarnação

Todas as questões morais, psicológicas e metafísicas se ligam de maneira mais ou menos direta à questão do futuro.

Disso resulta que essa última questão, em certo modo, depende da racionalidade de todas as doutrinas filosóficas e religiosas.

Por sua vez, o Espiritismo vem, não como uma religião, mas como doutrina filosófica, trazer a sua teoria, apoiada no fato das manifestações. 

VIAGEM ESPÍRITA EM 1862.
Editora Clarim - Matão - 1ª Edição

Se o Espiritismo é uma verdade, se ele deve regenerar o mundo, é porque tem por base a caridade. Ele não vem derrubar qualquer culto nem estabelecer um novo. Ele proclama e prova verdades comuns a todos, base de todas as religiões, sem se preocupar com particularidades. Não vem destruir senão uma coisa: o materialismo, que é a negação de toda religião!

Não vem por abaixo senão um templo; o do orgulho e do egoísmo!(pg.82).

Sobre o uso de práticas exteriores de cultos nos grupos.

Tudo nas reuniões espíritas deve se passar religiosamente, isto é, com gravidade, respeito e recolhimento. Mas é preciso não esquecer que o Espiritismo se dirige a todos os cultos. Por conseguinte ele não deve adotar as formalidades de nenhum em particular. Seus inimigos já foram muito longe, tentando apresentá-lo como uma seita a nova, buscando um pretexto para combatê-lo. É preciso, pois, não fortalecer esta opinião pelo emprego de rituais dos quais não deixariam de tirar partido para dizer que as assembléias espíritas são reuniões de protestantes, de sismáticos etc. Seria uma leviandade supor que essas fórmulas são de natureza a acomodar certos antagonistas. O Espiritismo, chamando a si os homens de todas as crenças para uni-los sob o manto da caridade e da fraternidade, habituando-os a se olharem como irmãos, qualquer que seja sua maneira de adorar a Deus, não deve melindrar as convicções de ninguém pelo emprego de sinais exteriores de qualquer culto. (...)

Esta é, também, uma das razões pela qual deve-se abster, nas reuniões, de discutir dogmas particulares, o que, necessariamente, melindraria certas consciências. As questões morais, entretanto, são de todas as religiões e de todos os países. O Espiritismo é um terreno neutro sobre o qual todas as opiniões religiosas se podem encontrar e dar-se as mãos.(...)

O emprego dos aparatos exteriores do culto teria idêntico resultado: uma cisão entre os adeptos. Uns terminariam por achar que não são devidamente empregados, outros, pelo contrário, que o são em excesso. Para evitar esse inconveniente, tão grave, aconselhamos a abstenção de qualquer prece litúrgica sem exceção mesmo da oração dominical (*) por mais.

Bela que seja. Como para fazer parte de um grupo espírita não se exige que ninguém abjure sua religião, permita-se que cada um faça a seu bel prazer e mentalmente, a prece que julgar a propósito. O importante é que não haja nada de ostensivo e, sobretudo, nada de oficial.(pg.128). 

O ESPIRITISMO EM SUA MAIS SIMPLES EXPRESSÃO.
(1862)
"Iniciação Espírita"
Edicel - 11ª Edição - São Paulo, EDICEL, 1987.

Histórico do Espiritismo - pg. 27

O Espiritismo, independente de qualquer forma de culto, não aconselhando nenhum e não se preocupando com dogmas particulares, não constitui uma religião especial, pois não possui nem sacerdotes nem templos. Aos que lhe perguntam se fazem bem em seguir tal ou tal prática, apenas responde: Se sua consciência aprova o que você faz, faça-o: Deus sempre considera a intenção.

Numa palavra, o Espiritismo nada impõe a ninguém. Não se destina aos que tem fé, e a quem esta fé é suficiente, mas à numerosa classe dos inseguros e dos incrédulos. Não os afasta da Igreja, porquanto já estão dela moralmente afastados, de modo total ou parcial. Mas os leva a fazer três quartos do caminho para nela entrarem: cabe à Igreja fazer o resto.

REVISTA ESPÍRITA
JULHO 1864.

