quinta-feira, 23 de maio de 2013

TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS


TEORIA DAS MANIFESTAÇÕES FÍSICAS
Estudo com base em respostas dadas pelo Espírito São Luís na Revista Espírita (1) de maio / junho 1858 - Nº. 5 e 6, Teoria das manifestações físicas. (2)
Pesquisa: Elio Mollo
Em 23/05/2013


Para um Espírito poder aparecer com a solidez de um corpo vivo ele combina uma parte do fluido universal com o fluido que libera do médium, apropriado para esse efeito. Esse fluido, conforme a vontade do Espírito, reveste a forma que deseja, mas geralmente essa forma é impalpável.

A natureza desse fluido é semimaterial. É esse fluido que compõe o perispírito e faz a ligação do Espírito com a matéria, assim, o fluido universal é o elemento do fluido vital também chamado de fluido magnético, fluido elétrico, fluido nervoso, etc..

O princípio vital é a força motriz dos corpos orgânicos, comum a todos os seres vivos, desde as plantas até os homens.

Esse princípio reside no fluído universal. E, é por meio desse fluido que o Espírito atua sobre a matéria. Sua união com a matéria causa a animalização, ou seja, é o que dá vida a matéria e tem por fonte o fluido vital, assim também, é esse fluido que anima os seres vivos.

O princípio vital é modificado segundo as espécies. É ele que dá movimento e atividade a matéria orgânica, distinguindo-a da matéria inerte, porquanto o movimento da matéria não é a vida. Esse movimento ela o recebe não o dá. (3)

Esse fluido não é uma emanação da Divindade, é uma criação Dela, pois, tudo foi criado, exceto Deus. 

Essa substância etérea envolve os mundos, pois, sem o princípio vital nada viveria. Se um homem se elevasse acima do fluido universal que rodeia os globos, pereceria, porque o princípio vital se retiraria dele para juntar-se à massa. (4)

Esse fluido tem o mesmo princípio em todos os mundos, mais ou menos etéreo, segundo a natureza deles.

Uma vez que é esse fluido que compõe o perispírito, ele parece estar numa espécie de estado de condensação que o aproxima, até um certo ponto, da matéria, porque não tem as suas propriedades, assim, ele é mais ou menos condensado segundo os mundos. Por exemplo, no planeta Terra, é um dos mais materiais.

Quando uma mesa girante (5) se move, o Espírito que a movimenta vai haurir, no fluido universal para animar essa mesa de uma vida artificial. Os Espíritos que produzem esses tipos de efeitos são sempre Espíritos inferiores, que ainda não estão inteiramente libertos de seu fluido ou perispírito. Estando a mesa assim preparada à sua vontade (à vontade dos Espíritos batedores), o Espírito a atrai e a coloca sob a influência do seu próprio fluido liberado pela sua vontade. Quando a massa que quer erguer ou mover é muito pesada para ele, chama em sua ajuda os Espíritos que estão na sua mesma condição.

Os Espíritos superiores têm a força moral como os inferiores têm a força física; quando eles têm necessidade dessa força, servem-se daqueles que a possuem, ou seja, dos Espíritos inferiores.

Essa força “especial” do médium de efeito físico depende da organização do seu corpo físico. Todos os homens tem em algum grau essa faculdade, mas nem todos possuem o grau suficiente para mover objetos.

Por causa de possuir essa condição na sua organização, algumas vezes o médium pode agir sozinho para produzir o fenômeno de efeito físico, mas, com mais frequência, é com a ajuda dos Espíritos evocados, assim, sendo fácil de reconhecer um do outro.

Quando os Espíritos aparecem com as vestes que tinham na Terra, frequentemente, elas têm somente a aparência, pois, ao serem tocadas nada se sente.

