O HOMEM E A SUA VIDA NA TERRA
Estudo com base no livro O Que é o Espiritismo, Cap. III - Solução de alguns problemas pela Doutrina Espírita, O Homem durante a vida terrestre,
itens de 129 à 134.
Obra de Allan Kardec
Pesquisa: Elio Mollo
Deus não criou o mal, a lei natural é a Sua lei (1). O homem traz na consciência a lei de Deus (2). Se a observasse fielmente, seria perfeitamente feliz, pois essa lei é a única necessária à felicidade do homem. Essa lei escrita na consciência do homem lhe indica o que ele deve ou não fazer e ele só se torna infeliz quando não a observa. O Espírito, tendo seu livre arbítrio, nem sempre a observa, com isso, se envolve com o mal (geralmente gerado pelo egoísmo extremado), e isso resulta em infrações a essa lei que com o tempo tem que reparar para poder voltar ao bom caminho (3).
Fazendo a distinção entre a alma e o homem, podemos dizer que a alma (espírito elementar ou princípio inteligente) (4) é criada simples e ignorante (5), quer dizer, nem boa nem má, mas suscetível, em virtude do seu livre arbítrio, de tomar o caminho do bem ou o do mal, ou melhor dizendo, de observar ou infringir as leis de Deus. O homem nasce bom ou mau conforme seja a encarnação de um Espírito adiantado ou atrasado.
A origem do mal sobre a Terra resulta da imperfeição dos Espíritos que nela estão encarnados. A predominância do mal decorre de que, sendo a Terra um mundo inferior, a maioria dos Espíritos que a habitam são, eles mesmos, inferiores, ou progrediram pouco. Em mundos mais avançados, o homem terrestre, por sua evolução, naturalmente, não teria condições de se encarnar, pois nesses mundos onde vivem Espíritos depurados, o mal já não faz mais parte deles.
A Terra pertence à categoria dos mundos de expiação e provas (6), razão por que aí vive o homem a braços com tantas misérias. Assim, pode ser considerada, ao mesmo tempo, como um mundo de educação para os Espíritos pouco avançados, e de expiação para os Espíritos que infligiram a lei natural. Os males da Humanidade são a consequência da inferioridade moral da maioria dos Espíritos encarnados. Pelo contato dos seus vícios, eles se tornam reciprocamente infelizes e se punem uns aos outros.
Podemos figurar Terra como um subúrbio, um hospital, uma penitenciaria, um sítio malsão. Assim podemos compreender por que as aflições sobrelevam aos gozos, porquanto não se mandam para o hospital os que se acham com saúde, nem para as casas de correção os que nenhum mal praticaram; nem os hospitais e as casas de correção se podem ter por lugares de deleite. Da mesma maneira que numa cidade, a população não se encontra toda nos hospitais ou nas prisões, também na Terra não está a Humanidade inteira. Assim, do hospital só saem os que se curaram, da prisão só saem os que cumpriram suas penas. O homem só deixará de viver em mundos semelhantes a Terra, quando estiver curado de suas enfermidades morais. (6)
Para aquele que vê tudo pela vida presente, e que acredita ser única, ver um homem mau prosperar e o de bem ser alvo de muitas aflições, isso deve lhe parecer uma soberana injustiça. Contudo, não ocorre o mesmo para aquele que considera a pluralidade das existências, para este, cada existência é uma brevidade em relação à eternidade. O estudo do Espiritismo prova que a prosperidade do mau terá terríveis consequências nas existências seguintes; que as aflições do homem de bem são, ao contrário, seguidas de uma felicidade tanto maior e durável quanto ele as procura enfrentar com sabedoria e resignação, assim, para ele, uma existência com dificuldades é como se fosse apenas um momento infeliz (contudo, de grandes aprendizados) diante da eternidade.
