A FÉ RACIOCINADA
Estudo com base no cap. XIX de O Evangelho Segundo o Espiritismo
Obra codificada por Allan Kardec
(outras obras citadas no texto)
em 26/07/2009
atualizado em 06/10/2011
Pesquisa: Elio Mollo
A fé de que Kardec diz não tem semelhança com a fé das crenças ou de religião. Nas obras de Kardec podemos perceber que nem a esperança e nem a fé são passivas, diferentemente da maioria das crenças e das religiões. Acredito que Erich Fromm (in A Revolução da Esperança) e J. Herculano Pires (em O Ser e a Serenidade) chegam próximo à "Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade."
Não podemos ligar essa fé com nenhum dogma, pois ela é do individuo que acredita no que faz e não teme as tempestades que irão surgir pela frente. Se acredita em Deus e porque acredita na intuição que lhe surge do íntimo, de dentro de si, e não é porque uma religião ou crença popular lhe impôs essa idéia. Há que se fazer essas diferenças para se entender na essência a fé espírita.
Diz Erich Fromm no livro citado acima mostrando essas diferenças:
"Existe uma distinção importante entre fé racional e a irracional. Enquanto a fé racional é o resultado da atividade interior da pessoa, em pensamento ou sentimento, a fé irracional é a submissão a determinada coisa que se aceita como verdadeira, independente de sê-lo ou não."
Diz Herculano Pirez em "O Ser e a Serenidade", inclusive resolvendo a dúvida do porque certos ensinamentos atribuídos a Jesus, tais como "Eu sou o caminho a verdade e a vida" ou "Ninguém vem ao Pai se não por mim" (*) causam indignação.
Diz Herculano nessa obra:
"A História arrasta os homens em suas ondas, mas os bons nadadores podem não apenas salvar-se, como também salvar os outros. E dessa dinâmica do eu-outros resulta o impulso histórico da transcendência humana, que arrancou o homem primitivo da era tribal e levará o homem atual a um mundo mais perfeito e melhor."
Esses bons nadadores são homens de fé, ou seja, acreditam que as suas ações vão resultar em coisas justas e úteis tanto para si como para o seu meio de relação humana (esses homens geralmente não buscam a fama). E mesmo que fracassem em qualquer uma de suas ações, não desanimam (possuem a esperança como uma ferramenta ativa), vão em frente até chegar a um resultado satisfatório.
Se usarmos o ESE para estudo ao invés de uma nova bíblia (como fé cega) perceberemos grandes ensinamentos nessa belíssima e útil obra, cujo objetivo principal é explicado na sua introdução.
Vejamos:
"A fé robusta confere a perseverança, a energia e os recursos necessários para a vitória sobre os obstáculos, tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas. A fé vacilante produz a incerteza, a hesitação..."
O que tem a ver a frase acima com crenças ou dogmas religiosos?
Podemos seguir adiante e verificar que essa fé dita por Kardec é racional e não a direciona nem para o sentido religioso nem para a fé cega em momento algum:
"...considera-se fé a confiança que se deposita na realização de determinada coisa, a certeza de atingir um objetivo. Nesse caso, ela confere uma espécie de lucidez, que faz antevê pelo pensamento os fins que se tem em vista e os meios de atingi-los, de maneira que aquele que a possui avança, por assim dizer, infalivelmente."
"A fé sincera e verdadeira é sempre calma. Confere a paciência que sabe esperar, porque estando apoiada na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao fim. A fé insegura sente a sua própria fraqueza, (...) e de falta de confiança em si mesmo."
"Necessário guardar-se de confundir a fé com a presunção, a verdadeira fé se alia à humildade. Aquele que a possui deposita a si confiança em Deus, mais do que em si mesmo,..."
"...uma fé ardente, pode operar, unicamente pela sua vontade, dirigida para o bem, esses estranhos fenômenos de cura e de outra natureza que antigamente eram considerados prodígios, e que entretanto não passam de conseqüências de uma lei natural."
Podemos observar que Kardec faz a diferença sobre fé e dogmas particulares e as explica com a devida sensatez:
"No seu aspecto religioso, a fé é a crença nos dogmas particulares que constituem as diferentes religiões, e todas elas têm os seus artigos de fé. Nesse sentido, a fé pode ser raciocinada ou cega. A fé cega nada examina, aceitando sem controle o falso e o verdadeiro, e a cada passo se choca com a evidência da razão. Levada ao excesso, produz o fanatismo. Quando a fé se firma no erro, cedo ou tarde desmorona. (...)"
