domingo, 14 de abril de 2013

O EGOÍSMO


O EGOÍSMO
Estudo com base in O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, Perfeição Moral,
Capítulo XII, itens de 913 à 917.
Obra codificada por Allan Kardec
Pesquisa: Elio Mollo
Em 12/04/2013


Entre os vícios, que podemos considerar radical é o egoísmo. Dele deriva todo o mal. Se estudarmos todos os vícios veremos que no fundo de todos existe egoísmo. Por mais que lutemos contra eles não chegaremos a extirpá-los enquanto não os atacarmos pela raiz, enquanto não houvermos destruído a causa. Então, que todos os nossos esforços tendam para esse fim, porque nele se encontra a verdadeira chaga da sociedade. Quem nesta vida quiser se aproximar da perfeição moral deve extirpar do seu coração todo sentimento de egoísmo, porque é incompatível com a justiça, o amor e a caridade e ele neutraliza todas as outras qualidades. 

Estando o egoísmo fundado no interesse pessoal, parece difícil extirpá-lo inteiramente do coração do homem, contudo, à medida que os homens se esclarecem sobre as coisas espirituais, darão menos valor às materiais, assim, é necessário reformar as instituições humanas, que o entretêm e o excitam. Isso depende da educação.

Todos os Espíritos mais ou menos bons, quando encarnados, constituem a espécie humana. A origem do mal sobre a Terra resulta da imperfeição dos Espíritos que aí estão encarnados. A predominância do mal decorre de que, sendo a Terra um mundo inferior, a maioria dos Espíritos que a habitam são, eles mesmos, inferiores, ou progrediram pouco (1). Porém, se entendermos que o egoísmo é inerente à espécie humana e consequentemente o nosso mal maior, isso é engano, na verdade, ele se liga à inferioridade dos Espíritos encarnados na Terra e não à Humanidade em si mesma. Ora, os Espíritos se purificando através das encarnações sucessivas, irão perdendo o egoísmo assim como perdem as outras impurezas.

Quanto maior é o egoísmo, mais horrível a situação se torna, sendo assim, é necessário que ele produza muito mal para fazer compreender a necessidade de sua extirpação.

Quando os homens tiverem se livrado do egoísmo que os domina viverão como irmãos. Não fazendo mais o mal se ajudarão reciprocamente pelo sentimento fraterno de solidariedade. Então o forte será o apoio e não o opressor do fraco e não mais se verá homens desprovidos do necessário, porque todos praticarão a lei da justiça.

A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um (2) é esses direitos são determinados por duas coisas: a lei humana e a lei natural. Como os homens fizeram leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram direitos que podem variar com o progresso. Se observamos atentamente as nossas leis de hoje, sem serem perfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Se esses direitos já superados nos parecem hoje monstruosos, naquela época, pareciam justos e naturais. O direito dos homens, portanto, nem sempre é conforme à justiça. Só regula algumas relações sociais, enquanto na vida privada há uma infinidade de atos que são de competência exclusiva do tribunal da consciência. (3) Afinal a Lei (Natural) de Deus está escrita na consciência de cada um. (4)

Em todas as épocas houveram homens com a missão de nos fazer lembrar dessa Lei. São Espíritos superiores, cujo objetivo principal, é o de fazer progredir a Humanidade (5) para que o reino do bem apareça em sua plenitude, fazendo que o mal fruto do egoísmo desapareça.

De todas as imperfeições humanas, a mais difícil de desenraizar é o egoísmo, porque se liga à influência da matéria, da qual o homem, ainda muito próximo da sua origem, não pode libertar-se. Tudo concorre para entreter essa influência; suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá com a predominância da vida moral sobre a vida material, e sobretudo com a compreensão que o Espiritismo nos oferece quanto ao nosso estado futuro real e não desfigurado pelas ficções alegóricas. O Espiritismo bem compreendido, quando estiver identificado com os costumes e as crenças, transformará os hábitos, as usanças e as relações sociais. O egoísmo se funda na importância da personalidade, ora, o Espiritismo bem compreendido faz ver as coisas de tão alto que o sentimento da personalidade desaparece de alguma forma perante a imensidade. Ao destruir essa importância, ou pelo menos ao fazer ver a personalidade naquilo que de fato ela é, ele combate necessariamente o egoísmo. 

