MANIFESTAÇÕES VISUAIS 2
Estudo in Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, segunda parte, item 100, com base em respostas dos Espíritos.
Pesquisa: Elio Mollo
SOBRE AS APARIÇÕES
De todas as manifestações espíritas, as mais interessantes são sem dúvida aquelas pelas quais os Espíritos podem se tornar mais visíveis, sobretudo durante o sono. Entretanto, certas pessoas os veem também no estado de vigília, mas isso é mais raro.
Enquanto o corpo repousa o Espírito se desprende dos laços materiais, fica mais livre e pode mais facilmente ver os outros Espíritos e entrar em comunicação com eles. O sonho é uma recordação desse estado. Quando não nos lembramos de nada, dizemos que não sonhamos, mas a alma não deixou de ver e de gozar da sua liberdade. Tratamos aqui mais particularmente das aparições no estado de vigília. (1)
Os Espíritos que se manifestam pela visão podem pertencer a todas as categorias, das mais elevadas às mais inferiores (2).
Todos os Espíritos podem manifestar-se visivelmente, mas nem sempre têm a permissão nem o desejo de fazê-lo.
A finalidade com que os Espíritos se manifestam visivelmente depende da sua natureza e o fim pode ser bom ou mau.
Se o objetivo do Espírito é mau, então, é para pôr à prova aqueles que os veem, ou seja, a intenção do Espírito pode ser má, mas o resultado pode ser bom. Geralmente, o objetivo dos Espíritos que se fazem ver com má intenção é para assustar e muitas vezes vingar-se.
O objetivo dos Espíritos que aparecem com boa intenção é consolar os que lamentam a sua partida, provar-lhes que continuam a existir e estão perto deles ou dar conselhos e algumas vezes pedir assistência para si mesmos.
Se a possibilidade de ver os Espíritos fosse permanente o inconveniente é que estando o homem constantemente cercado de Espíritos, o fato de vê-los sem cessar o perturbaria, constrangendo-o nas suas atividades, e lhe tiraria a iniciativa na maioria dos casos, enquanto que, julgando-se só, pode agir com mais liberdade.
Haveria tanto inconveniente de estarmos sempre na presença dos Espíritos, como em vermos o ar que nos cerca ou as miríades de animais microscópicos que pululam ao nosso redor. Do que devemos concluir que o que Deus faz é bem feito e que Ele sabe melhor do que nós o que nos convém.
Se a visão dos Espíritos tem inconvenientes, é permitida em alguns casos, para dar uma prova de que nem tudo morre com o corpo e de que a alma conserva a sua individualidade após a morte. Essa visão passageira é suficiente para dar a prova e atestar a presença dos amigos ao nosso lado, não tendo os inconvenientes da visão incessante.
Quanto mais o homem progride mais se aproxima da natureza espiritual e mais facilmente entra em relação com os Espíritos. A grosseria do corpo físico é o que torna mais difícil e mais rara a percepção dos seres etéreos.
É natural assustar-se com a aparição de um Espírito, mas aquele que refletir a respeito há de compreender que um Espírito, seja qual for, é menos perigoso que um vivo. Os Espíritos, aliás, estão por toda parte e não temos a necessidade de vê-los para saber que podem estar do nosso lado. O Espírito que desejar prejudicar alguém pode fazê-lo sem ser visto, e até com mais segurança. Ele não é perigoso por ser Espírito, mas pela influência que pode exercer no pensamento do homem, desviando-o do bem e impelindo-o ao mal.
As pessoas que têm medo da solidão e do escuro, raramente compreendem a causa do seu pavor. Elas não saberiam dizer do que têm medo, mas certamente deviam recear-se mais de encontrar homens do que Espíritos, porque um malfeitor é mais perigoso em vida do que após a morte. Uma senhora de nosso conhecimento teve uma noite, em seu quarto, uma aparição tão bem definida que acreditou estar na presença de alguém e sua primeira sensação foi de pavor. Certificando-se de que ali não havia nenhuma pessoa, disse a si mesma: parece que se trata apenas de um Espírito; posso dormir tranquila.
Aquele que vê um Espírito, se o desejar, pode perfeitamente conversar com ele, e é justamente o que se deve fazer nesse caso, perguntando quem é o Espírito, o que deseja e o que se pode fazer por ele. Se o Espírito for infeliz e sofredor, o testemunho de comiseração o aliviará. Se for um Espírito benévolo, pode acontecer que tenha a intenção de dar bons conselhos.
O Espírito pode responder, às vezes, falando como uma pessoa viva, mas geralmente o faz por uma transmissão de pensamentos.
