Estudo
DIFERENÇAS ENTRE PANTEÍSMO E ESPIRITISMO
Pesquisa: Elio Mollo
PANTEÍSMO
PANTEÍSMO, filos. Sistema filosófico que identifica Deus com o mundo. Identifica o Criador com a criação, concebendo-os como um só todo. São várias as espécies de panteísmo, de acordo com o tipo de identidade que se estabeleça entre Deus e o cosmos. Assim, Deus se confunde com a alma do mundo, no panteísmo estóico; com o Uno absoluto do qual emanam a alma e a inteligência formadora do mundo, no panteísmo de Plotino; com a Substância única cujos modos são as almas e os corpos, no panteísmo de Spinoza; e com o Espírito absoluto, onde o desenvolvimento dialético de Idéia se completa. Para Saisset, o panteísmo toma por princípio a consubstancialidade eterna e necessária do finito e do infinito, de Deus e da natureza. Há sempre um fator comum a todas as concepções panteísta, ou seja: Deus é o Todo, ou O todo é Deus.
Extraído da Enciclopédia PAPE
PANTEÍSMO, s.m. - Pan + teísmo - Fil. Sistema filosófico que identifica Deus e o Mundo, isto é, que considera Deus a universidade dos seres, o conjunto de tudo aquilo que existe. Cf. Panteísmo. / Loc. s. Panteísmo cosmológico. Doutrina que considera o Universo e Deus como sendo identicamente o mesmo ser. / Panteísmo místico. Aquele que considera a massa total das coisas como um ser do qual o real e o ideal, o subjetivo e o objetivo, são como que os dois pólos opostos. / Panteísmo ontológico. Aquele que reconhece apenas a substância eterna; espinosismo. / Panteísmo psicológico. Sistema que considera Deus a alma do Mundo, o qual seria o corpo da divindade.
Extraído da Nova Enciclopédia de Pesquisa Fase.
DIFERENÇAS ENTRE A DOUTRINA PANTEÍSTA
E A DOUTRINA ESPÍRITA
Texto extraído de "O LIVRO DOS ESPÍRITOS" — Livro Primeiro, cap. I, II, III e IV obra codificada por Allan Kardec
Considerar as perguntas como sendo feitas por A. Kardec, e as respostas dadas pelos Espíritos Superiores através de médiuns.
P.— Deus é um ser distinto, ou seria, segundo a opinião de alguns, a resultante de todas as forças e de todas as inteligências do Universo, reunidas?
R. — Se assim fosse, Deus não existiria, porque seria efeito e não causa; ele não pode ser, ao mesmo tempo, uma coisa e outra.
Deus existe, não o podeis duvidar, e isso é o essencial. Acreditai que vos digo e não queirais ir além. Não vos percais num labirinto, de onde não poderíeis sair. Isso não vos tornaria melhores, mas talvez um pouco mais orgulhosos, porque acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis. Deixai, pois, de lado, todos esses sistemas; tendes que vos desembaraçar de muitas coisas que vos tocam mais diretamente. Isto vos será mais útil do que querer penetrar o impenetrável.
P. — Que pensar da opinião segundo a qual todos os corpos da Natureza, todos os seres, todos os globos do Universo, seriam partes da Divindade e constituiriam, pelo seu conjunto, a própria Divindade; ou seja, que pensar da Doutrina Panteísta?
R. — Não podendo ser Deus, o homem quer pelo menos ser uma parte de Deus.
P. — Os que professam esta doutrina pretendem nela encontrar a demonstração de alguns dos atributos de Deus. Sendo os mundos infinitos, Deus é, por isso mesmo, infinito; o vácuo ou o nada não existindo em parte alguma, Deus está em toda parte; Deus estando em toda a parte, pois que tudo é parte integrante de Deus, dá a todos os fenômenos da Natureza uma razão de ser inteligente. O que se pode opor a este raciocínio?
