terça-feira, 23 de abril de 2013

PARA OS ESPÍRITOS O PENSAMENTO É TUDO


PARA OS ESPÍRITOS O PENSAMENTO É TUDO
Estudo com base numa comunicação dos Espíritos Erasto e Timóteo
in O Livro dos Médiuns, Cap. XIX, Papel do Médium nas Comunicações, item 225.
Pesquisa: Elio Mollo


Os Espíritos não têm necessidades de vestir os seus pensamentos com palavras. Os seres encarnados pelo contrário, só podem comunicar-se pelo pensamento traduzido em palavras. Contudo, o ser encarnado põe o seu corpo, como instrumento de comunicação por palavras, à disposição, o que um Espírito errante não tem condição de fazê-lo. Assim, podemos perceber a importância do papel dos médiuns nas comunicações espíritas.

Os Espíritos gastam algum tempo para percorrer o espaço, porém, rápido como o pensamento. Quando o pensamento está em algum lugar, a alma está também, uma vez que é a alma que pensa. O pensamento é um atributo da alma. Para os Espíritos o pensamento é tudo. (1)

Os Espíritos agindo sobre os fluidos espirituais, não os manipulam como os homens manipulam os gases, mas com a ajuda do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade são para os Espíritos o que a mão é para o homem. Pelo pensamento, eles imprimem a esses fluidos tal ou tal direção; aglomeram-nos, combinam-nos ou os dispersam. É com esses fluidos que eles formam a grande oficina ou o laboratório da vida espiritual. (2)

A linguagem dos Espíritos é o verdadeiro critério pelo qual podemos julgá-los, pois, sendo a linguagem a expressão do pensamento, eles tem sempre um reflexo das qualidades boas ou más que possuem em sua capacidade evolutiva, sendo assim, o primeiro sentimento que os evocadores e os médiuns devem ter em relação a eles é o da prudência (3), pois os Espíritos, não sendo outros senão as almas dos homens, não possuem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência. O saber dos Espíritos esta limitado ao grau de seu adiantamento, e a suas opiniões tem unicamente o valor de uma opinião pessoal. Essa verdade, reconhecida preservará os evocadores e os médiuns da grande dificuldades de crerem em suas infalibilidades. Inclusive, é útil e sensato não formular teorias prematuras sobre o dizer de um só ou de alguns Espíritos. (4)

Salvo algumas poucas exceções, o médium transmite o pensamento dos Espíritos pelos meios mecânicos de que dispõe, e a expressão desse pensamento pode e deve, o mais frequentemente, ressentir-se da imperfeição desses meios.

Qualquer que seja a natureza dos médiuns escreventes, mecânicos, semi-mecânicos ou simplesmente intuitivos, os processos de comunicação dos Espíritos não variam na essência. As comunicações com os Espíritos encarnados, diretamente, ou com os Espíritos propriamente ditos, se realizam unicamente pela irradiação do pensamento. Os pensamentos não necessitam das vestes da palavra para que os Espíritos os compreendam. Todos os Espíritos percebem o pensamento transmitido, pelo simples fato de ele ter sido dirigido a alguém, um grupo, ou de uma maneira geral e cada um o entenderá na razão do grau de suas faculdades intelectuais. Quer dizer que determinado pensamento pode ser compreendido por estes e aqueles, segundo o respectivo adiantamento, enquanto para outros o mesmo pensamento, não despertará nenhuma lembrança nenhum conhecimento no fundo do seu coração ou do seu cérebro não será perceptível. No caso de ser um Espírito encarnado que serve de médium, este processo é o método mais apropriado para transmitir o pensamento de um Espírito para outros encarnados, mesmo que o médium não o compreenda.

Se um Espírito tiver a necessidade de usar de um médium para comunicar o seu pensamento por palavras, ele irá usar um ser terreno (espirito encarnado), porque este pode ceder o seu corpo como um instrumento, colocando-se a sua disposição, o que um Espírito errante não tem condição de fazê-lo. Eis aqui um ponto importante do papel dos médiuns nas comunicações espíritas.

Assim, quando os Espíritos superiores encontram num médium o cérebro cheio de conhecimentos adquiridos na sua vida atual, e o seu Espírito rico de conhecimentos anteriores, latentes, próprios a facilitar as comunicações, eles preferem servir-se dele, porque então o fenômeno da comunicação será muito mais fácil do que através de um médium da inteligência limitada, e cujos conhecimentos anteriores fossem insuficientes.

Para compreender melhor tentaremos usar algumas explicações que nos parecem ser mais claras e precisas.

Com um médium cuja inteligência atual ou anterior esteja desenvolvida, o pensamento do Espírito se comunica instantaneamente, de Espírito a Espírito, graças a uma faculdade peculiar à essência mesma do Espírito. Nesse caso o Espírito encontra no cérebro do médium os elementos apropriados à roupagem de palavras correspondentes a esse pensamento, quer o médium seja intuitivo, semi-mecãnico ou mecânico. É por isso que apesar de diversos Espíritos se comunicarem através do médium, os ditados por eles recebidos trazem sempre o cunho pessoal do médium, quanto à forma e ao estilo. Porque embora o pensamento não seja absolutamente dele, o assunto não se enquadre em suas preocupações habituais, se bem o que os Espíritos desejam dizer não provenha do médium, ele não deixa de exercer sua influência na forma, dando-lhe as qualidades e propriedades características da sua individualidade. É precisamente como quando olhamos diversos lugares através de binóculos coloridos, de lentes brancas, verdes ou azuis, e embora os lugares e objetos vistos pertençam ao mesmo trecho, mas tenham aspectos inteiramente diferentes, aparecem sempre com a coloração dada pelas lentes.

Melhor ainda: comparemos os médiuns a esses botijões de vidros com líquidos coloridos e transparentes que se veem nos laboratórios farmacêuticos. Pois bem, os Espíritos são como focos luminosos voltados para certos trechos de paisagens morais, filosóficas, psicológicas, iluminando-os através de médiuns azuis, verdes ou vermelhos, de maneira que os nossos raios luminosos tomam essas colorações, se bem o que os Espíritos desejam dizer não provenha dele, ou seja, obrigados a atravessar vidros mais ou menos bem lapidados, mais ou menos transparentes, o que vale dizer médiuns mais ou menos apropriados, esses raios só atingem os objetos que os Espíritos desejam iluminar tomando a coloração ou a forma própria e particular desses médiuns.

Para terminar oferecemos mais uma comparação: os Espíritos são como os compositores de música que tendo composto ou querendo improvisar uma ária só dispõem de um destes instrumentos; um piano, um violino, uma flauta, um fagote ou um apito comum. Não há dúvida que com o piano, com a flauta ou com o violino eles executarão a ária de maneira satisfatória. Embora os sons do piano, do fagote ou da flauta sejam essencialmente diferentes entre si, a composição do Espírito será sempre a mesma nas diversas variações de sons. Mas se ele dispõe apenas de um apito comum, ou mesmo de um sifão de esguicho, ei-lo em dificuldade.

Quando os Espíritos são obrigados a servir-se de médiuns pouco adiantados o trabalho deles se torna mais demorado e penoso, pois eles tem de recorrer a formas imperfeitas de expressão, o que é para eles um embaraço. São então forçados a decompor os pensamentos e ditar palavra por palavra, letra por letra, o que é fatigante e aborrecido, constituindo verdadeiro entrave à presteza e ao bom desenvolvimento das manifestações espíritas.

É por isso que eles se sentem felizes quando encontram médiuns bem apropriados, suficientemente aparelhados, munidos de elementos mentais que podem ser prontamente utilizados, bons instrumentos, numa palavra, porque então o perispírito dos Espíritos, agindo sobre o perispírito daquele que mediunizam, só tem de lhe impulsionar a mão que serve de porta caneta ou porta lápis. Com os médiuns mal aparelhados eles, para se comunicarem são obrigados a realizar um trabalho por meio de pancadas, ou seja, indicando letra por letra, palavra por palavra, para formar as frases que traduzem o pensamento a ser transmitido. Essa a razão dos Espíritos preferirem as classes esclarecidas e instruídas, para a divulgação do Espiritismo e o desenvolvimento da mediunidade escrevente, embora seja nessas classes que se encontram os indivíduos mais incrédulos, mais rebeldes e mais destituídos de moralidade. E é também por isso que, se deixam aos Espíritos brincalhões e pouco adiantados a transmissão das comunicações tangíveis por meios de pancadas e os fenômenos de transporte, é porque os homens são pouco sérios preferindo os fenômenos que lhes tocam os olhos e os ouvidos aos de natureza puramente espiritual, puramente psicológica.

