segunda-feira, 25 de junho de 2012

ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS


ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS
Estudo com base in O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Livro II, Cap. II, FINALIDADE DA ENCARNAÇÃO.
Pesquisa: ClaudiaC e Elio Mollo


Os Espíritos são criados simples e ignorantes e se instruem através das lutas e adversidades da vida corporal. Em sua origem, o Espírito possui apenas consciência de si mesmos e de seus atos agindo de forma instintiva. Sua inteligência se desenvolve lentamente e passo a passo. (1) Por isso, a encarnação é uma necessidade do Espírito, onde a cada nova existência, ele avança em seu progresso.

A vida do espírito é constituída de uma seqüência de existências corporais, sendo cada uma delas uma valiosa oportunidade de progresso, da mesma forma que cada existência se compõe de uma seqüência de dias, onde o homem adquire mais experiência e instrução. Pela Lei de Conservação o espírito encarnado tem a obrigação de prover a nutrição do corpo, a sua segurança e o seu bem-estar, obrigando ele a aplicar suas faculdades em investigações, a exercê-las e a desenvolvê-las. (2)

Desta forma a finalidade da encarnação dos Espíritos é trabalhar para a conquista da perfeição. Para uns pode ser uma expiação e para outros uma missão. Para chegar a essa perfeição, os Espíritos devem passar por todas as vicissitudes da existência corpórea: nisto é que está a expiação. Mas encarnação não é, pois, em absoluto, uma expiação para o Espírito, como qualquer um possa pensar, mas uma condição inerente à inferioridade do Espírito e um meio de progredir (3). A encarnação tem ainda outra finalidade, que é a de por o Espírito em condições de enfrentar a sua parte na obra da criação. É para executá-la que ele toma um aparelho em cada mundo, em harmonia com a sua matéria essencial, a fim de nele cumprir, daquele ponto de vista, os propósitos de Deus. Dessa maneira, concorrendo para a obra geral, também progride. (4)

A encarnação é necessária ao duplo progresso do Espírito: moral e intelectual. Ao progresso intelectual pela atividade obrigatória do trabalho e ao progresso moral pela necessidade recíproca dos homens entre si. Como não consegue progredir sozinho, pois não possui todas as faculdades, busca a sociedade por instinto a fim de participar com o progresso, não só individual, como o coletivo. Portanto, a vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades. (5)

Todos os Espíritos estão sujeitos à encarnação, pois é necessário que se submetam às provas da vida material, cujo objetivo é o de adquirir conhecimentos essenciais para chegar à perfeição. A vida puramente espiritual (existência incorpórea), não é suficiente para a conquista de todos os conhecimentos necessários para o justo adiantamento moral e intelectual.

Da mesma maneira que um escolar não chega a colar seus graus senão depois de ter passado pela fieira de todas as classes, o Espírito, não tendo cumprido completamente o dever na classe ao qual pertence é constrangido a recomeçar sua tarefa, e assim, multiplica suas existências corpóreas que se lhe tornam penosas pela sua própria falta. (6)

Passar por cada classe não é uma punição, é uma necessidade, uma condição indispensável para o seu adiantamento, mas se por sua preguiça, é obrigado a repeti-las, aí está a punição. Conseguir passar por elas é um mérito. A encarnação sobre a Terra pode ser considerada uma punição para muitos daqueles que a habitam, porque teriam podido evitá-la. Mas, como o Espírito age em relação ao seu livre arbítrio, pode negligenciar as leis naturais, e assim retardar seu avanço, consequentemente, prolonga a duração de suas encarnações nos mundos materiais, permanecendo em lugares inferiores, sendo necessário recomeçar a mesma empreitada. Depende, assim, do Espírito abreviar, através de um trabalho de depuração em si próprio (autoconhecimento), a duração do período de encarnações.

Uma só existência corporal é insuficiente para o Espírito adquirir todo o bem que lhe falta e eliminar o mal que lhe sobra. Eis porque a reencarnação é uma necessidade. (7) Quando tiver eliminado de si todas as impurezas não precisará mais das provas da vida corpórea, tornando-se um espírito puro. (8) 

Um selvagem, por exemplo, não conseguiria em uma só encarnação nivelar-se moral e intelectualmente ao mais adiantado homem civilizado. A sensatez rejeita tal suposição, que seria, tanto, a negação da justiça e da bondade divina, como das próprias leis evolutivas da Natureza. Com o processo da reencarnação, certamente, ele não ficará eternamente na ignorância nem na selvageria, privado da felicidade que só o desenvolvimento das faculdades pode proporcionar-lhe. Como Deus fez essas leis de acordo com a Sua bondade e justiça, naturalmente, é concedido ao Espírito tantas encarnações quantas lhes forem necessárias para atingir seu objetivo à perfeição. (9) Nessa caminhada evolutiva o Espírito, qualquer que seja o grau de seu adiantamento, na situação de encarnado, ou na erraticidade, estará sempre colocado entre um superior, que o guia e aperfeiçoa, e um inferior, para com o qual tem que cumprir esses mesmos deveres. (10) É assim que, por uma lei admirável da providência divina, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza. (11)

Em cada nova existência o Espírito se apresenta com o cabedal que adquiriu em vidas anteriores. Aptidões, conhecimentos intuitivos, inteligência e moralidade se somam com as conquistas da existência atual. É assim, que em cada encarnação, ele dá um passo avante no caminho do progresso. (12)