R. — A razão. Refleti maduramente e não vos será difícil reconhecer-lhe o absurdo.
NOTA DE KARDEC - Esta doutrina faz de Deus um ser material que, embora dotado de inteligência suprema, seria em ponto grande aquilo que somos em ponto pequeno. Ora, a matéria se transformando sem cessar, Deus, nesse caso, não teria nenhuma estabilidade e estaria sujeito a todas as vicissitudes e mesmo a todas as necessidades da humanidade; faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. As propriedades da matéria não podem ligar-se a idéia de Deus, sem que o rebaixemos em nosso pensamento, e todas as sutilezas do sofisma não conseguirão resolver o problema da sua natureza íntima. Não sabemos tudo o que ele é, mas sabemos aquilo que não pode ser, e este sistema (panteísta) está em contradição com as suas propriedades mais essenciais, pois confunde o criador com a criatura, precisamente como se quiséssemos que uma máquina engenhosa fosse parte integrante do mecânico que a concebeu.
A inteligência de Deus se revela nas suas obras, como a de um pintor no seu quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, como o quadro não é o pintor que o concebeu e executou.
DEUS SEGUNDO A DOUTRINA ESPÍRITA
· Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.
· Deus é infinito nas suas perfeições, mas o infinito é uma abstração; dizer que Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa por ela mesma, definir uma coisa, ainda não conhecida, por outra que também não é.
· Para crer em Deus é suficiente lançar os olhos às obras da Criação. O Universo existe; ele tem portanto, uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo o efeito tem uma causa e avançar que o nada pode trazer alguma coisa.
· Se o sentimento da existência de um ser supremo não fosse mais que o produto de um ensinamento, não seria universal e nem existiria, como as noções científicas, senão entre os que tivessem podido receber esse ensinamento.
· Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, pois essas propriedades são em si mesmas um efeito, que deve ter uma causa.
· A harmonia que regula as forças do Universo revela combinações e fins determinados, e por isso mesmo um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso seria uma falta de senso, porque o acaso é cego e não pode produzir efeitos inteligentes. Um acaso inteligente já não seria acaso.
· Julga-se o poder de uma inteligência pelas suas obras. Como nenhum ser humano pode criar o que a Natureza produz, a causa primária há de estar numa inteligência superior à Humanidade.
· Sejam quais forem os prodígios realizados pela inteligência humana, esta inteligência tem também uma causa primária. É a inteligência superior a causa primária de todas as coisas, qualquer que seja o nome pelo qual o homem a designe.
· A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. Na infância da humanidade, o homem o confunde muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui; mas, à medida que o seu senso moral se desenvolve, seu pensamento penetra melhor o fundo das coisas, e ele faz então, a seu respeito, uma idéia mais justa e mais conforme com a boa razão, embora sempre incompleta.
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1. DEUS É ETERNO. Se Ele tivesse tido um começo, teria saído do nada, ou, então, teria sido criado por um ser anterior. É assim que, pouco a pouco, remontamos ao infinito e à eternidade.
2. É IMUTÁVEL. Se Ele estivesse sujeito a mudanças as leis que regem o Universo não teriam estabilidade.
3. É IMATERIAL. Quer dizer, sua natureza difere de tudo o que chamamos matéria, pois de outra forma Ele não seria imutável, estando sujeito às transformações da matéria.
4. É ÚNICO. Se houvesse muitos Deuses, não haveria unidade de vistas nem poder na organização do Universo.
5. É TODO-PODEROSO. Porque é único. Se não tivesse o poder-soberano, haveria alguma coisa mais poderosa ou tão poderosa quanto Ele, que assim não teria feito todas as coisas. E aquelas que Ele não tivesse feito seriam obra de um outro Deus.
6. É SOBERANAMENTE JUSTO E BOM. A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas menores como nas maiores coisas, e esta sabedoria não nos permite duvidar da sua justiça nem da sua bondade.