Os Espíritos não têm asas. Não precisam delas, pois podem transportar-se por toda parte como Espíritos. Aparecem dessa forma porque querem impressionar as pessoas a que se mostram. Uns aparecerão com suas roupas habituais, outros envolvidos em panos, alguns com asas, como atributo da categoria espiritual que representam.
As pessoas que vemos em sonho são quase sempre as mesmas pessoas que o nosso Espírito vai encontrar ou que nos vêm encontrar.
Os Espíritos zombadores podem tomar a aparência das pessoas que nos são caras e nos iludirem, tomando aparências fantasiosas para se divertirem a nossa custa, mas há coisas com as quais não lhes é permitido brincar.
Os Espíritos nem sempre tem a possibilidade de manifestar-se visivelmente, mesmo em sonhos e apesar do desejo que tenhamos de vê-los. Causas independentes da sua vontade podem impedi-los. Quase sempre é também uma prova que o mais ardente desejo não pode afastar. Quanto às pessoas que não interessam, embora não pensemos nelas, é possível que pensem em nós. Aliás, não há como fazer uma ideia exata das relações no Mundo dos Espíritos, onde em sonhos, podemos nos reencontrar com uma multidão de conhecidos íntimos, antigos e novos, que quando acordados nem temos a menor ideia que isso poderá ou irá acontecer.
Quando não há nenhum meio de controlar as visões ou aparições, podemos sem dúvida levá-las à conta de alucinações, mas quando elas são confirmadas pelos acontecimentos não poderíamos atribuí-las à imaginação. Essas são, por exemplo, as aparições do momento da morte, em sonho ou no estado de vigília, de pessoas em quem não pensávamos e que, por diversos sinais, revelam as circunstâncias absolutamente inesperadas do seu falecimento. Viram-se tantas vezes cavalos empinarem e empacarem diante de aparições que assustavam os cavaleiros. Se a imaginação é alguma coisa entre os homens, seguramente nada é para os animais. Aliás, se as imagens que vemos em sonho fossem sempre consequência das preocupações de vigília, nada explicaria o fato, tão frequente, de jamais sonharmos com as coisas em que mais pensamos.
As visões de Espíritos ocorrem no estado de perfeita saúde, mas durante doenças os laços materiais se afrouxam e a fraqueza do corpo deixa mais livre o Espírito, que entra mais facilmente em comunicação com outros Espíritos.
As aparições, os ruídos e todas as manifestações acontecem igualmente por toda a Terra, mas apresentam características próprias segundo os povos em que se verificam. Entre alguns, por exemplo, a escrita é pouco desenvolvida e não há médiuns escreventes; entre outros eles abundam; além disso há mais frequência de manifestações ruidosas e de movimento de objetos que de comunicações inteligentes, porque estas são menos apreciadas e procuradas.
As aparições se verificam mais à noite pela mesma razão que vemos as estrelas à noite e não em pleno dia. A claridade intensa pode ofuscar uma aparição delicada. Mas é errôneo supor que a noite tenha algo de especial para isso. Se interpelarmos todos os que as viram, poderemos constatar que a maioria ocorreram de dia.
Os fenômenos de aparição são muito mais frequentes e gerais do que se pensa, mas muitas pessoas não os revelam por medo do ridículo e outras os atribuem à ilusão. Se parecem mais abundantes em certos povos é porque esses conservam mais cuidadosamente as tradições verdadeiras ou falsas, quase ampliadas pelo fascínio do maravilhoso, a que o aspecto das localidades se presta mais ou menos. A credulidade faz ver, então, efeitos sobrenaturais nos fenômenos mais vulgares: o silêncio da solidão, o escarpamento dos caminhos, o rumorejar das florestas, o estrépito das tempestades, o eco das montanhas, a forma fantástica das nuvens, as sombras, a miragens, tudo enfim se presta a ilusão das imaginações simples ingênuas, que propagam de boa fé aquilo que viram ou que acreditam ter visto. Mas ao lado da ficção há o real, que o estudo sério dos Espiritismo consegue livrar dos acessórios ridículos da superstição.
A visão dos Espíritos pode ocorrer em condições perfeitamente normais; entretanto, as pessoas que os veem estão quase sempre num estado especial, próximo do êxtase que lhes dá uma espécie de dupla vista. (4).
Os que veem os Espíritos pensam que o fazem com os olhos, mas na realidade é a alma que vê. A prova é que podem vê-los mesmo de olhos fechados.