O princípio vital reside no fluido universal, assim, o Espírito haure nesse fluido o envoltório semimaterial que constitui seu perispírito, e é por meio desse fluido que ele age sobre a matéria inerte, como já dissemos acima, ele anima a matéria com uma espécie de vida factícia, assim, a matéria se anima da vida animal. A mesa que se move obedece por si mesma o ser inteligente. O Espirito não dirige uma mesa como o homem faz com um fardo, desse modo, quando a mesa se ergue, não é o Espírito que a ergue, é a mesa animada pelo fluido vital que obedece ao Espírito inteligente.

O fluido universal não é a fonte da vida nem a fonte da inteligência, ele anima tão somente a matéria.

NOTAS

(1) Jornal de Estudos Psicológicos Publicada sob a Direção de Allan Kardec.

(2) Ver Allan Kardec , Revista Espírita:

(3) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro primeiro, As Causas Primárias, cap. IV, Princípio Vital, itens de 60 à 67.

(4) Quando os seres orgânicos morrem sua matéria se decompõem indo formar outros organismos. o princípio vital retorna a massa de onde saiu. (Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro primeiro, As Causas Primárias, cap. IV, Princípio Vital, itens de 60 à 67.)

(5) Quando, pois, um objeto é movido, erguido ou atirado no ar, o Espírito não o pegou, não o ergueu nem o atirou como nós o fazemos com as mãos. Ele o saturou, por assim dizer, como o seu fluido, combinado com o do médium. O objeto, assim momentaneamente vivificado, age como um ser vivo, com a diferença de não ter vontade própria e obedecer ao impulso da vontade do Espírito.

Assim, o fluido vital, dirigido pelo Espírito, dá uma vida artificial e momentânea aos corpos inertes. Sendo o perispírito formado por esse fluido, segue-se que o Espírito encarnado, por meio do seu perispírito, é quem dá vida ao corpo, mantendo-se unido a ele enquanto o organismo o permite. Quando ele se retira, o corpo morre. Então, se em lugar de uma mesa fizéssemos uma estátua de madeira, teríamos, sob a ação mediúnica, uma estátua que se moveria e daria pancadas, respondendo às nossas perguntas. Numa palavra: teríamos uma estátua animada por uma vida artificial. E como se diz mesas falantes, também se poderia dizer estátuas falantes. Quanta luz lança esta teoria sobre uma infinidade de fenômenos até agora inexplicáveis! Quantas alegorias e efeitos misteriosos vem explicar!

Ver Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 2ª. parte, cap. IV, item 77.

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terça-feira, 21 de maio de 2013

OS AGÊNERES


OS AGÊNERES (1)
Estudo com base in respostas do Espírito de São Luís à Allan Kardec na
Revista Espírita (2) - Ano 2 - fevereiro 1859 - Nº. 2 - Os Agêneres
Pesquisa: Elio Mollo
Em 21/05/2013


Os Espíritos podem se mostrar corporalmente em diversos lugares a para diversas pessoas. Assim, pode ocorrer que o Espírito se revista de uma forma bem nítida e tome as aparências de um corpo sólido, ao ponto de produzir uma ilusão completa e de fazer crer a presença de um ser corpóreo. Mas pode ocorrer que o Espírito revista uma forma ainda mais nítida e tome as aparências de um corpo sólido, ao ponto de produzir uma ilusão completa e de fazer crer a presença de um ser corpóreo. Enfim, a tangibilidade pode se tornar real, quer dizer, que se pode tocar, apalpar esse corpo, sentir a mesma resistência, o mesmo calor que da parte de um corpo animado, e isso quase pode se desvanecer com a rapidez do raio. (3)

Isso não depende da vontade do Espírito, pois o poder dos Espíritos é limitado e não fazem senão o que lhes é permitido.

Esses fatos das aparições tangíveis, são bastante raros, mas aqueles que se passaram nestes últimos tempos confirmam e explicam aqueles que a história conta a respeito de pessoas que se mostraram, depois de sua morte, com todas as aparências corpóreas. (3) Essas manifestação, se são raras, contudo, basta que sejam possíveis para merecerem a nossa atenção e estudo.