Quando os Espíritos desejam ditar mensagens espontâneas agem sobre o cérebro, nos arquivos do médium, e juntam o material deles com os elementos que o médium fornece. E tudo isso sem que ele o perceba. É como se os Espíritos tirassem da bolsa do médium o seu dinheiro e dispuséssem a moedas, para somá-las. Na ordem que lhes parecer melhor. (5)

Mas quando o próprio médium quer interrogar os Espíritos, melhor será que antes reflita seriamente a fim de fazer as perguntas de maneira metódica, facilitando assim o trabalho deles para responder. Porque o cérebro do médium, como acontece frequentemente, pode estar numa desordem dificílima de organizar, sendo para os Espíritos muito mais difícil trabalhar com o labirinto do pensamento do médium.

Quando as perguntas devem ser feitas por terceiro, é bom e conveniente que sejam antes comunicadas ao médium para que ele se identifique com o Espírito do interrogante, impregnando-se, por assim dizer, das suas intenções. Porque então os Espíritos terão muito mais facilidades para responder, graças à afinidade existente entre o perispírito do Espírito e o do médium que servirá de intérprete (6).

Certamente, os Espíritos podem tratar de Matemáticas através de um médium que as desconheça por completo, mas quase sempre o Espírito do médium possui esse conhecimento em estado latente. Isso quer dizer que se trata de um conhecimento pessoal do ser fluídico e não do ser encarnado, porque o seu corpo atual é um instrumento inadequado ou rebelde a essa forma de conhecimento. O mesmo se dá com a Astronomia, a Poesia, a Medicina e as línguas diversas, e ainda com todos os demais conhecimentos peculiares à espécie humana. Por fim, os Espíritos, tem ainda o meio dificultoso de elaboração, aplicado aos médiuns completamente estranhos ao assunto tratado, que é o de reunião das letras e das palavras como se faz em tipografia (7).

Finalizando, os Espíritos não têm necessidades de vestir os seus pensamentos com palavras. Eles o percebem e os transmitem naturalmente entre si. Os seres encarnados pelo contrário, só podem comunicar-se pelo pensamento traduzido em palavras. Enquanto a letra, a palavra, o substantivo, o verbo, a frase, enfim, são necessários para percepção dos seres encarnados, mesmo mental, nenhuma forma visível ou tangível é necessária para os Espíritos. (8).

Esta análise do papel dos médiuns e dos processos, pelos quais se comunicam é tão clara quanto lógica. Dela decorre o princípio de que o Espírito não se serve das ideias do médium, mas dos materiais necessários para exprimir os seus próprios pensamentos, existentes no cérebro do médium, e de que, quanto mais rico for cérebro do médium, mais fácil se torna a comunicação.

Os que exigem esses fenômenos para se convencerem, devem antes tratar de estudar a teoria, só assim, poderão saber em que condições especiais eles se produzem. (9)

NOTAS

(1) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Escala Espírita, itens 89, 89a e 100.

(2) Ver Allan Kardec, Revista Espírita junho 1868, Fotografia do Pensamento.

(3) Ver Allan Kardec, Revista Espírita, setembro 1859, Procedimentos para Afastar os Maus Espíritos.

(4) Ver Allan Kardec, Obras Póstumas, 2ª. Parte, Minha primeira iniciação no Espiritismo.

(5) Note-se a precisão deste exemplo: o médium possui os elementos materiais da comunicação, que no caso são as moedas; o Espírito os toma e utiliza segundo as suas ideias para exprimir o seu pensamento. Os exemplos anteriores são também de extrema clareza. Mas devemos ressaltar neste capitulo o perfeito esclarecimento das relações entre os Espíritos e os médiuns. Graças a esse esclarecimento, compreende-se a função médiuns como de verdadeiro intérprete espiritual e os problemas tantas vezes levantados pela crítica, como o da marca pessoal do médium nas mensagens, o da trivialidade da maioria destas, o da dificuldade na obtenção de comunicações de teor elevado no campo das Ciências ou da Filosofia, e outros que tais ficam perfeitamente esclarecidos. Vê-se que os críticos do Espiritismo, em sua esmagadora maioria, nada conhecem de todos esses problemas, expostos de maneira precisa e didática há mais de um século. (Nota de J. Herculano Pires)

(6) Observe-se aqui a origem de uma das maiores dificuldades encontradas pela pesquisa psíquica. A lei de afinidade fluídica é desconsiderada pelos pesquisadores, em nome da desconfiança "necessária" ao rigor científico. Felizmente, na atualidade, os estudos de Parapsicologia sobre as relações entre o experimentador e o sensitivo modificaram muito essa situação, dando razão à pesquisa espírita. Compreende-se, afinal, depois de muitas torturas físicas e morais impostas aos médiuns, que o problema exige condições psicológicas favoráveis.  (Nota de J. Herculano Pires)

(7) Note-se a diferença entre ser fluídico e ser encarnado. O primeiro, como Espírito, possui conhecimentos e predicados que podem não se refletir no segundo. O ser encarnado é um condicionamento especial do ser fluídico para uma experiência terrena, com vistas aos objetivos dessa experiência. A personalidade total do homem está no Espírito e não na conjugação espírito corpo.  que constitui a sua forma de manifestação temporária e específica na Terra. (Nota de J. Herculano Pires)

(8) A expressão vestir os pensamentos com palavras corresponde precisamente ao princípio espírita da encarnação e da materialização. O pensamento, segundo a Lógica, é uma entidade abstraia, que existe realmente, mas como objeto lógico.  Essa entidade se manifesta no plano material através dos elementos convencionados para traduzir ideias: a palavra, a letra, os sinais da mímica, telegráficos e outros. É a esses signos convencionais que os Espíritos recorrem para nos transmitir, através dos médiuns, os seus pensamentos, que então se encarnam ou se materializam na palavra, na escrita, na tiptologia. Esse problema lógico, até há pouco encarado como de simples abstração mental, passou para o plano da realidade científica através das pesquisas parapsicológicas sobre telepatia. O pensamento não é hoje apenas um objeto lógico, sem realidade própria, uma espécie de epifenômeno produzido pelo cérebro (segregado pelo cérebro como o fígado segrega a bílis, segundo a conhecida expressão materialista), mas um objeto dotado de realidade cientificamente constatada e cuja natureza extrafísica (segundo Rhine e sua escola)  abre as portas da Ciência para um novo mundo, evidentemente o espiritual. Na Física moderna o problema é colocado em termos de antimatéria, mas também já foi atingido e o físico nuclear Arthur Compton chegou mesmo a afirmar que "por trás da energia", a que as pesquisas reduziram a própria matéria, existe algo mais, e que esse algo mais "parece ser pensamento".  Vemos assim a importância dessas explicações dos espíritos de Erasto e Timóteo, dadas há mais de um século e sistematicamente desprezadas e ridicularizadas pelos que negam e combatem o Espiritismo. (Nota de J. Herculano Pires)

(9) Porque os Espíritos se referiram ao cérebro e não à mente, nessas explicações, Kardec segue a mesma linha nas suas observações? Porque estão explicando o processo de manifestação, que implica a materialização do pensamento. E claro que os elementos ou materiais que aludem são abstratos, são conceitos, mas em forma palavras. Atente-se para a explicação final de que as palavras nos são necessárias pá a percepção do pensamento, mesmo mental, e será fácil compreender que eles trata das funções mentais do cérebro, que é o instrumento material da mente. De fato, (experiências telepáticas ficou demonstrado que a transmissão do pensamento se por meio de palavras, em virtude do nosso hábito de pensar em palavras. (Nota de J. Herculano Pires).

segunda-feira, 22 de abril de 2013

A OBSESSÃO


A OBSESSÃO
Estudo com base in O Livro dos Médiuns,
Cap.XXIII, Da obsessão
Obra codificada por Allan Kardec
Pesquisa: Elio Mollo
Em 22/04/2013
Atualizado em 13/05/2013


Variedades de obsessões:

·        obsessão simples,
·        fascinação
·        subjugação
·        possessão

A obsessão simples verifica-se quando um Espírito malfazejo se impõe a um médium, intromete-se contra a sua vontade nas comunicações que ele recebe, o impede de se comunicar com outros Espíritos e substitui os que são evocados.