Como prova de aprendizado ou de expiação uns poderão nascer na indigência e outros na opulência, cegos, surdos, mudos ou atacados de enfermidades incuráveis, enquanto que outros poderão ter todas as vantagens físicas. Isso não é efeito do acaso nem da Providência. Se é efeito da Providência, pergunta-se onde está sua bondade e sua justiça? Ora, é por não compreenderem a causa desses males, que muitas pessoas são levadas a acusá-la. Compreende-se que aquele que se torna miserável ou enfermo por suas imprudências ou seus excessos, seja punido por onde errou; mas se a alma é criada ao mesmo tempo que o corpo, que fez ela para merecer semelhantes aflições, desde o seu nascimento, ou para delas estar isenta? Se se admite a justiça de Deus, deve-se admitir que esse efeito tenha uma causa, sendo assim, se essa causa não está nesta vida, deve ser de antes dela, porque em todas as coisas, a causa deve preceder o efeito; por isso, é preciso, pois, que a alma tenha vivido e que tenha merecido uma expiação. Os estudos espíritas nos mostram, com efeito, que a maioria dos homens que nasceram na miséria, foram ricos e considerados em uma existência anterior, mas, fizeram mau uso da fortuna que Deus lhe deu para gerir, também, foram descorteses, orgulhosos e poderosos, agora, numa existência posterior, a vida no-los mostram, às vezes submetido às ordens daquele mesmo ao qual comandou com dureza, sob os maus tratos e a humilhação que fez os outros suportarem.
O castigo é o aguilhão que estimulará a alma, pela amargura, a se dobrar sobre si mesma e a buscar o porto de salvação (7). O castigo é temporário e só tem por fim a reabilitação, a redenção. O homem sofre sempre a consequência de suas faltas; não há uma só infração à lei de Deus que fique sem a correspondente punição. A severidade do castigo é proporcionada à gravidade da falta. Indeterminada é a duração do castigo, para qualquer falta; fica subordinada ao arrependimento do culpado e ao seu retorno a senda do bem; a pena dura tanto quanto a obstinação no mal; seria perpétua, se perpétua fosse a obstinação; dura pouco, se pronto é o arrependimento. Desde que o culpado clame por misericórdia, Deus o ouve e lhe concede a esperança. Mas, não basta o simples pesar do mal causado; é necessária a reparação, pelo que o culpado se vê submetido a novas provas em que pode, sempre por sua livre vontade, praticar o bem, reparando o mal que haja feito. (8)
Nem sempre uma vida penosa é uma expiação, frequentemente, é uma prova escolhida pelo Espírito, que tem por objetivo avançar mais rapidamente, se a suportar com coragem. A riqueza é também uma prova, porém, mais perigosa que a da miséria, pelas tentações que oferece e os abusos que provoca. Relatos dos próprios Espíritos que a viveram mostram que diante da tentação da riqueza dificilmente consegue-se sair vitorioso.
A diferença de posições sociais seria a maior das injustiças, quando não resulta da conduta da vida atual, se ela não devesse ter uma compensação. É a convicção que se adquire desta verdade pelo Espiritismo, que dá a força para suportar as vicissitudes da vida e aceitar a sorte sem invejar a dos outros.
NOTAS
(1) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro terceiro, itens 614 e 630.
(2) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro terceiro, item 621.
(3) Podemos dizer que o homem segue o bom caminho quando se deixa conduzir pela lei natural ou lei de Deus escrita na sua consciência; e o do mal quando egoisticamente pensa em si mesmo desprezando o que lhe diz a consciência. (Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro terceiro, item 621 e 630.)
(4) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro primeiro, item 23 e O que é o Espiritismo, cap. II, Dos Espíritos, item 14 e nota de A. Kardec.
(5) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro segundo, Progressão dos Espíritos, item 115.
(6) Ver Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, cap, III.
(7) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro quarto, item 1009, Paulo, o apóstolo.
(8) Ver Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo, XXVII - Pedi e obtereis - item 21.
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