"Reclamação do sr. Abade Bariicand" (pág. 198)

A oposição que se faz a uma idéia está sempre em razão de sua importância; se o Espiritismo fosse uma utopia, dele não se teria ocupado mais do que de tantas outras teorias; a obstinação da luta é indício certo de que se o toma a sério. Mas se há luta entre o Espiritismo e o clero, a história dirá quais foram os agressores. Os ataques e as calúnias dos quais foi objeto forçaram devolver as armas que se lhe lançaram, e de mostrar os lados vulneráveis de seus adversários; estes, assediando-o, detiveram sua caminhada? Não; é um fato adquirido. Se o tivessem deixado em repouso, o próprio nome do clero não teria sido pronunciado, e talvez aquele nisso teria ganho. Atacando-o em nome dos dogmas da Igreja, forçou a discussão do valor das objeções e, por isso mesmo, de entrar sobre um terreno que não tinha a intenção de abordar. A missão do Espiritismo é combater a incredulidade pela evidência dos fatos, de conduzir a Deus aqueles que o desconhecem, de provar o futuro àqueles que crêem no nada; por que, pois, a Igreja lança anátema àqueles a quem dá essa fé, mais do que quando não acreditavam em nada? Repelindo aqueles que crêem em Deus e em sua alma por ele, é constrangê-los a procurar um refúgio fora da Igreja. Quem, o primeiro, a proclamar que o Espiritismo era uma religião nova com seu culto e seus sacerdotes, se não foi o clero? Onde, até o presente, viram-se o culto e os sacerdotes do Espiritismo? Se um dia tornar-se uma religião, o clero é que o terá provocado

REVISTA ESPÍRITA
JULHO 1864.

"Religião e o progresso" (pg. 203)

A contradição existente entre certas crenças religiosas e as leis naturais fez a maioria dos incrédulos, cujo numero aumenta à medida que se populariza o conhecimento dessas leis. Se fosse impossível o acordo entre a ciência e a religião, não haveria religião possível. Proclamamos altamente a possibilidade e a necessidade desse acordo porque, em nossa opinião, a ciência, e a religião são irmãs para maior glória de Deus e se devem completar reciprocamente, em vez de se desmentirem mutuamente. Estender-se-ão as mãos, quando a ciência não vir na religião nada de incompatível com os fatos demonstrados e a religião não mais tiver que temer a demonstração dos fatos. Pela revelação das leis que regem a relação entre o mundo visível e o invisível, o Espiritismo será o traço de união que lhes permitirá olhar-se face a face, uma sem rir, a outra sem tremer. É pela concordância da fé e da razão que diariamente tantos incrédulos são trazidos a Deus

REVISTA ESPÍRITA
NOVEMBRO 1864.

O Espiritismo é uma ciência positiva - pg. 324

Repito, demonstrando o Espiritismo, não por hipótese, mas por fatos, a existência do inundo invisível e o futuro que nos aguarda, muda completamente o curso das idéias; dá ao homem a força moral, a coragem e a resignação, porque não mais trabalha apenas pelo presente, mas pelo futuro; sabe que se não gozar hoje, gozará amanhã.

Demonstrando a ação do elemento espiritual sobre o mundo material, alarga o domínio da ciência e, por isto mesmo, abre uma nova via ao progresso material. Então terá o homem uma base sólida para o estabelecimento da ordem moral na terra; compreenderá melhor a solidariedade que existe entre os seres deste mundo, desde que esta se perpetua indefinidamente; a fraternidade deixa de ser palavra vã; ela mata o egoísmo, em vez de ser morta por ele e, muito naturalmente, imbuído destas idéias, o homem a elas conformará as suas leis e suas instituições sociais.

O Espiritismo conduz inevitavelmente a essa reforma. Assim, pela força das coisas, realizar-se-á a revolução moral que deve transformar a humanidade e mudar a face do mundo; e isto muito simplesmente pelo conhecimento de uma nova lei da natureza que dá um outro curso às idéias, uma significação a esta vida, um objetivo às aspirações do futuro, e faz encarar as coisas de outro ponto de vista. 

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Introdução - 1864.

Podem dividir-se em cinco partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo;

- os milagres;
- as predições;
- as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento de seus dogmas; e
- o ensino moral.