Os Espíritos que se manifestam como agêneres podem pertencer as classes inferiores ou superiores.

Se ocorresse tomarem um agênere por um homem comum, e lhe desejassem fazer um ferimento mortal este desapareceria subitamente. (4)

Os agêneres, como Espíritos, têm as paixões de Espíritos segundo a sua inferioridade. Se tomam um corpo aparente, algumas vezes, é para gozarem as paixões humanas; se são elevados, tomam essa forma para um fim útil.

As leis naturais ou de Deus não lhes permitem procriar, esse recurso é permitido somente aos seres encarnados.

Se um agênere nós fosse apresentado dificilmente haveria um meio para reconhecê-lo, a não ser pela sua desaparição, que se faz de modo inesperado.

A finalidade que pode levar certos Espíritos a tomarem esse estado corporal, de modo geral e para praticarem o mal, pois os bons Espíritos dispõem da inspiração, ou seja, preferem agir sobre a alma e pelo coração. Comumente, as manifestações físicas são produzidas por Espíritos inferiores, e estas são dessa categoria. Entretanto, os bons Espíritos também podem tomar essa aparência corpórea quando tem eles um objetivo útil.

Os Espíritos no estado de agêneres podem tomar-se visíveis ou invisíveis à vontade, uma vez que poderão desaparecer quando o quiserem.

Os agêneres não têm um poder oculto, superior ao dos homens senão o poder que lhes dá sua posição como Espíritos.

Eles, também, não têm uma necessidade real de se alimentarem, pois o corpo que usam não é um corpo semelhante ao do homem, a não ser na aparência. As vezes, podem aparecer se alimentando (por exemplo: almoçando ou jantando) com os amigos, e lhes apertam a mão (5), mas vale repetir, isso é unicamente para dar uma aparência, pois esses seres não necessitam de alimentos.

Tendo-se um agênere em casa, isso, seria antes um mal do que bem, pois de resto, não se podem adquirir muitos conhecimentos com esses seres, por isso, a aparição desses seres, designados sob o nome de agêneres, é muito rara, ela é sempre acidental e de curta duração, e não poderiam tomar-se sob essa forma, os comensais habituais de uma casa. (3)

Sensatamente um Espírito familiar protetor não toma essa forma, ele prefere as cordas interiores, pois as usa mais facilmente do que o faria sob uma forma visível, ou se o tomássemos como um dos nossos semelhantes.

NOTAS:

(1) Agênere - (Do gr. a, privativo e géine, géinomai, engendrar: o que não foi engendrado). Variedade de aparição tangível; estado de certos Espíritos que podem revestir momentaneamente as formas de uma pessoa viva a ponto de iludir completamente os observadores.  (Allan Kardec in Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas - Vocabulário Espírita)

Agênere - (Do grego - a, privativo, e - géiné, géinomai, gerar; que não foi gerado.) - Modalidade da aparição tangível; estado de certos Espíritos, quando temporariamente revestem as formas de uma pessoa viva, ao ponto de produzirem ilusão completa. (Allan Kardec in O Livro dos Médiuns, cap. XXXII )

Ver mais in Allan Kardec, Revista Espírita de fevereiro de 1859, Os agêneres.

(2) Jornal de Estudos Psicológicos Publicada sob a Direção de Allan Kardec.

(3) Ver Allan Kardec, Revista Espírita de fevereiro de 1860, Os Espíritos Glóbulos.
     http://www.aeradoespirito.net/RevistaEspHTML/OS_ESPIRITOS_GLOBULOS..html

(4) Ver Allan Kardec, Revista Espírita de dezembro de 1858, Fenômeno de bi-corporeidade.

