quarta-feira, 30 de maio de 2012

CRUELDADE



CRUELDADE
Estudo com base in O Livro dos Espíritos,
parte Terceira, LEI DE DESTRUIÇÃO, Capítulo 6, qq. 752 a 756,
obra codificada por Allan Kardec.
Pesquisa: Elio Mollo


O sentimento de crueldade é o que tem de pior no instinto de destruição, porquanto, se, algumas vezes, a destruição constitui uma necessidade, com a crueldade jamais se dá o mesmo. Ela resulta sempre de uma natureza má.

A crueldade forma o caráter predominante em alguns povos primitivos, porque a matéria prepondera sobre o Espírito. Eles se entregam aos instintos do bruto e, como não experimentam outras necessidades além das da vida do corpo, só da conservação pessoal cogitam e é o que os torna, em geral, cruéis. Demais, os povos de imperfeito desenvolvimento se conservam sob o império de Espíritos também imperfeitos, que lhes são simpáticos, até que povos mais adiantados venham destruir ou enfraquecer essa influência.

A crueldade deriva da falta de desenvolvimento do senso moral; não da carência, porquanto o senso moral existe, como princípio, em todos os homens. É esse senso moral que dos seres cruéis fará mais tarde seres bons e humanos. Ele, pois, existe no selvagem, mas como o princípio do perfume no gérmen da flor que ainda não desabrochou.

Nota de Allan Kardec: Em estado rudimentar ou latente, todas as faculdades existem no homem. Desenvolvem-se, conforme lhes sejam mais ou menos favoráveis as circunstâncias. O desenvolvimento excessivo de uma detém ou neutraliza o das outras. A sobreexcitação dos instintos materiais abafa, por assim dizer, o senso moral, como o desenvolvimento do senso moral enfraquece pouco a pouco as faculdades puramente animais.

Pode dar-se que, no seio da mais adiantada civilização, se encontrem seres às vezes cruéis quanto os selvagens, do mesmo modo que numa árvore carregada de bons frutos se encontram verdadeiros abortos. São, selvagens que da civilização só têm o exterior, lobos extraviados em meio de cordeiros. Espíritos de ordem inferior e muito atrasados podem encarnar entre homens adiantados, na esperança de também se adiantarem, Mas, desde que a prova é por demais pesada, predomina a natureza primitiva.

A sociedade dos homens de bem um dia se verá expurgada dos seres malfazejos. A Humanidade progride. Esses homens, em quem o instinto do mal domina e que se acham deslocados entre pessoas de bem, desaparecerão gradualmente, como o mau grão se separa do bom, quando este é joeirado. Mas, desaparecerão para renascer sob outros invólucros. Como então terão mais experiência, compreenderão melhor o bem e o mal. Temos disso um exemplo nas plantas e nos animais que o homem há conseguido aperfeiçoar, desenvolvendo neles qualidades novas. Só ao cabo de muitas gerações o desenvolvimento se torna completo. É a imagem das diversas existências do homem.

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quinta-feira, 24 de maio de 2012

DESGOSTO PELA VIDA. SUICÍDIO (Roteiro para Estudo)


DESGOSTO PELA VIDA. SUICÍDIO
(Roteiro para Estudo)
Este roteiro foi feito com base
in Estudo 167/168 de 193
Livro Quarto, Esperanças e Consolações, cap. I, Penas e Gozos Terrenos, subcap. IV, questões de 943 à 957 de O Livro dos Espíritos.
Obra codificada por Allan Kardec
do Centro Virtual de Divulgação e Estudo do Espiritismo (CVDEE)

ROTEIRO

a) O desgosto pela vida que atinge alguns indivíduos sem-motivos plausíveis, geralmente, é causada pelo efeito da ociosidade, da falta de fé e também pelos costumes da sociedade.

b) O homem não tem direito de dispor da sua vida, porque ela lhe foi concedida visando aos deveres que tem que cumprir na Terra como encarnado, por isso não deve abrevia-la voluntariamente sob pretexto algum. Visto possuir o livre arbítrio, poderá praticar o suicídio, mas terá sempre que arcar com as consequências penosas que esse ato geralmente acarreta, porque esse ato é considerado uma transgressão a lei natural ou de Deus.

c) Fugir as misérias e decepções do mundo significa falta de coragem. As tribulações da vida podem ser provas ou expiações ou as duas juntas. Um Espírito que sucumbiu muitas vezes à uma provação, esta será renovada a cada existência até quando for preciso. Assim, podemos dizer, que não existe proveito no sofrimento enquanto não atingirmos o objetivo ou enquanto deixarmos de atingir a finalidade da encarnação em que nos encontramos, sendo preciso recomeçá-la até que saiamos vitoriosos dessa campanha.