O princípio com que faz o Espírito tornar-se visível é o mesmo de todas as manifestações e está nas propriedades do perispírito, que pode sofrer diversas modificações, à vontade do Espírito. (4)
Na nossa situação material o Espírito só pode manifestar-se com a ajuda do perispírito. É este o intermediário pelo qual eles agem sobre os nossos sentidos. Graças a esse invólucro é que eles aparecem algumas vezes com a forma humana ou outra qualquer, seja nos sonhos ou no estado de vigília, em plena luz ou na obscuridade.
Poderíamos dizer que é pela condensação do fluido do perispírito que o espírito se torna visível, mas condensação não é bem o termo. Trata-se apenas de uma comparação que pode ajudar a compreender o fenômeno, pois não há realmente uma condensação. Assim, diremos que pela combinação dos fluidos (5) produz-se no perispírito uma disposição especial (6), sem possibilidade de uma analogia adequada para nós os encarnados, e que torna um Espírito perceptível.
No estado normal de Espíritos não podemos pegá-los, como não pegamos os sonhos. Não obstante, podem impressionar o nosso tato e deixar sinais de sua presença. Podem mesmo, em alguns casos, tornar-se momentaneamente tangíveis, o que prova a existência de matéria entre eles e o nosso mundo físico.
Durante o sono todos somos aptos a vermos os Espíritos, mas não acontece o mesmo quando estamos acordados. No sono, a alma pode ver diretamente os Espíritos, mas, quando estamos acordados sofremos em maior ou menor grau a influência dos órgãos. Eis porque as condições não são as mesmas nos dois casos.
Para ver os Espíritos em estado de vigília depende do organismo, da facilidade maior ou menor do fluido do vidente de se combinar com o do Espírito. Assim, não basta o Espírito querer mostrar-se; é também necessário que a pessoa a quem se quer mostrar tenha a aptidão para vê-lo.
Essa faculdade pode desenvolver-se pelo exercício como todas as outras faculdades. Mas é daquelas cujo desenvolvimento natural é melhor do que o provocado, quando corremos o risco de super-excitar a imaginação. A visão geral e permanente dos Espíritos é excepcional e não pertence às condições normais do homem. (7)
Algumas vezes, poderá ocorrer a possibilidade de condições onde se pode provocar a aparição dos Espíritos, mas isso é muito raro. Geralmente as aparições dos Espíritos ocorrem espontaneamente. Para provocá-la é necessário que se possua uma faculdade especial.
Os Espíritos podem fazer-se visíveis com outra aparência que não a humana, pois possuem a condição de variá-la, contudo, geralmente eles se mostram conservando sempre o tipo humano e o da sua última encarnação, ou seja, a forma do perispírito é a forma humana, e quando um Espirito nos aparece é geralmente a mesma sob a qual conhecemos o espírito na vida física. (8)
Podem manifestar-se com a forma de flamas, clarões, como qualquer outro efeito para demonstrar a sua presença, mas essas coisas não são o próprio Espírito. A flama é quase sempre apenas um efeito ótico ou uma emanação do perispírito. Em todos os casos é somente uma parte do perispírito, que só aparece inteiramente nas visões. (9)
A crença que os fogos fátuos são almas ou Espíritos pode ser considerada uma superstição produzida pela ignorância. A causa física dos fogos fátuos é bem conhecida e sabe-se que o fogo fátuo é produzido pela inflamação espontânea do gás dos pântanos (metano), resultante da decomposição de seres vivos: plantas e animais típicos do ambiente..
A chama azul que apareceu sobre a cabeça de Servius Tuilius (10), na infância, foi real, produzida pelo Espírito Familiar que desejava advertir a mãe. Esta, médium vidente, percebeu uma irradiação do Espírito protetor de seu filho. Os médiuns videntes variam de grau no tocante à percepção, como os médiuns escreventes variam na escrita. Enquanto essa mãe via uma chama outro médium poderia ver o próprio Espírito. (12)
Pode acontecer de um Espírito se apresentar com a forma de animais, mas são sempre Espíritos inferiores os que tomam essas aparências. Mas seriam sempre, em todos os casos, aparências passageiras, pois seria absurdo acreditar que um animal pudesse ser a encarnação de um Espírito. (12) Somente a superstição pode levar a crer que certos animais são encarnações de Espíritos. É necessário ter uma imaginação muito condescendente ou muito impressionável para ver algo de sobrenatural nas atitudes às vezes um pouco estranhas que eles tomam, mas o medo frequentemente faz ver aquilo que não existe. Alias o temor nem sempre é a fonte dessa ideia. Conhecemos uma senhora, por sinal muito inteligente, que estimava demais um gato preto, acreditando que ele possuía uma natureza super-animal. Nunca, entretanto ouvira falar de Espiritismo. Se o tivesse conhecido, compreenderia o ridículo da causa de sua predileção, pois a doutrina lhe provaria a impossibilidade dessa metamorfose. (13)
NOTAS:
(1) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro segundo, cap. VIII, O Sono e os Sonhos, questão 409:
(2) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro segundo, cap. I, Escala Espírita, item 100:
http://www.aeradoespirito.net/OLivrodosEspiritos/O_LIVRO_DOS_ESPIR_L2_C1.SC6.html
(3) DUPLA VISTA: A emancipação da alma se manifesta às vezes no estado de vigília, e produz o fenômeno designado pelo nome de dupla vista, que dá aos que o possuem a faculdade de ver, ouvir e sentir além dos limites dos nossos sentidos. Eles percebem as coisas ausentes, por toda parte, até a alma onde possa estender a sua ação; veem, por assim dizer, através da vista ordinária, como por uma espécie de miragem.