(5) Encontramos na Revista Espírita de abril de 1860 com o titulo de Aparição tangível este relato:

 No dia 14 de janeiro último, o senhor Lecomte, agricultor na comuna de Brix, arredores de Valognes, foi visitado por um indivíduo que se disse ser um de seus antigos camaradas, com o qual trabalhara no porto de Cherbourg. e cuja morte remonta há dois anos e meio. Essa aparição tinha por fim pedir a Lecomte que lhe fizesse dizer uma missa. No dia 15, a aparição se reproduziu; Lecomte, menos amedrontado, reconheceu efetivamente seu antigo companheiro; mas, perturbado ainda, não soube o que responder; o mesmo ocorreu nos dias 17 e 18 de janeiro. Não foi senão no dia 19 que Lecomte lhe disse: uma vez que desejas uma missa, onde queres que ela seja dita, e a ela assistirás? - Eu desejo, respondeu o Espírito, que a missa seja dita na capela de Saint-Sauveur, em oito dias, e ali me encontrarei. Ele acrescentou: há muito tempo que não te via e estava distante para vir te encontrar. Dito isso, deixou-o, apertando-lhe a mão.

O senhor Lecomte não faltou com a sua promessa; no dia 27 de janeiro, a missa foi dita em Saint-Sauveur, e ele viu seu antigo camarada ajoelhado nos degraus do altar, junto ao padre oficiante; mas nenhum outro que ele o percebeu, se bem que perguntara ao padre e aos assistentes se não o viam.

Desde esse dia, o senhor Lecomte não foi mais visitado, e retomou sua tranquilidade habitual.

NOTA. Segundo esse relato, cuja autenticidade está garantida por uma pessoa digna de fé, não se trata de uma simples visão, mas de uma aparição tangível, uma vez que o defunto amigo do senhor Lecomte apertou-lhe a mão. A isso os incrédulos chamarão uma alucinação; mas até o presente, esperamos ainda de sua parte uma explicação clara, lógica e verdadeiramente científica dos estranhos fenômenos que eles designam com esse nome, que nos parece antes um fim de não receber senão uma solução.”

Para ler mais sobre este tema sugerimos acionar o link abaixo:

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quinta-feira, 2 de maio de 2013

ESQUECIMENTO DO PASSADO


ESQUECIMENTO DO PASSADO
Estudo com base in O Livro dos Espíritos, Livro segundo, cap. VII, Retorno à Vida Corporal, itens de 392 à 399.
Obra codificada por Allan Kardec
Pesquisa: Elio Mollo
02/05/2013
Atualizado em 06/05/2013


O Espírito encarnado perde a lembrança do passado porque o homem nem pode nem deve saber tudo. Deus na sua sabedoria, lhe colocou uma espécie de véu que lhe encobre certas coisas, assim, sem esse véu o homem ficaria ofuscado, como aquele que passa sem transição da obscuridade para a luz. Pelo esquecimento do passado ele se mostra tal qual ele é. Contudo, ao Espírito encarnado, ainda lhe resta uma vaga lembrança, que lhe dá o que chamamos ideias inatas. (1)

O Espírito não é um ser novo, por isso, quando nasce, traz as ideias, as qualidades e as imperfeições que possuía de outras existências. É assim que pode-se explicar as ideias, as aptidões e as tendências inatas. (2) Se não temos, durante a vida corpórea, uma lembrança precisa daquilo que fomos, e do que fizemos de bem ou de mal em nossas existências anteriores, temos, entretanto, a sua intuição. E as nossas tendências instintivas são uma reminiscência do nosso passado, às quais a nossa consciência, que representa o desejo por nós concebido de não mais cometer as mesmas faltas, nos adverte que devemos resistir.

O Espírito sendo o mesmo, nas diversas encarnações, suas manifestações podem ter, de uma para outra, certas semelhanças. Estas, entretanto, serão modificadas pelos costumes da nova posição, até que um aperfeiçoamento notável venha a mudar completamente o seu caráter, pois de orgulhoso e mau pode tornar-se humilde e humano, desde que se haja arrependido. (3)