Aqueles que progrediram espiritualmente nas existências corporais, encarnam em mundos cada vez mais superiores, onde a materialidade é mais suave que a terrestre. A encarnação, assim, torna-se por conseqüência, cada vez mais desnecessária, tornando-se voluntária, onde podem exercer sobre os encarnados em mundos inferiores uma ação mais produtiva e tendente ao cumprimento de missões que escolhem para atuar junto aos mesmos. É desse modo que aceitam abnegadamente as vicissitudes e sofrimentos da encarnação num mundo adverso. (13)

À medida que os Espíritos progridem participam cada vez mais ativamente no mecanismo da Criação, devendo dirigir a ação dos elementos materiais. Presidindo às leis que põem os fluidos em movimento constante determinam todos fenômenos naturais. Só que eles não podem chegar a um tal resultado senão pelo conhecimento dessas leis, por isso, não as poderão conhecer adequadamente sem primeiro aprenderem a obedecê-las para depois dirigi-las. (14)

O Espírito na proporção que progride moralmente, gradualmente, irá livrando-se da influência da matéria e, assim vai se depurando. Espiritualizando-se, suas faculdades e percepções vão se ampliando, sendo assim, sua felicidade estará sempre na razão do progresso completado. Deus, que é justo, não podia fazer felizes alguns Espíritos, sem dificuldades e sem labor, consequentemente, sem méritos. Os que seguem o caminho do bem chegam mais depressa à meta. Além disso, as vicissitudes da vida são freqüentemente a conseqüências da imperfeição do Espírito. Quanto menos imperfeito for, menos tormentos sofrerá. Aquele que não for invejoso, nem ciumento, nem avarento ou ambicioso, não passará pelos tormentos que se originam desses defeitos. (15)

Um ponto freqüentemente questionado é que o Espírito sendo criado simples e ignorante com liberdade de fazer o bem ou o mal, não sofre queda moral se tomar o mau caminho, uma vez que chega a fazer o mal que não fazia antes. Todavia, esta argumentação não é sustentável, pois, não há queda senão na passagem de um estado relativamente bom à um estado pior. O Espírito criado simples e ignorante está, em sua origem, num estado de nulidade moral e intelectual, como a criança que acaba de nascer. Se não fez o mal, também não fez o bem. Assim, não é nem feliz nem infeliz. Age sem consciência e sem responsabilidade, por isso, se nada tem, nada pode perder, e, também, não há como retrogradar. Sua responsabilidade só começa do momento em que se desenvolve nele o livre arbítrio. Consequentemente, o mal que vier a fazer mais tarde infringindo as leis de Deus e abusando das faculdades a ele concedidas, não é um retorno do bem ao mal, mas a conseqüência do mau caminho que escolheu. (16)

As faltas cometidas pelo Espírito têm como fonte primeira sua imperfeição, já que ainda não alcançou a superioridade moral que terá um dia, mas que, nem por isso, deixa de ter o seu livre-arbítrio. A vida corporal lhe é concedida para se livrar das imperfeições através das provas que nela padece. São precisamente essas imperfeições que o tornam mais frágil e mais acessível às sugestões de outros Espíritos imperfeitos, que se aproveitam para tentar fazê-lo sucumbir na luta que empreende. Se sair vencedor, terá se elevado se fracassar, continuará a ser o que era, nem pior, nem melhor. Será uma prova a recomeçar, podendo até durar um tempo maior que na encarnação passada. Quanto mais depurar-se, mais diminuirão seus pontos fracos e menos se entregará àqueles que procuram induzi-lo ao mal, pois sua força moral crescerá em razão de sua elevação e os maus Espíritos, naturalmente, se afastarão. (17)

É nas convulsões sociais que o Espírito pode avançar mais rápido, pois a experiência adquirida através das relações difíceis resulta sempre numa melhora. O infortúnio pode ser um estimulante útil para impeli-lo a procurar um remédio para o mal.

Quando na erraticidade, reflete, pode tomar novas resoluções para quando voltar a encarnar, fazer coisa melhor. É assim que, de encarnação em encarnação (reencarnação), o progresso se efetua no Espírito. (18)

NOTAS

  (1) Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro II, cap. II e IV, questões 133 e 189.
  (4) __________, O Livro dos Espíritos, Livro III, cap. V.
  (3) __________, A Gênese, cap. XI, item 25.
  (4) __________, O Livro dos Espíritos, Livro II, cap. II, questão 132.
  (5) __________, O Livro dos Espíritos, Livro III, cap. VII, questões 767 e 768.
  (6) __________, Revista Espírita, junho de 1863, Do princípio da não-retrogradação dos Espíritos
  (7) __________, O Céu e o Inferno, cap. III, item 9.
  (8) __________, O Livro dos Espíritos, Livro II, cap. IV, questão 170.
  (9) __________, O Céu e o Inferno, cap. III, item 9.
(10) __________, O Livro dos Espíritos, Livro II, caps. X, questões 558 e 566, Livro III, cap. XI, q. 888a.
(11) __________, O Livro dos Espíritos, Livro II, cap. II, Kardec em nota a q. 132 e cap. IX, questões 540, 573, 604 e 607.
(12) __________, O Céu e o Inferno, cap. III, item 9.
(13) __________, O Céu e o Inferno, cap. III, itens, 8 e 9.
(14) __________, Revista Espírita, agosto de 1869.
(15) __________, O Livro dos Espíritos, Livro II, cap. II, questão 133.
(16) __________, Revista Espírita, junho de 1863, Do princípio da não-retrogradação dos Espíritos
(17) __________, Revista Espírita, outubro de 1858, Teoria do Móvel de Nossas Ações.
(18) __________, Obras Póstumas, As expiações coletivas

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