No livro "O ESPIRITISMO NA SUA MAIS SIMPLES EXPRESSÃO" de Allan Kardec:
1. Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.
2. Deus é eterno, único, imaterial, imutável, onipotente, soberanamente justo e bom. É infinito em todas as suas perfeições, porque se supuséssemos imperfeito um só de seus atributos. Ele deixaria de ser Deus.
3. Deus criou a matéria que constitui os mundos; criou também seres inteligentes que denominamos Espíritos, encarregados de administrar os mundos materiais de acordo com as leis imutáveis da criação, e que por sua natureza são suscetíveis de perfeição. Aperfeiçoando-se, aproxima-se da Divindade.
NO LIVRO "A GÊNESE" DE ALLAN KARDEC CAP. II, TEMOS QUE:
· DEUS NÃO SE MOSTRA, MAS AFIRMA-SE MEDIANTE SUAS OBRAS.
ainda:
· PARA COMPREENDER DEUS AINDA NOS FALTA O SENTIDO QUE NÃO SE ADQUIRE SENÃO PELA COMPLETA DEPURAÇÃO DO ESPÍRITO.
No livro "Atualidade de Allan Kardec - O PERISPÍRITO" de Rubens P. Meira encontramos o seguinte:
"O Espiritismo e a Ciência se completam reciprocamente; a Ciência sem o Espiritismo se acha na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas Leis da matéria; Ao Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação."
Allan Kardec - no livro "A GÊNESE".
Após esta breve introdução a este capítulo, vamos procurar situar nossa mente em um ponto qualquer do Universo, e ao mesmo tempo voltarmos a um passado remotíssimo e imaginar os primeiros instantes da Criação.
O Universo abrange a infinidade dos mundos, de planetas, de sois, de sistemas, que vemos e que não vemos, os quais se movem no Espaço infinito. Allan Kardec, quando da codificação da Doutrina Espírita, perguntou, se o Universo foi criado, ou se o mesmo existia, desde toda a Eternidade, como Deus. Ao que os Espíritos responderam: "É fora de dúvida que ele não pode ter-se feito a sí mesmo. Se existisse como Deus, de toda a eternidade, não seria obra de Deus. Assim existindo Deus de toda a eternidade, Deus também criou e cria desde toda a Eternidade, pois sempre que procuramos com os nossos estreitos sentidos, imaginar os supostos limites da Criação, sempre haverá além desse limite uma eternidade."
Para compreendermos melhor a grandeza da ação divina, bem como a sua perpetuidade, lembremo-nos sempre, de que Deus é o Sol dos seres, a Luz do Universo, em suma a própria Lei.
Dessa forma, o universo nascido de Deus, remonta infinitamente, às eras, que não podemos imaginar, dada à nossa pouca percepção, do "FIAT LUX", do faça-se a luz, do início. É assim que podemos compreender que a criação é perpétua, e que o começo das coisas, então, remonta à Deus, o Supremo Criador.
Para tanto é de suma importância a análise profunda da pergunta nº 1, do O Livro dos Espíritos, e conseqüentemente a sua resposta. Kardec não perguntou quem é Deus?, ou o que é Deus?, e sim, que é Deus?. Existem profundas diferenças na análise da pergunta. E sua resposta é taxativa: SUPREMA INTELIGÊNCIA, causa PRIMARIA DE TODAS AS COISAS.
Vemos então, que há um Fluido Cósmico, o plasma Divino, que é a Matéria Cósmica Primitiva.
Passando esta matéria cósmica primitiva, por várias metamorfoses, presididas por forças e leis, emanadas da Lei Suprema, quais sejam: gravitação, coesão, afinidade, magnetismo, eletricidade ativa, forças essas que são eternas e universais como a criação, transformou-se em imensa Nebulosa , ou seja em Massa Estelar ainda em vias de condensação, ou ainda, no Universo em Formação, em expansão. E é dessa forma que podemos anotar que, essa nebulosa em que vivemos nos ângulos mais variados, foi com toda razão afirmada por Paulo em Atos, cap. 17. Vers. 28, que, "Em Deus nos movemos e existimos". Tudo partindo de uma Lei. A Lei de Deus. Ele é a grande Alma que está no centro do Universo. Desse centro ele irradia e atrai, sendo tudo; o princípio e suas manifestações. Eis como Ele pode ser, embora inconcebível, realmente Onipotente.
