SOBRE OS ANIMAIS
Estudo com base in O LIVRO DOS ESPÍRITOS
qs. 23, 27, 76, 134, 134a,135a, 257, 540 e de 585 à 613
em especial o capítulo XI do Livro Segundo - DOS TRÊS REINOS
Obra codificada por Allan Kardec
(outras obras citadas no texto)
Pesquisa: Elio Mollo
Sobre os animais, este é um assunto que intriga e fascina. No tempo de Kardec, meados do século XIX, é um fato, que Kardec não teve o tempo de vida necessário para desenvolver a primeira obra espírita, O Livro dos Espíritos, ou quem sabe escrever uma obra a parte para tratar sobre a alma dos animais. Se bem que os Espíritos em respostas a diversas questões dessa obra deixaram pistas importantes sobre a evolução do princípio inteligente.
O codificador do Espiritismo na Revista Espírita de setembro de 1865 (Alucinação nos Animais), deu a seguinte explicação para este fato: "UM OUTRO MOTIVO HAVIA FEITO ADIAR A SOLUÇÃO RELATIVA AOS ANIMAIS. ESSA QUESTÃO TOCA PRECONCEITOS HÁ MUITO TEMPO ENRAIZADOS E QUE TERIA SIDO IMPRUDENTE CHOCAR DE FRENTE". Quer dizer, necessitava ele de argumentos mais sólidos para seguir adiante, por isso, nesse mesmo artigo disse que: "QUANDO VIER A SOLUÇÃO DEFINITIVA, EM QUALQUER SENTIDO QUE ELA OCORRA, DEVERÁ SE APOIAR SOBRE OS ARGUMENTOS PEREMPTÓRIOS QUE NÃO DEIXARÃO NENHUM LUGAR À DÚVIDA;...".
Referindo-se a resposta dada pelos Espíritos a questão 540, disse ele ainda nesse artigo que "O ESPIRITISMO VEIO DAR UMA IDÉIA-MÃE, E PODE-SE VER O QUANTO ESTA IDÉIA É FECUNDA." Com certeza, ele tinha razão em seu motivo, tanto que numa das importantes pistas deixada in LE os espíritos disseram: "...TUDO SERVE, TUDO SE ENCADEIA NA NATUREZA, DESDE O ÁTOMO PRIMITIVO ATÉ O ARCANJO, POIS ELE MESMO COMEÇOU PELO ÁTOMO. ADMIRÁVEL LEI DE HARMONIA, DE QUE O VOSSO ESPÍRITO LIMITADO AINDA NÃO PODE ABRANGER O CONJUNTO! "
Podemos perceber que ainda hoje, apesar do avanço da ciência relacionado a esta temática, as novas informações dentro do Movimento Espírita, ainda geram, espanto, ranger de dentes, comentários, perguntas bizarras e exóticas, mas também, abrem e iluminam mentes com sede de saber, pois é um desses temas que nos levam a conhecer a nossa origem, e servem para alavancar o conhecimento sobre a alma dos animais e o seu porvir.
Assim, se não fizermos um estudo profundo, primeiramente, dentro das obras básicas, este tema dificilmente se tornará claro, porque faz-se muita confusão entre Alma (ou princípio inteligente ou ainda espírito elementar) e Espírito, ou seja, os seres que povoam o Universo além do mundo material. Diferente de Darwin que trata sobre a evolução das espécies, o Espiritismo trata positivamente da evolução do princípio inteligente ou alma.
Houve um grande esforço do codificador desde a Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, no O Livro dos Espíritos, para explicar o significado da palavra ALMA em relação a Doutrina Espírita. Quanto a isso, assim diz ele: "...outra palavra sobre a qual igualmente devemos entender-nos porque É UMA DAS CHAVES de toda doutrina moral e tem suscitado numerosas controvérsias por falta de uma acepção bem determinada: é a palavra alma."
Neste mesmo capítulo da introdução de LE, que trata da Alma, Princípio Vital e Fluido Vital, Kardec diz ser dever insistir o tanto que for necessário para explicar o real significado da palavra ALMA, informando que "poder-se-ia, assim dizer, e talvez fosse o melhor,
· a alma vital - indicando o princípio da vida material; (Ver qq. de 60 em diante de LE) (*)
· a alma intelectual - o princípio da inteligência, e (ver q. 23 de LE)
· a alma espírita - o da nossa individualidade após a morte. (ver q. 76 de LE)
Como se vê, tudo isto não passa de uma questão de palavras, mas questão muito importante quando se trata de nos fazermos entendidos. De conformidade com essa maneira de falar,
· a alma vital seria comum a todos os seres orgânicos: plantas, animais e homens; (Ver qq. de 60 em diante de LE)
· a alma intelectual pertenceria aos animais e aos homens; e (ver q. 23 de LE) (1)
· a alma espírita somente ao homem." (ver q. 76 de LE)
(*) O princípio vital é a força motriz dos corpos orgânicos. (Allan Kardec in nota a q. 67 de LE)
Por isso, é necessário procurar entender o que significa a ALMA na sua essência e de acordo com a Doutrina Espírita. Comecemos, então, pelas respostas que os Espíritos deram as resposta às q. 23, 27 e 76 de LE.
23. Que é o espírito?
-- O princípio inteligente do Universo.
Na resposta à questão 27 os Espíritos afirmam que "existem dois elementos gerais no Universo a matéria e o espírito" (princípio inteligente, espírito elementar ou alma).
Podemos observar que nas duas perguntas, a palavra espírito, como geralmente e encontrada ao longo das obras básicas, nesta pergunta, a letra "e" da palavra espírito esta escrita em minúscula e não em maiúscula. Para entendermos essa diferença, vamos primeiro ver o que diz Kardec na obra O Que é o Espiritismo, cap. II, Dos Espíritos, em nota ao item 14:
· A alma é, assim, um ser simples; (q. 23 de LE)
· o Espírito um ser duplo e (q. 76 de LE)
· o homem um ser triplo. (Kardec em nota a q. 135 de LE) (2)
Em dois artigos da Revista Espírita de maio de 1864 e janeiro de 1866, encontramos informações semelhantes:
Continuando na nota de Kardec ele diz que "Seria portanto mais exato reservar a palavra alma para designar o princípio inteligente, e a palavra Espírito para o ser semimaterial formado desse princípio e do corpo fluídico. Mas como não se pode conceber o princípio inteligente sem ligação material, as palavras alma e Espírito são, no uso comum, indiferentemente empregadas uma pela outra; é a figura que consiste em tomar a parte pelo todo, da mesma forma que se diz que uma cidade é habitada por tantas almas, uma vila composta de tantas casas; porém, FILOSOFICAMENTE É ESSENCIAL FAZER-SE A DIFERENÇA."
Para fazermos essa diferença é necessário analisarmos a resposta à q. 76 de LE e depois as perguntas e respostas das questões 134a e 149 de LE:
76. Como podemos definir os Espíritos?
-- Podemos dizer que os Espíritos são os seres inteligentes da Criação. Eles povoam o Universo, além do mundo material.
Atentemos, também, para a nota de Kardec dada para essa resposta dos Espíritos: "A palavra Espírito é aqui empregada para designar os seres extra-corpóreos e não mais o elemento inteligente Universal."
Aqui se trata do ser duplo, ou seja, de um ser composto de alma ou princípio inteligente com perispírito (3). Esses seres povoam o mundo dos Espíritos, ALÉM, do mundo material.
