A PRECE
Estudo com base in O Livro dos Espíritos Livro 3, cap. II, subcap. IV, qq. de 658 à 666
Obra codificada por Allan Kardec.
Pesquisa: Elio Mollo
O Espiritismo fala sobre a utilidade da prece, não por espírito de sistema, mas porque a observação permitiu constatar a sua eficácia e o seu modo de ação.
A prece é uma necessidade universal, independente das seitas e das nacionalidades. Pela prece o homem sente-se mais forte, em estando triste, sente-se consolado. Tirar a prece é privar o homem de seu mais poderoso sustento moral na adversidade. Pela prece ele eleva sua alma, entra em comunhão com Deus, identifica-se com o mundo espiritual, desmaterializa-se, condição essencial de sua felicidade futura. Sem a prece, seus pensamentos permanecem sobre a Terra e, se prendem unicamente, às coisas materiais, não promovendo assim, o seu adiantamento espiritual.
A prece é um pensamento, um laço que nos liga Deus ou com os Espíritos. Pode ser um apelo, uma invocação (1) ou uma verdadeira evocação (2). Para que a prece seja útil tem que ser sempre um pensamento benevolente, só assim, ela será agradável para aqueles que lhe é dirigida.
Com relação à Deus, a prece é um ato de adoração, de humildade e de submissão ao qual não se pode recusar sem desconhecer o poder e a bondade do Criador, sendo assim, orar a Deus
· É pensar NELE
· É aproximar-se DELE,
· É pôr-se em comunicação com ELE.
Pela prece dirigida à Deus podemos fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer.
A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração,
A intenção é tudo. A sinceridade e a humildade são as chaves.
Pela prece podemos elevar a alma, entrar em comunhão com Deus, nos identificar com o mundo espiritual, e sair pelo pensamento (3) do mundo material agitado, emancipando nossa alma para buscar ânimo e disposição para prosseguir adiante na vida, cujo compromissos assumidos, temos que cumprir.
A prece nos torna melhores quando oramos com disposição e confiança, fazendo-nos mais forte contra as tentações que poderão nos trazer situações desagradáveis ou diante das dificuldades da vida onde a prece pode nos oferecer a calma e a serenidade necessárias para as enfrentarmos.
Muita vezes costumamos orar como se fosse um ritual, mas o rito é uma forma, enquanto a prece espontânea, aquela que sai naturalmente do fundo do coração não tem rito, é um diálogo sincero, que flui de forma natural, com Deus ou com aquele a quem desejamos nos dirigir.
Quando oramos a Deus com disposição e confiança, com boa intenção e sinceridade Ele nos envia bons Espíritos para nos assistir. É um socorro jamais recusado, quando Lhe pedimos com sinceridade.
O essencial não é orar muito, mas orar bem, pois não é pela multiplicidade das palavras que seremos ouvido, mas pela sinceridade com que fazemos a prece.
A prece não oculta nossas faltas. Quando pedimos a Deus o perdão de nossas faltas só o obteremos se mudarmos nossa conduta para melhor. Para isso, é necessário o estudo de nós mesmos (autoconhecimento), precisamos nos conhecer para melhorarmos naqueles pontos em que estamos errando (4). Só assim poderemos fazer jus ao perdão divino.
Com relação aos Espíritos, que não são outros senão as almas daqueles que passaram para o outro lado da vida, pode ser de um ente querido, seja um familiar ou um amigo, de alguém necessitado, não importa para quem desejamos orar, a prece é uma identificação de pensamentos, um testemunho de simpatia; repeli-la, é repelir a lembrança dos seres que nos são caros, porque essa lembrança simpática e benevolente é em si mesma uma prece. Aliás, sabe-se que aqueles que sofrem a reclamam com instância como um alívio, recusá-la é como recusar o copo d'água a alguém que tem sede.
Vale dizer, que as boas ações são as melhores preces, elas valem muito mais do que palavras. Sendo assim, é muito útil orar pelos outros agindo com vontade (5) de fazer o bem. Com isso, pela prece, atraímos bons Espíritos que se associam ao bem que desejamos fazer.