COMPLEMENTO
RINO CURTI no livro Espiritismo e Reforma Intima
1. Desde os tempos mais remotos a matéria sempre foi entendida como o princípio constitutivo dos corpos. Já a noção de alma teve vários significados. Para os espiritualistas "é um ser moral independente da matéria e que conserva a sua individualidade após a morte" (O Livro dos Espíritos, na Introdução). Para os espíritas existem os espíritos, os desencarnados, designados em O Livro dos Espíritos pergunta 76, como os seres inteligentes da criação; e, por alma, entendem um espírito encarnado, tendo o corpo por invólucro.
A divindade era entendida, pelo primitivo, como um poder adquirido pelos mortos, superior aos poderes dos homens e que os tornaria capazes de realizar os fenômenos da natureza e tudo que ele não compreendia.
Já no Politeísmo (crença de muitos deuses), este poder era tido como exclusividade dos deuses, conforme explicado na Cosmogonia mitológica. Diz esta que, no começo era o "CAOS", pura extensão com MATÉRIA EXISTENTE DESDE TODA A ETERNIDADE. Em um certo momento ter-se-iam originado a Terra e o Amor. A terra teria criado o céu e, da união de ambos, teriam surgido os outros seres, ao acaso, e desordenadamente. Dentre estes surge Zeus, o ordenador do Universo, que instaura a ordem de forma definitiva. (Abril Cultural - Mitologia cap. I)
Formaram-se várias noções de Deus, ao longo do tempo, de caráter religioso e filosófico (Nicola Abbagnano - Dizionario di Filosofia, Verbete: "Dio"; Heinrich Freis - Dicionário de Teologia - vol. 1º— Verbete: Deus; Denis Huisman e André Bergez - Compêndio Moderno de Filosofia. Vol. II: O Conhecimento, cap. XVIII), atribuindo-lhe todas, em comum, duas qualificações fundamentais: a de causa e de bem. As principais podem ser classificadas em dois grupos: o teísta e o panteísta (André Bergez - Compêndio Moderno de Filosofia, Vol. II: O Conhecimento, Cap. XVIII).
O Teísmo filia-se à noção bíblica - Deus, Criador de tudo que existe e superior à Criação, tendo criado A PARTIR DO NADA (Bíblia Sagrada edição Abril Cultural, Gênesis I, e Heinrich Freis — Dicionário de Teologia —Vol. 1º. — Verbete: Criação).
A noção é antropomórfica, como também o é a de Criador, descrita com "verbos de caráter artesanal... Na criação do homem, Deus aparece como um ceramista... Mesmo na Bíblia, entretanto, estas não são as únicas noções de Deus e de Criador" (Heinrich Freis — Dicionário de Teologia — Vol. 1º. — Verbete: Criação).
3. O panteísmo filia-se à noção hinduista — a de Deus constituindo o Universo."— Se Deus é infinito — dizem — ele não pode criar um mundo que lhe seja exterior, pois, por definição, nada pode ser acrescentado ao infinito... Se Deus houvesse criado algo fora de si, ele não teria sido a totalidade, a absoluta Infinidade. O Universo, portanto, está em Deus e não fora dele. Deus é imanente ao Universo." (Denis Huisman e André Bergez — Compêndio Moderno de Filosofia. vol. II: O Conhecimento.)