"...a fé não pode ser prescrita, ou o que é ainda mais justo: não pode ser imposta. Não, a fé não se prescreve, mas se adquire, e não há ninguém que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários."
"Para algumas pessoas, a fé parece de alguma forma inata: basta uma faísca para desenvolvê-la. Essa facilidade para assimilar as verdades espíritas é sinal evidente de progresso anterior."
"A fé necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo em que se deve crer. Para crer, não basta ver, é necessário sobretudo compreender. A fé cega não é mais deste século. É precisamente o dogma da fé cega que hoje em dia produz o maior número de incrédulos. Porque ela quer impor- se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: a que sã constitui do raciocínio e do livre-arbítrio."
(...)
A fé raciocinada, que se apóia nos fatos e na lógica, não deixa nenhuma obscuridade: crê-se, porque se tem a certeza, e só se está certo quando se compreendeu. Eis porque ela não se dobra: porque só é inabalável a fé que pode enfrentar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.
São detalhes que a maioria dos críticos do espiritismo codificado por Kardec não levam em conta, pois não conhecem suas obras a fundo, ou seja, não a estudam ou a estudaram no conjunto das construções informadas, e criticam ou opinam apenas por frases soltas e parágrafos isolados. Há que se buscar a essência da informação ou do ensinamento oferecido.
Vale lembrar estas palavras do codificador ditas na conclusão de LE:
"Porque, em boa lógica, a crítica só tem valor quando o crítico é conhecedor daquilo de que fala. Zombar de uma coisa que se não conhece, que se não sondou com o escalpelo do observador consciencioso, não é criticar, é dar prova de leviandade e triste mostra de falta de critério."
O Espiritismo é uma ciência que o espírita deve buscar entender, buscando projetos de estudos sérios de espiritismo.
Jidu Krishnamurti, também, não aceita a fé passiva e vale refletir sobre estas suas palavras: "Caminhai, crescei e tornai-vos um auxiliar, ao invés de permanecerdes sempre precisando de auxílio." ou quando diz: "Sustento que a Verdade é uma terra sem caminhos, e vocês não podem aproximar-se dela por nenhum caminho, por nenhuma religião, por nenhuma seita. Este é meu ponto de vista e eu o sigo absoluta e incondicionalmente... Se compreenderem isso em primeiro lugar, verão que é impossível organizar uma crença. A crença é uma questão puramente individual, e não podemos nem devemos organizá-la. Se assim o fizermos, ela morrerá, ficará cristalizada; tornar-se-á um credo, uma seita, uma religião para ser imposta aos outros.” (**) Ou ainda quando diz: "Que adianta ter milhares (de ouvintes, discípulos ou adeptos) que não compreendem, que estão completamente embalsamados em preconceitos, que não querem o novo, que só fazem traduzir o novo para adequar-se a seus próprios eus estéreis e estagnados!"
* * *
(*) NINGUÉM VEM AO PAI SENÃO POR MIM
http://www.aeradoespirito.net/ArtigosEM/NINGUEM_VEM_AO_PAI.html
(**) CONCEITOS DE ALLAN KARDEC EM RELAÇÃO AO CARÁTER RELIGIOSO DO ESPIRITISMO - 2
(**) CONCEITOS DE ALLAN KARDEC EM RELAÇÃO AO CARÁTER RELIGIOSO DO ESPIRITISMO - 2
http://www.aeradoespirito.net/EstudosEM/CON_DE_KAR_REL_CAR_REL_ESP_2.html
Fontes:
Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XIX.
__________, O Livro dos Espiritos, Conclusão.
Erich Fromm, A Revolução da Esperança.
J. Herculano Pires, O Ser e a Serenidade.
Jidu Krishnamurti, http://www.aeradoespirito.net/Livros3/JidduKrishnamurtiAosPesDoMestre.pdf, e no discurso em que dissolveu a Ordem da Estrela,
http://www.aeradoespirito.net/Livros3/JidduKrishnamurti-AVerdadeEhUmaTerraSemCaminhos.pdf .
Fontes:
Allan Kardec, O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XIX.
__________, O Livro dos Espiritos, Conclusão.
Erich Fromm, A Revolução da Esperança.
J. Herculano Pires, O Ser e a Serenidade.
Jidu Krishnamurti, http://www.aeradoespirito.net/Livros3/JidduKrishnamurtiAosPesDoMestre.pdf, e no discurso em que dissolveu a Ordem da Estrela,
http://www.aeradoespirito.net/Livros3/JidduKrishnamurti-AVerdadeEhUmaTerraSemCaminhos.pdf .
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