A fascinação trata-se de uma ilusão criada diretamente pelo Espírito no pensamento do médium e que paralisa de certa maneira a sua capacidade de julgar as comunicações.

A subjugação é um envolvimento que produz a paralisação da vontade da vítima, fazendo-a agir malgrado seu. Esta se encontra, numa palavra, sob um verdadeiro jugo.

Na possessão (1), em lugar de agir exteriormente, o Espírito livre se substitui, por assim dizer, ao Espírito encarnado; faz eleição de domicílio em seu corpo sem que, contudo este o deixe definitivamente, o que não pode ter lugar senão com a morte. A possessão é, pois, sempre temporária e intermitente porque um Espírito desencarnado não pode tomar definitivamente o lugar e dignidade de um Espírito encarnado, atentando que a união molecular do perispírito e do corpo só pode se operar no momento da concepção.

A obsessão e a possessão são mais frequentemente individuais, mas, por vezes, são epidêmicas. Quando uma nuvem de maus Espíritos se abate sobre uma localidade e como quando uma tropa de inimigos vem invadi-la. Neste caso, o número de indivíduos atingidos pode ser considerável. Atente-se ao fato de que se pode haver possessão por um espírito bom, então, fica claro que nem toda possessão é uma obsessão (2).

Reconhece-se a obsessão num médium pelas seguintes características:

1) Insistência de um Espírito em comunicar-se queira ou não o médium, pela escrita, pela audição, pela tiptologia etc., opondo-se a que outros Espíritos o façam.

2) Ilusão que, não obstante a inteligência do médium, o impede de reconhecer a falsidade e o ridículo das comunicações recebidas.

3) Crença na infalibilidade e na identidade absoluta dos Espíritos que se comunicam e que, sob nomes respeitáveis e venerados, dizem falsidades ou absurdos.

4) Aceitação pelo médium dos elogios que lhe fazem os Espíritos que se comunicam por seu intermédio.

5) Disposição para se afastar das pessoas que podem esclarecê-lo.

6) Levar a mal a crítica das comunicações que recebe.

7) Necessidade incessante e inoportuna de escrever.

8) Qualquer forma de constrangimento físico, dominando-lhe a vontade e forçando-o a agir ou falar sem querer.

9) Ruídos e transtornos contínuos em redor do médium, causados por ele ou tendo-o por alvo.

De todas as disposições morais, a que maior entrada oferece aos Espíritos imperfeitos é o orgulho. Este é para os médiuns um escolho tanto mais perigoso quanto menos o reconhecem. É o orgulho que lhes dá a crença cega na superioridade dos Espíritos que a eles se ligam porque se vangloriam de certos nomes que eles lhes impõem. (3)

Antes de esperar dominar o mau Espírito, é preciso dominar-se a si mesmo. A prece fervorosa e os esforços sérios por se melhorar são os únicos meios de afastar os maus Espíritos, que reconhecem como senhores aqueles que praticam o bem. Por vezes, entretanto, acontece que a subjugação chega a ponto de paralisar a vontade do obsedado e que deste não se pode esperar nenhum concurso valioso. É sobretudo então que a intervenção de um terceiro se torna necessária, quer pela prece, quer pela ação magnética. (4)

Como dissemos, a prece é um poderoso recurso, por ela chama-se a si a assistência de Deus e dos bons Espíritos, aumenta-se a própria força; mas conhece-se o preceito: Ajuda-te e o céu te ajudará; Deus quer muito nos assistir, mas com a condição de que façamos, de nossa parte, o que é necessário. (5)

NOTAS:

(1) Na Revista Espirita de outubro de 1858 Allan Kardec escreveu sobre a possessão: “Para nós, a possessão seria um sinônimo de subjugação. Se não adotamos esse termo, foi por dois motivos: primeiro, porque implica a crença em seres criados e votados perpetuamente ao mal, enquanto apenas existem seres mais ou menos imperfeitos e todos podem melhorar; segundo, porque pressupõe igualmente a ideia de tomada de posse do corpo por um Espírito estranho, uma espécie de coabitação, quando só há constrangimento.”

Em 1861 quando Allan Kardec lançou o livro dos médiuns, o codificador do Espiritismo se exprimiria assim sobre a possessão: para nós, não existem possessos, no sentido vulgar do termo, mas apenas obsedados, subjugados e fascinados, mas, não demoraria muito tempo, foi na Revista Espirita de dezembro de 1863, Um Caso de possessão (Senhorita Julia) (4), quando narrou o caso da sonâmbula Sra. A, que de repente mudou de voz tomando atitudes absolutamente masculinas,  isso fez com que Kardec muda-se de opinião em relação a possessão, levando-o, logo no primeiro parágrafo desse artigo a escrever de maneira contundente o seguinte: “Temos dito que não havia possessos, no sentido vulgar do vocábulo, mas subjugados. Voltamos a esta asserção absoluta, porque agora nos é demonstrado que pode haver verdadeira possessão, isto é, substituição, posto que parcial, de um Espírito errante a um encarnado.”

(2) Ler mais sobre a obsessão e a possessão no livro A Gênese (A. Kardec), cap. XIV, itens de 47 à 49 (colaboração do escritor espírita Paulo Neto para esta nota).

(3) Ver Allan Kardec), Revista Espírita de fevereiro de 1859, Escolho dos Médiuns.

(4) Ver Allan Kardec), Revista Espírita de dezembro 1862, Causas da Obsessão e Meios de Combate.

(5) Ver Allan Kardec), Revista Espírita de setembro 1859, Processos para Afastar os Maus Espíritos .

* * *

PAPEL DO MÉDIUM NAS COMUNICAÇÕES


PAPEL DO MÉDIUM NAS COMUNICAÇÕES
Estudo com base in O Livro dos Médiuns,
Segunda parte, Cap. XIX, item 223.
Obra codificada por Allan Kardec.
Pesquisa: Elio Mollo
Em 22/04/2013


No momento em que exerce a sua faculdade o médium, às vezes, se acha num estado de crise mais ou menos definido. É isso que o fadiga e é por isso que necessita de repouso. Mas, na maioria das vezes, seu estado não difere muito do normal, sobretudo nos médiuns escreventes.

As comunicações escritas ou verbais podem ser também do próprio Espírito do médium, pois a alma do médium pode comunicar-se como qualquer outra. Se ela goza de um certo grau de liberdade, recobra então as suas qualidades de Espírito. A prova disso pode ser observada na visita das almas de pessoas vivas que se comunicam, muitas vezes sem serem chamadas, isso acontece. porque entre os Espíritos evocados há os que estão encarnados na Terra (1). Nesses casos eles falam como Espíritos e não como homens. Assim, o médium pode fazer o mesmo. (2)

Esta explicação pode parecer confirmar a opinião dos que acreditam que todas as comunicações são do Espírito do médium e não de outro Espírito, só que eles estão enganados por entenderem que tudo é assim: porque é certo que o Espírito do médium pode agir por si, mas isso não é razão para que outros Espíritos não pudessem agir também por seu intermédio (3).

Pode-se distinguir se o Espírito que responde é o médium ou se é outro Espírito pela natureza das comunicações. Estudando-se as circunstâncias e a linguagem a distinção poderá ser observada. É sobretudo no estado sonambúlico ou de êxtase que o Espírito do médium se manifesta, pois então ele se acha mais livre. No estado normal é mais difícil. Há respostas, aliás, que não lhe podem ser atribuídas. Por isso é necessário observar e estudar atentamente, pois, quando uma pessoa nos fala, facilmente distinguimos o que é dela e o de que ela apenas se faz eco. Acontece o mesmo com os médiuns.