A cada nova existência o homem tem mais inteligência e pode melhor distinguir o bem e o mal. Se ele se recordasse de todo o passado não teria mérito nenhum. Quando o Espírito entra na sua vida de origem (a vida espírita), toda a sua vida passada se desenrola diante dele; vê as faltas cometidas e que são causa do seu sofrimento, bem como aquilo que poderia tê-lo impedido de cometê-las; compreende a justiça da posição que lhe é dada e procura então a existência necessária para reparar a que acaba de escoar-se. Procura provas semelhantes àquelas por que passou, ou as lutas que acredita apropriadas ao seu adiantamento, e pede a Espíritos que lhe são superiores para o ajudarem na nova tarefa. Assim, geralmente, um Espírito protetor que aceitou essa tarefa por missão, como um pai, procurará conduzir o seu protegido pelo bom caminho para ajudá-lo com os seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida (4), dando-lhe, assim, uma espécie de intuição.

Quando nesta vida temos o desejo (tentação) de praticar uma má ação, coisa que frequentemente nos assalta, e no qual resistimos instintivamente, podemos atribuir a nossa resistência, na maioria das vezes, aos princípios que recebemos de nossos pais ou mestres, ao mesmo tempo, que a voz da consciência também nos adverte, e essa voz é a recordação do passado, voz esta que nos avisa para não cometermos as mesmas faltas de outra(s) vida(s). Assim, se nesta nova existência, o Espírito sofrer as suas provas com coragem e souber resistir, eleva-se a si próprio e ascenderá na hierarquia dos Espíritos, quando tiver que voltar para o meio deles.

A lembrança de nossas individualidades anteriores teria gravíssimos inconvenientes. Poderia, em certos casos, humilhar-nos extraordinariamente; em outros, exaltar o nosso orgulho, e por isso mesmo entravar o nosso livre arbítrio. Deus nos deu, para nos melhorarmos, justamente o que nos é necessário e suficiente: a voz da consciência e nossas tendências instintivas, tirando-nos aquilo que nos poderia prejudicar. (5) Acrescentemos ainda que, se tivéssemos a lembrança de nossos atos pessoais anteriores, teríamos a dos atos alheios, e esse conhecimento poderia ter os mais desagradáveis efeitos sobre as relações sociais. Não havendo sempre motivo para nos orgulharmos do nosso passado é quase sempre uma felicidade que um véu seja lançado sobre ele. Isso concorda perfeitamente com a doutrina dos Espíritos sobre os mundos superiores ao nosso. Nesses mundos, onde não reina senão o bem, a lembrança do passado nada tem de penosa; é por isso que neles se recorda com frequência a existência precedente, como nos lembramos do que fizemos na véspera. Quanto à passagem que se possa ter tido por mundos inferiores, a sua lembrança nada mais é do que um sonho mau.

Como nem sempre podemos ter algumas revelações sobre as nossas existências anteriores, entretanto, muitos sabem o que foram e o que fizeram e se lhes fosse permitido dizê-lo abertamente, fariam singulares revelações sobre o passado.

Algumas pessoas creem ter a vaga lembrança de um passado desconhecido, vislumbrado como a imagem fugitiva de um sonho que em vão se procura deter. Essa vaga lembrança, algumas vezes, é real, porém, na maioria das vezes, é também uma ilusão, contra a qual deve-se precaver, pois pode ser o efeito de uma imaginação superexcitada.

Nas existências corpóreas de natureza mais elevada que a nossa, a lembrança das existências anteriores é mais precisa, ou seja, à medida que o corpo é menos material, a recordação se faz melhor.

As tendências instintivas do homem, sendo uma reminiscência do seu passado, pelo estudo dessas tendências (autoconhecimento), até certo ponto, ele poderá reconhecer as faltas que cometeu, mas é necessário ter em conta a melhora que se possa ter operado no Espírito e as resoluções que ele tomou no seu estado errante, assim, a existência atual pode ser muito melhor que a precedente. [6] E, também, dependendo do seu adiantamento. Se ele não souber resistir às provas, pode ser arrastado a novas faltas que serão a consequência da posição por ele mesmo escolhida. Mas em geral essas faltas denunciam antes um estado estacionário do que retrógrado, porque o Espírito pode avançar ou se deter, mas não recuar (7).