Agora para perceber como em sua sensatez Kardec fazia a diferença entre a Alma ou Princípio Inteligente e Espírito vamos atentar para as perguntas 134a e 149 de LE e suas consecutivas respostas:
134-a. O que era a alma, antes de unir-se ao corpo?
-- Espírito.
149. Em que se transforma a alma no instante da morte?
-- Volta a ser Espírito, ou seja, retorna ao mundo dos Espíritos, que ela havia deixado temporariamente.
Supomos que agora ficou mais fácil entender a pergunta e a resposta da q. 134 de LE:
134. O que é a alma?
-- Um Espírito encarnado.
Não?!
Então, atentemos, porque este capitulo II, do livro segundo de LE trata da ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS, ou dos seres que povoam o Universo além do Mundo material e não do princípio inteligente, como trata a resposta da q. 23 de LE.
Sendo assim, a alma do CORPO FÍSICO é composta de um Espírito encarnado, ou seja, de um princípio inteligente com o seu corpo perispiritual, e assim podemos entender da essencialidade de FILOSOFICAMENTE FAZER-SE A DIFERENÇA.
Vejamos ainda o item 13 da obra O Que é o Espiritismo, cap. II, Dos Espíritos, para percebermos melhor essa diferença:
· A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o homem; (Kardec em nota a q. 135 de LE)
· a alma e o perispírito separados do corpo constituem o ser chamado Espírito. (q. 76 de LE)
Em refutação aos que acusavam o Espiritismo de materializar a alma dando-lhe um corpo semimaterial, o codificador do espiritismo afirma, em boa lógica e sensatamente na Revista Espírita de dezembro 1862, Causas da Obsessão e meios de Combate:
"Agora outro parêntese para responder a uma objeção oposta por alguns à teoria dada pelo Espiritismo do estado da alma. Acusam-no de materializar a alma, ao passo que, conforme à religião, a alma é puramente imaterial. Como a maior parte das outras, esta objeção provém de um estudo incompleto e superficial. O Espiritismo JAMAIS definiu a natureza da ALMA, que escapa às nossas investigações. Não diz que o perispírito constitua a alma: o vocábulo perispírito diz positivamente o contrário, pois especifica um envoltório em torno do Espírito. Que diz a respeito o Livro dos Espíritos? “Há no homem três coisas: a ALMA, ou espírito, princípio inteligente; o corpo, envoltório material; o perispírito, envoltório fluídico semi-material, servindo de laço entre o Espírito e o Corpo.” E porque, com a morte do corpo, a ALMA conserva o envoltório fluídico, não está dito que tal envoltório e a alma sejam uma só e mesma coisa, pois que o corpo não é único com a roupa ou alma não é una com o corpo. A Doutrina Espírita nada tira à imaterialidade da alma. Apenas lhe dá dois invólucros, em vez de um, durante a vida corpórea e só um após a morte do corpo, o que é, não uma hipótese, mas um resultado da observação. E é com o auxílio desse envoltório que melhor se compreende a sua individualidade e melhor se explica a sua ação sobre a matéria."
E na Revista Espírita de Junho 1863, Algumas Refutações, (2º. artigo), continua no mesmo diapasão:
"O Espiritismo é acusado, por alguns, de estar fundado sobre o mais grosseiro materialismo, porque admite o perispírito, que tem propriedades materiais. É ainda uma falsa conseqüência tirada de um princípio incompletamente informado. JAMAIS o Espiritismo confundiu a ALMA com o PERISPÍRITO, que não é senão um envoltório, como o corpo dele é um outro. Tivesse ela dez envoltórios, isso não tiraria nada à sua essência imaterial."
Concluindo sobre a necessidade de se fazer a diferença sugerida por Kardec entre Alma e Espírito, prestemos atenção a este dizer do Espírito Lamennais encontrada no item 51 de O Livro dos Médiuns: "...Para progredir, a alma necessita sempre de um instrumento, sem o qual ela não seria nada...". Perceberam o uso da palavra ALMA, pois é, trata-se do princípio inteligente conforme a resposta a q. 23 de LE ou do espírito elementar fazendo abstração absoluta do perispírito.
Ainda nesse item de LM, o Espírito Lamennais diz: "Vós pesquisais o perispírito, e nos atualmente, pesquisamos a alma. Esperai, pois".
Podemos dizer que esse tempo do esperais, pois, chegou, depois de tantos estudos sobre o períspirito, ou seja, de falar do Espírito (o ser duplo), chegou o momento de estudarmos para sabermos mais sobre a Alma.
Fazendo essa diferença como sugere Kardec, vamos estudar agora o capítulo que trata dos três reinos in LE, e atentar para evolução do princípio inteligente em suas diversas fases e agindo no Universo em seus diversos reinos, do átomo ao "arcanjo", em especial da q. 604 em diante, considerando, que Kardec na sua época, não conheceu A Teoria da Evolução das Espécies proposta por Charles Darwin, como pode ser observado acessando o link abaixo para ler o último livro escrito e publicado por Allan Kardec. Esta obra surgiu em março de 1869 e foi lançado no mesmo mês em que o Mestre Lionês partiu para a pátria espiritual, o Catálogo Racional das Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita:
DOS TRÊS REINOS
Pesquisa com base in O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Livro II, Cap. XI, itens de 585 à 613 (A. Kardec).
Colaborou com o desenvolvimento ortográfico deste texto
Maria Luiza Palha
Pesquisa: Elio Mollo
Hermes Trismegisto já ensinava, no antigo Egito, que:
“a pedra se converte em planta;
a planta em animal;
o animal em homem, em Espírito;
o Espírito em Deus.”
Ensinamento hinduísta, que remonta a milhares de anos, oferece esta versão poética da evolução:
"a alma dorme na pedra, (4)
sonha no vegetal,
se agita no animal
e desperta no homem." (5)
Nesse diapasão, mas com alguma diferença, grifa Leon Denis:
“Na planta, a inteligência dormita; no animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se e torna-se consciente.”
PERISPÍRITO – 2ª. Edição Revista e Ampliada – Zalmino Zimmermann
O PROBLEMA DO SER, DO DESTINO E DA DOR – 18a. edição, página 123 - Léon V. Denis (1846-1927)
* * *
Dentre os
Espíritos que exercem ação nos fenômenos da Natureza, alguns operam com
conhecimento de causa usando do livre-arbítrio, outros não. Podemos estabelecer
uma comparação: consideremos essas miríades de animais que, pouco a pouco,
fazem emergir do mar ilhas e arquipélagos. Há aí um fim providencial, pois essa
transformação da superfície do globo é necessária à harmonia geral. Entretanto,
são animais de ínfima ordem que executam essas obras, provendo às suas
necessidades e sem suspeitarem de que são instrumentos de Deus. Do mesmo modo,
os Espíritos mais atrasados oferecem utilidade ao conjunto, assim, enquanto
eles ENSAIAM para a vida, e antes de terem PLENA consciência de seus atos e de seu
livre arbítrio, agem sobre certos fenômenos de que são agentes sem o saberem.
Primeiro, executam; mais tarde, QUANDO suas inteligências já TIVEREM ALCANÇADO UM CERTO
DESENVOLVIMENTO, ordenarão e dirigirão as coisas do mundo material. Depois, poderão
dirigir as do mundo moral.