d) Aqueles (encarnados ou desencarnados) que induzirem alguém ao suicídio responderão por assassinato. Levar alguém a praticar o suicídio e subtrair-lhe às provações da vida.

e) Mesmo que o suicídio tenha por finalidade escapar de alguma vergonha ou de uma má ação, ainda assim, é um ato de covardia, de lutar para melhorar ou procurar reverter a situação.

f) O suicídio não consiste somente no ato voluntário que produz a morte instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais.

g) A justiça Divina preside a distribuição as expiações da vida segundo o grau de responsabilidade e a capacidade evolutiva de cada um.

h) Comete suicídio moral o homem que perece vítima de paixões que sabia lhe haviam de apressar o fim e que já não podia resistir. É, nesse caso, duplamente culpado, pois há nele falta de coragem e bestialidade, acrescidas do esquecimento de Deus e de fazer o bem. Nesse caso, será muito mais responsabilizado do que aquele que tira a si mesmo a vida por desespero, pois este teve tempo de refletir sobre as suas ações.

i) É sempre um erro, uma falha, aquele que não aguarda o termo que Deus lhe marcou para a existência, ainda que a morte fosse inevitável e que tenha abreviado a vida apenas por alguns instantes. 

j) Quando não há intenção ou a consciência perfeita da prática do mal, como no caso de uma imprudência que pode comprometer a vida, neste caso não houve a intenção de se tirar a vida, também, não pode ser considerado um suicídio.

k) Não se pode considerar suicídio a abnegação daquele que se expõe à morte para salvar o seu semelhante: primeiro, porque no caso não há intenção de se privar da vida, e, segundo, porque não há perigo do qual a Providência nos não possa subtrair, quando a hora não seja chegada. A morte em tais contingências é sacrifício meritório, como ato de abnegação em proveito de outrem. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, itens n os 5, 6, 18 e 19.)

l) Não há uma só falta, por mais leve que seja, uma única infração à sua lei, que não tenha consequências forçosas e inevitáveis, mais ou menos desagradáveis. Donde se segue que, nas pequenas como nas grandes coisas, o homem é sempre responsabilizado naquilo em que praticou. Os sofrimentos consequentes, salvo os das provas naturais, são então uma advertência de que não praticou o bem.

m) Os que se matam obedecendo a um costume preconceituoso de um povo é levado mais pela força da tradição, do que pela vontade própria, julgam cumprir um dever, o que descaracteriza o suicídio. Por exemplo: As mulheres que em certos países se queimam voluntariamente sobre os corpos de seus maridos obedecendo a um costume geral. Esses atos pela falta de moral e da ignorância daqueles que o praticam, não devem ser caracterizados por suicídio. A evolução das civilizações fará desaparecer naturalmente esses costumes.

n) Aqueles que se matam na esperança de ir juntar-se às pessoas que lhes eram queridas e não se conformam com a perda delas, cometendo o suicídio, ao invés de se aproximarem e reunirem-se a elas se afastarão por mais tempo. Um ato de covardia não pode agradar a Deus, por isso, as compensações e as satisfações que esperavam não aconteceu, ao contrário, surgiram-lhe à frente maiores aflições.

o) As consequências do suicídio para o espírito são diversas, não havendo penas determinadas.  Há, porém, uma a que o suicida não pode escapar: o desapontamento.  Mas as consequências depende das circunstâncias. Alguns expiam a falta de imediato; outros, em nova existência, que será mais dificultosa do que aquela cujo curso interromperam.

p) O homem não é, portanto, punido sempre, ou completamente punido, na sua existência presente, mas jamais escapa às consequências de suas faltas. A prosperidade do mau é apenas momentânea, e se ele não expia hoje, expiará amanhã, pois aquele que sofre está sendo submetido à expiação do seu próprio passado. A desgraça que, à primeira vista, parece imerecida, tem portanto a sua razão de ser, e aquele que sofre pode sempre dizer:
Perdoai-me, Senhor, porque eu pequei".

PERGUNTAS FREQUENTES:

1 - O que podemos entender por suicídio?
A definição mais simples de suicídio seria: tirar a própria vida. É um ato de extrema mutilação e destruição. As causas do suicídio podem ser materiais, morais ou mesmo espirituais, mas nenhuma delas justifica a morte. Sabemos que temos provas a cumprir e o suicídio não as abrevia ao contrario, soma-se a elas para um resgate futuro, muitas vezes em piores condições.

