domingo, 25 de março de 2012

AMOR E CARIDADE É BOM SABER QUEM É QUEM


AMOR E CARIDADE É BOM SABER QUEM É QUEM
Escreve: Elio Mollo
 (Atualizado em 27/09/2012)


Ao lermos ou estudarmos diversas traduções do Novo Testamento principalmente em Paulo aos Coríntios, 1ª carta cap. XIII, vv. 1 a 13 “Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como um bronze que soa ou como um címbalo que tine.”  (...) "Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade eu nada seria.” (etc. etc.) e, também em Pedro em sua primeira epístola 4:8 «Mas sobretudo tende ardente caridade uns para com os outros porque a caridade cobre a multidão de pecados.» encontramos a palavra caridade trocada pela palavra amor, assim ficamos a nos perguntar: “será que estas duas palavras são sinônimos?”

Podemos dizer que o Amor e a Caridade são da mesma família, porém, são duas identidades com características diferentes.

Apesar destas duas palavras estarem interligadas, elas têm significados diferentes, senão vejamos:

No dicionário (Aurélio), o significado que nos interessa para o entendimento deste assunto é o seguinte: "Amor é um sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem, ou de alguma coisa" ou "Amor é um sentimento de dedicação absoluta de um ser ao outro".

Empédocles(1) denominou-o como "a força que preside a ordem do mundo".

O Espírito São Vicente de Paulo diz que o Amor é a lei pela qual Deus governa os mundos (2).

Parece-nos que a denominação de Empédocles (desde que trocando a palavra mundo por Universo) se aproxima do verdadeiro significado da palavra Amor.

Agora, vamos ao significado da palavra Caridade:

Segundo o dicionário, Caridade é "amor ao próximo, benevolência, bondade, compaixão, etc.". Allan Kardec, em nota à resposta da questão 886 dada pelos Espíritos em o «O Livro dos Espíritos», diz que a "Caridade, segundo Jesus, não se restringe somente à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes". Assim, temos que a "Caridade é um ato de relação (doação total) para com os nossos semelhantes" e este entendimento é o mesmo que os dicionários utilizam para dar o significado da palavra Amor.

O capítulo "Lei de Justiça, Amor e Caridade" do livro terceiro – cap. XI, de «O Livro dos Espíritos», já no título, mostra que as duas palavras têm significados diferentes.

A caridade resume todos os deveres do homem para consigo mesmo e para com os seus semelhantes (3). Mas a palavra caridade é vista com sentido múltiplo, por isso, vamos recorrer a um trecho de uma orientação deixada pelo Espírito São Vicente de Paulo em resposta a q. 888a de O Livro dos Espíritos: ...o Espírito, qualquer que seja o seu grau de adiantamento, sua situação como reencarnado ou na erraticidade, está sempre colocado entre um superior que o guia e aperfeiçoa e um inferior perante o qual tem deveres iguais a cumprir. É como disse Paulo em Romanos,14:7, ...nenhum de nós vive para si,... ou ainda como orientam os Espíritos que a vida social está na Natureza, do átomo ao arcanjo; Deus fez o homem para viver em sociedade (4). (...) O homem deve progredir, mas sozinho não o pode fazer porque não possui todas as faculdades: precisa do contato dos outros homens. No isolamento, ele se embrutece e se estiola (5). Assim, nenhum homem dispõe de faculdades completas e é pela união social que eles se completam uns aos outros, para assegurarem, seu próprio bem-estar e progredirem (6). Eis porque fora da caridade não há salvação que é a consequência do princípio de igualdade perante Deus e da liberdade de consciência (7), cuja regra naturalmente obedecida, levam todos os homens a se sentirem como irmãos.

Se utilizarmos o significado de Empédocles, entenderemos melhor o significado da palavra Amor, o porque Deus é Amor e, inclusive, porque os Espíritos dizem que "no Universo tudo se serve, tudo se encadeia, desde o átomo primitivo até o arcanjo, que por sua vez começou como átomo. Admirável lei de harmonia..." (q. 540 de O Livro dos Espíritos).

Assim, o Amor é a força que rege o Universo, e a Caridade é o ato pelo qual deixamos fluir o Amor que abrange todas as relações com os nossos semelhantes, ou seja, a doação natural é total sem constrangimento nenhum para com o próximo, pois temos o Amor como força regendo todas as nossas relações.

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(1) EMPÉDOCLES DE AGRIGENTO

O acme da existência de Empédocles é situado por volta de 450 a.C. Tanto sua vida como sua doutrina tiveram enorme repercussão. Natural de Agrigento, membro de uma família influente, sabe-se que Empédocles participou ativamente na preservação da democracia em sua cidade natal e que recusou-se a assumir as funções de rei. A lenda de que terminou banido e que morreu como exilado no Peloponeso é possivelmente falsa. Outra lenda, de que se teria suicidado, jogando-se na cratera do Etna, também não tem fundamento histórico. Consta ainda que teria libertado uma cidade da malária, e que por isto os seus habitantes o homenageavam como a um deus; mas parece que este e outros relatos sobre a sua existência não passam de lendas

De seus dois poemas, Sobre a Natureza e Purificações, numerosos fragmentos chegaram até nós. O frag. 17 é o que melhor permite compreender a sua doutrina; nele, refere-se ao processo de geração e corrupção, e apresenta as suas teorias tingidas em perspectivas parmenídicas. Há quatro elementos originais e estes elementos compõem a formação de todos os entes: fogo, terra, água e ar (sobre os elementos: frags. 6, 8, 9, 11, 12, 13, 14, 17, 26, 62, 96, 98). Estes elementos e todo o processo do real são determinados pelas forças do Amor e do ódio, que regem, ciclicamente, o cosmos (sobre o Amor e o ódio: frags. 16, 17, 20, 21, 22, 30, 35, 59). Coerente com estas opiniões e de grande repercussão é também a explicação que dá Empédocles ao conhecimento e ao processo do pensamento (conforme os frags. 2, 3, 84, 105, 106, 107, 108, 109).

RELAÇÕES: Hölderlin - Porão
Fonte: BORNHEIM, Gerd. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo, Cultrix, 1977, p. 68. 

(2) O Livro dos Espíritos, livro terceiro, q. 888a, Allan Kardec

(3) Allan Kardec in Revista Espírita, dezembro de 1868, Sessão Anual Comemorativa dos Mortos.

(4) O Livro dos Espíritos, livro terceiro, q. 766, Allan Kardec.

(5) O Livro dos Espíritos, livro terceiro, q. 768, Allan Kardec.

(6) Allan Kardec in nota com relação a resposta dos espíritos dada à questão 768 de O Livro dos Espíritos.

(7) O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, item 8, Allan Kardec.

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