Sendo as vicissitudes da vida corpórea ao mesmo tempo uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro, muito frequentemente, segue-se que, da natureza dessas vicissitudes, possa induzir-se o gênero da existência anterior, pois cada um é punido (8) naquilo em que transgrediu da Lei Natural. Entretanto, não se deve tirar daí uma regra absoluta; as tendências instintivas são um índice mais seguro, porque as provas que um Espírito sofre, tanto se referem ao futuro quanto ao passado.

Chegado ao termo que a Providência marcou para a sua vida errante, o Espírito escolhe por si mesmo as provas às quais deseja submeter-se, para apressar o seu adiantamento, ou seja, o gênero de existência que acredita mais apropriado a lhe fornecer os meios, e essas provas estão sempre em relação com as faltas que deve expiar. Se nelas triunfa, ele se eleva; se sucumbe, tem de recomeçar.

O Espírito goza sempre do seu livre arbítrio. É em virtude dessa liberdade que, no estado de Espírito, escolhe as provas da vida corpórea, e no estado de encarnado delibera o que fará ou não fará, escolhendo entre o bem e o mal. Negar ao homem o livre arbítrio seria reduzi-lo à condição de máquina.

Integrado na vida corpórea, o Espírito perde momentaneamente a lembrança de suas existências anteriores, como se um véu as ocultasse. Não obstante, tem às vezes uma vaga consciência, e elas podem mesmo lhe ser reveladas em certas circunstâncias. Mas isto não acontece senão pela vontade dos Espíritos superiores, que o fazem espontaneamente, com um fim útil, e jamais para satisfazer uma curiosidade vã.

As existências futuras não podem ser reveladas em caso algum, por dependerem da maneira por que se cumpre a existência presente e da escolha ulterior do Espírito.

O esquecimento das faltas cometidas não é obstáculo à melhoria do Espírito, porque, se ele não tem uma lembrança precisa, o conhecimento que delas teve no estado errante e o desejo que concebeu de as reparar, guiam-no pela intuição e lhe dão o pensamento de resistir ao mal. Este pensamento é a voz da consciência, secundada pelos Espíritos que o assistem, se ele atende às boas inspirações que estes lhe sugerem.

Se o homem não conhece os próprios atos que cometeu em suas existências anteriores, pode sempre saber qual o gênero de faltas de que se tornou culpado, e qual era o seu caráter dominante. Basta que se estude a si mesmo, e poderá julgar o que foi, não pelo que é, mas pelas suas tendências.

As vicissitudes da vida corpórea são, ao mesmo tempo, uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro. Elas nos depuram e nos elevam, se as sofremos com resignação e sem murmúrios.

A natureza das vicissitudes e das provas que sofremos pode também esclarecer-nos sobre o que fomos e o que fizemos, como neste mundo julgamos os atos de um criminoso pelo castigo que a lei lhe inflige. Assim, este será castigado no seu orgulho (9) pela humilhação de uma existência subalterna; o mau rico e avarento, pela miséria; aquele que foi duro para os outros, pelo tratamento duro sofrerá; o tirano, pela escravidão; o mau filho, pela ingratidão dos seus filhos; o preguiçoso, por um trabalho forçado, etc.

NOTAS

(1) Ver Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, Livro segundo, cap. IV, Ideias Inatas, item 218.

(2) Ver Allan Kardec na Revista Espírita de março de 1867, Da Homeopatia nas Doenças Morais.

(3) Ver Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, Livro segundo, cap. IV, Semelhanças Físicas e Morais, item 216.

(4) Ver Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, Livro segundo, cap. IX, Anjos da Guarda, Espíritos Protetores, Familiares ou Simpáticos, item 489 e seguintes.