Desde que o Espírito do médium pode adquirir, em existências anteriores, conhecimentos que esqueceu no seu corpo atual, mas dos quais se lembra como Espírito, ele pode tirar do fundo de si mesmo as ideias que parecem ultrapassar o alcance de sua instrução, isso acontece muitas vezes nos casos de crise sonambúlica ou extática, mas ainda assim existem circunstâncias que não permitem a dúvida, por isso, ainda mais uma vez sugerimos um estudo atento sobre estes casos.

As comunicações do Espírito do médium nem sempre são inferiores às que pudessem ser dadas por outros Espíritos, pois o Espírito comunicante pode ser de uma ordem inferior à do médium e nesse caso falará com menos sensatez. Vê-se isso no sonambulismo, pois sendo o Espírito do sonâmbulo o que frequentemente se manifesta, no entanto diz algumas vezes coisas muito boas.

O Espírito comunicante transmite tendo o Espírito do médium como intérprete, isto é, porque o Espírito do médium está ligado ao corpo que serve para a comunicação e porque é necessária essa cadeia entre o médium e o Espírito comunicante, como é necessário um fio elétrico para transmitir uma notícia à distância, e na ponta do fio uma pessoa inteligente que a receba e comunique (4).

O Espírito do médium pode influir nas comunicações de outros Espíritos em que ele deve transmitir, pois se não há afinidade entre eles, o Espírito do médium pode alterar as respostas, adaptando-as às suas próprias ideias e às suas tendências. Mas não exerce influência sobre o Espírito comunicante. É apenas um mau intérprete.

É essa a causa da preferência dos Espíritos por certos médiuns, procuram o intérprete que melhor simpatize com eles e transmita com maior exatidão o seu pensamento. Se não houver simpatia entre eles, o Espírito do médium será um antagonista que lhe oferecerá resistência, tornando-se um intérprete de má vontade e quase sempre infiel. Acontece o mesmo, quando as ideias de um sábio são transmitidas por um insensato ou uma pessoa de má fé.

Mesmo quando se trata de médiuns mecânicos é preciso compreender bem a função do médium. Há uma lei que deve ser bem observada, é a de que, para produzir o movimento de um corpo inerte o Espírito necessita do fluido animalizado do médium, de que se serve, por exemplo, para animar momentaneamente a mesa, fazendo a obedecer à sua vontade. Pois bem, para uma comunicação inteligente ele necessita também de um intermediário inteligente, e esse intermediário é o Espírito do médium, ou seja, da mesma maneira que às mesas falantes, pranchetas e as cestas, em que, o Espírito pode dar uma vida factícia momentânea a um corpo inerte, mas não à inteligência. Assim, se um corpo inerte jamais teve inteligência, é pois, o Espírito do médium que recebe o pensamento sem o perceber e o transmite pouco a pouco, com a ajuda de diversos intermediários (5).

Dessas explicações resulta que o Espírito do médium é passivo desde que não mistura suas próprias ideias com as do Espírito comunicante, mas nunca se anula por completo. Seu concurso é indispensável como intermediário, mesmo quando se trata dos chamados médiuns mecânicos (6).

Sem dúvida, há maior garantia de independência no médium mecânico do que no médium intuitivo e para algumas comunicações é preferível o médium mecânico. Mas, quando conhecemos as faculdades de um médium intuitivo, isso se torna indiferente, segundo as circunstâncias, ou seja, certas comunicações exigem menos precisão.

Entre os diferentes sistemas propostos para explicar os fenômenos espíritas há um que pretende estar a verdadeira mediunidade nos corpos inertes, por exemplo, na cesta ou na caixa de papelão que servem de instrumento, assim, o Espírito comunicante se identificaria com o objeto e o tornaria não somente vivo, mas também inteligente, do que resultou a designação de médiuns inertes para os objetos. Quanto a isso, só se tem a dizer o seguinte: se o Espírito transmitisse inteligência à caixa e lhe desse vida, ela escreveria sozinha, sem o concurso do médium. Seria estranho que o homem inteligente virasse máquina e um objeto inerte se tornasse inteligente. É um dos numerosos sistemas surgidos de ideias preconcebidas e que vão caindo diante da experiência e da observação.

Um fenômeno bem conhecido é o das mesas girantes, cestas, etc., em que esses corpos inertes assim animados, parecem ter vida e até mesmo inteligência e do qual, também, parecem exprimirem, nos seus movimentos, a cólera ou a afeição. Pode-se explicar isso apagando essa impressão, assim: Quando um homem colérico sacode uma bengala não é esta que se acha encolerizada, nem mesmo a mão que a segura, mas o pensamento que dirige a mão. As mesas e as cestas não são mais inteligentes do que a bengala. Não têm nenhum sentimento inteligente, mas obedecem a uma inteligência. Numa palavra: não é o Espírito que se transforma em cesta, nem mesmo escolhe a cesta para nela se abrigar.

Designando esses objetos como uma variedade de médiuns inertes, é simplesmente uma questão de palavras que pouco importa, desde que haja um entendimento racional. (7) Contudo, por sensatez, achamos por bem, persistir em considerar as pessoas como os verdadeiros médiuns, que podem ser ativos ou passivos, segundo a sua natureza e a sua aptidão; chamamos, querendo-se, os instrumentos de médiuns inertes, é uma distinção talvez útil, mas se estaria em erro atribuindo-lhe o papel e as propriedades de seres animados nas comunicações inteligentes; dizemos inteligentes, porque é necessário ainda fazer a distinção de certas manifestações espontâneas puramente físicas. (8)

Os Espíritos só têm uma linguagem, a do pensamento (9), assim, o Espírito do médium e todos podem compreender essa língua, tanto os homens como os Espíritos. Ao dirigir-se ao Espírito encarnado do médium, o Espírito comunicante não fala em francês nem em inglês, mas na língua universal do pensamento. Para traduzir suas ideias numa linguagem articulada, transmissível, ele utiliza ai palavras do vocabulário do médium.

Pode-se ter a ideia de que o Espírito só deveria exprimir-se na língua médium, mas sabe-se que existem médiuns que escrevem em línguas que lhe são desconhecidas.  Isso pode parecer uma contradição, mas se observarmos atentamente, primeiro nem todos os médiuns são igualmente aptos a esse gênero de exercício. Em seguida, que os Espíritos só se prestam a ele acidentalmente, quando julgam que isso pode ser útil. Para as comunicações usuais, de certa extensão, preferem servir-se de uma língua familiar ao médium, que lhes apresenta menos dificuldades materiais a superar.

A aptidão de certos médiuns para escreverem numa língua estranha provém do fato de a terem usado noutra existência conservando-a na atual em forma intuitiva, isso acontece, mas não é uma regra. O Espírito pode, com algum esforço, superar momentaneamente a resistência material. É o que se verifica quando o médium escreve, na sua própria língua, palavras que não conhece (10).

Uma pessoa que não sabe escrever, poderia fazê-lo como médium, mas compreende-se que haverá grande dificuldade mecânica a vencer, pois a mão não está habituada aos movimentos necessários para formar as letras. Acontece o mesmo com os médiuns desenhistas que não sabem desenhar.