É o contato que o homem experimenta do egoísmo dos outros que o torna geralmente egoísta, porque sente a necessidade de se pôr na defensiva. Vendo que os outros pensam em si mesmos e não nele, é levado a ocupar-se de si mesmo mais que dos outros. Que o princípio da caridade e da fraternidade seja a base das instituições sociais, das relações legais de povo para povo e de homem para homem, e este pensará menos em si mesmo quando vir que os outros o fazem; sofrerá, assim, a influência moralizadora do exemplo e do contato. Em face do atual desdobramento do egoísmo é necessária uma verdadeira virtude para abdicar da própria personalidade em proveito dos outros, que em geral não o reconhecem. Não há ninguém que não possa fazer o bem: somente o egoísta não encontra jamais a ocasião de praticá-lo. É suficiente estar em relação com outros homens para se poder fazer o bem, e cada dia da vida oferece essa possibilidade a quem não estiver cego pelo egoísmo; porque fazer o bem não é apenas ser caridoso, mas ser útil na medida do possível, sempre que o auxílio se faça necessário. (6)

Louváveis esforços são feitos, sem dúvida, para ajudar a Humanidade a avançar; encorajam-se, estimulam-se, honram-se os bons sentimentos, hoje mais do que em qualquer outra época, e não obstante o verme devorador do egoísmo continua a ser a praga social. É um verdadeiro mal que se espalha por todo o mundo e do qual cada um é mais ou menos vítima. É necessário combatê-lo, portanto, como se combate uma epidemia. Para isso, deve-se proceder à maneira dos médicos: remontar à causa. Que se pesquisem em toda a estrutura da organização social, desde a família até aos povos, da choupana ao palácio, todas as causas, as influências patentes ou ocultas que excitam, entretêm e desenvolvem o sentimento do egoísmo. Uma vez conhecidas as causas, o remédio se apresentará por si mesmo; só restará então combatê-las, senão a todas ao mesmo tempo, pelo menos por parte, e pouco a pouco o veneno será extirpado. A cura poderá ser prolongada porque as causas são numerosas, mas não se chegará a esse ponto se não se atacar o mal pela raiz, ou seja, com a educação. Não essa educação que tende a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem. A educação, se for bem compreendida, será a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres como se conhece a de manejar as inteligências, poder-se-á endireitá-los, da mesma maneira como se endireitam as plantas novas (7). Essa arte, porém, requer muito tato, muita experiência e uma profunda observação. É um grave erro acreditar que basta ter a ciência para aplicá-la de maneira proveitosa. Quem quer que observe, desde o instante do seu nascimento, o filho do rico como o do pobre, notando todas as influências perniciosas que agem sobre ele em consequência da fraqueza, da incúria e da ignorância dos que o dirigem, e como em geral os meios empregados para moralizar fracassam, não pode admirar-se de encontrar no mundo tanta confusão. Que se faça pela moral tanto quanto se faz pela inteligência e ver-se-á que há naturezas refratárias, há também, em maior número do que se pensa, as que requerem apenas boa cultura para darem bons frutos. (8). 

O homem quer ser feliz e esse sentimento está na sua própria natureza; eis por que ele trabalha sem cessar para melhorar a sua situação na Terra e procura as causas de seus males para os remediar. Quando compreender bem que o egoísmo é uma dessas causas, aquela que engendra o orgulho, a ambição, a cupidez, a inveja, o ódio, o ciúme, dos quais a todo momento ele é vítima, que leva a perturbação a todas as relações sociais, provoca as dissensões, destrói a confiança, obrigando-o a se manter constantemente numa atitude de defesa em face ao seu vizinho, e que, enfim, do amigo faz um inimigo, então ele compreenderá também que esse vício é incompatível com a sua própria felicidade. Acrescentaremos que é incompatível com a sua própria segurança. Dessa maneira, quanto mais sofrer mais sentirá a necessidade de o combater, como combate a peste, os animais daninhos e todos os outros flagelos. A isso será solicitado pelo seu próprio interesse. (9).

O egoísmo é a fonte de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes. Destruir um e desenvolver a outra deve ser alvo de todos os esforços do homem, se ele deseja assegurar a sua felicidade neste mundo, tanto quanto no futuro.

NOTAS:

(1) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, item 872 e O que é o Espiritismo, cap. III, O Homem Durante a Vida Terrestre, item 131
(2) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, item 875.
(3) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, item 875a.
(4) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, item 621.
(5) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, item 622.
(6) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, item 643.
(7) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro segundo, item 383 e Revista Espírita de fevereiro de 1864, Primeiras Lições de Moral da Infância.
(8) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, item 872.
(9) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, item 874.

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