(5) O Espiritismo ensina que a lembrança precisa das faltas de encarnações passadas traria inconvenientes extremamente graves, em que isso nos perturbaria, nos humilharia aos nossos próprios olhos e aos de nossos próximos; que nos traria uma perturbação nas relações sociais, e que, por isso mesmo, entravaria nosso livre arbítrio. De um outro lado, o esquecimento não é tão absoluto quanto se supõe; não ocorre senão durante a vida exterior de relação, no próprio interesse da Humanidade; mas a vida espiritual não tem solução de continuidade; o Espírito, seja na erraticidade, seja em seus momentos de emancipação, se lembra perfeitamente, e essa lembrança lhe deixa uma intuição que se traduz pela voz da consciência que o adverte do que deve fazer ou não fazer; se não a escuta, é, pois, culpado. O Espiritismo dá, além disso, ao homem um meio de remontar ao seu passado, senão nos atos precisos, pelo menos nos caracteres gerais desses atos que pesaram mais ou menos sobre a vida atual. Das tribulações que sofre, expiações ou provas, deve concluir que foi culpado; da natureza dessas tribulações, ajudado pelo estudo de suas tendências instintivas, e apoiando-se sobre o princípio de que a punição mais justa é aquela que é a consequência de sua falta, pode deduzir disso seu passado moral; suas más tendências lhe mostram o que resta de imperfeito a corrigir em si. A vida atual é para ele um novo ponto de partida; aqui chega rico ou pobre de boas qualidades; basta-lhe, pois, estudar-se a si mesmo (#) para ver o que lhe falta e dizer: “Se sou punido, é porque pequei (##), e a própria punição lhe dirá o que fez. (Ver Allan Kardec, Revista Espírita de setembro de 1863, Perguntas e Problemas: Sobre a Expiação e a Prova.)

(#) O autoconhecimento é o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida é resistir ao arrastamento do mal, é assim que ensinava um sábio da Antiguidade (Sócrates) com o "Conhece-te a ti mesmo". (Ver Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, cap. XII, Perfeição Moral, item 919 e seguintes.)

(##) Deduzimos que no caso do Espiritismo a palavra pecado significa um erro intencional, ou seja, tem-se o conhecimento do ato que vai praticar, mas não se consegue resistir a tentação e assim a má ação é praticada. De qualquer maneira o castigo é sempre proporcional a intenção e a capacidade evolutiva do culpado. "A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido". Lucas 12:48. (Nota do A Era do Espírito).

(6) As pessoas que tanto se interessam por saber o que foram em vidas anteriores devem prestar atenção a estes itens. Pelo estudo de suas tendências atuais, não esquecendo o progresso que devem ter realizado, teriam uma ideia do que foram e do que fizeram. (Nota de J. Herculano Pires)

(7) O Espírito não retrograda da mesma maneira que o rio não remonta a sua fonte, assim, os Espíritos não podem degenerar. A medida que avançam, compreendem o que os afasta da perfeição. Quando o Espírito conclui uma prova, adquiriu conhecimento e não mais o perde. Pode permanecer estacionado, mas não retrogradar. (LE Ver Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, itens 118 e 612),

(8) O homem sofre sempre a consequência de suas faltas; não há uma só infração à lei de Deus que fique sem a correspondente punição. A severidade do castigo é proporcionada à gravidade da falta. Indeterminada é a duração do castigo, para qualquer falta; fica subordinada ao arrependimento do culpado e ao seu retorno a senda do bem; a pena dura tanto quanto a obstinação no mal; seria perpétua, se perpétua fosse a obstinação; dura pouco, se pronto é o arrependimento. Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe concede a esperança. Mas, não basta o simples pesar do mal causado; é necessária a reparação, pelo que o culpado se vê submetido a novas provas em que pode, sempre por sua livre vontade, praticar o bem, reparando o mal que haja feito. (Ver Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo XXVII - Pedi e obtereis - item 21).

(9) O castigo é o aguilhão que estimula a alma, pela amargura, a se dobrar sobre si mesma e a buscar o porto de salvação. O castigo só tem por fim a reabilitação, a redenção. Querê-lo eterno, por uma falta não eterna, é negar-lhe toda a razão de ser. (Ver Allan Kardec, Comunicação de Paulo, Apóstolo dada para a questão 1009 de O Livro dos Espíritos).