* * *
OS MINERAIS E AS PLANTAS
A divisão da Natureza em três reinos, ou melhor, em duas classes: a dos seres orgânicos e a dos inorgânicos: reino mineral, reino vegetal e reino animal, em que segundo alguns, a espécie humana forma uma quarta classe. Todas estas divisões são boas, conforme o ponto de vista. Do ponto de vista material, há apenas seres orgânicos e inorgânicos. Do ponto de vista moral, há evidentemente quatro classes. (LE-585)
Essas quatro classes apresentam, com efeito, caracteres determinados, muito embora pareçam confundir-se nos seus limites extremos. A matéria inerte, que constitui o reino mineral, só tem em si uma força mecânica. As plantas, ainda que compostas de matéria inerte, são dotadas de vitalidade. Os animais, também compostos de matéria inerte e igualmente dotados de vitalidade, possuem, além disso, uma espécie de inteligência instintiva, limitada, e a consciência de sua existência e de suas individualidades. O homem, tendo tudo o que há nas plantas e nos animais, domina todas as outras classes por uma inteligência especial, indefinida, que lhe dá a consciência do seu futuro, a percepção das coisas extramateriais e o conhecimento de Deus.
As plantas não têm consciência de que existem, pois que não pensam; só têm vida orgânica. (LE-586)
As plantas recebem impressões físicas que atuam sobre a matéria, mas não têm percepções. Conseguintemente, não têm a sensação da dor. (LE-587)
Independe da vontade delas a força que as atrai umas para as outras, porquanto não pensam. É uma força mecânica da matéria, que atua sobre a matéria, sem que elas possam a isso opor-se. (LE-588)
Algumas plantas, como a sensitiva e a dionéia, por exemplo, executam movimentos que denotam grande sensibilidade e, em certos casos, uma espécie de vontade, conforme se observa na segunda, cujos lóbulos apanham a mosca que sobre ela pousa para sugá-la, parecendo que urde uma armadilha com o fim de capturar e matar aquele inseto. Daí surgem perguntas como estas: São dotadas essas plantas da faculdade de pensar? Têm vontade e formam uma classe intermediária entre a Natureza vegetal e Natureza animal? Constituem a transição de uma para outra? Responderemos que, na NATUREZA TUDO É TRANSIÇÃO, por isso mesmo que uma coisa não se assemelha a outra e, no entanto, todas se prendem umas às outras. As plantas não pensam; por conseguinte carecem de vontade. Nem a ostra que se abre, nem os zoófitos pensam: têm apenas um instinto cego e natural. (LE-589)
O organismo humano nos proporciona exemplo de movimentos análogos, sem participação da vontade, nas funções digestivas e circulatórias. O piloro se contrai, ao contacto de certos corpos, para lhes negar passagem. O mesmo provavelmente se dá na sensitiva, cujos movimentos de nenhum modo implicam a necessidade de percepção e, ainda menos, da vontade.
Nas plantas há uma espécie de instinto, dependendo isso da extensão que se dê ao significado desta palavra. É, porém, um instinto puramente mecânico. Quando, nas operações químicas, observais que dois corpos se reúnem, é que um ao outro convém; quer dizer: é que há entre eles afinidade, e a isto não damos o nome de instinto. (LE-590)
Nos mundos superiores tudo é mais perfeito. As plantas, porém, são sempre plantas, como os animais sempre animais e os homens sempre homens. (LE-591)
OS ANIMAIS E O HOMEM
Pelo que toca à inteligência, comparando o homem e os animais, parece difícil estabelecer-se uma linha de demarcação entre aquele e estes, porquanto alguns animais mostram, sob esse aspecto, notória superioridade sobre certos homens. A este respeito é completo o desacordo entre os nossos filósofos. Querem uns que o homem seja um animal e outros que o animal seja um homem. Estão todos em erro. O homem é um ser à parte, que desce muito baixo algumas vezes e que pode também elevar-se muito alto. Pelo físico, é como os animais e menos bem dotado do que muitos destes (a Natureza lhes deu tudo o que o homem é obrigado a inventar com a sua inteligência, para satisfação de suas necessidades e para sua conservação). Seu corpo se destrói, como o dos animais, é certo, mas ao seu Espírito está assinado um destino que só ele pode compreender, porque só ele é inteiramente livre. Os homens não se devem rebaixar mais do que os brutos! Devem saber distinguirem-se deles. Reconhece-se o homem pela faculdade de pensar em Deus. (LE-592)
Dizer que os animais só obram por instinto não é adequado. É verdade que na maioria dos animais domina o instinto, mas pode-se observar que MUITOS OBRAM DENOTANDO ACENTUADA VONTADE, é que têm inteligência, porém limitada. (LE-593)
Não se poderia negar que, além de possuírem o instinto, alguns animais praticam atos combinados, que denunciam vontade de operar em determinado sentido e de acordo com as circunstâncias. Há, pois, neles, uma espécie de inteligência, mas cujo exercício quase que se circunscreve à utilização dos meios de satisfazerem às suas necessidades físicas e de proverem à conservação própria. Nada, porém, criam, nem melhora alguma realizam. Qualquer que seja a arte com que executem seus trabalhos, fazem hoje o que faziam outrora e o fazem, nem melhor, nem pior, segundo formas e proporções constantes e invariáveis. A cria, separada dos de sua espécie, não deixa por isso de construir o seu ninho de perfeita conformidade com os seus maiores, sem que tenha recebido nenhum ensino. O desenvolvimento intelectual de alguns, que se mostram suscetíveis de certa educação, desenvolvimento, aliás, que não pode ultrapassar acanhados limites, é devido à ação do homem sobre uma natureza maleável, porquanto não há aí progresso que lhe seja próprio. Mesmo o progresso que realizam pela ação do homem é efêmero e puramente individual, visto que, entregue a si mesmo, não tarda que o animal volte a encerrar-se nos limites que lhe traçou a Natureza.
Os animais não possuem uma linguagem formada de sílabas e palavras. Porém, possuem um meio de se comunicarem entre si. Dizem uns aos outros muito mais coisas do que podemos imaginar, Mas, essa mesma linguagem de que dispõem é restrita às necessidades, como restritas também são as idéias que podem ter. Entretanto, há animais que carecem de voz. Esses parece que nenhuma linguagem usam, contudo compreendem-se por outros meios. Para se comunicar reciprocamente, o homem não dispõe só da palavra, mas também de outros meios, assim como os mudos. Facultada lhes sendo a vida de relação, os animais possuem meios de se prevenirem e de exprimirem as sensações que experimentam. Os peixes também se entendem entre si. O homem não goza do privilégio exclusivo da linguagem. Porém, a dos animais é instintiva e circunscrita pelas suas necessidades e idéias, ao passo que a do homem é perfectível e se presta a todas as concepções da sua inteligência. (LE-594)
Efetivamente, os peixes que, como as andorinhas, emigram em cardumes, obedientes ao guia que os conduz, devem ter meios de se advertirem, de se entenderem e combinarem. É possível que disponham de uma vista mais penetrante e esta lhes permita perceber os sinais que mutuamente façam. Pode ser também que tenham na água um veículo próprio para a transmissão de certas vibrações. Como quer que seja, o que é incontestável é que lhes não falecem meios de se entenderem, do mesmo modo que a todos os animais carentes de voz e que, não obstante, trabalham em comum. Diante disso, que admiração pode causar que os Espíritos entre si se comuniquem sem o auxílio da palavra articulada?