2 - Existem atenuantes para esse ato?
Somente aqueles que não estão de posse total de suas faculdades mentais, tem alguma atenuante.

3 - Todos nós somos um pouco suicidas, pois abreviamos nossa vida terrena de alguma forma. Comente essa afirmativa.
Suicidamo-nos quando fazemos uso abusivo de cigarros, de bebidas alcoólicas ou qualquer outro tipo de vício e mesmo quando nos deixamos levar pela gula, pela raiva e pelo ódio. Quando de alguma maneira desequilibramos nosso organismo através de um mau comportamento, contraímos doenças e muitas vezes morremos antes do tempo que estávamos programados.

4 - Qual a circunstância que caracteriza o suicídio moral e por que ele também se constitui numa infração à lei natural?
O suicídio moral é aquele que resulta de paixões que levam o espírito encarnado à prática de atos que sabe lhe irão abreviar a duração da vida de seu corpo físico. É também chamado "suicídio indireto".

5 - Podemos considerar suicídio a prática de atos que sabidamente podem abreviar a existência física, tais como o hábito do fumo, o consumo excessivo de alcoólicos e o uso de drogas?
Sem dúvida o hábito do fumo, o consumo desregrado de alimentos e alcoólicos e o uso de drogas são exemplos clássicos do suicídio indireto. O espírito pode até não desejar o resultado, mas, tendo conhecimento das consequências, assume o risco de produzi-las, levado pela paixão que se transforma em vício.

6 - E a eutanásia, cuja prática vem sendo legalizada em alguns países, pode ser encarada como suicídio?
Se realizada com a aquiescência do espírito desencarnante, para este, sem dúvida que sim.  Afronta as leis divinas aquele que não aguarda o termo marcado para a existência física. É uma demonstração de falta de resignação e submissão à vontade de Deus, esta manifestada por suas leis sábias, eternas e soberanas. O terceiro que contribui para esse ato, ainda que para as leis humanas possa não sê-lo, perante a Lei Maior é comparado ao mais comum dos homicidas.

7 - Como podemos resumir a visão do Espiritismo a cerca do suicídio?
Conforme os Espíritos responderam a Allan Kardec, todo e qualquer ato que vise abreviar a permanência do espírito no corpo carnal é um atentado às leis naturais. No caso de atingir a sua própria existência física, é considerado suicídio. A graduação da falta, no entanto, varia de conformidade com a intenção, com a consciência que o suicida tinha da prática do mal e com o seu nível de conhecimento a respeito das leis naturais ou divinas. O Espiritismo não discrimina nem condena o suicida, na verdade, o Espiritismo leva o adepto a ver as coisas deste mundo por um ponto de vista mais elevado, conscientizando-o que não existem penas eternas e que o tempo do sofrimento depende do arrependimento e da vontade de reparação das más ações daqueles que infligiram as leis naturais. A Doutrina Espírita mostra as consequências do suicídio, que são sempre sofridas e que aquele que o pratica jamais atinge o fim almejado, que é morrer. Demonstra também, que a misericórdia divina está sempre presente, a proporcionar novas oportunidades de reajuste à Lei. Por essas razões, podemos afirmar que o conhecimento do Espiritismo é um antídoto infalível contra essa prática.

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Leia mais sobre este tema:
(atualizado em 09 de novembro de 2012)

sábado, 19 de maio de 2012

DESGOSTO PELA VIDA. SUICÍDIO


DESGOSTO PELA VIDA. SUICÍDIO
Estudo com base no Livro Quarto, Esperanças e Consolações, cap. I, Penas e Gozos Terrenos, subcap. IV, questões de 943 à 957 de O Livro dos Espíritos. Obra codificada por Allan Kardec


O desgosto pela vida, que se apodera de alguns indivíduos sem motivos plausíveis, geralmente, é provocado pelo efeito da ociosidade, da falta de fé e também pelos costumes da sociedade. Para aqueles que exercem as suas faculdades com um fim útil e segundo as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente suportando suas vicissitudes com mais paciência e resignação. Quanto mais agem tendo em vista a felicidade mais sólida e mais durável será esta no futuro que os espera.

O homem não tem o direito de dispor da sua própria vida, somente Deus tem esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão dessa lei. Sendo assim, o insensato que se mata não sabe o que faz.