As quatro primeiras têm sido objetos de controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente inatacável. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos podem reunir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda a parte se originaram das questões dogmáticas. Alias se o discutissem, nele teriam as seitas encontrado sua própria condenação, visto que, na maioria, elas se agarram mais à parte mística do que à parte moral, que exige de cada um a reforma de si mesmo. 

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
1864.

Capítulo I, item 5

O Espiritismo é a ciência nova que vem revelar aos homens, por meio de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. 

REVISTA ESPÍRITA
Março 1865.

O Sr A. Kardec aos espíritas devotados no caso Hillaire

Eis por que, quando o Espiritismo tornar-se a crença de todos, não haverá mais incrédulos, nem materialistas, nem ateus. Sua missão é combater a incredulidade, a dúvida, a indiferença; assim ele não se dirige aos que tem fé, mas aos que em nada crêem ou duvidam. Não diz a ninguém que deixe sua religião; respeita todas as crenças quando estas são sinceras.

Aos seus olhos a liberdade de consciência é um direito sagrado; se não a respeitasse faltaria ao seu princípio que é a caridade.

Neutro entre todos os cultos. Será o laço que os reunirá sob uma mesma bandeira, a da fraternidade universal.

Um dia eles se darão as mãos em vez de se anatematizarem. 

O CÉU E O INFERNO
1865.
Edição Lake - Parte II, cap. I

O espírita sério não se limita a crer, porque compreende e compreende porque raciocina; a vida futura é uma realidade que se lhe desenrola incessantemente aos olhos; uma realidade que ele toca e vê, por assim dizer, a cada passo e de modo que a dúvida não pode empolgá-lo, ou ter-lhe guarida na alma. A vida corporal, tão limitada, amesquinha-se diante da vida espiritual, da verdadeira vida. Que lhe importam os incidentes da jornada se ele compreende a causa e utilidade das vicissitudes humanas, quando suportadas com resignação? a alma eleva-se-lhe nas relações com o mundo visível; os laços fluídicos que o ligam à matéria enfraquecem-se, operando-se por antecipação um desprendimento parcial que facilita a passagem para a outra vida. A perturbação conseqüente à transição pouco perdura, porque, uma vez franqueado o passo, para logo se reconhece, nada estranhando, antes compreendendo a nova situação.

Com certeza não é só o Espiritismo que nos assegura tão auspicioso resultado, nem ele tem pretensão de ser o meio exclusivo, a garantia única de salvação para as almas. Força é confessar, porém, que pelos conhecimentos que fornece, pelos sentimentos que inspira, como pelas disposições em que coloca o Espírito, fazendo-lhe compreender a necessidade de melhorar-se, facilita enormemente a salvação. 

OBRAS PÓSTUMAS
2ª PARTE

Regeneração da humanidade

O Espiritismo é a vida que conduz à renovação, porquanto arruína os dois maiores obstáculos que se lhe opõem: a incredulidade e o fanatismo. Desperta uma fé sólida e esclarecida, desenvolve todos os sentimentos e idéias correspondentes aos ideais da nova geração. Por isso é inato e em estado de intuição no coração dos seus representantes. A nova era o verá, pois, crescer e prosperar pela força das coisas; tornar-se-á a base de todas as crenças, o ponto de apoio de todas as instituições.

(...) 

REVISTA ESPÍRITA
SETEMBRO 1866.

Crônica de Bruxelas (pg. 266).

Se o Sr. Bertram tivesse lido as livros espíritas com tanta atenção quanto o diz, saberia se os Espíritas são tão simplórios para evocar o Judeu-Errante e Dom Quixote; saberia o que o Espírito aceita e o que rejeita; não afetaria apresentá-lo como Salomão J. Benchaya uma religião porque, ao mesmo título, todas as filosofias seriam religiões desde que é de sua essência discutir as bases mesmas de todas as religiões: Deus e a natureza da alma. Compreenderia, enfim, que jamais o Espiritismo se tornasse uma religião, não poderia tornar-se intolerante sem renegar seu princípio que é a fraternidade universal, sem distinção de seita e de crença; sem abjurar sua divisa: fora da caridade não há salvação, símbolo o mais explícito do amor ao próximo, da tolerância e da liberdade de consciência. Ele jamais disse: fora do Espiritismo não há salvação. Se uma religião se encaixasse sobre o Espiritismo com exclusão de seus princípios, não seria mais Espiritismo.