Um médium de inteligência bem reduzida pode transmitir comunicações de ordem elevada, pela mesma razão que um médium pode escrever numa língua que não conhece. A mediunidade propriamente dita independe da inteligência, como das qualidades morais. Na falta de melhor instrumento o Espírito pode servir-se do que tem à mão.  Mas é natural que, para as comunicações de certa ordem, prefira o médium que lhe oferece menos obstáculos materiais. E há ainda outra consideração: o idiota frequentemente só é idiota pela imperfeição dos seus órgãos, pois o seu Espírito pode ser mais adiantado do que se pensa.  A prova disso pode ser observada em algumas evocações de idiotas mortos ou vivos (11). Este é um fato comprovado pela experiência. Numerosas vezes foram evocados Espíritos de idiotas vivos, que deram provas patentes de sua identidade, respondendo perguntas de maneira muito sensata e até mesmo superior. Esse estado é uma punição para o Espírito, que sofre com o constrangimento em que se encontra. Um médium idiota pode oferecer, pois, algumas vezes, ao Espírito que deseja manifestar-se, maiores recursos do que se pensa. (12)

A aptidão de certos médiuns para escreverem versos, apesar de sua ignorância em matéria de poesia se explica assim: A poesia é uma linguagem. Eles podem escrever em versos, como podem fazê-lo numa língua que desconhecem. Além disso, podem ter sido poetas em outra existência, pois, os conhecimentos adquiridos nunca se perdem para o Espírito, que deve atingir a perfeição em todas as coisas. Assim, o que eles souberam no passado lhes dá, sem que o percebam, uma facilidade que não possuem no estado habitual. É o mesmo caso dos que têm aptidão especial para o desenho e a música. O desenho e a música são também formas de expressão do pensamento. Os Espíritos se servem dos instrumentos que lhes oferecem mais facilidades.

A expressão do pensamento pela poesia, o desenho ou a música depende, algumas vezes, do médium, outras do Espírito. Os Espíritos superiores possuem todas as aptidões, os Espíritos inferiores têm conhecimentos limitados.

Não é sempre que um homem dotado de grande talento numa existência não o possua na seguinte, pois na maioria das vezes ele aperfeiçoa numa existência o que começou na anterior. Mas pode acontecer que uma faculdade superior adormeça durante certo tempo para facilitar o desenvolvimento de outra. Será um germe latente que mais tarde germinará de novo, mas do qual sempre haverá alguns sinais ou pelo menos uma vaga intuição.

NOTAS

(1) Ver Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 2ª. Parte, cap. XXV, Das Evocações, item 284 ).

(2) Ver as evocações de Espíritos de vivos na Revista Espírita, feitas por Kardec para pesquisas. Mas o Espírito aqui se refere a evocações de Espíritos já reencarnados, sem que Kardec o soubesse. (Nota de J. Herculano Pires)

(3) Esse erro de exclusivismo é o mesmo que hoje praticam os parapsicólogos antiespíritas, que pensam haver descoberto a pólvora ao afirmar: "Não há Espíritos, pois tudo vem da mente do médium!" O Espiritismo, como se vê, conhece desde o seu início os dois fenômenos: o anímico, de manifestação da alma do médium, e o espírita, de manifestação de um Espírito desencarnado. Jamais o Espiritismo cometeu o erro do exclusivismo oposto, ou seja, de afirmar que as comunicações são apenas de Espíritos desencarnados. Veja-se a Revista Espírita, o livro de Aksakoff Animismo e Espiritismo e os livros de Ernesto Bozzano Animismo ou Espiritismo e Comunicações Mediúnicas Entre Vivos. (Nota de J. Herculano Pires)

(4) O papel do médium nas comunicações é sempre ativo. Seja o médium consciente ou inconsciente, intuitivo ou mecânico, dele sempre depende a transmissão e sua pureza. Essa condição explicaria muitas dificuldades que os observadores apressados atribuem a intuitos de mistificação, caso tivessem a prudência cientifica necessária para um análise mais profunda do problema mediúnico. A mediunidade, como se vê, é mais complexa e sutil do que o supõem os críticos e negadores sistemáticos. (Nota de J. Herculano Pires)

(5) A expressão francesa a son insu tem sido traduzida nesta passagem por a seu mau grado, o que não está certo. O Espírito do médium recebe o pensamento e o transmite pelos diversos intermediários ou instrumentos (mesa, cesta etc.) sem perceber exatamente o que faz sob o impulso do comunicante, mas não contra a vontade. (Nota de J. Herculano Pires)

(6) A passividade do médium é assim uma concordância, determinada pela sua própria vontade. Ele nunca se anula, mas serve de boa vontade ao Espírito comunicante. (Nota de J. Herculano Pires)

(7) A insistência de Kardec nessas perguntas era motivada pela campanha que um inovador desenvolvia em Paris, acusando-o de não conhecer a existência dos médiuns inertes, que ele recusava. Ver o episódio na Revista Espírita. (Nota de J. Herculano Pires)

(8) (Ver Allan Kardec, Revista Espírita de outubro de 1859, artigo sobre Os Médiuns Inertes.)

(9) O pensamento é um atributo da alma, assim, para os Espíritos o pensamento é tudo. O fluido universal estabelece entre eles uma comunicação constante e é o veículo de transmissão do pensamento, como o ar é para nós o veículo do som. Uma espécie de telégrafo universal que liga todos os mundos, permitindo aos Espíritos corresponderem-se em todos os pontos do Universo. (Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro segundo, itens 89ª, 100 e 282.).

(10) O caso Chico Xavier é a mais eloquente demonstração atual desse princípio. O médium tem recebido livros inteiros em linguagem técnica sobre Medicina, Sociologia, História e outros assuntos, sem nenhum conhecimento pessoal dessas matérias.  Veja-se, como exemplos, Emmanuel e Evolução Em Dois Mundos. (Nota de J. Herculano Pires)

(11) As pesquisas parapsicológicas vêm confirmando plenamente essa tese espírita sobre os idiotas, como se constata nas experiências com débeis mentais, tão bem dotados, como os sensitivos normais, das chamadas funções psi. Vejam-se os estudos de Jean Ehenwaid, Eisenbud, Urban, Humphrey, Schmeidier e outros a respeito. (Nota de J. Herculano Pires)

(12) (Ver Allan Kardec, Revista Espírita de julho de 1860, artigo sobre Frenologia e Fisiognomonia.)

* * *

domingo, 21 de abril de 2013

SOBRE AS EVOCAÇÕES


SOBRE AS EVOCAÇÕES
Estudo com base in O Livro dos Médiuns,
Segunda parte, Cap. XXV, Das Evocações, item 282.
Obra codificada por Allan Kardec.
Pesquisa: Elio Mollo
Em 21/04/2013


Qualquer pessoa pode evocar (1) os Espíritos. Se os evocados não puderem manifestar-se, nem por isso deixam de se aproximar para de alguma forma atender o chamado do evocador.

O atendimento do Espírito evocado depende das suas condições, porque há circunstâncias em que ele não pode fazê-lo.

As causas que podem impedi-lo de atender ao chamado são: Primeiro, a sua própria vontade; depois, o seu estado corpóreo, se estiver encarnado, as missões de que estiver encarregado, ou ainda a falta de permissão para tanto, que lhe pode ser negada. Há também Espíritos que não podem jamais comunicar-se. São os que ainda pertencem, por sua natureza, a mundos inferiores à Terra. Os que se encontram em globos de punição também não podem comunicar-se, a menos que tenham permissão superior, só concedida em caso de utilidade geral. Para que um Espírito possa comunicar-se é necessário que tenha atingido o grau de evolução do mundo em que é chamado, pois do contrário será estranho à cultura desse mundo e não disporá de meios de comparação para exprimir-se. Não se dá o mesmo com os que são enviados em missão ou expiação aos mundos inferiores, pois esses possuem a cultura necessária para responder.

O motivo porque pode ser negada a um Espírito a permissão de se comunicar é que, também, pode ser uma prova ou uma punição para ele ou para quem o chama.

Nas evocações, os Espíritos dispersos no espaço ou em diversos mundos, frequentemente são prevenidos pelos Espíritos familiares que nos cercam e que vão procurá-los. Mas ocorre nesse caso um fenômeno que e difícil explicar, porque ainda não podemos compreender muito bem o modo de transmissão do pensamento entre os Espíritos. Mas podemos dizer que da mesma maneira que o ar é o veículo do som na Terra, inclusive, as ondas de rádio e tv, para transmitir sons e imagens num raio muito maior, o seu alcance é limitado. Já com os Espíritos, o fluido universal (2) estabelece entre eles uma comunicação constante e de alcance ilimitado, podendo ser captado em qualquer lugar do Universo (3) por todo aquele que consegue ou tem a capacidade de se sintonizar ou entender a mensagem do pensamento emitido. Assim, podemos dizer que os Espíritos se comunicam e se entendem pelo pensamento (4), como na Terra nos entendemos com a voz daquele(s) que nos fala(m). 

As distâncias nada são para os Espíritos, por isso, que muitas vezes respondem prontamente ao chamado como se estivessem muito próximos (5). Às vezes isso acontece, porque realmente estão, principalmente, quando a evocação foi premeditada, assim, o Espírito recebeu o aviso com antecedência e frequentemente se encontra no lugar antes que o chamem.

Conforme as circunstâncias, o pensamento do evocador será ouvido com maior ou menor facilidade. O Espírito chamado com um pensamento de simpatia e benevolência é mais vivamente tocado. É como se reconhecesse uma voz amiga. Sem isso, acontece muitas vezes que a evocação não avança. O pensamento desferido pela evocação toca o Espírito, mas se é mal dirigido se perde no vácuo. Isso acontece também com os homens: se quem os chama não interessa ou lhes é antipático, eles podem ouvi-lo, mas na maioria das vezes não o atendem.

O Espírito evocado obedece à vontade de Deus, o que quer dizer à lei geral que rege o Universo. Não obstante, ele também julga se é conveniente atender de acordo com o seu livre-arbítrio. Sempre que há um objetivo útil, os Espíritos superiores atendem as evocações prazerosamente. Só se recusam a responder nas reuniões de pessoas pouco sérias e que tratam disso por divertimento.

O Espírito evocado pode, perfeitamente, negar-se a atender a evocação. Por isso, tem o seu livre-arbítrio. Não podemos imaginar que todos os seres do Universo estão às nossas ordens. Nós mesmos, não somos obrigados a responder a todos os que nos chamam. No caso de um Espírito inferior, este pode ser constrangido, por um superior a ele, em seu benefício, para se manifestar (6).

No caso de o Espírito ser igual ou superior a ele em moralidade - dizemos em moralidade e não em inteligência - o evocador não dispõe de meios para constranger o Espírito a atendê-lo, porque então não tem nenhuma autoridade. Se for inferior, poderá fazê-lo para o seu próprio bem, porque então outros Espíritos o ajudarão. (7).

Os Espíritos inferiores só dominam os que se deixam dominar. Quem for assistido por Espíritos bons nada tem a temer, porque se impõe aos Espíritos inferiores e não estes a ele. Os médiuns quando sós, principalmente quando iniciantes, devem evitar essa espécie de evocações. (8)

A disposição principal para as evocações é a do recolhimento, quando se deseja a comunicação de Espíritos sérios. Com fé e o desejo do bem há maior capacidade para se evocar Espíritos superiores. Ao elevar a alma por alguns instantes de recolhimento, no momento da evocação, o evocador se identifica com os Espíritos bons e os dispõe a se manifestarem.

A fé em Deus é necessária para as evocações. No demais, a fé se desenvolverá naturalmente quando existir o desejo do bem e a intenção de instruir-se.

Reunidos pela unidade de pensamentos com o desejo de fazer o bem pela caridade, os evocadores conseguem grandes coisas. Nada é mais nocivo para o êxito das evocações do que a divergência de pensamentos.

O hábito de formar corrente, dando-se as mãos por alguns minutos no começo das reuniões é um meio material que não produz a união entre os participantes das evocações se ela não existir nos pensamentos. Mais eficaz que essas coisas é a união num pensamento comum, apelando cada qual para os Espíritos bons. Imaginemos o que de bom poderia se obter numa reunião séria, da qual não houvesse nenhum sentimento de orgulho e de personalismo, reinando assim, um perfeito sentimento de mútua cordialidade.

É preferível fazer as evocações em dias e horas determinados, e se possível no mesmo local. Os Espíritos então comparecem mais à vontade. A assiduidade, também, oferece ótimas condições para os Espíritos comunicarem-se através das evocações. Eles têm as suas ocupações, que não podem deixar de repente para a satisfação pessoal dos evocadores. Quando digo no mesmo local não me refiro a uma obrigação absoluta, pois os Espíritos vão a toda parte. Quero dizer que é preferível um local consagrado às reuniões, porque o recolhimento se torna mais perfeito.

Objetos, como medalhas e talismãs, não possuem a propriedade de atrair ou repelir os Espíritos, como pretendem algumas pessoas, pois a matéria não exerce nenhuma ação sobre os Espíritos. Podemos ficar certos de que jamais um Espírito bom aconselha semelhantes absurdos. A virtude dos talismãs, de qualquer natureza, só existe na imaginação das criaturas supersticiosas. (9)

Os Espíritos que marcam encontros em lugares lúgubres em horas inconvenientes são Espíritos que se divertem com aqueles que lhes dão ouvidos. É sempre inútil e frequentemente perigoso ceder a essas sugestões. Inútil, porque nada absolutamente se ganha além de ser mistificado; perigoso, não pelo mal que os Espíritos possam fazer, mas pela influência que isso pode exercer nos cérebros fracos. (10)

Para os Espíritos não existem dias e horas mais propícias para as evocações, isso é completamente indiferente, como tudo o que é material, e seria supersticioso acreditar na influência dos dias e das horas. Os momentos mais propícios são aqueles em que o evocador esteja menos absorvido pelas suas preocupações habituais, em que o seu corpo e o seu espírito estejam mais calmos. (10)

A evocação pode ser agradável ou não para os Espíritos, isso depende do seu caráter e do motivo porque são chamados. Quando o objetivo é louvável e o meio é simpático, a evocação se torna agradável e mesmo atrativa. Os Espíritos se sentem sempre felizes com os testemunhos de afeição. Há os que consideram uma grande felicidade poder comunicar-se com os homens e sofrem com o esquecimento destes. Mas isso, também depende do seu caráter. Entre os Espíritos existem também os misantropos que não gostam de ser incomodados, cujas respostas se ressentem do seu mau humor, sobretudo quando chamados por criaturas que lhes são indiferentes, pelas quais não se interessam. Um Espírito não tem, muitas vezes, nenhum motivo para atender o apelo de um desconhecido que lhe é indiferente e que age quase sempre movido pela curiosidade. Nesse caso, se ele atende é geralmente em rápidas passagens, a menos que exista um objetivo sério e instrutivo na evocação.

Existem pessoas que só evocam seus parentes para fazer perguntas sobre as coisas mais vulgares da vida material. Por exemplo: um para saber se alugará ou venderá a sua casa; outro, para indagar do lucro que obterá com sua mercadoria, qual o lugar onde há dinheiro escondido, se tal negócio será ou não vantajoso. Nossos parentes de além-túmulo só se interessam por nós em razão da afeição que lhes conservamos. Se todos os nossos pensamentos se limitam a julgá-los feiticeiros, se só pensamos neles pedindo informações, não podem ter grande simpatia por nós e não de vemos nos admirar de que nos demonstrem pouca benevolência.

Existem diferenças consideráveis entre os Espíritos bons e maus no tocante à solicitude com que atendem o chamado quando evocados. Os Espíritos maus só atendem de boa vontade quando esperam dominar e enganar; sentem viva contrariedade quando são forçados a se manifestar para confessar as suas faltas e procuram escapar, como o colegial que se chama para repreender. Podem ser constrangidos a manifestar-se por Espíritos superiores, como castigo e para instrução dos encarnados. A evocação é penosa para os Espíritos bons quando chamados inutilmente, por motivos fúteis. Então não atendem ou logo se retiram. Pode-se dizer que em geral os Espíritos, sejam quais forem, não gostam de servir de distração para curiosos. Se o objetivo do evocador é de o interrogar sobre particularidades da sua vida que ele não se interessa e não tem nenhum motivo para fazer tal confidencia, com certeza, não irá se expor como se estivesse num banco dos réus para agradar. Não nos iludamos, pois o que ele não faria em vida, muito menos o fará como Espírito.

A experiência comprova que a evocação é sempre agradável para os Espíritos quando feita com um objetivo sério e útil. Os bons têm prazer em nos instruir. Os sofredores são aliviados com a simpatia que lhes demonstramos. Os nossos conhecidos ficam satisfeitos com a nossa lembrança. Os Espíritos levianos gostam de ser evocados por pessoas frívolas, porque têm a oportunidade de se divertirem à sua custa e não se sentem bem na companhia de pessoas sérias.