OS ANIMAIS NÃO SÃO SIMPLES MÁQUINA. Contudo, a liberdade de ação, de que desfrutam, é limitada pelas suas necessidades e não se pode comparar à do homem. Sendo muitíssimo inferiores a este, não têm os mesmos deveres que ele. A liberdade que possuem é restrita aos atos da vida material. (LE-595)
A aptidão que certos animais denotam para imitar a linguagem do homem, que parece se revelar mais nas aves do que no macaco, cuja estrutura apresenta mais analogia com a humana, origina-se de uma particular conformação dos órgãos vocais, reforçada pelo instinto de imitação. O macaco imita os gestos; algumas aves imitam a voz. (LE-596)
Os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação, pois há neles algum PRINCÍPIO INDEPENDENTE da matéria e que sobrevive ao corpo (1). Podemos dizer que é uma alma, dependendo do sentido que se der a esta palavra. É, porém, inferior à do homem. Há entre a alma dos animais e a do homem distância equivalente à que medeia entre a alma do homem e Deus. (LE-597)
Após a morte, A ALMA DOS ANIMAIS CONSERVA A SUA INDIVIDUALIDADE (5), mas quanto à CONSCIÊNCIA do seu EU, NÃO. A VIDA INTELIGENTE LHE PERMANECE EM ESTADO LATENTE. (LE-598)
À alma dos animais não é dado escolher a espécie de animal em que encarne, pois que lhe falta livre-arbítrio. (LE-599)
Sobrevivendo ao corpo em que habitou, a alma do animal fica numa espécie de erraticidade, pois que não mais se acha unida ao corpo, mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e obra por sua livre vontade. De idêntica faculdade não dispõe o dos animais. A consciência de si mesmo é o que constitui o principal atributo do Espírito. O do animal, depois da morte, é classificado pelos Espíritos a quem incumbe essa tarefa e utilizado quase imediatamente. Não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas. (LE-600)
OS ANIMAIS ESTÃO SUJEITOS, COMO O HOMEM, A UMA LEI PROGRESSIVA, e daí vem que nos mundos superiores, onde os homens são mais adiantados, os animais também o são, dispondo de meios mais amplos de comunicação. São sempre, porém, inferiores ao homem e se lhe acham submetidos, tendo neles o homem servidores inteligentes. (LE-601)
Nada há nisso de extraordinário; tomemos os nossos mais inteligentes animais, o cão, o elefante, o cavalo, e imaginemo-los dotados de uma conformação apropriada a trabalhos manuais. Que não fariam sob a direção do homem?
Os animais progridem pela força das coisas, razão por que não estão sujeitos à expiação. (LE-602)
Nos mundos superiores, os animais não conhecem a Deus. Para eles o homem é um deus, como outrora os Espíritos eram deuses para o homem. (LE-603)
TUDO NA NATUREZA SE ENCADEIA POR ELOS QUE AINDA NÃO PODEMOS APREENDER MUITO BEM. Assim, as coisas aparentemente mais díspares têm pontos de contacto que o homem, no seu estado atual, nunca chegará a compreender. Por um esforço da inteligência poderá entrevê-los; mas, somente quando essa inteligência estiver no máximo grau de desenvolvimento e liberta dos preconceitos do orgulho e da ignorância, logrará ver claro na obra de Deus. Até lá, suas muito restritas idéias lhe farão observar as coisas por um mesquinho e acanhado prisma. Não é possível que Deus se contradiga pois, NA NATUREZA, TUDO SE HARMONIZA MEDIANTE LEIS GERAIS, que por nenhum de seus pontos deixam de corresponder à sublime sabedoria do Criador. A inteligência é uma propriedade comum, um ponto de contacto entre a alma dos animais e a do homem, porém OS ANIMAIS SÓ POSSUEM A INTELIGÊNCIA DA VIDA MATERIAL. NO HOMEM, A INTELIGÊNCIA PROPORCIONA A VIDA MORAL. (LE-604)
Considerando-se todos os pontos de contacto que existem entre o homem e os animais, não é lícito pensar que o homem possui duas almas. Dupla, no homem, só a Natureza. O corpo, porém, tem seus instintos, resultantes da sensação peculiar aos órgãos. Há nele a natureza animal e a natureza espiritual. Participa, pelo seu corpo, da natureza dos animais e de seus instintos. Por sua alma, participa da dos Espíritos. Quanto mais inferior é o Espírito, tanto mais apertados são os laços que o ligam à matéria. Como já dissemos, o homem não tem duas almas; a alma é sempre única em cada ser. São distintas uma da outra a alma do animal e a do homem, a tal ponto que a de um não pode animar o corpo criado para o outro. Mas, conquanto não tenha alma animal, que, por suas paixões, o nivele aos animais, o homem tem o corpo que, às vezes, o rebaixa até ao nível deles, por isso que o corpo é um ser dotado de vitalidade e de instintos, porém ininteligentes estes e restritos ao cuidado que a sua conservação requer. (LE-605)
Encarnado no corpo do homem, o Espírito lhe traz o princípio intelectual e moral, que o torna superior aos animais. As duas naturezas nele existentes dão às suas paixões duas origens diferentes: umas provêm dos instintos da natureza animal, provindo as outras das impurezas do Espírito, de cuja encarnação é ele a imagem e que mais ou menos simpatiza com a grosseria dos apetites animais. Purificando-se, o Espírito se liberta pouco a pouco da influência da matéria. Sob essa influência, aproxima-se do bruto. Isento dela, eleva-se à sua verdadeira destinação.
Os animais tiram o princípio inteligente que constitui a alma de natureza especial de que são dotados do elemento inteligente universal. A inteligência do homem e a dos animais emanam de um único princípio, porém, no homem, passou por uma elaboração que a coloca acima da que existe no animal. (LE-606)
O estado da alma na sua primeira encarnação é o da infância na vida corporal. A inteligência apenas desabrocha: a ALMA se ensaia para a vida. O Espírito passa essa primeira fase do seu desenvolvimento numa série de existências que precedem o período a que chamamos Humanidade. Na Natureza tudo se encadeia e tende para a unidade. Nesses seres, cuja totalidade estamos longe de conhecer, é que o PRINCÍPIO INTELIGENTE se elabora, se INDIVIDUALIZA pouco a pouco e se ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É, de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o PRINCÍPIO INTELIGENTE sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos. Assim, à fase da infância se segue a da adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza. Nessa origem, coisa alguma há de humilhante para o homem. Sentir-se-ão humilhados os grandes gênios por terem sido fetos informes nas entranhas que os geraram? Se alguma coisa há que lhe seja humilhante, é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para Lhe sondar a profundeza dos desígnios e para apreciar a sabedoria das leis que regem a harmonia do Universo. A GRANDEZA DE DEUS se reconhece nessa ADMIRÁVEL HARMONIA, mediante a qual TUDO É SOLIDÁRIO NA NATUREZA (#). Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem um fim, e criado seres inteligentes sem futuro, fora blasfemar da Sua bondade, que se estende por sobre todas as Suas criaturas. A Terra não é o ponto de partida da primeira encarnação humana. O período da humanização começa, geralmente, em mundos ainda inferiores à Terra. Isto, entretanto, não constitui regra absoluta, pois pode suceder que um Espírito, desde o seu início humano, esteja apto a viver na Terra. Não é freqüente o caso; constitui antes uma exceção. (LE-190 e 607)
190. Qual é o estado da alma em sua primeira encarnação?
R: O estado da infância na vida corpórea. Sua inteligência apenas desabrocha: ela ensaia para a vida.
