SOBRE A ALMA
Estudo com base in O Livro dos Espíritos, livro segundo, cap. II, Da Alma, itens de 134 à 146 e cap. III, A Alma após a Morte, item 149.
Obra codificada por Allan Kardec.
Pesquisa: Elio Mollo
Em 06/06/2013
Antes de iniciarmos este estudo sobre a Alma, convém entendermos o seu significado na concepção espírita.
Houve um grande esforço do codificador desde a Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, no O Livro dos Espíritos, para explicar o significado da palavra ALMA em relação a Doutrina Espírita, quanto a isso, assim diz ele: "...outra palavra sobre a qual igualmente devemos entender-nos porque é uma das chaves de toda doutrina moral e tem suscitado numerosas controvérsias por falta de uma acepção bem determinada: é a palavra alma."
Neste mesmo capítulo da introdução de LE, que trata da Alma, Princípio Vital e Fluido Vital, Kardec diz ser dever insistir o tanto que for necessário para explicar o real significado da palavra ALMA, informando que "poder-se-ia, assim dizer, e talvez fosse o melhor,
- a alma vital - indicando o princípio da vida material; (1)
- a alma intelectual - o princípio da inteligência, e (2)
- a alma espírita - o da nossa individualidade após a morte. (3)
Como se vê, tudo isto não passa de uma questão de palavras, mas questão muito importante quando se trata de nos fazermos entendidos. De conformidade com essa maneira de falar,
- a alma vital seria comum a todos os seres orgânicos: plantas, animais e homens; (1)
- a alma intelectual pertenceria aos animais e aos homens; e (2)
- a alma espírita somente ao homem.” (3)
Por isso, é necessário procurar entendermos o que significa a ALMA na sua essência e de acordo com a Doutrina Espírita. Comecemos, então, pelas respostas que os Espíritos deram as resposta às q. 23, 27 e 76 de LE.
23. Que é o espírito?
-- O princípio inteligente do Universo.
Na resposta à questão 27 os Espíritos afirmam que "existem dois elementos gerais no Universo a matéria e o espírito (princípio inteligente, espírito elementar ou alma)”.
Na obra O Que é o Espiritismo, cap. II, Dos Espíritos, em nota ao item 14, Kardec informa que:
- A alma é, assim, um ser simples; (2)
- o Espírito um ser duplo e (3)
- o homem um ser triplo. (4)
Em dois artigos da Revista Espírita de maio de 1864 e janeiro de 1866 (5), encontraremos informações semelhantes:
Continuando na nota de Kardec ele diz que "Seria portanto mais exato reservar a palavra alma para designar o princípio inteligente, e a palavra Espírito para o ser semimaterial formado desse princípio e do corpo fluídico. Mas como não se pode conceber o princípio inteligente sem ligação material, as palavras alma e Espírito são, no uso comum, indiferentemente empregadas uma pela outra; é a figura que consiste em tomar a parte pelo todo, da mesma forma que se diz que uma cidade é habitada por tantas almas, uma vila composta de tantas casas; porém, FILOSOFICAMENTE É ESSENCIAL FAZER-SE A DIFERENÇA."
Para fazermos essa diferença, é necessário, analisarmos a resposta à q. 76 de O Livro dos Espíritos:
76. Como podemos definir os Espíritos?
-- Podemos dizer que os Espíritos são os seres inteligentes da Criação. Eles povoam o Universo, além do mundo material.
Atentemos também para a nota de Kardec dada para essa resposta dos Espíritos: "A palavra Espírito é aqui empregada para designar os seres extra-corpóreos e não mais o elemento inteligente Universal."
Aqui se trata do ser duplo, ou seja, de um ser composto de alma ou princípio inteligente com perispírito (6). Esses seres povoam o mundo dos Espíritos, além, do mundo material.
Percebe-se assim, como em sua sensatez Kardec fazia a diferença entre a Alma ou Princípio Inteligente e Espírito.
Dadas essas informações, iniciemos o nosso estudo conforme o capitulo proposto em O Livro dos Espíritos:
Atentemos que este capítulo trata da encarnação dos Espíritos, assim, a alma do homem é um Espírito encarnado, ou seja, essa alma é (re)vestida com o perispírito.