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quarta-feira, 1 de maio de 2013

ADORAÇÃO EXTERIOR


ADORAÇÃO EXTERIOR
Estudo com base in O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, cap. II, itens de 653 à 656.
Obra codificada por Allan Kardec
Pesquisa: Elio Mollo


A verdadeira adoração é a do coração, pois em todas as nossas ações Deus nos observa.

A adoração exterior pode ser útil se não for um fingimento, contudo é sempre mais útil dar um bom exemplo. Se as nossas ações são feitas somente por afetação e amor próprio, cuja conduta desmente a nossa aparente piedade, então, estaremos dando um mau exemplo do que bom, assim, estaremos fazendo um mal e maior do que podemos supor. Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, por isso, aos que pensam honrá-Lo através de cerimônias que não os tornam melhores (1) para os seus semelhantes, estes, estão no caminho da hipocrisia.

Todos os homens são irmãos e filhos do mesmo Deus, que chama para Ele todos os que seguem as suas leis, qualquer que seja a forma pela qual se exprimam.

Aquele que só tem a aparência da piedade é um hipócrita; aquele para quem a adoração é apenas um fingimento e está em contradição com a própria conduta, dá um mau exemplo.

Aquele que se vangloria de adorar a Deus, mas que é orgulhoso, invejoso e ciumento, que é duro e implacável para com os outros ou ambicioso de bens mundanos, estes, só tem a Deus nos lábios e não no coração. Assim, aquele que conhece a verdade é cem vezes mais culpável do mal que faz do que o selvagem ignorante e será tratado de maneira consequente, por sua consciência, quando esta resolver lhe cobrar. Se um cego nos derruba ao passar, naturalmente nós o desculpamos, mas se é um homem que enxerga bem, com razão, a nossa censura será inevitável.

Aquele que ora sem compreender o que diz se habitua a dar mais valor às palavras do que aos pensamentos; para ele são as palavras que são eficazes, mesmo quando o coração nelas não está por nada; também muitos se creem quites quando recitaram algumas palavras que os dispensam de se reformarem (2).  É fazer-se uma estranha ideia da Divindade crer que ela se paga com palavras antes do que com atos que atestem uma melhoria moral. (3)

Não existe razão em perguntar se há uma forma de adoração mais conveniente, porque isso seria perguntar se é mais agradável a Deus ser adorado numa língua do que em outra. Mas podemos dizer que os cânticos só chegam a Deus pela sinceridade do coração.

A intenção, como em muitas coisas, é a regra. Aquele que tem em vista respeitar as crenças alheias, desde que não acredite nelas, não faz mal, ou seja, faz melhor do que aquele que as ridicularizasse, porque esse faltaria com a caridade. Mas quem as praticar, quando não acredita nelas, unicamente, por interesse ou por ambição é desprezível aos olhos de Deus e dos homens. Deus não pode agradar-Se daqueles que só demonstram humildade perante Ele para provocar a aprovação dos homens.

Quando os homens estão reunidos por uma comunhão de pensamentos e sentimentos têm mais força para atrair os bons Espíritos. Acontece o mesmo quando se reúnem para adorar a Deus. Mas não podemos pensar, por isso, que a adoração em particular seja menos boa; pois cada um pode adorar a Deus, pensando nEle, sinceramente.

NOTAS

(1) O meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida é resistir ao arrastamento do mal, é assim que ensinava um sábio da Antiguidade (Sócrates) com o "Conhece-te a ti mesmo". (Ver Allan Kardec em O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, cap. XII, Perfeição Moral, item 919.)

(2) Reconhece-se o homem de bem, pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para dominar suas más tendências. (Ver Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII, Sede Perfeitos, item 4.)

(3) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, agosto de 1864, Suplemento ao Capítulo das Preces em a Imitação do Evangelho.

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