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(#) «NÃO ESQUEÇAIS NUNCA de que o Espírito, QUALQUER QUE SEJA O GRAU DE SEU ADIANTAMENTO, na situação de encarnado, ou na erraticidade, está sempre colocado entre um superior, que o guia e aperfeiçoa, e um inferior, para com o qual tem que cumprir esses mesmos deveres.»
SÃO VICENTE DE PAULO, in O LIVRO DOS ESPÍRITOS, q. 888a, obra codificada por Allan Kardec
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O Espírito do homem não tem, após a morte, consciência de suas existências anteriores ao período de humanidade, pois é desse período que começa a sua vida de Espírito. Difícil mesmo é que se lembre de suas primeiras existências humanas, como difícil é que o homem se lembre dos primeiros tempos de sua infância e ainda menos do tempo que passou no seio materno. Essa a razão por que os Espíritos dizem que não sabem como começaram. (LE-608 e 78)
78. Os Espíritos tiveram princípio ou existem de toda a eternidade?
R: Se os Espíritos não tivessem tido princípio, seriam iguais a Deus, mas pelo contrário, são sua criação, submetidos à sua vontade. Deus existe de toda a eternidade, isso é incontestável: mas quando e como ele criou, não o sabemos. Podes dizer que não tivemos princípio, se com isso entendes que Deus, sendo eterno, deve ter criado sem cessar; mas quando e como cada um de nós foi feito, eu te repito, ninguém o sabe; isso é mistério.
Conforme a distância que medeie entre os dois períodos e o progresso realizado, durante algumas gerações, pode o homem conservar vestígios mais ou menos pronunciados do estado primitivo, porquanto nada se opera na Natureza por brusca transição. Há sempre anéis que ligam as extremidades da cadeia dos seres e dos acontecimentos. Aqueles vestígios, porém, se apagam com o desenvolvimento do livre-arbítrio. Os primeiros progressos só muito lentamente se efetuam, porque ainda não têm a secundá-los a vontade. Vão em progressão mais rápida, à medida que o Espírito adquire perfeita consciência de si mesmo. (LE-609)
Os Espíritos que disseram constituir o homem um ser à parte na ordem da criação não se enganaram, mas a questão não fora desenvolvida (+). Demais, há coisas que só a seu tempo podem ser esclarecidas. O homem é, com efeito, um ser à parte, visto possuir faculdades que o distinguem de todos os outros e ter outro destino. A espécie humana é a que Deus escolheu para a encarnação do seres que podem conhecê-Lo. (LE-610)
(+) Nota de Elio Mollo: Já que esta questão ainda não foi desenvolvida, podemos deduzir que dependendo dos mundos:
· Se for predominantemente mineral estes serão os seres principais desse mundo;
· Se houverem minerais e vegetais, os vegetais, pelas suas características, serão os seres a parte da criação;
· Se houverem minerais, vegetais e animais, os animais, pelas suas características inteligente, serão os seres a parte da criação;
· Se houverem minerais, vegetais, animais e homens, os homens, pelas suas características inteligente, com livre-arbítrio e senso moral, serão os seres a parte da criação. E assim por diante.
METEMPSICOSE
O terem os seres vivos uma origem comum no princípio inteligente não é a consagração da doutrina da metempsicose. Duas coisas podem ter a mesma origem e absolutamente não se assemelharem mais tarde. Quem reconheceria a árvore, com suas folhas, flores e frutos, do gérmen informe que se contém na semente donde ela surge? Desde que o Princípio inteligente atinge o grau necessário para ser Espírito e entrar no período da humanização, já não guarda relação com o seu estado primitivo e já não é a ALMA dos animais, como a árvore já não é a semente. De animal só há no homem o corpo e as paixões que nascem da influência do corpo e do instinto de conservação inerente à matéria. Não se pode, pois, dizer que tal homem é a encarnação do Espírito de tal animal. Conseguintemente, a metempsicose, como a entendem, não é verdadeira. (LE-611)
O Espírito que animou o corpo de um homem não poderia encarnar num animal, pois isso seria retrogradar e o Espírito não retrograda. O rio não remonta à sua nascente. Os Espíritos não podem degenerar; à medida que avançam, compreendem o que os distanciava da perfeição. Concluindo uma prova, o Espírito fica com a ciência que daí lhe veio e não a esquece. Pode permanecer estacionário, mas não retrograda. (LE-612 e 118)
118. Os Espíritos podem degenerar?
R: Não. A medida que avançam, compreendem o que os afasta da perfeição. Quando o Espírito conclui uma prova, adquiriu conhecimento e não mais o perde. Pode permanecer estacionado, mas não retrogradar.
Tanto na idéia ligada à metempsicose, como em muitas outras crenças, se depara esse sentimento intuitivo. O homem, porém, o desnaturou, como costuma fazer com a maioria de suas idéias intuitivas. (LE-613)
Seria verdadeira a metempsicose, se indicasse a progressão da alma, passando de um estado a outro superior, onde adquirisse desenvolvimentos que lhe transformassem a natureza. É, porém, falsa no sentido de transmigração direta da alma do animal para o homem e reciprocamente, o que implicaria a idéia de uma retrogradação, ou de fusão. Ora, o fato de não poder semelhante fusão operar-se entre os seres corporais das duas espécies, mostra que estas são de graus inassimiláveis, devendo dar-se o mesmo com relação aos Espíritos que as animam. Se um mesmo Espírito as pudesse animar alternativamente, haveria, como conseqüência, uma identidade de natureza, traduzindo-se pela possibilidade da reprodução material.
A reencarnação, como os Espíritos a ensinam, se funda, ao contrário, na marcha ascendente da Natureza e na progressão do homem, dentro da sua própria espécie, o que em nada lhe diminui a dignidade. O que o rebaixa é o mau uso que ele faz das faculdades que Deus lhe outorgou para que progrida. Seja como for, a ancianidade e a universalidade da doutrina da metempsicose e, bem assim, a circunstância de a terem professado homens eminentes, provam que o princípio da reencarnação se radica na própria Natureza. Antes, pois, constituem argumentos a seu favor, que contrários a esse princípio.
O ponto inicial do Espírito é uma dessas questões que se prendem à origem das coisas e de que Deus guarda o segredo. Dado não é ao homem conhecê-las de modo absoluto, nada mais lhe sendo possível a tal respeito do que fazer suposições, criar sistemas mais ou menos prováveis. Os próprios Espíritos longe estão de tudo saberem e, acerca do que não sabem, também podem ter opiniões pessoais mais ou menos sensatas.