No momento em que se produz o fenômeno da dupla vista, o estado físico é sensivelmente modificado: os olhos tem qualquer coisa de vago, olhando sem ver, e toda a fisionomia reflete uma espécie de exaltação. Constata-se que os órgãos da visão são alheios ao fenômeno, ao verificar-se que a visão persiste, mesmo com os olhos fechados. - Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro segundo, cap. VIIII, Dupla Vista, questões 447 e seguintes e cap. VIII, item 455, Resumo teórico do sonambulismo do êxtase e da dupla vista.
http://www.aeradoespirito.net/OLivrodosEspiritos/O_LIVRO_DOS_ESPIR_L2_C8_SC7.html
(4) O princípio vital provém do fluido universal. O Espírito tira esse fluido do envoltório semimaterial do perispírito, e é por meio desse fluido que ele age sobre a matéria inerte, quer dizer, ele anima a matéria de uma vida artificial e a matéria se impregna de vida animal. - Ver mais in:
(5) Fluido Universal - Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, é a trindade Universal. O espírito (Alma) é o princípio inteligente. Para que o Espírito possa exercer ação sobre a matéria tem que se juntar o fluido universal, pois, é ele que desempenha o papel intermediário entre o Espírito e a matéria grosseira. É lícito até certo ponto, classificar o fluido universal com o elemento material, porém, ele se distingue, deste por propriedades especiais. Este fluido deve ser considerado como sendo um elemento semimaterial, pois, está situado entre o Espírito e a matéria. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza; é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá. (Ver Allan Kardec, questão 27 de O Livro dos Espíritos).
(6) É esse fluido que compõe o perispírito fazendo a ligação do Espírito com a matéria. O perispírito é o invólucro semimaterial do Espírito depois da sua separação do corpo. Nos encarnados serve de liame ou intermediário entre o Espírito e a matéria. (Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos – item 257 (Ensaio Teórico sobre a sensação nos Espíritos, O Livro dos Médiuns, cap. XXXII, Instruções Práticas Sobre as manifestações Físicas - Vocabulário Espírita. Obras de Allan Kardec.)
(7) O respeito às leis naturais é um dos princípios espíritas. A mediunidade, como todas as faculdades humanas, deve desenvolver-se normalmente, nunca de maneira forçada. (Nota de J. Herculano Pires)
(8) Ver, Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, cap. XXXII, segunda parte, cap. I, Ação dos Espíritos sobre a Matéria, item 56.
(9) O perispírito só aparece integral nas visões, compreendendo-se o termo visões como infestações visuais do Espírito em corpo inteiro. Nas outras formas de manifestação apenas projeta as imagens que deseja, como nesse caso das chamas. (Nota de J. Herculano Pires)
(10) Sérvio Túlio (em latim: Servius Tullius; Mastarna em etrusco), rei romano de origem etrusca, levantou a primeira muralha de Roma e proclamou as primeiras leis sociais.
(11) Servius Tuilius, sexto rei de Roma (578-534 a.C.) nasceu escravo de Tarquínio Prisco, que o educou, e sucedeu a ele no trono por decisão popular. Ampliou Roma, aumentou suas; estruturou as classes e realizou grandes obras. Era um predestinado. (Nota de J. Herculano Pires)
(12) Essa afirmação não contraria o principio espírita da evolução. Pelo contrário, o endossa, mostrando apenas que o Espírito (a palavra escrita assim, com "E" maiúsculo, representa o ser espiritual do homem) não pode encarnar no reino animal. Ver Metempsicose, n°. 611 a 613 de O Livro dos Espíritos. (Nota de J. Herculano Pires)
(13) Ver nosso estudo “Sobre os Animais” in:
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário