sábado, 21 de dezembro de 2013

TUDO SE LIGA, TUDO SERVE, TUDO É SOLIDÁRIO, TUDO SE ENCADEIA NA NATUREZA.


TUDO SE LIGA, TUDO SERVE, TUDO É SOLIDÁRIO, TUDO SE ENCADEIA NA NATUREZA...
Pesquisa feita nas obras básicas do Espiritismo por Elio Mollo


Tudo então se liga, tudo se encadeia, desde o alfa até o ômega. (1)

A ação dos seres corpóreos é necessária à marcha do Universo. Mas Deus, na sua sabedoria, quis que eles tivessem, nessa mesma ação, um meio de progredir e de se aproximarem d'Ele. É assim que, por uma lei admirável da sua providência, tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza. (2)

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Dentre os Espíritos que exercem ação nos fenômenos da Natureza, alguns operam com conhecimento de causa usando do livre-arbítrio, outros não. Podemos estabelecer uma comparação: consideremos essas miríades de animais que, pouco a pouco, fazem emergir do mar ilhas e arquipélagos. Há aí um fim providencial, pois essa transformação da superfície do globo é necessária à harmonia geral. Entretanto, são animais de ínfima ordem que executam essas obras, provendo às suas necessidades e sem suspeitarem de que são instrumentos de Deus. Do mesmo modo, os Espíritos mais atrasados oferecem utilidade ao conjunto, assim, enquanto eles ensaiam para a vida, e antes de terem plena consciência de seus atos e de seu livre arbítrio, agem sobre certos fenômenos de que são agentes sem o saberem. Primeiro, executam; mais tarde, quando suas inteligências já tiverem alcançado um certo desenvolvimento, ordenarão e dirigirão as coisas do mundo material. depois, poderão dirigir as do mundo moral. .

É assim que tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, pois ele mesmo começou pelo átomo. Admirável lei de harmonia, de que o nosso Espírito limitado ainda não pode abranger o conjunto! (3)

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Tudo se encadeia na Natureza; ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela encarnação, também concorre por essa forma para o cumprimento dos desígnios da Providência. Cada um tem a sua missão neste mundo, porque cada um pode ser útil em algum sentido. (4)

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Tudo se encadeia na Natureza, por liames que não podeis ainda perceber, e as coisas aparentemente mais disparatadas têm pontos de contato que o homem jamais chegará a compreender, no seu estado atual. (5)

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...tudo se encadeia na Natureza e tende à unidade. É nesses seres, que estais longe de conhecer inteiramente, que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco, e ensaia para a vida, como dissemos. É, de certa maneira, um trabalho preparatório, como o da germinação, em seguida ao qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. É então que começa para ele o período de humanidade, e com este a consciência do seu futuro, a distinção do bem e do mal e a responsabilidade dos seus atos. Como depois do período da infância vem o da adolescência, depois a juventude, e por fim a idade madura. (6)

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Tudo é transição em a Natureza, pelo próprio fato de que nada é semelhante e, entretanto, tudo se encadeia. (7)

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Tudo passa, nesse sentido de que tudo caminha e segue o seu curso, mas não um curso cego e sem objetivo, se bem que não deva jamais acabar.

O movimento é a grande lei do Universo, na ordem moral como na ordem física, e o objetivo do movimento é o progresso para o melhor; é um trabalho ativo, incessante e universal; é o que chamamos o progresso. (...)

...tudo, na criação, está em movimento e sempre em progresso; que a missão da criatura inteligente é a de ativar esse movimento no sentido do progresso, o que ela cumpre, frequentemente mesmo, sem o saber; que o papel da criatura material é o de obedecer a esse movimento e o de manifestar o progresso da criatura inteligente; que a criação, enfim, considerada em seu conjunto ou em suas partes, cumpre incessantemente os objetivos de Deus.  (...)

...tudo segue uma lei lenta e progressiva, não que Deus hesite ou tenha necessidade da lentidão, mas porque as sua leis são tais e que são imutáveis. Aliás, o que chamamos lentidão, nós, seres efêmeros, não o é para Deus para quem o tempo nada é. (...)

A Humanidade, considerada coletivamente é comparada ao indivíduo; ignorante na infância, ela se esclarece à medida que avança em idade; o que se explica naturalmente pelo próprio estado de imperfeição em que estão os Espíritos para o adiantamento dos quais essa Humanidade foi feita; mas quanto ao Espírito considerado individualmente, não é numa só existência que ele pode adquirir a soma de progresso que está chamado a cumprir; é porque um maior ou menor número de existências corpóreas lhe são necessárias, segundo o uso que fará de cada uma delas. Mais ele terá trabalhado para o seu adiantamento em cada existência, menos terá que sofrê-las. E como cada existência corpórea é uma prova, uma expiação, um verdadeiro purgatório, tem interesse em progredir o mais prontamente possível, para ter a sofrer menos provas, porque o Espírito não retrograda; cada progresso cumprido por ele é uma conquista assegurada que nada poderia lhe tirar. Segundo este princípio, hoje averiguado, é evidente que quanto mais ele caminhar depressa, mais cedo chegará ao objetivo.  (...) (8)

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Tudo isto entra maravilhosamente nas nossas ideias de solidariedade universal. Tudo isto, em nos mostrando esta solidariedade estabelecida de todos os tempos e funcionando constantemente entre o mundo invisível e nós, nos prova, certamente, que não é uma utopia de concepção humana, mas bem uma das leis da Natureza; que os primeiros pensadores que a pregaram não a inventaram, mas somente a descobriram; e que, enfim, estando nas leis da Natureza, ela está chamada fatalmente a se desenvolver nas sociedades humanas, apesar das resistências e dos obstáculos que poderão ainda lhe opor os seus cegos adversários. (9)

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...em todas as coisas os Espíritos não vêm para nos livrar do trabalho das pesquisas, porque o homem deve fazer uso de suas faculdades; ajudam-no, dirigem-no, e já é muito, mas não lhe dão a ciência toda feita. Quando uma vez está sobre o caminho da verdade, é então que vêm revelá-la decididamente para fazer calar as incertezas e aniquilar os falsos sistemas; mas à espera disto, seu espírito está preparado para melhor compreender e aceitá-la, e quando ela se mostra, não o surpreende; ela já estava no fundo de seu pensamento.

...a marcha que seguiu o Espiritismo; veio surpreender os homens de improviso? Não, certamente. Sem falar dos fatos que se produziram em todas as épocas, porque ele está na Natureza, como a eletricidade, do ponto de vista do princípio, há um século  tinha  preparado  seu  aparecimento;  Swedenborg,  Saint-Martin,  os  teósofos,  Charles Fourier, Jean Reynaud e tantos outros, sem esquecer Mesmer, que deu a conhecer a força fluídica, de Puységur, que primeiro observou o sonambulismo: todos levantaram um canto do véu da vida espiritual; todos giraram em torno da verdadeira luz e dela se aproximaram mais ou menos; todos prepararam os caminhos e dispuseram os espíritos, de sorte que o Espiritismo, por assim dizer, não teve senão que completar o que fora esboçado; eis porque conquistou quase instantaneamente tão numerosas simpatias. Não falamos de outras causas múltiplas que lhe vieram em ajuda, provando que certas ideias não estavam mais ao nível do progresso humano, e fizeram quase pressentir o advento de uma nova ordem de coisas, porque a Humanidade não pode permanecer estacionaria. Ocorreu o mesmo com todas as grandes ideias que mudaram a face do mundo; nenhuma veio ofuscar como um relâmpago. Sócrates e Platão, cinco séculos antes de Cristo, não tinham lançado a semente das ideias cristãs?

(...)

Tudo se liga, tudo se encadeia, tudo se harmoniza na natureza;... (10)

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...tudo se encadeia no mundo; da matéria bruta saíram os seres orgânicos cada vez mais aperfeiçoados... (11)

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...tudo se liga, tudo se encadeia no Universo; tudo é submisso à grande e harmoniosa lei de unidade, desde a materialidade, a mais compacta, até a espiritualidade, a mais pura. (...)

O poder divino explode em todas as partes deste conjunto grandioso, e quer-se-ia que, para melhor atestar seu poder, Deus, não contente disso que fez, viesse turbar esta harmonia! (...)

...tudo é milagre na natureza, porque tudo é admirável e testemunho da sabedoria divina! Estes milagres são para todo mundo; para todos os que tenham olhos para ver e ouvidos para escutar, e não ao proveito de alguns. Não! Nunca há milagres no sentido que se toma desta palavra, porque tudo evidencia leis eternas da criação. (12)

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...tudo submetido a uma série de leis, eternas como a que os criou, uma vez que não poderia remontar á sua origem, não há um fenômeno que não esteja submetido a uma lei de periodicidade, ou de série, que lhe provoca o retorno em certas épocas, nas mesmas condições, ou em seguindo, como intensidade, uma lei de progressão geométrica, crescente ou decrescente, mas contínua. Nenhum cataclismo pode nascer espontaneamente, ou, se seus efeitos parecem tais as causas que o provocam... (13)

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Não olvideis jamais que o Espírito, qualquer que seja o seu grau de adiantamento, sua situação como reencarnado ou na erraticidade, está sempre colocado entre um superior que o guia e aperfeiçoa e um inferior perante o qual tem deveres iguais a cumprir. Sede portanto caridosos, não somente dessa caridade que vos leva a tirar do bolso o óbolo que friamente atirais ao que ousa pedir-vos, mas ide ao encontro das misérias ocultas. (...) Sede afáveis e benevolentes para com todos os que vos são inferiores; sede-o mesmo para com os mais ínfimos seres da Criação, e tereis obedecido à lei de Deus. (14)

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Tudo trabalha na Natureza. (15)

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Tudo se deve fazer para chegar à perfeição. O próprio homem é um instrumento de que Deus se serve para atingir os seus fins. Sendo a perfeição o alvo para que tende a Natureza, favorecer a sua conquista é corresponder àqueles fins. (16)

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Tudo o que entrava a marcha da Natureza é contrário à lei geral. (17)

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Tudo na Natureza, desde o grão de areia, canta, ou seja, proclama o poder, a sabedoria e a bondade de Deus. (18)

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SUBLIME MELODIA
Elio Mollo
20/fev/2007

O espiritual e o material interagem
formando o grande astral
segundo a lei da afinidade
onde o Amor é celebridade.

Só se firma a sociedade
com a solidariedade
Isto sim, produz
A verdadeira liberdade.
Dessa forma o Amor
ordena toda a Humanidade.

No Universo tudo se concatena
do mais simples ao mais complexo
do inculto ao mais sábio
do elementar até o arcanjo.
Seguindo todos numa evolução.

Cada ser em seu apogeu
não sofre substituição
mas é sempre sucedido
numa boa disposição

Cada ente tem sua nota
do, ré, mi, fá, sol, lá ou si
que o Amor ordena
numa oitava abaixo
ou em uma oitava acima
formando um acorde magistral
numa sequência fundamental
fazendo soar
a sublime melodia universal.

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NOTAS:

(1) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, Preenchendo os Vazios do Espaço.

(2) Ver Allan Kardec, in nota à resposta da questão 132 de O Livro dos Espíritos.

(3) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro segundo, cap. IX, Intervenção dos Espíritos no Mundo Corpóreo, Ação dos Espíritos sobre os Fenômenos da Natureza, item 540.

(4) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro segundo, cap. X, Ocupações e Missões dos Espíritos, item 573.

(5) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro segundo, cap. XI, Os Animais e o Homem, item 604.

(6) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro segundo, cap. XI, Os Animais e o Homem, item 607a.

(7) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, junho de 1859, Palestras Familiares de Além-Túmulo, Alexandre de Humboldt (Espírito), item 33.

(8) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, janeiro de 1861, Carta sobre a incredulidade, 1.ª parte.

(9) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, fevereiro de 1861, Carta sobre a incredulidade, 2.ª parte.

(10) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, setembro de 1865, Alucinação nos Animais.

(11) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, julho 1868, A Geração Espontânea e a Gênese.

(12) Ver Allan Kardec, A Gênese, cap. XIV, Os Fluidos, Natureza e Propriedade dos Fluidos.

(13) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, outubro de 1868, Instruções dos Espíritos, Influência dos Planetas Sobre as Perturbações do Globo Terrestre.

(14) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, cap. XI, Lei de Justiça, Amor e Caridade, Caridade e Amor do Próximo, item 888a, São Vicente de Paulo (Espírito).

(15) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, cap. IV, Lei do Trabalho, Necessidade do Trabalho, item 677.

(16) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, cap. IV, Lei de Reprodução, Sucessão e Aperfeiçoamento das Raças, item 692.

(17) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, cap. IV, Lei de Reprodução, Obstáculos à Reprodução, item 693.

(18) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro quarto, cap. II, Penas e Gozos Futuros, Natureza das penas e dos gozos futuros, item 969.

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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O HOMEM DEPOIS DA MORTE


O HOMEM DEPOIS DA MORTE
Estudo com base na obra O QUE É O ESPIRITISMO, Cap. III, Solução de alguns problemas pela Doutrina Espírita, O Homem depois da morte, do item 144 em diante.
Obra de Allan Kardec.


A separação ou libertação da alma por ocasião da morte do corpo físico, se opera gradualmente e com uma lentidão variável, segundo os indivíduos e as circunstâncias da morte. Os laços que unem a alma ao corpo não se rompem senão pouco a pouco, e mais ou menos lenta quanto a vida foi mais material e vulgar em relação ao sensualismo. (1)

No momento da morte, primeiro tudo é confuso; a alma precisa de algum tempo para se reconhecer, porque está meio atordoada, é como o estado de um homem que vai acordando de sono profundo e que procura inteirar-se da sua situação. A lucidez das ideias e a memória do passado lhe retornam à medida que se desfaz a influência da matéria da qual acaba de se libertar, e que se dissipa a espécie de bruma que obscurece seus pensamentos.

A duração da perturbação que se segue à morte é muito variável; pode ser de algumas horas somente, como de vários dias, de vários meses e mesmo de vários anos. Ela é menos longa naqueles que, durante a vida, se identificaram com seu estado futuro, porque compreendem imediatamente sua situação, porém é tanto mais longa quanto o homem tenha vivido mais materialmente.

As sensações que a alma experimenta nesse momento são também muito variáveis. A perturbação que segue a morte nada tem de penosa para o homem de bem. Para este ela é calma e em tudo semelhante à sensação que acompanha um despertar pacífico. Para aquele cuja consciência não é pura e que está mais preso à vida corporal que à espiritual, ela é cheia de ansiedade e de angústias que aumentam à medida que ela se reconhece; porque então ela está tomada de medo e de uma espécie de terror em presença daquilo que vê, e sobretudo daquilo que entrevê.

A sensação que se poderia chamar física é a de um grande alívio e de um imenso bem-estar. Sente-se como livre de um fardo, e se está muito feliz por não experimentar mais as dores corporais por que era afetado poucos instantes antes de se sentir solto, desligado e alerta como quem viesse a ser libertado de pesadas correntes.

Na sua nova situação, a alma vê e ouve o que via e ouvia antes da morte, mas vê e ouve outras coisas que escapam à grosseria dos órgãos corporais. Neste seu no estado ela tem sensações e percepções que nos são desconhecidas (2)

É importante dizer que à situação da alma depois da morte ou durante a vida, não são o resultado de uma teoria ou de um sistema, mas de estudos diretos feitos sobre milhares de indivíduos observados em todas as fases e em todos os períodos da sua existência espiritual, desde o mais baixo até o mais alto grau da escala, segundo seus hábitos durante a vida terrestre, o gênero de morte, etc. Diz-se, frequentemente, falando da vida espiritual, que não se sabe o que lá se passa porque pessoa alguma dela retornou, mas é um erro, uma vez que são precisamente os que lá se encontram que vêm dela nos instruir, e Deus o permite hoje como uma advertência dada à incredulidade e ao materialismo no que se refere a pluralidade de existências do espírito.

As faculdades perceptivas da alma são proporcionais à sua depuração, assim, somente às almas de elite tem condições para gozar da presença de Deus.

Deus está por toda parte porque Ele irradia em todas as porções do espaço, e pode-se dizer que o Universo está mergulhado na divindade, como nós estamos mergulhados na luz solar. Mas os Espíritos atrasados são rodeados de uma espécie de neblina que o oculta aos seus olhos, e que se dissipa na mesma medida que eles se depuram e se desmaterializam. Os Espíritos inferiores são, pela vista, com relação a Deus, o que os encarnados são com relação aos Espíritos: verdadeiros cegos.

Se as almas não tivessem mais individualidade depois da morte, seria para elas, e para nós, como se não existissem, e as consequências morais seriam exatamente as mesmas. Elas não teriam nenhum caráter distintivo, e a do criminoso estaria no mesmo plano da do homem de bem, o que ocasionaria o desinteresse em fazer o bem.

A individualidade da alma foi posta a descoberto de uma maneira, por assim dizer, material, nas manifestações espíritas, pela linguagem e as qualidades próprias de cada uma. Uma vez que elas pensam e agem de uma maneira diferente, disso resulta, que umas são boas e outras más, umas sábias e outras ignorantes, umas querem o que outras não querem, isso é a prova evidente de que elas não estão confundidas num todo homogêneo, sem falar das provas patentes que nos dão de terem animado tal ou tal indivíduo sobre a Terra. Graças ao Espiritismo experimental, a individualidade da alma não é mais uma coisa vaga, mas um resultado da observação.

A própria alma constata sua individualidade, porque tem pensamento e vontade próprios, distintos das outras. Ela, inclusive, a constata pelo seu envoltório fluídico ou perispírito, espécie de corpo limitado que faz dela um ser à parte. (3)

Existem aqueles que creem fugir à censura de materialistas ao admitirem um princípio inteligente universal do qual absorvemos uma parte ao nascer, o que constitui a alma, para devolvê-la depois da morte à massa comum onde ela se confunde como as gotas d’água no Oceano. Esse sistema, espécie de transação, não merece o nome de espiritualismo, porque é tão desesperador quanto o materialismo. O reservatório comum do todo universal equivaleria ao nada, uma vez que aí não haveria mais individualidades.

O estado da alma varia consideravelmente segundo o gênero de morte, mas, sobretudo, segundo a natureza dos hábitos que teve durante a vida. Na morte natural, o desligamento se opera gradualmente e sem abalo; frequentemente, ele começa mesmo antes que a vida se extinga. Na morte violenta por suplício, suicídio ou acidente, os laços se rompem bruscamente. Nestes casos, o Espírito, surpreendido pelo imprevisto, fica como atordoado pela mudança que nele se opera e não compreende sua situação. Um fenômeno mais ou menos constante, em semelhante fato, é a persuasão em que se acha de não estar morto, e essa ilusão pode durar vários meses e mesmo vários anos. Nesse estado, vai, vem e crê aplicar-se aos seus trabalhos, como se fosse ainda deste mundo, muito espantado que não respondem quando ele fala. Essa ilusão não é exclusivamente dos casos de mortes violentas, mas também, é encontrada nos indivíduos cuja vida foi absorvida pelos gozos e interesses materiais. (4)

A alma depois de ter deixado o corpo não se perde na imensidade do Infinito, como geralmente se figura. Ela erra (5) no espaço e, o mais frequentemente, no meio daqueles que conheceu, e sobretudo daqueles que amou, podendo se transportar instantaneamente a distâncias imensas.

A alma conserva todas as afeições morais, dessa forma, não esquece senão as afeições materiais que não são mais da sua essência. Por isso, vem com alegria rever seus parentes e seus amigos, e é feliz por dela se lembrarem (6)

A conservação da lembrança do que fez sobre a Terra ou o interesse pelos trabalhos que deixou inacabados depende da elevação do Espírito e da natureza dos seus trabalhos. Os Espíritos desmaterializados pouco se preocupam com as coisas materiais, das quais são felizes de estarem livres. Quanto aos trabalhos que começaram, segundo a sua importância e a sua utilidade, eles inspiram, algumas vezes a outros o pensamento de terminá-los.

A alma não somente reencontra no mundo dos Espíritos os parentes e amigos que a precederam, mas reencontra, também, aí muitos outros que havia conhecido nas suas precedentes existências. Geralmente, aqueles que por ela mais se afeiçoam vêm recebê-la na sua chegada ao mundo dos Espíritos, e a ajudam a se libertar dos laços terrestres. Entretanto, a privação do reencontro com as almas mais queridas, algumas vezes, é uma punição para as almas culpadas.

O desenvolvimento incompleto dos órgãos da criança não permite ao Espírito da criança morta em tenra idade se manifestar completamente, porém, liberto desse envoltório, suas faculdades são as que tinha antes da sua encarnação. O Espírito não tendo passado senão alguns instantes na vida, suas faculdades não puderam se modificar. (7)

A diferença que há depois da morte, entre a alma do sábio e do ignorante, do selvagem e do homem civilizado é, aproximadamente, a mesma diferença que existe entre eles durante a vida, porque a entrada no mundo dos Espíritos não dá à alma todos os conhecimentos que lhe faltavam sobre a Terra.

Depois da morte as almas progridem mais ou menos segundo sua vontade, e algumas progridem muito, mas têm necessidade de colocarem em prática durante a vida corporal o que adquiriram em ciência e em moralidade. Aquelas que estão estacionárias retomam uma existência análoga à que deixaram, mas as que progrediram merecem uma encarnação de uma ordem mais elevada.

O progresso, sendo proporcional à vontade do Espírito, há os que conservam por longo tempo os gostos e as tendências que tinham durante a vida, e que perseguem as mesmas ideias. (8)

A fixação irrevogável da sorte do homem depois da morte seria a negação absoluta da justiça e da bondade de Deus, porque há muitos que não dependeram de si mesmos para se esclarecerem suficientemente, sem falar dos idiotas, dos cretinos e dos selvagens (9), e das inumeráveis crianças que morrem antes de terem entrevisto a vida. Mesmo entre as pessoas esclarecidas, há muitas que puderam crer-se bastante perfeitas para estarem dispensadas de fazer mais, e isso é uma prova importante que Deus dá da sua bondade, permitindo ao homem fazer no dia seguinte o que não fez na véspera.

Se a sorte está irrevogavelmente fixada (10), por que os homens morrem em idades tão diferentes, e por que Deus, na sua justiça, não deixa a todos o tempo para fazerem o maior bem possível ou reparar o mal que fizeram? Quem sabe se o culpado que morreu aos trinta anos, não estaria arrependido, não teria se tornado um homem de bem, se vivesse até os sessenta anos? Por que Deus lhes tira esse meio enquanto dá a outros? Só o fato da diversidade da duração da vida, e do estado moral da grande maioria dos homens, prova a impossibilidade, se se admite a justiça de Deus, de que a sorte da alma seja irrevogavelmente fixada depois da morte.

Na vida futura, a sorte das crianças (11) que morrem em tenra idade é uma das questões que provam melhor a justiça e a necessidade da pluralidade das existências. Uma alma que não tivesse vivido senão alguns instantes, não tendo feito nem bem nem mal, não mereceria nem recompensa nem punição. Segundo a máxima do Cristo, de que cada um é punido ou recompensado segundo suas obras, seria, tanto ilógico como contrário à justiça de Deus admitir-se que, sem trabalho, ela fosse chamada a gozar da felicidade perfeita dos anjos, ou que pudesse disso ser privada, e, todavia, ela deve ter uma sorte qualquer, pois um estado misto, pela eternidade, seria também injusto. Interrompida uma existência desde o seu princípio, não podendo ter, pois, nenhuma consequência para a alma, sua sorte atual é a que merecia na sua precedente existência, e sua sorte futura aquela que merecerá nas suas existências ulteriores.

Além das suas alegrias ou seus sofrimentos, as almas têm ocupações na outra vida, pois se elas não se ocupassem senão de si mesmas durante a eternidade, isso seria egoísmo, e Deus, contrário ao egoísmo, não aprovaria na vida espiritual o que pune na vida corporal. As almas ou Espíritos têm ocupações de acordo com seu grau de adiantamento, ao mesmo tempo que procuram se instruírem e melhorarem. (12)

Atualmente, reconhece-se perfeitamente que o fogo do Inferno é um fogo moral e não um fogo material, todavia, nem sempre se define a natureza dos sofrimentos. As comunicações espíritas os colocam sob nossos olhos, e, por esse meio, nós podemos apreciá-los e nos convencer de que, por não ser o resultado de um fogo material, que não poderia queimar, com efeito, almas imateriais, eles não são menos terríveis em certos casos. Essas penas não são uniformes e variam ao infinito, segundo a natureza e o grau das faltas cometidas, e são, quase sempre, essas próprias faltas que servem ao castigo. É assim que certos homicidas são constrangidos a permanecerem sobre o lugar do crime e a ter, sem cessar, suas vítimas sob seus olhos. Que o homem de gostos sensuais e materiais conserva esses mesmos gostos, mas a impossibilidade de os satisfazer materialmente é para eles uma tortura, assim, certos avarentos creem sofrer o frio e as privações que suportaram durante a vida por avareza, outros permanecem perto dos tesouros que enterraram e estão em transe perpétuo pelo medo que os roubem; em uma palavra, não há uma falta, uma imperfeição moral, uma ação má que não tenha, no mundo dos Espíritos, sua contrapartida e suas consequências naturais; e, para isso não há necessidade de um lugar determinado e circunscrito: por toda parte em que se encontre, o Espírito perverso carrega seu inferno consigo.

Além das penas espirituais, há penas e provas materiais que o Espírito, que não está depurado, suporta nas novas encarnações, onde é colocado numa posição para suportar o que fez os outros suportarem, ou seja, ser humilhado, se foi orgulhoso; miserável, se foi mau rico; infeliz por seu filho, se foi um mau filho, etc. A Terra, como dissemos, é um lugar de exílio e de expiação, um purgatório, para os Espíritos dessa natureza, e no qual depende de cada um não retornar, melhorando-se bastante para merecer ir a um mundo melhor. (13)

A prece é útil para as almas sofredoras, inclusive, é recomendada por todos os bons Espíritos. Por outro lado, ela é pedida pelos Espíritos imperfeitos como um meio de aliviar seus sofrimentos. A alma pela qual se ora experimenta alívio, porque é um testemunho de interesse e o infeliz é sempre aliviado quando encontra corações caridosos que se compadecem de suas dores. Por outro lado, ainda pela prece, estimula-se ao arrependimento e ao desejo de fazer o que é preciso para ser feliz. É nesse sentido que se pode abreviar sua pena se, por sua vez, ela secunda pela sua boa vontade. (14)

A justiça quer que a recompensa seja proporcional ao mérito das almas, assim como a punição à gravidade da falta. Desta maneira há, portanto, graus infinitos nos gozos da alma, desde o instante em que ela entra no caminho do bem, até que atinja a perfeição.

A felicidade dos bons Espíritos consiste em conhecer todas as coisas, não ter nem ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem nenhuma das paixões que fazem a infelicidade dos homens. O amor que as une é, para elas, a fonte de uma suprema felicidade. Elas não experimentam nem as necessidades, nem os sofrimentos, nem as angústias da vida material. Um estado de contemplação perpétua seria uma felicidade estúpida e monótona, própria do egoísta, uma vez que sua existência seria uma inutilidade sem limites. A vida espiritual, ao contrário, é uma atividade incessante pelas missões que os Espíritos recebem do ser supremo, como sendo seus agentes no governo do Universo; missões que são proporcionais ao seu adiantamento e das quais são felizes, porque lhes fornecem ocasiões de se tornarem úteis e de fazerem o bem. (15)

NOTAS

(1) Durante a vida o Espírito está ligado ao corpo pelo seu envoltório material ou perispírito; a morte é apenas a destruição do corpo, e não desse envoltório, que se separa do corpo quando cessa a vida orgânica. A observação prova que no instante da morte o desprendimento do Espírito não se completa subitamente; ele se opera gradualmente, com lentidão variável, segundo os indivíduos. Para uns é bastante rápido e pode dizer-se que o momento da morte é também o da libertação, que se verifica logo após. Noutros, porém, sobretudo naqueles cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito mais demorado, e dura às vezes alguns dias, semanas e até mesmo meses, o que não implica a existência no corpo de nenhuma vitalidade, nem a possibilidade de retorno à vida, mas a simples persistência de uma afinidade entre o corpo e o Espírito, afinidade que está sempre na razão da preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. É lógico admitir que quanto mais o Espírito estiver identificado com a matéria, mais sofrerá para separar-se dela. Por outro lado, a atividade intelectual e moral e a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida corpórea, e quando a morte chega é quase instantânea. Este é o resultado dos estudos efetuados sobre todos os indivíduos observados no momento da morte. Essas observações provam ainda que a afinidade que persiste, em alguns indivíduos, entre a alma e o corpo, é às vezes muito penosa, porque o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso é excepcional e peculiar a certos gêneros de morte, verificando-se em alguns suicídios. (Ver questões 155 e 155a de O Livro dos Espíritos).

(2) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, setembro de 1859, Morte de um espírita:

Extraímos deste número da Revista Espírita, a pergunta (de número 11) e a resposta feita ao senhor J..., negociante do departamento da Sarthe, que morreu em 15 de junho de 1859, bem como, a nota de Kardec referente a esta resposta:

Vossos conhecimentos quanto às matérias espíritas vos permitiram, sem dúvida, nos responder com precisão sobre certas questões. Poderíeis descrever-nos claramente o que se passou em vós no instante em que o vosso corpo deu o último suspiro, e quando o vosso Espírito se achou livre?
- R. É, eu creio, pessoalmente muito difícil encontrar um meio para vos fazer compreender de outro modo que não haja sido feito, comparando a sensação que se experimenta ao despertar que se segue a um sono profundo;  esse  despertar  é  mais  ou  menos  lento  e  difícil  em  razão  direta  da  situação moral do Espírito, e não deixa nunca de ser fortemente influenciado pelas circunstâncias que acompanham a morte.

Nota de Kardec - Isto está conforme todas as observações que se fizeram sobre o estado do Espírito no momento da sua separação do corpo; sempre vimos as circunstâncias morais e materiais, que acompanham a morte, reagirem poderosamente sobre o estado do Espírito nos primeiros momentos.

– Idem outubro de 1860, O Despertar do Espírito:

Trecho da mensagem do Espírito chamado Georges:

Quando o homem abandona os despojos mortais, experimenta um espanto e um deslumbramento que o deixam por algum tempo indeciso quanto ao seu estado real; não sabe se está morto ou vivo e suas sensações, muito confusas, demoram bastante para aclarar-se. Pouco a pouco, os olhos do Espírito ficam deslumbrados por diversas claridades que o cercam e ele acompanha toda uma ordem de coisas, grandes e desconhecidas, que de início tem dificuldade em compreender, mas em breve reconhece que não passa de um ser impalpável e imaterial; procura seus despojos e se surpreende de não os encontrar; passa-se algum tempo antes que lhe venha a memória do passado e o convença de sua identidade. Olhando a Terra, que acaba de deixar, vê os parentes e amigos que o pranteiam, como vê o corpo inerte. Finalmente seus olhos se destacam da Terra e se elevam para o Céu; se a vontade de Deus não o retém no solo, ele sobe lentamente e se sente flutuar no espaço, o que é uma sensação deliciosa. Então a lembrança da vida que deixa lhe aparece com uma clareza às mais das vezes desoladora, mas outras vezes consoladora.

– Idem maio 1862, Exéquias do sr. Sanson:

O Sr. Sanson, faleceu no dia 21 de abril de 1862, depois de mais de um ano de cruéis sofrimentos. Na previsão de sua morte, dirigira, no dia 27 de agosto de 1860, à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, solicitando evocar o seu Espírito imediatamente após a sua morte. Abaixo transcrevemos um questionamento (número 3) e a resposta da evocação feita a ele, já como Espírito desencarnado, inscrita neste número da Revista Espírita:

Estáveis tão sofredor que podemos, penso, vos perguntar como estais agora. Sentis ainda as vossas dores? Que sensação sentis, comparando a vossa situação presente com a de há dois dias?
- R. Minha posição é muito feliz, porque não sinto mais nada de minhas antigas dores; estou regenerado de modo a tornar-me novo, como dizeis entre vós. A transição da vida terrestre para a vida dos Espíritos tornou, de início, tudo incompreensível, porque ficamos, às vezes, levamos dias para recobrar a nossa lucidez; mas, antes de morrer, fiz uma prece a Deus para pedir-lhe poder falar àqueles a quem amo, e Deus me escutou.

(3) Ver nosso estudo com base in O Livro dos Espíritos, livro segundo, cap. 1, questões de 93 à 95. Obra codificada por Allan Kardec.
http://www.aeradoespirito.net/EstudosEM/PERISPIRITO.html

(4) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro Segundo, Perturbação Espírita, item 165.

O conhecimento do Espiritismo exerce alguma influência sobre a duração maior ou menor da perturbação?
-- Uma grande influência, pois o Espírito compreende antecipadamente a sua situação: mas a prática do bem e a pureza de consciência são o que exerce maior influência.

Observação de A. Kardec: No momento da morte, tudo, a princípio, é confuso; a alma necessita de algum tempo para se reconhecer; sente-se como atordoada, no mesmo estado de um homem que saísse de um sono profundo e procurasse compreender a situação. A lucidez das ideias e a memória do passado voltam, a medida que se extingue a influência da matéria e que se dissipa essa espécie de nevoeiro que lhe turva os pensamentos.

A duração da perturbação de após morte é muito variável: pode ser de algumas horas, como de muitos meses e mesmo de muitos anos. Aqueles em que é menos longa, são os que se identificaram durante a vida com o seu estado futuro, porque então compreendem imediatamente a sua posição.

Essa perturbação apresenta circunstâncias particulares, segundo o caráter dos indivíduos e sobretudo de acordo com o gênero de morte. Nas mortes violentas, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos, etc., o Espírito é surpreendido, espanta-se, não acredita que esteja morto e sustenta teimosamente que não morreu. Não obstante, vê o seu corpo, sabe que é dele, mas não compreende que esteja separado. Procura as pessoas de sua afeição, dirige-se a elas e não entende por que não o ouvem. Esta ilusão se mantém até o completo desprendimento do Espírito, e somente então ele reconhece o seu estado e compreende que não faz mais parte do mundo dos vivos.

Esse fenômeno é facilmente explicável. Surpreendido pela morte imprevista, o Espírito fica aturdido com a brusca mudança que nele se opera. Para ele, a morte é ainda sinônimo de destruição, de aniquilamento; ora, como continua a pensar, como ainda vê e escuta, não se considera morto. E o que aumenta a sua ilusão é o fato de se ver num corpo semelhante ao que deixou na Terra, cuja natureza etérea ainda não teve tempo de verificar. Ele o julga sólido e compacto como o primeiro, e quando se chama a sua atenção para esse ponto, admira-se de não poder apalpá-lo.

Assemelha-se este fenômeno ao dos sonâmbulos inexperientes, que não creem estar dormindo. Para eles, o sono é sinônimo de suspensão das faculdades; ora, como pensam livremente e podem ver, não acham que estejam dormindo. Alguns Espíritos apresentam esta particularidade, embora a morte não os tenha colhido inopinadamente; mas ela é sempre mais generalizada entre os que, apesar de doentes, não pensavam em morrer. Vê-se então o espetáculo singular de um Espírito que assiste os próprios funerais como os de um estranho, deles falando como de uma coisa que não lhe dissesse respeito, até o momento de compreender a verdade.

A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem: é calma e em tudo semelhante à que acompanha um despertar tranquilo. Para aquele cuja consciência não está pura é cheia de ansiedades e angústias.

Nos casos de morte coletiva observou-se que todos os que perecem ao mesmo tempo nem sempre se reveem imediatamente. Na perturbação que se segue à morte cada um vai para o seu lado ou somente se preocupa com aqueles que lhe interessam.

Ver mais in Allan Kardec, Revista Espírita
- O suicida da Samaritana, junho de 1858,
- Um Espírito nos Funerais de seu Corpo, dezembro de 1858.
- O Zuavo de Magenta, julho de 1859
- Um Espírito que não se crê morto, dezembro de 1859.
- François Simon Louvet, março de 1863

(5) Erraticidade – estado dos Espíritos errantes, isto é, não encarnados, durante os intervalos de suas diversas existências corpóreas.  A erraticidade não é um sinal absoluto de inferioridade para os Espíritos. Há Espíritos errantes de todas as classes, salvo os da primeira ordem ou puros espíritos, que não tendo mais que sofrer encarnação, não podem ser considerados como errantes. Os Espíritos errantes são felizes ou desgraçados segundo o grau de sua purificação. É nesse estado que o Espírito, tendo despido o véu material do corpo, reconhece suas existências anteriores e os erros que o afastam da perfeição e da felicidade infinita. É então, igualmente, que ele escolhe novas provas, a fim de avançar mais depressa. (*) Allan Kardec, Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, Vocabulário Espírita.

(*) Erraticidade: Situação dos Espíritos errantes, quer dizer não encarnados, durante os intervalos de suas existências corporais. (Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro segundo, Cap. VI, Espíritos Errantes e O Livro dos Médiuns, cap. XXXII)

(6) Ver Allan Kardec, Revista Espírita:
- Relação Afetuosa dos Espíritos, novembro de 1860.
- Relações Amigas Entre Vivos e Mortos, maio de 1862..

(7) Allan Kardec em nota diz que nas comunicações espíritas, o Espírito de uma criança pode, pois, falar como o de um adulto, porque pode ser um Espírito muito avançado. Se toma, algumas vezes, a linguagem infantil é para não tirar da mãe o encanto de um ser frágil e delicado e enfeitado com as graças da inocência. (Ver na Revista Espírita de janeiro de 1858, em evocações particulares: Mamãe, aqui estou!).

(8) Ver Allan Kardec, Revista Espírita:
- A rainha de Oude, março de 1858.
- O Espírito e os herdeiros, maio de 1858.
- O tambor da Béresina, julho 1858.
- Um antigo carreteiro, dezembro de 1859
- Progresso dos Espíritos, outubro de 1860.
- Progresso de um Espírito perverso, abril de 1861.

(9) Ver nosso estudo sobre Idiotismo e loucura, com base nas qq. de 371 à 378 de O Livro dos Espíritos, obra codificada por Allan Kardec.

(10) Fatalidade - A fatalidade existe apenas na escolha que o Espírito fez ao encarnar e suportar esta ou aquela prova. E da escolha resulta uma espécie de destino, que é a própria consequência da posição que ele próprio escolheu e em que se acha. Falamos das provas de natureza física, porque, quanto às de natureza moral e às tentações, o Espírito, ao conservar seu livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor para ceder ou resistir. (ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, cap. X, Fatalidade, questão 851 e seguintes). 

Todas as leis que regem o conjunto dos fenômenos da Natureza têm consequências necessariamente fatais, quer dizer, inevitáveis, e esta fatalidade é indispensável à manutenção da harmonia universal. O homem, que sofre essas consequências, está, pois, em certos aspectos, submetido à fatalidade em tudo o que não depende de sua iniciativa; assim, por exemplo, ele deve fatalmente morrer: é a lei comum à qual não pode se subtrair, e, em virtude desta lei, pode morrer em toda idade, quando sua hora é chegada; mas se ele apressa voluntariamente a sua morte pelo suicídio ou por seus excessos, ele age em virtude de seu livre-arbítrio, porque ninguém o pode constranger a fazê-lo. Ele deve comer para viver: é da fatalidade; mas se come além do necessário, pratica ato de liberdade. – Ver Allan Kardec, Revista Espírita, julho 1868, no artigo A Ciência da Concordância dos Números e a Fatalidade.)

(11) Ver nosso estudo sobre a Sorte das Crianças Após a Morte, com base nas qq. de 197 à 199a de O Livro dos Espíritos, obra codificada por Allan Kardec.

(12) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro Segundo, Ocupações e missões dos Espíritos, cap. X, item 558 e seguintes.

(13) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro Segundo, Percepções, sensações e sofrimento dos Espíritos - Idem, Livro Quarto: Esperanças e consolações; penas e gozos futuros.
Ver também na coleção da Revista Espírita:
- O assassino Lemaire, março de 1858
- O suicida da Samaritaine, junho de 1858
- Sensações dos Espíritos, dezembro de 1858
- O pai Crépin (César), junho de 1859
- Estelle Régnier (ou Riquier), fevereiro de 1860
- O suicida da rua Quincampoix, agosto de 1860
- O castigo, outubro de 1860
- Entrada de um culpado no mundo dos Espírito, dezembro 1860
- Castigo do egoísta, dezembro 1860
- Suicídio de um ateu, fevereiro de 1861
- A pena de talião, setembro de 1861

(14) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, cap. II, Da Prece, item, 664  e Revista Espírita, Efeitos da prece sobre os Espíritos sofredores, dezembro de 1859.

(15) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro Segundo, Ocupações e missões dos Espíritos, cap. X, item 558 e seguintes.
Ver também na coleção da Revista Espírita:
- Os puros Espíritos, outubro de 1860
- Morada dos bem-aventurados, outubro de 1860
- Madame (Sra. Anís) Gourdon, junho 1861.

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