Antes de se unir ao corpo era um Espírito Errante (alma + perispírito), ou seja, um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível, e depois reveste temporariamente um invólucro carnal, para se purificar e esclarecer (4).
As almas dos homens não são mais do que os Espíritos.
Além da alma, principio inteligente, e do corpo, há no homem, o liame, perispírito, que une a alma e o corpo.
A natureza desse liame é semimaterial: quer dizer, um meio-termo entre a natureza do Espírito e a do corpo. E isso é necessário para que eles possam comunicar-se. É por meio desse liame que o Espírito age sobre a matéria, e vice-versa.
O homem é assim formado de três partes essenciais:
- primeiro, a alma ou espírito, princípio inteligente que abriga o pensamento, a vontade e o senso moral;
- segundo, o corpo, envoltório material que coloca o Espírito em relação com o mundo exterior;
- terceiro, o perispírito, envoltório fluídico, leve, imponderável, servindo de liame e de intermediário entre o espírito e o corpo. (7)
Temos assim que:
- A união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o HOMEM;
- a alma e o perispírito separados do corpo constituem o ser chamado ESPÍRITO. (8)
O corpo não é mais que o envoltório, assim, não obstante, desde que o corpo deixa de viver, a alma o abandona.
Antes do nascimento, não há uma união decisiva entre a alma e o corpo, ao passo que, após o estabelecimento dessa união, a morte do corpo rompe os liames que a unem a ele, e a alma o deixa. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a alma não pode habitar um corpo sem vida orgânica. Se o corpo não tivesse alma seria uma massa de carne sem inteligência.
O mesmo Espírito não pode encarnar-se de uma vez em dois corpos diferentes, pois, o Espírito é indivisível e não pode animar simultaneamente duas criaturas diferentes (9).
Os que dizem que a alma é o princípio da vida material, diremos, que isso pode ser considerado como uma simples questão de palavras, como disse Kardec em relação a palavra alma: devemos começar a entender-nos, porque é uma das chaves de toda a doutrina moral. (10)
A palavra alma é empregada para exprimir as coisas mais diferentes. Uns chamam alma ao princípio da vida, e nessa acepção é exato dizer, figuradamente, que a alma é uma centelha anímica, emanada do Grande Todo. Essas últimas palavras se referem à fonte universal do princípio vital, em que cada ser absorve uma porção, que devolve ao todo após a morte. Esta ideia não exclui absolutamente a de um ser moral, distinto, independente da matéria e que conserva a sua individualidade. É a este ser que se chama igualmente alma e nesta acepção pode-se dizer que a alma é um Espírito encarnado. Dando a alma diferentes definições, os Espíritos falaram segundo as aplicações que faziam da palavra e segundo as ideias terrestres de que estavam ainda mais ou menos imbuídos. Isso decorre da insuficiência da linguagem humana, que não tem um termo para cada ideia, o que acarreta uma multidão de mal entendidos e discussões. Eis porque os Espíritos superiores dizem que devemos, primeiro, nos entendermos quanto as palavras (10).
A teoria da alma subdividida em tantas partes quantos são os músculos, presidindo cada uma as diferentes funções do corpo, também, depende do sentido que se atribuir à palavra alma. Se por ela se entende o fluido vital, está certo; se o Espírito quando encarnado, está errado, pois, o Espírito é indivisível, ele transmite o movimento aos órgãos através do fluido intermediário, sem por isso se dividir.
A alma age por meio dos órgãos, e estes são animados pelo fluido vital que se reparte entre eles, e com mais abundância nos que são os centros ou focos de movimento. Mas essa explicação não pode aplicar-se à alma como sendo o Espírito que habita o corpo durante a vida e o deixa com a morte.
A alma não está encerrada no corpo, como o pássaro numa gaiola. Ela irradia e se manifesta no exterior, como a luz através de um globo de vidro ou como o som em redor de um centro sonoro. É por isso que se pode dizer que ela é externa, mas não como um envoltório do corpo. A alma tem dois envoltórios um, sutil e leve, o primeiro, que chamamos perispírito; o outro, grosseiro, material e pesado, que é o corpo. A alma é o centro desses envoltório, como a amêndoa na casca.
À aqueles que pensam que a alma da criança vai se completando a cada período da vida. Quanto a isso diremos, que o Espírito é apenas um inteiro na criança, como no adulto, assim, são os órgãos, instrumentos de manifestação da alma, que se desenvolvem e se completam. Não devemos tomar o efeito pela causa.