É assim, por exemplo, que nem todos pensam da mesma forma quanto às relações existentes entre o homem e os animais. Segundo uns, o Espírito não chega ao período humano senão depois de se haver elaborado e individualizado nos diversos graus dos seres inferiores da Criação. Segundo outros, o Espírito do homem teria pertencido sempre à raça humana, sem passar pela fieira animal. O primeiro desses sistemas apresenta a vantagem de assinar um alvo ao futuro dos animais, que formariam então os primeiros elos da cadeia dos seres pensantes. O segundo é mais conforme à dignidade do homem e pode resumir-se da maneira seguinte:
As diferentes espécies de animais não procedem intelectualmente umas das outras, mediante progressão. Assim, o espírito da ostra não se torna sucessivamente o do peixe, do pássaro, do quadrúpede e do quadrúmano. Cada espécie constitui, física e moralmente, um tipo absoluto, cada um de cujos indivíduos haure na fonte universal a quantidade do princípio inteligente que lhe seja necessário, de acordo com a perfeição de seus órgãos e com o trabalho que tenha de executar nos fenômenos da Natureza, quantidade que ele, por sua morte, restitui ao reservatório donde a tirou. Os dos mundos mais adiantados que o nosso (**) constituem igualmente raças distintas, apropriadas às necessidades desses mundos e ao grau de adiantamento dos homens, cujos auxiliares eles são, mas de modo nenhum procedem das da Terra, espiritualmente falando. Outro tanto não se dá com o homem. Do ponto de vista físico, este forma evidentemente um elo da cadeia dos seres vivos: porém, do ponto de vista moral, há, entre o animal e o homem, solução de continuidade. O homem possui, como propriedade sua, a alma ou Espírito, centelha divina que lhe confere o senso moral e um alcance intelectual de que carecem os animais e que é nele o ser principal, que preexiste e sobrevive ao corpo, conservando sua individualidade. Qual a origem do Espírito? Onde o seu ponto inicial? Forma-se do princípio inteligente individualizado? Tudo isso são mistérios que fora inútil querer devassar e sobre os quais, como dissemos, nada mais se pode fazer do que construir sistemas. O que é constante, o que ressalta do raciocínio e da experiência, é a sobrevivência do Espírito, a conservação de sua individualidade após a morte, a progressividade de suas faculdades, seu estado feliz ou desgraçado de acordo com o seu adiantamento na senda do bem e todas as verdades morais decorrentes deste princípio.
Quanto às relações misteriosas que existem entre o homem e os animais, isso, repetimos, está nos segredos de Deus, como muitas outras coisas, cujo conhecimento atual nada importa ao nosso progresso e sobre as quais seria inútil determo-nos.
(**) Os Espíritos puros habitam mundos especiais, mas não lhes ficam presos, como os homens à Terra; podem, melhor do que os outros, estar em toda parte. (LE-188)
* * *
NOTAS:
(1) A verdadeira vida, tanto do animal quanto a do homem, não mais está no envoltório corporal como não estaria numa veste; ela está no princípio inteligente que pré-existe e sobrevive ao corpo. (Allan Kardec in A Gênese, cap. III, item 21
(2) Estudos relacionados Alma, Espírito e o Homem:
(3) O perispírito é o laço que à matéria do corpo prende o Espírito, que o tira do meio ambiente, do fluido universal. Contém ao mesmo tempo da eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da matéria. É o princípio da vida orgânica, porém, não o da vida intelectual, que reside no Espírito. É, além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo, os órgãos, servindo-lhes de condutos, localizam essas sensações. Destruído o corpo, elas se tornam gerais. (Allan Kardec no item 257 de O Livro dos Espíritos, Ensaio Teórico sobre a sensação nos Espíritos.
Informação semelhante pode ser encontrada na Revista Espírita de dezembro de 1858, Sensações dos Espíritos:
O perispírito é o laço que une o Espírito à matéria do corpo; é tirado do meio ambiente, do fluido universal; tem, simultaneamente, algo da eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da matéria: é o princípio da vida orgânica, mas não o é da vida intelectual. A vida intelectual está no Espírito. É além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo estas sensações estão localizadas em órgãos que lhe servem de canal. Destruído o corpo, as sensações tornam-se gerais.
Ainda vale esta outra informação que pode ser encontrada na Revista Espírita de maio de 1858, onde se destaca a diferença entre ALMA e Espírito no uso do Períspirito:
...a ALMA não deixa tudo na sepultura e que leva alguma coisa consigo.
Haveria, assim, em nós, duas espécies de matéria: uma grosseira, que constitui o envoltório exterior, outra sutil e indestrutível. A morte é a destruição, ou melhor, a desagregação da primeira, da que a alma abandona; a outra se libera e SEGUE A ALMA que continua, desse modo, tendo sempre um envoltório; é o que chamamos perispírito. Essa matéria sutil, extraída, por assim dizer, de todas as partes do corpo ao qual estava ligada durante a vida, dele conserva a impressão; ora, eis por que os Espíritos se vêem e por que nos aparecem tais quais eram quando vivos. Mas essa matéria sutil não tem a tenacidade, nem a rigidez da matéria compacta do corpo; ela é, se assim podemos nos expressar, flexível e expansível; por isso a forma que toma, se bem que calcada sobre a do corpo, não é absoluta; ela se dobra à vontade do Espírito, que pode dar-lhe tal ou tal aparência, à sua vontade, ao passo que o envoltório sólido oferece-lhe uma resistência intransponível; desembaraçado desse entrave que o comprimia, o perispírito se estende ou se retrai, se transforma, em uma palavra, se presta a todas as metamorfoses, segundo a vontade que age sobre ele.
Ver outros estudos relacionados ao tema perispírito:
(4) Em alguns textos ou artigos encontramos a palavra mineral em vez de pedra, no que achamos mais adequada do que pedra: Sendo assim, segue a pesquisa abaixo.
PESQUISA:
O que é um mineral?
Um mineral é um sólido cristalizado, constituído por um elemento ou um composto químico, com fórmula química definida dentro de certos limites, homogêneo, originado na natureza através de processos geológicos.
Podemos decompor a frase anterior em segmentos e analisá-los de forma mais aprofundada, inclusive com a ilustração de exemplos práticos, curiosidades e exceções à regra geral:
a) “um mineral é um sólido” é uma afirmação que exclui como possível mineral todo material em estado gasoso ou líquido. Por exemplo, a água, por ser líquida, não é considerada um mineral, mas o gelo, sim. Como exceção, temos o mercúrio nativo, líquido, que é considerado um mineral por consenso da International Mineralogical Association (IMA).
b) “um mineral é cristalizado” significa que os átomos que o constituem estão organizados espacialmente em um arranjo tridimensional preciso (retículo cristalino) e geométrico. Os sólidos inorgânicos e naturais, mas que não possuem estrutura cristalina, portanto chamados amorfos, como a opala (um gel) e a obsidiana (vidro vulcânico), são classificados como mineralóides e não como minerais. A título de curiosidade, os sólidos inorgânicos naturais que foram cristalizados e tiveram sua estrutura cristalina destruída por radiação ionizante (emitida por átomos em sua própria composição ou em inclusões), denominados metamictos, são considerados minerais desde que sua cristalização possa ser restaurada por tratamento térmico, como é o caso de alguns zircões verdes.
c) “um mineral é constituído por um elemento químico (por átomos de apenas um elemento químico) ou por um composto químico (por átomos combinados de dois ou mais elementos químicos)”. Os minerais formados por átomos de apenas um elemento químico recebem a denominação de minerais simples ou elementos nativos.
Alguns exemplos de minerais simples são: o diamante (átomos de carbono), o ouro nativo (átomos de ouro) e a platina nativa(átomos de platina). Os minerais formados por átomos combinados de dois ou mais elementos químicos recebem a denominação de minerais compostos e existem em maior número que os minerais simples.