Os Espíritos não necessitam da evocação para se manifestarem. Frequentemente, eles se manifestam sem serem chamados, o que prova que o fazem de boa vontade.

Quando um Espírito se manifesta por si mesmo, de maneira alguma, podemos estar certos da sua identidade (11), pois os Espíritos mistificadores o fazem com frequência para melhor enganarem.

Quando evocamos um Espírito pelo pensamento e ele nos atende, a escrita é o meio material pelo qual o Espírito atesta a sua presença, contudo, é o pensamento que o atrai e não o ato de escrever.

Quando um Espírito inferior se manifesta podemos fazê-lo se retirar, não lhe dando ouvidos. Os Espíritos inferiores, geralmente, se apegam aos que gostam de ouvi-los.

A evocação em nome de Deus não é um freio para todos os Espíritos perversos, mas seguramente evita que muitos deles causem problemas nas reuniões. Por esse meio sempre se pode afastá-los quando o nome de Deus é pronunciado do fundo do coração e não como uma fórmula banal (12).

Não há nenhuma dificuldade em evocar nominalmente muitos Espíritos ao mesmo tempo quando se dispõe de um número de médiuns suficientes para escrever, assim, três, quatro ou mais Espíritos poderiam responder ao mesmo tempo.

Quando muitos Espíritos são evocados de uma vez, com um médium só, um deles responde por todos e exprime o pensamento coletivo.

O mesmo Espírito poderia comunicar-se ao mesmo tempo, na mesma sessão, por dois médiuns diferentes, tão facilmente, como certos homens ditam muitas cartas de uma vez. 

Allan Kardec conta que um Espírito foi visto responder ao mesmo tempo, por dois médiuns, as perguntas que lhe faziam, por um em francês e por outro em inglês, sendo idênticas as respostas quanto ao sentido, e algumas mesmo verdadeiras traduções literais. Dois Espíritos evocados simultaneamente por dois médiuns podem travar uma conversação. Não necessitando dessa forma de comunicação, desde que leem reciprocamente seus pensamentos, assim o fazem para nossa instrução. Se forem Espíritos inferiores, estando ainda imbuídos das paixões terrenas e das ideias que tiveram na vida corpórea, pode acontecer que briguem e troquem palavrões, que se acusem mutuamente e até mesmo que atirem os lápis, as cestas, as pranchetas, etc. um no outro (13).

O Espírito que é evocado ao mesmo tempo em muitos lugares pode responder simultaneamente às perguntas que lhe fazem, isto é, se for um Espírito elevado. O Sol é um só e no entanto irradia a sua luz por todos os lados, projetando os seus raios à distância sem se subdividir. Dá-se o mesmo com os Espíritos. O pensamento do Espírito é como uma estrela que irradia a sua claridade no horizonte e pode ser vista de todos os pontos. Quanto mais puro é o Espírito mais o seu pensamento irradia e se difunde como a luz. Os Espíritos inferiores são mais materiais, não podem responder a mais de uma pessoa de cada vez e não podem tender à nossa evocação se já foram chamados em outro lugar.

Um Espírito superior, chamado ao mesmo tempo em dois lugares, atenderá às duas evocações se elas forem igualmente sérias e fervorosas. Em caso contrário, dará preferência à mais séria (14).

Dá-se o mesmo com o homem que, de um mesmo lugar, pode transmitir seu pensamento por meio de sinais que são visíveis de várias direções. Numa sessão da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em que a questão da ubiquidade estava em discussão, um Espírito ditou espontaneamente a comunicação seguinte:

"Discutíeis sobre a hierarquia dos Espíritos quanto a ubiquidade. Comparai-nos a um aeróstato que se eleva pouco a pouco no ar. Enquanto ainda rasteja na terra, só um pequeno círculo de pessoas pode vê-lo; a medida que se eleva o círculo se alarga e quando atinge certa altura é visto por uma infinidade de pessoas. O mesmo acontece conosco. Um Espírito mau, ainda apegado a terra, fica num círculo restrito de pessoas que o veem. Eleve-se na graça, melhore-se e poderá conversar com muitas pessoas. Quando se tomar Espírito superior poderá irradiar como a luz solar, mostrar-se a muitas pessoas e em muitos lugares ao mesmo tempo.  - CHANNING".

Os Espíritos puros, que já terminaram a série de suas encarnações, podem ser evocados, mas muito raramente respondem as evocações, pois só se comunicam aos corações puros e sinceros, não aos orgulhosos e egoístas. Assim, é necessário desconfiar dos Espíritos inferiores que se arrogam essa qualidade para se fazerem mais importantes.

A explicação de que os Espíritos de homens mais eminentes atendam tão facilmente, e de maneira tão familiar, ao chamado dos homens mais obscuros é que os homens julgam os Espíritos por si mesmos, o que é errado. Após a morte corporal as posições terrenas desaparecem. A única distinção entre os Espíritos é a da bondade, e os que são bons vão a todos os lugares onde possam fazer o bem.

Existe a possibilidade de evocar um Espírito no próprio instante da morte, contudo como então ele ainda se encontra em perturbação, só imperfeitamente poderá responder. Sendo muito variável a duração da perturbação, não se pode fixar um prazo para a evocação. Não obstante, é raro que o Espírito, depois de oito dias, não esteja suficientemente cônscio do seu estado para poder responder. Às vezes pode fazê-lo muito bem, dois ou três dias após a morte. É possível, em todos os casos, experimentar de maneira prudente (15).

Algumas vezes, a evocação no instante da morte é mais penosa para o Espírito do que mais tarde. É como se fizessem alguém levantar em meio do sono, sem estar completamente acordado. Não obstante, há os que não se mostram de maneira alguma contrariados e aos quais a evocação até mesmo ajuda a saírem da perturbação. (16)

O Espírito de uma criança, morta em tenra idade pode responder conscientemente, mesmo que ainda não tinha consciência de si mesma. Se a alma da criança é um Espírito ainda envolto nas faixas da matéria (17), porém, liberto da matéria goza das suas faculdades de Espírito, porque os Espíritos não têm idade. Isso prova que o Espírito da criança já teve outras vidas como encarnado. Não obstante, até que esteja completamente liberto pode conservar na linguagem alguns traços do caráter da criança.

A influência corpórea, que perdura mais ou menos no Espírito da criança, as vezes também se nota no Espírito dos que morreram loucos. O Espírito em si mesmo não é louco, mas sabe-se que certos Espíritos acreditam, durante algum tempo, estar ainda neste mundo. Não é pois de admirar que o Espírito do louco ainda se ressinta dos entraves que, durante a vida, se opunham a sua livre manifestação, até que esteja completamente liberto. Esse efeito varia segundo as causas da loucura, porque há loucos que recobram toda a lucidez imediatamente após a morte.

NOTAS

(1) Invocação (do lat. in, em, e vocare, chamar) e evocação (do lat. vocare e e ou ex, de, fora de) – estas duas palavras não são sinônimos perfeitos, embora tenham a mesma raiz, vocare: chamar. É um erro empregá-las uma pela outra.  Evocar é chamar, fazer vir a si, fazer aparecer por cerimônias mágicas, por encantamentos. Evocar almas, Espíritos, sombras.  Os necromantes pretendiam evocar as almas dos mortos (acad.). Entre os antigos, evocar era fazer saírem as almas dos infernos para fazê-las vir aos viso. Invocar é chamar a si ou em seu socorro um poder superior ou sobrenatural. Invoca-se Deus pela prece.  Na religião católica invocam-se os Santos. Toda prece é uma invocação. A invocação está no pensamento; a evocação é um ato. Na invocação o ser ao qual nos dirigimos nos ouve; na evocação ele sai do lugar em que estava para vir a nós e manifestar sua presença. A invocação não é dirigida senão aos seres que supomos bastante elevados para nos assistir. Evocam-se tanto os Espíritos inferiores como os superiores. “Moisés proibiu, sob pena de morte, evocar as almas dos mortos, prática sacrílega em uso entre os cananeus. O 22º. capítulo do II Livro dos Reis fala da evocação da sombra de Samuel pela pitonisa”.

A arte das evocações, como se vê, remonta à mais alta antiguidade. É encontrada em todas as épocas e em todos os povos. Outrora a evocação era acompanhada de práticas místicas, ou porque os evocadores as julgassem necessárias ou, o que é mais provável, para se atribuírem o prestígio de um poder superior.  Hoje se sabe que o poder de evocar não é um privilégio, que ele pertence a toda gente e que as cerimônias mágicas, em geral, não passavam de um vão aparato.

Segundo os povos antigos, todas as almas evocadas ou eram errantes ou vinham dos infernos, que compreendiam, como se sabe, tanto os Campos Elíseos como o Tártaro; a essa ideia não se ligava nenhuma interpretação má. Na linguagem moderna, tendo-se restringido a significação da palavra inferno à morada dos réprobos, disso resultou que a ideia da invocação se ligou, para certas pessoas, à de maus Espíritos ou de demônios. Entretanto essa crença cai à medida que se adquire um conhecimento mais aprofundado dos fatos; também é ela a menos espalhada entre todos os que creem na realidade das manifestações espíritas: ela não poderia prevalecer diante da experiência e de um raciocínio isento de preconceitos. (Ver Allan Kardec, Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, Vocabulário Espírita.)

Fluido Universal - Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, é a trindade Universal. O espírito (Alma) é o princípio inteligente. Para que o Espírito possa exercer ação sobre a matéria tem que se juntar o fluido universal, pois, é ele que desempenha o papel intermediário entre o Espírito e a matéria grosseira. É lícito até certo ponto, classificar o fluido universal com o elemento material, porém, ele se distingue, deste por propriedades especiais. Este fluido deve ser considerado como sendo um elemento semimaterial, pois, está situado entre o Espírito e a matéria. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza; é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá. (Ver Allan Kardec, item 27 de O Livro dos Espíritos)

(3) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro segundo, item 282.

(4) A comunicação do pensamento à distância está hoje provada pelos próprios métodos das chamadas ciências positivas (ou materiais) graças às pesquisas e experiências parapsicológicas. Bastou um século de progresso científico para que este problema se tornasse mais acessível à compreensão dos homens. O pensamento não conhece limites no espaço e no tempo, o que dá plena validade cientifica a esse princípio espírita. (Nota de J. Herculano Pires)

(5) Os Espíritos gastam um determinado tempo para percorrer o espaço, porém, rápido como o pensamento. Também podemos dizer, que quando o pensamento está em algum lugar, a alma também está, uma vez que é a alma que pensa. O pensamento é um atributo da alma. Assim, para eles o pensamento é tudo. (Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro segundo, itens 89, 89a e 100.).

(6) O poder do Espírito superior se exerce em benefício do inferior, obrigando-o a se manifestar para o seu próprio bem. O livre-arbítrio é condicionado pela evolução. Quanto mais elevado o Espírito, maior a sua liberdade. É o mesmo que vemos na Terra: os criminosos estão sujeitos a restrições da liberdade que não devem atingir os homens de bem. Nas sessões de desobsessão os Espíritos inferiores são frequentemente obrigados a se manifestarem, para o seu próprio bem e em favor de suas vítimas. (Nota de J. Herculano Pires)

(7) Só pela superioridade moral se exerce ascendência sobre os Espíritos inferiores. Os Espíritos perversos reconhecem a superioridade dos homens de bem. Enfrentando alguém que lhes oponha a vontade enérgica, espécie de força bruta, reagem e muitas vezes são os mais fortes. Alguém tentava dominar assim um Espírito rebelde, aplicando a vontade, e este lhe respondeu: Deixa-me em paz com esses ares de matamouros, que não vales mais do que eu. Que se diria de um ladrão pregando moral a outro ladrão? (Ver Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 2ª. Parte,cap. XXV, item 279 ).

(8) Não há inconveniente quando se faz a evocação com um fim sério, instrutivo e tendo em vista melhorar-se. Pelo contrário, é muito grande o inconveniente quando se faz por mera curiosidade ou diversão, ou se a gente se coloca sob a sua dependência, pedindo-lhes algum serviço. Os Espíritos bons, nesse caso, podem muito bem lhes dar o poder de fazer o que lhes foi pedido, com a ressalva de punir severamente mais tarde o temerário que ousou invocar o seu auxílio, considerando-os mais poderosos que Deus. Será vã a intenção de aplicar no bem o pedido de despedir o servidor após o serviço prestado. Esse mesmo serviço solicitado, por menor que seja, representa um verdadeiro pacto firmado com os Espíritos maus, e estes não largam facilmente a presa.  (Ver Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 2ª. Parte,cap. XXV, item 278 ).

Essa a razão porque o Espiritismo é contrário às relações interesseiras com os Espíritos. Só os inferiores atendem às nossas ambições e paixões, mas com isso nos submetemos a eles. Foi por isso também que Moisés condenou essas relações, no cap. VIII do Deuteronômio, injustamente citado contra o Espiritismo pelos que não conhecem a doutrina. (Nota de J. Herculano Pires)

(9) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, livro segundo, Poder Oculto, Talismãs, Feiticeiros, item 554.

(10) Ver Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 2ª. Parte,cap. IX, item 152 ).

(11) Ver Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, 2ª. Parte,cap. XXIV, Identidade dos Espíritos, do item 255 em diante).

(12) A palavra Deus, em si, não tem nenhum poder. A palavra é apenas um signo e sua carga emotiva está no conceito, na ideia que ela exprime e portanto no pensamento. Dizê-las em sentir o que ela representa é como articular sons sem sentido. Dizê-la com plena consciência do seu significado e sentindo-a fundamente é ligar-nos a Deus. No plano espiritual o que vale é a vibração psíquica e não a forma verbal, ou segundo Kardec, o fundo e não a forma. (Nota de J. Herculano Pires)

(13) A leitura recíproca do pensamento refere-se aos Espíritos mais adiantados. Os Espíritos inferiores, que brigam e se xingam, estão ainda em condições humanas. É o que se esclarece na resposta à pergunta 30, do cap. XXV em O Livro dos Médiuns. Kardec e os Espíritos que lhe revelaram a doutrina tomam sempre o Espírito de tipo médio, já liberto da materialidade grosseira, para base de suas respostas sobre a vida espírita. (Nota de J. Herculano Pires)

(14) A informação dos Espíritos sobre a irradiação do pensamento está hoje cientificamente provada pelas pesquisas parapsicológicas. No tocante à graduação do poder de irradiação, segundo a evolução espiritual, é problema referente ao mundo espírita. Não obstante, podemos verificá-lo na Terra através do alcance intelectual das criaturas, que varia de acordo com o grau evolutivo dos indivíduos na própria escala social. Assim, a imagem feita por Channing na sua comunicação corresponde a uma realidade espiritual que podemos constatar na existência terrena. (Nota de J. Herculano Pires)

(15) Nunca se faz a evocação no momento da morte. A pergunta colocou apenas uma possibilidade, que os Espíritos confirmaram. Aliás, o Espírito recém-desencarnado não atenderia se não estivesse em condições e não recebesse permissão dos Espíritos superiores. No caso de atender é porque isso lhe seria benéfico, segundo vemos na resposta à pergunta 34: ajudá-lo-ia a vencer a perturbação. (Nota de J. Herculano Pires)

(16) As evocações se processam, desde os tempos primitivos, entre todos os povos. Dessa maneira os Espíritos podem citar experiências muitas vezes ocorridas antes da prática espírita moderna. Os casos propriamente espíritas se limitaram a algumas experiências de pesquisa científica. (Nota de J. Herculano Pires)

(17) A expressão "faixas da matéria" é comparativa, lembrando a criança enfaixada após o nascimento. O Espírito da criança entra no mundo espírita envolvido pelas ligações materiais que o restringiam na condição infantil terrena. O Espírito se refere, nessa resposta, especialmente aos "traços de linguagem" porque trata nesse momento das comunicações orais e escritas (Nota de J. Herculano Pires)