Nas comunicações espíritas, nem todos os Espíritos definem a alma da mesma maneira, isso acontece porque os Espíritos não são todos igualmente esclarecidos sobre essas questões. Há Espíritos ainda limitados, que não compreendem as coisas abstratas, como as crianças entre nós. Há também Espíritos pseudossábios que, para se imporem, como acontece ainda entre os homens, fazem rodeios de palavras. Além disso, mesmo os Espíritos esclarecidos podem exprimir-se em termos diferentes, que no fundo têm o mesmo valor, sobretudo quando se trata de coisas que a nossa linguagem é incapaz de esclarecer; há então necessidade de figuras, de comparações, que devemos estudar e raciocinar, mas não podemos, ainda, tomar como sendo uma realidade.
Devemos entender por alma do mundo o princípio universal da vida e da inteligência, de que nascem as individualidades. Mas os que se servem dessa expressão, frequentemente não se entendem. A palavra alma tem aplicação tão elástica que cada um a interpreta de acordo com as suas fantasias. Têm-se às vezes atribuído uma alma à Terra, e por ela é necessário entender o conjunto dos Espíritos abnegados que dirigem as nossas ações no bom sentido, quando os escutamos, e que são de certa maneira os lugares-tenentes de Deus junto ao nosso globo terrestre.
Os filósofos antigos discutiram longamente sobre a Ciência psicológica, sem chegar à verdade, contudo, podemos entender que esses homens eram os precursores da doutrina espírita eterna, e prepararam o caminho. Eram homens e puderam enganar-se, porque tomaram pela luz as suas próprias ideias; mas os seus mesmos erros, através dos prós e contras de suas doutrinas, servem para evidenciar a verdade. Aliás, entre esses erros se encontram grandes verdades, que um estudo comparativo nos fará compreender.
A alma não tem, no corpo, uma sede determinada e circunscrita, mas ela se situa mais particularmente na cabeça, entre os grandes gênios e todos aqueles que usam bastante o pensamento, e no coração dos que sentem bastante, dedicando todas as suas ações a humanidade. Se pudéssemos situar a alma num centro vital, poderíamos dizer que ela se encontra de preferência nessa parte do nosso organismo, que é o ponto a que se dirigem todas as sensações. Os que a situam naquilo que consideram como o centro da vitalidade, a confundem com o fluido ou princípio vital. Não obstante, pode-se dizer que a sede da alma se encontra mais particularmente nos órgãos que servem para as manifestações intelectuais e morais.
Se a união da alma, do perispírito e do corpo material constitui o HOMEM, no instante da morte, separada do corpo, a ALMA com o seu perispírito volta a ser ESPÍRITO, retornando ao mundo dos Espíritos, que ela havia deixado temporariamente.
RESUMO GERAL DESTE ESTUDO:
Filosoficamente, fazendo a diferença essencial sugerida por Kardec no livro O que é o Espiritismo, Cap. II, item 9, 10 e 14, deduzimos que:
- Alma = espírito (elementar) = principio inteligente = ser simples, primitivo. (2)
- Espírito = elemento inteligente individualizado = ser semimaterial = ser duplo (alma + perispírito) – o ser inteligente da criação (Coletivamente povoam o Universo, fora do mundo material.) (3 e 12)
- Homem = Espírito encarnado = ser triplo (alma + perispírito + corpo físico). (12)
- Espírito Errante = Espírito (alma + perispírito) que aguarda uma (re)encarnação. (13)
NOTAS:
(1) O princípio vital é a força motriz dos corpos orgânicos. (Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro primeiro, Princípio Vital, itens 60 e seguintes.)
(2) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro primeiro, Elementos Gerais do Universo, item 23.
(3) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro segundo, Origem e Natureza dos Espíritos, item 76.
(4) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro segundo, da Alma, item 135.
(5) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, maio de 1864, A alma pura de minha irmã Henríette:
e Revista Espírita, janeiro de 1866, O Espiritismo Toma Lugar na Filosofia e nos Conhecimentos Usuais.
(6) O perispírito é o laço que à matéria do corpo prende o Espírito, que o tira do meio ambiente, do fluido universal. Contém ao mesmo tempo da eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da matéria. É o princípio da vida orgânica, porém, não o da vida intelectual, que reside no Espírito. É, além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo, os órgãos, servindo-lhes de condutos, localizam essas sensações. Destruído o corpo, elas se tornam gerais. (Allan Kardec no item 257 de O Livro dos Espíritos, Ensaio Teórico sobre a sensação nos Espíritos).
Informação semelhante pode ser encontrada na Revista Espírita de dezembro de 1858, Sensações dos Espíritos:
O perispírito é o laço que une o Espírito à matéria do corpo; é tirado do meio ambiente, do fluido universal; tem, simultaneamente, algo da eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da matéria: é o princípio da vida orgânica, mas não o é da vida intelectual. A vida intelectual está no Espírito. É além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo estas sensações estão localizadas em órgãos que lhe servem de canal. Destruído o corpo, as sensações tornam-se gerais.
Ainda vale esta outra informação que pode ser encontrada na Revista Espírita de maio de 1858, onde se destaca a diferença entre ALMA e Espírito no uso do Perispírito:
...a alma não deixa tudo na sepultura e que leva alguma coisa consigo.
Haveria, assim, em nós, duas espécies de matéria: uma grosseira, que constitui o envoltório exterior, outra sutil e indestrutível. A morte é a destruição, ou melhor, a desagregação da primeira, da que a alma abandona; a outra se libera e segue a alma que continua, desse modo, tendo sempre um envoltório; é o que chamamos perispírito. Essa matéria sutil, extraída, por assim dizer, de todas as partes do corpo ao qual estava ligada durante a vida, dele conserva a impressão; ora, eis por que os Espíritos se veem e por que nos aparecem tais quais eram quando vivos. Mas essa matéria sutil não tem a tenacidade, nem a rigidez da matéria compacta do corpo; ela é, se assim podemos nos expressar, flexível e expansível; por isso a forma que toma, se bem que calcada sobre a do corpo, não é absoluta; ela se dobra à vontade do Espírito, que pode dar-lhe tal ou tal aparência, à sua vontade, ao passo que o envoltório sólido oferece-lhe uma resistência intransponível; desembaraçado desse entrave que o comprimia, o perispírito se estende ou se retrai, se transforma, em uma palavra, se presta a todas as metamorfoses, segundo a vontade que age sobre ele.
Haveria, assim, em nós, duas espécies de matéria: uma grosseira, que constitui o envoltório exterior, outra sutil e indestrutível. A morte é a destruição, ou melhor, a desagregação da primeira, da que a alma abandona; a outra se libera e segue a alma que continua, desse modo, tendo sempre um envoltório; é o que chamamos perispírito. Essa matéria sutil, extraída, por assim dizer, de todas as partes do corpo ao qual estava ligada durante a vida, dele conserva a impressão; ora, eis por que os Espíritos se veem e por que nos aparecem tais quais eram quando vivos. Mas essa matéria sutil não tem a tenacidade, nem a rigidez da matéria compacta do corpo; ela é, se assim podemos nos expressar, flexível e expansível; por isso a forma que toma, se bem que calcada sobre a do corpo, não é absoluta; ela se dobra à vontade do Espírito, que pode dar-lhe tal ou tal aparência, à sua vontade, ao passo que o envoltório sólido oferece-lhe uma resistência intransponível; desembaraçado desse entrave que o comprimia, o perispírito se estende ou se retrai, se transforma, em uma palavra, se presta a todas as metamorfoses, segundo a vontade que age sobre ele.
(7) Ver Allan Kardec, O que é o Espiritismo, cap. II, Dos Espíritos, item 10.
(8) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, maio de 1864, A alma pura de minha irmã Henríette:
(9) Ver Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 2ª parte, cap. VII, Bicorporeidade e Transfiguração.
(10) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, Alma, Princípio Vital e Fluido Vital.
(11) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro segundo, item 149, A Alma após a Morte, O que é o Espiritismo, cap. II, Dos Espíritos, item 14 e Revista Espírita, maio de 1864, A alma pura de minha irmã Henríette.
(12) Ver Allan Kardec, O que é o Espiritismo, cap. II, Dos Espíritos, item 14.
(13) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro segundo, cap. VI, Espíritos Errantes, item 224.
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