4. O Espiritismo situa estas noções no Livro dos Espíritos, colocando em primeiro lugar a noção de Deus, no Cap. I, como causa última de todas as coisas (o princípio das causas, seu fundamento) [O Livro dos Espíritos, A. Kardec, pergs. 1 e 4]. Em segundo lugar, põe a definição de infinito como o faz a matemática, isto é, como algo que não pode ser abarcado pelo homem — o desconhecido [O Livro dos Espíritos, perg. 2]. (*)
(*) Dentro desta noção, dizer, por exemplo, que o Universo é infinito, é dizer que o homem, até o momento, não tem elementos para determinar-lhe limites. Por mais que imagine pontos distantes, o Universo se lhe afigura como estendendo-se sempre mais além. E esta é a visão teológica como o é também a oferecida pela Astronomia do telescópio, anterior à Astrofísica: uma visão ilimitada e estática. Hoje, pela Astrofísica, o Universo se nos apresenta dinâmico, em expansão, portanto limitado, o que reforça a idéia de um Criador exterior e superior a concordância do Espiritismo com a Ciência.
Elimina do conceito teísta o conteúdo antropomórfico, isto é, a forma humana de Deus (L. dos Esp. pergs. 10 e 11), dizendo que o homem não pode compreender a natureza íntima de Deus porque, para tanto, lhe falta um sentido.
Diz, porém que podemos compreender-lhe algumas das perfeições (L. dos Esp. pergs. 12 e 13). Refuta o Panteísmo e invalida as especulações metafísicas acerca da existência de Deus, dizendo no Livro dos Espíritos, perg. 14: “... não queirais ir além. Não vos percais num labirinto de onde não podereis sair. Isto não vos tornaria melhores, mas talvez um pouco mais orgulhoso, porque, pois acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis. Deixai, pois, de lado todos esses sistemas;... Isto vos será mais útil do que querer penetrar no que é impenetrável". (Aliás o abandono dos sistemas, hoje, é feito pela própria Filosofia.)
No cap. II de O Livro dos Espíritos, A. Kardec aborda o conhecimento acerca do princípio das coisas. Cientificamente, o princípio seja que se o entenda como começo, ou como fundamento, está fora do âmbito do observável tanto sensorial como mediúnico. Diz-se no L. dos Esp. perg, 17:
- "É dado ao homem conhecer o princípio das coisas?
- R. — Não. Deus não permite que tudo seja revelado ao homem aqui na Terra".
A seguir fala da matéria como principio constituinte de todas as coisas. Para a Mitologia ele preexiste a tudo e aos próprios deuses. Para o Materialismo é o único princípio existente; para outros não foi criado por Deus e existe com Ele toda a eternidade. Cabe então a pergunta formulada por Kardec em O L. dos Esp. de nº21:
-"A matéria existe desde toda a eternidade, como Deus, ou foi criada por ele num certo momento?
- R. — "Só Deus sabe... Deus jamais esteve inativo."
Isto é, não conhecemos nem a essência, porque nos falta um sentido, nem a origem, porque o tempo é infinito-desconhecido na sua totalidade. E, diante das diversas definições que se pretende dar da matéria, responde na perg. 22 de O L. dos Esp.:
"...a matéria existe em estados que nem conheceis."
Daí a impossibilidade de o homem defini-la ou conceituá-la.
Sugere, porém, uma definição:
Perg. 22a de O L. dos Esp. — "Que definição podeis dar na matéria?, ao qual os Espíritos Superiores respondem: — "A matéria é o liame que escraviza o espírito." e na perg. 23 A . Kardec pergunta aos Espíritos Superiores: — "O que é o Espírito?
A noção é nova. Não há conceito de espírito no teísmo, no sentido que o Espiritismo lhe dá. A alma, para o Catolicismo, é criada no ato da concepção. Após a morte, como pessoa ela é incompleta. Não tem sensações. Daí o dogma da ressurreição, no fim dos tempos, significando o ressurgimento de todos os homens, cada um reconstituído em virtude de cada alma retomar seu corpo. Não há a noção de espírito, como ser inteligente, desencarnado, individualizado, pessoa completa, e muito menos a de espírito como principio. Esta é uma noção que surge na Filosofia do século XVII e que o Espiritismo assume, embora de forma peculiar. A pergunta 23:
O que é o Espírito? (**)
Respondem os Espíritos Superiores:
- "O princípio inteligente do Universo."