O Espiritismo é uma doutrina filosófica que toca em todas as questões humanitárias. Pelas modificações profundas que trás às idéias, faz encarar as coisas de outro ponto de vista. Daí, para o futuro, inevitáveis modificações nas relações sociais. É uma mina fecunda onde as religiões como as ciências e como as instituições civis colherão elementos de progresso.

Mas, porque toca em certas crenças religiosas, não constitui um culto novo, assim como não é um sistema particular de política, de legislação ou de economia social. Seus templos, suas cerimônias e seus sacerdotes estão na imaginação de seus detratores e dos que temem vê-lo tornar-se religião

REVISTA ESPÍRITA
OUTUBRO 1866.

Os tempos são chegados

A fraternidade deve ser a pedra angular da nova ordem social. Mas não haverá fraternidade real, sólida e efetiva se não for apoiada em base inabalável; esta base é a fé; não a fé em tais ou quais dogmas particulares que mudam com os tempos e os povos e se atiram pedras porque anatematizando-se, entretém o antagonismo, mas a fé nos princípios fundamentais que todo o mundo pode aceitar: Deus, a alma, o futuro, o progresso individual indefinido, a perpetuidade das relações entre os seres. Quando todos os homens estiverem convencidos que Deus é o mesmo para todos, que esse Deus, soberanamente justo e bom, nada pode querer de injusto, que o mal vem dos homens e não dele, olhar-se-ão como filhos de um mesmo pai e dar-se-ão as mãos. Esta é a fé que dá o Espiritismo e que será de agora em diante o centro em torno do qual mover-se-á o gênero humano, sejam quais forem as maneiras de o adorar e suas crenças particulares que o Espiritismo respeita mas das quais não tem que se ocupar. (pg. 296)

Nesse grande movimento regenerador, o Espiritismo tem um papel considerável, não o Espiritismo ridículo, inventado por uma crítica trocista, mas o Espiritismo filosófico, tal qual o compreende quem quer que se dê a pena de procurar a amêndoa dentro da casca. Pela prova que ele trás das verdades fundamentais, ele enche o vazio que a incredulidade faz nas idéias e nas crenças; pela certeza que dá de um futuro conforme a justiça de Deus e que a mais severa razão pode admitir, ele tempera os amargores da vida e evita os funestos efeitos do desespero.

Dando a conhecer novas leis da natureza, ele dá a chave de fenômenos incompreendidos e problemas até agora insolúveis e mata, ao mesmo tempo, a incredulidade e a superstição. Para ele não há sobrenatural nem maravilhoso; tudo se realiza no mundo em virtude de leis imutáveis. Longe de substituir um exclusivismo por outro, coloca-se como campeão absoluto da liberdade de consciência: combate o fanatismo sob todas as formas e o corta pela raiz. (...) pg. 298 

REVISTA ESPÍRITA
SETEMBRO 1867.

Caracteres da revelação espírita - pg. 278 - rodapé

O Espiritismo não é contrário à crença dogmática relativa a natureza do Cristo e, neste caso, pode dizer-se o complemento do Evangelho, se o contradiz?

A solução desta questão toca apenas de maneira acessória o Espiritismo que não tem que se preocupar com dogmas particulares de tal ou qual religião. Simples doutrina filosófica, não se arvora em campeão nem e adversário sistemático de nenhum culto e deixa a cada um a sua crença.

A questão da natureza do Cristo é capital do ponto de vista cristão. Não pode ser tratada levianamente e, não são as opiniões pessoais, nem dos homens, nem dos espíritos que a podem decidir. Em assunto semelhante não basta afirmar ou negar; é preciso provar. 

REVISTA ESPÍRITA
DEZEMBRO 1868.

Discurso de Abertura pelo Sr. A. Kardec - O Espiritismo é uma religião?

Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembléias religiosas deve ser a “comunhão de pensamentos”; é que, com efeito, a palavra “religião” quer dizer “laço”. Uma religião, em sua acepção nata e verdadeira, é um laço que “religa” os homens numa comunidade de sentimentos, de principio e de crenças. Consecutivamente, esse nome foi dado a esses mesmos princípios codificados e formulados em dogmas ou artigos de fé. É neste sentido que se diz: “a religião política”; entretanto, mesmo nesta acepção, a palavra “religião” não é sinônimo de “opinião”; implica uma idéia particular; a “de fé conscienciosa”; eis porque se diz também: “a fé política”. Ora, os homens podem envolver-se, por interesse num partido, sem ter fé nesse partido, e a prova é que o deixam sem escrúpulo, quando encontram seu interesse alhures, ao passo que aquele que o abraça por convicção é inabalável; persiste ao preço dos maiores sacrifícios e é a abnegação dos interesses pessoais que é a verdadeira pedra de toque da fé sincera.

O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, um laço essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito. O efeito desse laço moral é o de estabelecer entre os que ele une, como conseqüência da comunidade de vistas e de sentimentos, a fraternidade e a solidariedade, a indulgência e a benevolência mútuas. É nesse sentido que também se diz: a religião da amizade, a religião da família.

Se é assim, perguntarão, então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza.

Porque, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Porque não há uma palavra para exprimir duas idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; desperta exclusivamente uma idéia de forma que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seus cortejos de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria de idéias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes se levantou a opinião pública.

Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual do vocábulo, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor inevitavelmente se teria equivocado. Eis porque simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral.

As reuniões espíritas podem, pois, ser feitas religiosamente, isto é, com o recolhimento e o respeito que comporta a natureza grave dos assuntos de que se ocupa. Pode-se mesmo, na ocasião, aí fazer preces que, em vez de serem ditas em particular, são ditas em comum, sem que por isto as tomem por assembléias religiosas. Não se pense que isto seja um jogo de palavras; a nuança é perfeitamente clara, e a aparente confusão é devida a falta de um vocábulo para cada idéia.

Qual é, pois, o laço que deve existir entre os espíritas? Eles não estão unidos entre si por nenhum contato material, por nenhuma prática obrigatória.  Qual o sentimento no qual se devem confundir todos os pensamentos? É um sentimento todo moral, todo espiritual, todo humanitário: o da caridade para todos, ou, por outras palavras: o amor do próximo, que compreende os vivos e os mortos, desde que sabemos que os mortos sempre fazem parte da humanidade.

A caridade é a alma do Espiritismo: ela resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes; eis porque se pode dizer que não há verdadeiro espírita sem caridade.

(...)

Crer num Deus Todo-Poderoso, soberanamente justo e bom; crer na alma e em sua imortalidade; na pré-existência da alma como única justificação do presente; na pluralidade das existências como meio de expiação, de reparação e de adiantamento moral e intelectual; na perfectibilidade dos seres mais imperfeitos; na felicidade crescente com a perfeição; na equitável remuneração do bem e do mal, conforme o princípio: a cada um segundo as suas obras; na igualdade da justiça para todos, sem exceções, favores nem privilégios para nenhuma criatura; na duração da expiação limitada pela imperfeição; no livre-arbítrio do homem, que lhe deixa sempre a escolha entre o bem e o mal; crer na continuidade que liga o mundo visível ao invisível; na solidariedade que religa todos os seres passados, presentes e futuros, encarnados e desencarnados; considerar a vida terrestre como transitória e uma das fases da vida do Espírito, que é eterna; aceitar corajosamente as provações, em vista do futuro mais invejável que o presente; praticar a caridade em pensamentos, palavras e obras na mais larga acepção da palavra; esforçar-se cada dia para ser melhor que na véspera, extirpando alguma imperfeição de sua alma; submeter todas as crenças ao controle do livre exame e da razão e nada aceitar pela fé cega; respeitar todas as crenças sinceras, por mais irracionais que nos pareçam e não violentar a consciência de ninguém; ver enfim nas descobertas da ciência a revelação das leis da natureza, que são as leis de Deus; eis o “Credo, a religião do Espiritismo”, religião que se pode conciliar com todos os cultos, isto é, com todas as maneiras de adorar a Deus.  É o laço que deve unir todos os espíritas numa santa comunhão de pensamentos, esperando que ligue todos os homens sob a bandeira da fraternidade universal.