Como exemplos de minerais compostos, têm-se: o quartzo (dióxido de silício), a água marinha (silicato de berílio e alumínio), a fluorita (fluoreto de cálcio), a malaquita (carbonato básico de cobre) e a hematita (óxido de ferro).
d) “um mineral apresenta fórmula química definida dentro de certos limites”. Todos os minerais simples e alguns minerais compostos possuem composição química constante. Outros minerais compostos, no entanto, são variáveis dentro de limites conhecidos e definidos. Citando um exemplo, temos o grupo das olivinas, que possui sete átomos em sua composição. Desses, sempre estão presentes um átomo de silício e quatro de oxigênio. Os dois átomos restantes correspondem a uma situação entre os seguintes extremos: dois átomos de magnésio ou dois átomos de ferro.
e) “um mineral é homogêneo”. Por sua composição química uniforme, a estrutura cristalina de um determinado mineral é tão bem definida que a posição tridimensional de cada um de seus átomos é previsível e repetitiva. Afirma-se, assim, que todo mineral tem homogeneidade periódica.
f) “um mineral é originado na natureza”. Esta definição exclui as substâncias sintéticas (fabricadas pelo homem e semelhantes em características a minerais existentes na natureza, como o coríndon sintético ou o espinélio sintético, por exemplo) e as artificiais (fabricadas pelo homem e sem análogos na natureza, como a zircônica cúbica, o YAG e o titanato de estrôncio, por exemplo).
g) “um mineral é originado por processos geológicos”, ou seja, inorgânicos. Os compostos químicos formados por seres vivos (processo denominado biomineralização), como as pérolas e o âmbar, são considerados mineralóides e não, minerais. A título de curiosidade, convém lembrar que as substâncias de origem extraterrestre que apresentam características conforme as definidas acima também são consideradas minerais.
Embora isto extrapole o conceito de “geológico” (que é o estudo de elementos do planeta Terra), acredita-se que essas substâncias foram constituídas naturalmente e por processos semelhantes aos conhecidos aqui, na Terra.
Sais minerais
Os minerais são nutrientes com função plástica e reguladora do organismo. É necessário ingerir cálcio e fósforo em quantidades suficientes para a constituição do esqueleto e dos dentes. Outros minerais, como o iodo e o flúor, apesar de serem necessários apenas em pequenas quantidades, previnem o aparecimento de doenças como a cárie dentária e o bócio. Uma alimentação pobre em ferro provoca anemia (falta de glóbulos vermelhos no sangue). O excesso de sódio, provocado pela ingestão exagerada de sal, aumenta o risco de doenças cardiovasculares e é um dos responsáveis pela hipertensão.
Os Minerais
Se considerarmos as rochas como documentos onde ficaram "escritas” determinadas fases da evolução do nosso planeta, desde a sua origem, há cerca de 4 460 milhões de anos, até aos nossos dias, podemos aceitar que os minerais são letras de uma linguagem particular que permite a leitura dessas rochas com vista ao conhecimento da referida evolução, à semelhança do que faz o historiador, ao decifrar escritas antigas em velhos pergaminhos, ou do que faz o músico, ao trautear os caracteres de uma partitura.
Decifrar a história da Terra passa, pois, por saber ler nas rochas através dos seus minerais e de outros elementos nelas conservados, como são, por exemplo, os fósseis. Por outro lado, estudar as rochas amplia a nossa visão sobre o mundo dos minerais, constituintes essenciais a todas elas, quaisquer que sejam as suas natureza e origem.
São mais de 3 500 as espécies de minerais conhecidas. Algumas, não muitas, entram na constituição das rochas e outras concentram-se em corpos geológicos particulares e têm elevado interesse como matérias-primas essenciais à sociedade.
Entende-se por espécie mineral um corpo natural, cristalino, de composição química variável, dentro de limites bem estabelecidos, e caracterizado por uma disposição regular dos seus átomos segundo padrões ou redes tridimensionais próprias de cada espécie. Tal empilhamento consiste numa repetição de um dado motivo em três direcções do espaço e, daí, o falar-se de estrutura triperiódica da matéria cristalina.
O carácter de corpo natural e cristalino, imposto na definição de espécie mineral, abarca o gelo, normalmente não incluído nos manuais de mineralogia. Pouco comum nas nossas latitudes, a água no estado sólido é uma realidade nos cimos permanentemente gelados das altas montanhas ou nas regiões polares. É ainda uma constante nos cometas ou na crosta de algumas luas dos nossos planetas longínquos. Todavia, por exclusão de partes, todos aceitamos a água, os gases atmosféricos e os saídos dos vulcões como parte do mundo mineral ou, como dantes se dizia, do “Reino Mineral”, e tanto assim é que a expressão água mineral faz parte da nossa linguagem comum.
Alguns autores pretendem incluir entre os minerais certas substâncias de evidente origem orgânica, como os carvões fósseis, muitas vezes referidos por carvões minerais. Tal concepção conduziu à aparição, em alguns manuais de Mineralogia, de uma classe intitulada Minerais Orgânicos, expressão que representa uma contradição face ao conceito de mineral, não pela aposição do adjectivo orgânico, mas sim porque tais substâncias naturais não são cristalinas. O carácter inorgânico que, acriticamente, fomos interiorizando ao longo do tempo, como uma característica dos minerais, não é condição necessária, pois são muitas as espécies minerais geradas pela actividade de certos seres vivos (aragonite, calcite, hematite, magnetite, etc.) e, portanto, de origem orgânica. Na óptica de tais autores dever-se-ia chamar mineral ao âmbar, ao petróleo e, pela mesma razão, à turfa, essa terra vegetal que compramos para colocar nos vasos com plantas, e, também, ao gás natural, o que não tem qualquer lógica. Nos textos clássicos e medievais não se fazia distinção entre minerais, pedras (rochas), betumes e outros materiais, todos então referidos como fósseis, termo que, em rigor, significa produto saído da terra, desenterrado.
Muitas das substâncias naturais de origem orgânica podem, por metamorfismo, ser transformadas em grafite, uma espécie de carbono nativo que já apresenta estrutura cristalina e que ninguém tem dúvida em aceitar como mineral, ao lado do diamante. Igualmente, ninguém rejeita como mineral o quartzo transformado a partir da opala do esqueleto de um radiolário, ou a magnetite derivada de um óxido de ferro produzido por um qualquer microrganismo. O que está em causa, pois, no conceito de mineral, não é o processo de formação, mas sim o carácter triperiódico da estrutura, isto é, o carácter cristalino.
Há substâncias naturais vulgarmente referidas como minerais mas que, em rigor, o não são. É o caso dos mineralóides, designação atribuída a certas substâncias inorgânicas, naturais, não cristalinas, vítreas e coloidais, na maior parte dos casos. Embora do “Reino Mineral”, estas substâncias não devem ser referidas como minerais por razões de coerência com o conceito de espécie estabelecido em mineralogia, conceito que implica o carácter cristalino. É o caso das opalas, que são formadas por um edifício não cristalino de sílica hidratada, cujo arranjo condiciona a existência dos efeitos de cor (opalescência) conhecidos nesta substância mineral com características de gema. É ainda o caso de certos hidóxidos de ferro e de alguns materiais argilosos comuns nos solos e em dados perfis de alteração.
O quartzo é um dos minerais mais abundantes na crosta terrestre, componente essencial do granito, ao lado dos feldspatos, das micas e de outros menos abundantes. Todos o conhecemos sob a forma de grãos de areia nas nossas praias. É esta mesma areia que, convenientemente tratada e fundida, se transforma no vidro que nos rodeia na sociedade moderna, organização humana que não dispensa este e muitos outros minerais onde figuram o ferro, o alumínio, o cálcio, o sódio, o potássio, o cobre, o chumbo, o estanho, o fósforo, o enxofre, bem conhecidos, de todos nós, e muitos mais, de uso menos divulgado mas importantes e hoje comuns nas mais modernas tecnologias. São igualmente minerais os componentes do barro ou da argila com que se fabricam as telhas, os tijolos e toda a faiança e porcelana que utilizamos diariamente.