E o afirma distinto da matéria na pergunta 25:
- "O espírito é independente da matéria, ou não é mais do que uma propriedade desta...?
- "Um e outra são distintos..." — é a resposta.
E atesta serem estes os únicos dois princípios gerais que constituem todos os seres do Universo e que, por sua vez, são criados. Não no sentido mitológico, como concepção artesanal humana, mas no sentido de resultantes da ação das causas, de que Deus é o princípio, causas estas que conhecemos em parte e que poderemos conhecer sempre mais pela ciência, de forma teórico-experimental (A Gênese de A. Kardec, cap. IV).
Lê-se em O L. dos Esp., Introdução, nº IV: — "Deus... criou o Universo, que compreende todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.”
O Livro dos Espíritos, perg. 27:
- "Haveria, assim, dois elementos gerais no Universo: a matéria e o espírito?”
Resposta dos Espíritos: —"Sim, e acima de ambos, Deus, o Criador, o Pai de todas as coisas. Essas três coisas são o princípio de tudo o que existe, a trindade universal."
Isto é exterior e superior ao mundo, dizer "acima"; princípio do bem, ao qualificá-lo de Pai: e colocando-o no âmbito do nosso alcance ao enunciar: — "Essas três coisas..." — uma vez que nada podemos afirmar sobre suas essências e suas origens.
A noção de Criador adquire significado diferente da do bíblico. Não tem qualquer conteúdo relacionado às atividades humanas. Aponta tão-somente um Princípio causador, sem que possamos divisar-lhe a essência, nem o começo, ou o fim, ou a forma de atuar. Nem poderemos pensar diversamente, diante do quadro que a Ciência hoje nos apresenta; no qual se configuram, dentro de um ângulo reduzido como o é do alcance, 10 bilhões de galáxias, contendo, cada uma 200 bilhões de estrelas, uma das quais é o nosso Sol. Nem poderíamos fazê-lo, porque "Se a Religião se nega a avançar com a Ciência, esta avançará sozinha" (Gênese de A. Kardec, Cap. IV, nº9).
Que Deus jamais tenha estado inativo, coaduna as noções de eternidade e imutabilidade com a idéia que fazemos das causas. Por exemplo, quando dizemos que o calor é causa de dilatação dos corpos, subentende-se também que sequer podemos imaginar não tenha sido assim alguma vez.
Encerrando o Subcapítulo:
Espírito e Matéria, do Cap. II de O Livro dos Espíritos, comentário após perg. 28, assim conclui Kardec:
— "Um fato patente domina todas as hipóteses: vemos matéria sem inteligência e um princípio inteligente independente da matéria. A origem e a conexão dessas duas coisas nos são desconhecidas. Que elas tenham ou não uma fonte comum e os pontos de contato necessários; que a inteligência tenha existência própria, ou que seja uma propriedade, um efeito; que ela seja, mesmo, segundo a opinião de alguns, uma emanação da Divindade-, é o que ignoramos. Elas nos aparecem distintas, e é por isso que as consideramos formando dois princípios constituintes do Universo. Vemos, acima de tudo isso, uma inteligência que domina todas as outras, que as governa, que delas se distingue por atributos essenciais: é a esta inteligência suprema que chamamos Deus." (Os grifos são nossos).
(**) (Espírito elementar fazendo abstração do perispírito = Alma) Ver in O que é o Espiritismo, Cap. II, item 9, 10 e 14 - obra codificada por Allan Kardec, e também in Revista Espírita (Jornal de Estudos Psicológicos publicado sobre a direção de Allan Kardec), Ano VII, maio de 1864, pág. 138 e 139 - EDICEL.
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