Possuímos em nós mesmos, pelo pensamento e a vontade, um poder de ação que se estende muito além dos limites de nossa esfera corpórea (6). A prece por outros é um ato dessa vontade. Se for ardente e sincera, pode chamar os bons Espíritos em auxílio daquele por quem pedimos, a fim de lhe sugerirem bons pensamentos e lhe darem a força necessária para o corpo e a alma. Mas ainda nesse caso a prece do coração é tudo e a dos lábios não é nada.
Além da ação puramente moral, o Espiritismo nos mostra, na prece, um efeito salutar, resultante da transmissão fluídica (7), seja nos sofrimentos morais ou nas doenças físicas, a eficácia, pode ser constatada pela experiência. Rejeitar a prece é, pois, privar-se de um poderoso auxiliar para o alívio dos males corpóreos.
As preces que fazemos por nós mesmos, para aliviar nossas provas, é uma necessidade e na maioria das vezes um impulso natural, mas temos que ter consciência que Deus não modifica a natureza das nossas provas e nem desvia-lhes o curso, pois essas provas são necessárias para o progresso do espírito e devem ser suportadas até o fim, mas Deus leva sempre em conta a resignação. A prece atrai os bons Espíritos, que nos darão a força de as suportar com coragem. Então receberemos a força para que as administremos com resignação (8) e mais disposição. Vale dizer que a prece nunca é inútil, quando bem feita, porque nos oferece a força, o que é um grande resultado.
Deus, não muda a ordem da Natureza ao sabor de cada um, porque aquilo que é um grande mal, do nosso ponto de vista mesquinho, para a nossa vida efêmera, muitas vezes é um grande bem na ordem geral do Universo (9). Além disso, de quantos males não fomos o próprio autor, por nossa imprevidência cometemos essas faltas! Somos afetados pelo que cometemos de errado em relação a Lei Universal. Ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará (10), é o que aprendemos um dia. Solicitando à Deus, pela prece, remissão de nossas faltas, sob promessa de empregarmos os esforços necessários em não contrair outras. Com que direito poderemos, pela prece, reclamar a indulgência se não aplicarmos esforços para dominar nossas más tendências.
Nossos pedidos, quando justos, geralmente são ouvidos, mais do que podemos imaginar. Pensamos que Deus não nos ouviu, porque não fez um milagre espetaculoso em nosso favor, entretanto, Ele nos assiste por meios tão naturais que nos parecem o efeito do acaso ou da força das coisas. Muito freqüentemente, Ele, através de seus mensageiros, nos suscita o pensamento necessário para sairmos por nós mesmos do embaraço em que nos colocamos.
Não é inútil orar pelos mortos e pelos Espíritos sofredores, pois se a prece não pode ter o efeito de mudar os desígnios de Deus, mas a alma pela qual se ora experimenta alívio, porque é um testemunho de interesse que se lhe dá e porque o infeliz é sempre consolado, quando encontra almas caridosas que compartilham as suas dores. De outro lado, pela prece provoca-se o arrependimento, desperta-se o desejo de fazer o necessário para se tornar feliz. É nesse sentido que se pode abreviar o seu sofrimento, se do seu lado ele contribui e aceita a prece de boa vontade. Esse desejo de melhora, excitado pela prece, atrai para o Espírito sofredor, Espíritos melhores, que vêm esclarecê-lo, consolá-lo e dar-lhe esperanças. Jesus orava pelas ovelhas transviadas. Com isso nos mostrava que seremos responsabilizados se nada fizermos pelos que mais necessitam.
O Cristo disse aos homens: amai-vos uns aos outros. Essa recomendação implica também a de empregar todos os meios possíveis de testemunhar afeição aos outros, sem entrar, entretanto, em nenhum detalhe sobre a maneira de atingir o objetivo. Se é verdade que nada pode desviar o Criador de aplicar a justiça, que é inerente a Ele mesmo, a todas as ações do Espírito, não é menos verdade que a prece que dirigimos em favor daquele que nos inspira afeição, é para este um testemunho de recordação que não pode deixar de contribuir para aliviar os seus sofrimentos e o consolar. Desde que ele revele o mais leve arrependimento, e somente então, será socorrido: mas isso não o deixará jamais esquecer que uma alma simpática se ocupou dele e lhe dará a doce crença de que essa intercessão lhe foi útil. Resultando de sua parte, um sentimento de afeição por aquele que lhe deu essa prova de interesse e de piedade.
Podemos orar aos bons Espíritos, como sendo os mensageiros de Deus e os executores de seus desígnios, mas o seu poder está na razão da sua superioridade e decorre sempre do Senhor de todas as coisas, sem cuja permissão nada se faz; eis porque as preces que lhes dirigimos só são eficazes se forem agradáveis a Deus.
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(1) Invocação (do lat. in, em, e vocare, chamar) Invocar é chamar a si ou em seu socorro um poder superior ou sobrenatural. Invoca-se Deus pela prece. Toda prece é uma invocação. A invocação está no pensamento. Na invocação o ser ao qual nos dirigimos nos ouve. Geralmente, a invocação é dirigida aos seres que supomos bastante elevados para nos assistir.
A prece é uma invocação e, em certos casos, uma evocação, pela qual chamamos a nós tal ou tal Espírito. Quando é dirigida a Deus, ele nos envia seus mensageiros, os Bons Espíritos. A prece não pode revogar os decretos da Providência; mas por ela os bons Espíritos podem vir em nosso auxílio, quer para dar-nos a força moral que nos falta, quer para sugerir-nos os pensamentos necessários; daí vem o alívio que experimentamos quando oramos com fervor. Daí vem também o alívio que experimentam os Espíritos sofredores quando oramos por eles; eles mesmos pedem essas preces sob a forma que lhes é familiar e que está mais em relação com as idéias que conservaram de sua existência corporal; mas a razão, de acordo nisto com os Espíritos, nos diz que a prece dos lábios é uma fórmula vã quando dela o coração não toma parte. (Allan Kardec no vocabulário da obra Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas.)
(2) Evocação (do lat. vocare e e ou ex, de, fora de) – Evocar é chamar, fazer vir a si, fazer aparecer por cerimônias mágicas, por encantamentos. Evocar almas, Espíritos, sombras. A evocação é um ato. Na evocação o ser ao qual nos dirigimos sai do lugar em que estava para vir a nós e manifestar sua presença. Os necromantes pretendiam evocar as almas dos mortos (acad.). Entre os antigos, evocar era fazer saírem as almas dos infernos para fazê-las vir aos viso. Evocam-se tanto os Espíritos inferiores como os superiores. Outrora a evocação era acompanhada de práticas místicas, ou porque os evocadores as julgassem necessárias ou, o que é mais provável, para se atribuírem o prestígio de um poder superior. “Moisés proibiu, sob pena de morte, evocar as almas dos mortos, prática sacrílega em uso entre os cananeus. O 22º capítulo do II Livro dos Reis fala da evocação da sombra de Samuel pela pitonisa”. Segundo os povos antigos, todas as almas evocadas ou eram errantes ou vinham dos infernos, que compreendiam, como se sabe, tanto os Campos Elíseos como o Tártaro; a essa idéia não se ligava nenhuma interpretação má. A arte das evocações, como se vê, remonta à mais alta antigüidade. É encontrada em todas as épocas e em todos os povos. Hoje se sabe que o poder de evocar não é um privilégio, que ele pertence a toda gente e que as cerimônias mágicas, em geral, não passavam de um vão aparato. Essa crença cai à medida que se adquire um conhecimento mais aprofundado dos fatos; também é ela a menos espalhada entre todos os que crêem na realidade das manifestações espíritas: ela não poderia prevalecer diante da experiência e de um raciocínio isento de preconceitos. (Allan Kardec no vocabulário da obra Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas.)
(3) O pensamento é o atributo característico do ser espiritual; é ele que distingue o espírito da matéria: sem o pensamento, o espírito não seria espírito. (Allan Kardec - Revista Espírita, dezembro de 1868, Sessão Anual Comemorativa dos Mortos)
(4) Reconhece-se o verdadeiro espírita (ou homem de bem) pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más. Allan Kardec in O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4).
(5) A vontade não é atributo especial do espírito: é o pensamento chegado a um certo grau de energia; é o pensamento tornado força motriz. (Allan Kardec - Revista Espírita, dezembro de 1868, Sessão Anual Comemorativa dos Mortos)
(6) “O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, ao explicar a forma de transmissão do pensamento, seja quando o ser a quem oramos atende ao nosso apelo, seja quando o nosso pensamento eleva-se a ele. Para se compreender o que ocorre nesse caso, é necessário imaginar todos os seres, encarnados e desencarnados, mergulhados no fluido universal que preenche o espaço, assim como na terra estamos envolvidos pela atmosfera. Esse fluido é impulsionado pela vontade, pois é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto as do fluido universal se ampliam ao infinito. Quando, pois, o pensamento se dirige para algum ser, na terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som.
A energia da corrente guarda proporção com a do pensamento e da vontade. É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem, assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações, e que as relações se estabelecem à distância entre os próprios encarnados”. (Allan Kardec in O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXVII, item 10)
(7) O fluido vital é o mesmo que o fluido elétrico animalizado, designado, também, sob os nomes de fluido magnético, fluido nervoso, etc.
A quantidade de fluido vital não é fator absoluto para todos os seres orgânicos; varia segundo as espécies e, não é fator constante, seja no mesmo indivíduo, seja nos indivíduos da mesma espécie. Existem alguns que são, por assim dizer, saturados, enquanto outros dispõem apenas de uma quantidade suficiente; daí, para alguns, a vida é mais ativa, mais vibrante e, de certo modo superabundante.
A quantidade de fluido vital se esgota; pode a vir a ser insuficiente para manter a vida, se não renovado pela absorção e a assimilação das substâncias que o contém.
O fluido vital se transmite de um indivíduo para o outro. Aquele que tem o bastante, pode dá-lo aquele que tem pouco e, em certos casos restabelecer a vida prestes a se apagar. (Allan Kardec na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita (O Livro dos Espíritos) e em nota referindo-se as questões de 68 a 70.)
(8) Não devemos ver a resignação como uma atitude passiva em qualquer situação de dificuldade ou sofrimento, e sim como um desafio a resolver, ou seja, não devemos ficar lamentando, reclamando ou revoltar-se com a situação, mas sempre procurar uma solução para resolve-la. Isto nos leva a conclusão que devemos estar sempre lutando, pois assim exige a Lei do Progresso para atingirmos a meta da perfeição. (E. M.)
(9) Espinosa dizia que "Deus age segundo unicamente as leis de sua natureza, sem ser constrangido por ninguém" (Proposição XVII da "Ética), e afirmava a impossibilidade do milagre, por ser uma violação das leis de Deus. Também no tocante aos males individuais, alegava que eles não existiam na ordem geral do Universo. (Nota do J. Herculano Pires.)
(10) Ajuda-te e o céu te ajudará. É o princípio da lei do trabalho, e por conseguinte, da lei do progresso. Porque o progresso é o produto do trabalho, desde que é este que põe em ação as forças da inteligência. (Allan Kardec in O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXV, item 2).
Outras fontes usadas no texto:
Allan Kardec - Revista Espírita, janeiro de 1866, Considerações sobre a Prece no Espiritismo.
Allan Kardec - Revista Espírita, dezembro de 1859, Efeitos da Prece.
Allan Kardec - Revista Espírita, dezembro de 1868, Sessão Anual Comemorativa dos Mortos
Allan Kardec - O Livro dos Espíritos (Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita e em nota referindo-se as questões de 68 a 70.)
Allan Kardec - Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, Vocabulário.
Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4.
Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXVII, item 10.
Allan Kardec - O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXV, item 2
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