Dizer-se que um mineral é um silicato, indica que pertence a um vasto conjunto que tem, como elementos constantes e característicos, silício e oxigénio, sendo as diferentes espécies que o integram definidas em função dos restantes elementos que as compõem e do modo como se arranjam entre si. Alumínio e potássio na ortoclase, ferro e magnésio na olivina, alumínio e berílio no berilo, espécie mineral cuja variedade azul celeste, transparente, ganha valor de gema como água-marinha e que, com uma pitada de crómio e ou de vanádio, gera a variedade de cor verde, tida por pedra preciosa e conhecida por esmeralda. O rubi, vermelho, e as safiras, azuis e de outras cores, são variedades do mineral corindo, um óxido de alumínio, o mesmo metal da moderna civilização que se extrai industrialmente dos bauxitos, um tipo particular de solo tropical formado por alteração de certas rochas, sob condições climáticas de extrema humidade e calor. O resíduo que aí fica desta profunda alteração é essencialmente formado por hidróxidos de alumínio, conhecidos dos estudiosos e que têm nome: gibbsite, diásporo e bohemite, três minerais diferentes, mas com idêntico conteúdo químico (oxigénio, hidrogénio e alumínio).
Chama-se calcite uma das espécies naturais de carbonato de cálcio e também a mais abundante. É um composto de carbono, oxigénio e cálcio, elementos de que também são constituídas muitíssimas variedades de calcário, certos mármores, as belas estalactites, o alabastro e muitas conchas de moluscos. Se em vez de cálcio a associação carbono-oxigénio se ligar com ferro, forma-se um outro mineral, a siderite; com cálcio e magnésio, a dolomite; com chumbo, a cerussite, etc.. O gesso é um sulfato de cálcio hidratado, mas há outros sulfatos menos conhecidos: o de cobre (calcantite), o de bário (barite), o de chumbo (anglesite), o de potássio e alumínio, de nome alunite (a vulgar pedra-ume), etc..
A pirite, que todos sabemos estar ligada à história e aos cantares dos mineiros de Aljustrel, é um sulfureto de ferro, uma associação química de enxofre e ferro; pertence à mesma classe da galena (com chumbo), da blenda ou esfalerite (com zinco) ou da calcopirite, importante e principal minério de onde se extrai o cobre. Outros minerais são constituídos por um só elemento, como o diamante e a grafite, ambos carbono puro. O ouro e a prata dificilmente se combinam com outros elementos e, assim, aparecem também na natureza quase sempre no estado elementar. Mas há mais e bem conhecidos, como o cobre, o bismuto, a antimónio, o arsénio, o enxofre e o mercúrio.
Se há minerais que se formam a grandes profundidades, sob condições de pressão e de temperatura elevadíssimas, como é o caso do diamante e de alguns mais, outros há que são gerados e se desenvolvem à superfície da Terra, sob os nossos olhos. Entre estes encontram-se alguns dos minerais dos basaltos que vemos arrefecer e consolidar, o sal-gema, precipitado por evaporação da água do mar, a aragonite e a calcite, geradas nas estalactites ou nos recifes de coral, e as vulgaríssimas argilas dos caminhos poeirentos ou enlameados, e dos solos, resultantes da alteração (meteorização) de outros minerais primários das rochas como são os feldspatos.
Os sulfuretos, como os já referidos e muitos outros, geram-se em meios redutores, pobres de oxigénio livre. Pelo contrário, na presença deste gás atmosférico, isto é, nos níveis mais superficiais da crosta têm origem óxidos, como a hematite, e outros minerais oxigenados reunidos entre os carbonatos, os sulfatos, os fosfatos ou os nitratos. Mas há outros óxidos primários que nada têm a ver com o ambiente supergénico, como o quartzo (óxido de silício) e a magnetite (de ferro), a cassiterite (de estanho) e a cromite (de crómio), gerados em corpos rochosos da profundidade.
Em ambientes onde se faça sentir a acção hidratante da água, geram-se os hidróxidos, como é o caso da goethite, um mineral de ferro cujo nome constitui uma justa homenagem ao poeta alemão Johann Wolfgang von Goethe (1749-1823), que foi, igualmente, um notável mineralogista. Têm também água na sua constituição, por exemplo, o gesso (sulfato de cálcio hidratado) ou os minerais das argilas (caulinite, ilite, montmorilonite, etc.).
Os exemplos apresentados são apontamentos breves de um modelo que, grosso modo, coincide com o modelo petrogenético, isto é, o da origem das rochas nos seus respectivos ambientes, na medida em que estas nascem com os minerais ou se formam a partir deles. Assim, falar dos ambientes geradores das rochas é falar do berço dos minerais que as constituem.
Alguns minerais datam do início do Sistema Solar. São condensados da nébula a partir da qual se formaram o sol, os planetas e de mais corpos dessa grande conjunto. Datam desses primórdios do tempo a olivina e os outros minerais dos meteoritos mais antigos, como o que caiu em Ourique, em 1998. Na Terra, os minerais da crosta mais antiga conhecida (gnaisses em Acasta, no Canadá) têm cerca de 4 000 milhões de anos, sendo ainda mais antigos certos zircões incluídos em quartzitos da Austrália. Com idades ainda superiores, na ordem dos 4 400 milhões de anos, conhecem-se os minerais dos anortositos da crosta lunar.
O dinamismo interno o externo da Terra é uma constante desde o seu início e, assim, a génese das montanhas, o vulcanismo e outros processos geradores de minerais actuam desde o começo do tempo do Sistema Solar e estão ainda em curso. Há rochas e minerais de todas as idades e, mesmo neste momento, estão a nascer minerais, por exemplo, no arrefecimento das lavas dos vulcões activos e nos sedimentos em formação.
Têm cerca de 500 Ma o quartzo, o feldspato e as micas dos granitos do Porto e de Portalegre, mais velhos do que os de Viseu, com 280 Ma, ou do que os de Sintra, com “apenas” cerca de 80. As pirites alentejanas rondam os 360 Ma e a que ocorre associada aos arenitos cretácicos, em Belas, tem pouco mais de 100. À calcite dos mármores de Extremoz, com 500 MA, opõe-se a das estalactites em formação nas grutas de Mira d’Aire. A olivina do condrito caído em Ourique, com mais de 4 500 Ma, é o mesmo mineral que o dos basaltos de Lisboa, com 72 Ma, ou que o das lavas açoreanas acabadas de consolidar.
Lisboa, 18 de Fevereiro de 2002
(5) Ver Revista Espírita de novembro de 1859, Médiuns sem o saber, uma poesia "mediúnica" do Sr. Porry, intitulada Urânia:
(...)
Ele é a ovelha e lobo, rola e víbora!
Ele se torna alternativamente pedra, planta, animal; (4)
Sua natureza combina o bem e o mal,
Percorre todos os graus do bruto ao arcanjo!
(...)
Mas o Verbo jorra de sua Onipotência,
Dele se destaca e se move em sua própria existência,
Sem cessar ele se transforma e jamais perece;
Do inerte metal se elevando ao Espírito, (4)
O Verbo criador na planta dormita,
Sonha no animal, e no homem desperta;
De grau em grau, descendo e subindo,
Da Criação o conjunto radioso,
Sobre as ondas do éter forma uma cadeia imensa
Que o arcanjo termina, que a pedra começa. (4)
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