Com a fraternidade, filha da caridade, os homens viverão em paz e se pouparão males inumeráveis, que nascem da discórdia, por sua vez filha do orgulho, do egoísmo, da ambição, do ciúme e de todas as imperfeições da humanidade.

O Espiritismo dá aos homens tudo o que é preciso para a felicidade aqui na terra, porque lhes ensina a se contentarem com o que têm. Que os espíritas sejam, pois, os primeiros a aproveitar os benefícios que ele traz, e que inaugurem entre si o reino da harmonia, que resplenderá nas gerações futuras

OBRAS PÓSTUMAS.

Breve resposta aos detratores do Espiritismo - pg. 198 - Edição Lake

O Espiritismo é uma doutrina filosófica, que tem consequências religiosas, como toda filosofia espiritualista; pelo que toca forçosamente nas bases fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a vida futura. Não é ele, porém, uma religião constituída, visto que não tem culto, nem rito, nem templo, e, entre os seus adeptos, nenhum tomou nem recebeu o título de sacerdote ou papa. Estas qualificações são puras invenções da crítica

OBRAS PÓSTUMAS.

Constituição do Espiritismo - Pg. 262 - Edição Lake

Para garantir a unidade no futuro, é indispensável que todas as partes do corpo da Doutrina sejam determinadas com precisão e clareza, sem que nenhuma fique mal definida. Neste sentido temos feito todo o esforço para que os nossos escritos não se prestem a interpretações contraditórias e esforçar-nos-emos por manter essa regra. (...)

O Espiritismo contém princípios que, sendo firmados sobre leis naturais e não sobre abstrações metafísicas, tendem a ser, e um dia o serão, abraçados pela universalidade dos homens. Abraça-los-ão todos, como verdades palpáveis e demonstradas, como abraçaram a teoria do movimento da terra. Pretender, porém que o Espiritismo venha a ser organizado, por toda a parte, da mesma maneira; que os espíritas do mundo inteiro sejam sujeitos a um regime uniforme, a uma única norma de procedimento; que devem esperar a luz de um único ponto, para onde tenham voltado os olhos, seria utopia tão absurda, como pretender que todos os povos da terra não formem um dia senão uma única nação, governada por um único chefe, regida por um mesmo código de lei e tendo usos e costumes idênticos. Se há leis gerais, que podem ser comuns a todos os povos, estas leis serão sempre, quanto à forma e a regulamentação, apropriadas aos costumes, aos caracteres, aos climas de cada um.

Organizado o Espiritismo, os espíritas de toda parte terão princípios comuns, que ligarão a grande família pelos laços sagrados da fraternidade; mas a respectiva aplicação poderá variar, segundo os países, sem que, por isso, seja rota a unidade fundamental, sem que se formem seitas dissidentes, que se lancem o anátema, o que seria antiespírita.

Poderão pois formar-se e inevitavelmente se formarão centros gerais nos diferentes países, sem outro laço além da comunhão de crenças e a solidariedade moral, sem subordinação de uns a outros, sem que o da França, por exemplo tenha a pretensão de se impor aos espíritas americanos e vice-versa. (Pg. 273 - Edição Lake).

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(*) NOTA:

A seleção de textos de Allan Kardec usada nesta pesquisa foi sugerida por Maurice Herbert Jones e publicada na revista “Reencarnação”, nº. 402, de out/86.

Obs: Matéria semelhante, também foi apresentada por Jones, então vicepresidente da FERGS, numa palestra sobre o tema “É o Espiritismo uma Religião? – o pensamento de Kardec” realizada em 26/10/85, no I Ciclo de Estudos Espíritas, promovido pelo Depto. de Difusão da FERGS, na S.E. Paz e Amor, de Porto Alegre.

Uma seleção semelhante a esta de textos de Allan Kardec pode ser encontrada neste endereço eletrônico:
Da Religião Espírita ao Laicismo - Salomão J. Benchaya
ISBN 85-7697-030-9 - 1ª. Edição - © 2006
Anexo 1 - O Espiritismo é uma religião?, pág.143.

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