Aquele que busca uma ocupação útil na vida, trabalhando com devoção, evita os desgostos e o desânimo e a sua existência se torna mais feliz e agradável.

Aquele que busca o suicídio com o objetivo de escapar das misérias e das decepções deste mundo é porque não teve coragem de suportar as dificuldades naturais e consequentes que lhe surgem na vida. Porém, Deus ajuda aos que sofrem e não aos que não têm forças nem coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Feliz é aquele que as suporta sem se queixar, porque será recompensado! Infeliz, ao contrário, é aquele que não busca uma solução para as suas dificuldades, e na sua inconsequência, acusa a falta de sorte ou o acaso! A sorte ou o acaso, até, podem favorecê-lo por um instante, mas somente para lhe fazer sentir mais tarde, e de maneira mais cruel, o vazio de suas palavras.

Os que buscam provocar desesperos levando alguém as consequências do suicídio, se sentirão infelizes, porque responderão como por um assassínio. O homem que se vê às voltas com a necessidade e se deixa morrer de desespero, também é um suicida, mas os que o causaram ou que o poderiam impedir são mais culpáveis que ele, a quem a indulgência espera. Mas não devemos acreditar, porém, que o suicida seja inteiramente absolvido se lhe faltou a firmeza e a perseverança e se não fez uso de toda a sua inteligência para sair das dificuldades. Infeliz dele, sobretudo, se o seu desespero foi fruto do seu orgulho, ou seja, se é um desses homens em quem o orgulho paralisa os recursos da inteligência e que se envergonharia se tivesse que voltar e prover a sua existência com o trabalho das próprias mãos, preferindo morrer de fome a descer da sua posição social! Há grandeza e dignidade naquele que luta contra as adversidades e enfrenta com dignidade a crítica de um mundo fútil e egoísta. Sacrificar a vida à consideração do orgulho existente no mundo é uma coisa estúpida, porque ele deverá continuar seguindo no seu curso normal.

O suicida que tem por fim escapar à vergonha de uma má ação não apagará a falta. Pelo contrário, com ele apareceram duas em lugar de uma. Quando se teve a coragem de praticar o mal, é preciso tê-la para sofrer as consequências. Deus, através da consciência, é quem julga. E, segundo a causa o rigor poderá, às vezes, diminuir.

Aquele que pensa ser perdoável usar o suicídio como objetivo de impedir que a vergonha envolva os filhos ou a família, está enganado, pois não procederá bem. Tudo indica que Deus levará em conta a sua intenção, porque será uma expiação que a si mesmo se impôs. Mas mesmo tendo a sua falta atenuada, nem por isso, deixará de cometer uma falta. 

NOTA DE ALLAN KARDEC - Aquele que tira a própria vida para fugir à vergonha de uma ação má, prova que tem mais em conta a estima dos homens que a de Deus, porque vai entrar na vida espiritual carregado de suas iniquidades, tendo-se privado dos meios de repará-las durante a vida. Deus é muitas vezes menos inexorável que os homens: perdoa o arrependimento sincero e leva em conta o nosso esforço de reparação; mas o suicídio nada repara.

Quem deseja tirar a própria vida com a esperança de chegar mais cedo a uma vida melhor, cometerá um desatino. Ao invés disso será melhor praticar o bem e estará mais seguro de alcançá-la, porque, pelo suicídio, retardará a sua entrada num mundo melhor, e ele mesmo pedirá uma nova reencarnação para completar o que interrompeu por ter tido essa falsa ideia. É útil lembrar que qualquer falta, por mínima que seja, tem que ser reparada, e sempre dificulta o caminho para subir mais um degrau na escala evolutiva do espírito.

O sacrifício da vida é meritório, quando tem por fim salvar a de outros ou ser útil aos semelhantes, isso é sublime, de acordo com a intenção, e o sacrifício da vida não é então um suicídio. Um sacrifício inútil, possivelmente, não deve ser considerado um prazer por Deus, principalmente, quando estiver manchado pelo orgulho, ou seja, aquele que pratica um sacrifício com segunda intenção diminui ou esvazia totalmente o seu valor.

NOTA DE ALLAN KARDEC - Todo sacrifício feito à custa da própria felicidade é um ato soberanamente meritório aos olhos de Deus, porque é a prática da lei de caridade. Ora, sendo a vida o bem terreno a que o homem dá maior valor, aquele que a ela renuncia pelo bem dos seus semelhantes não comete um atentado: é um sacrifício que ele realiza. Mas antes de o realizar deve refletir se a sua vida não poderá ser mais útil do que a sua morte.

O homem que abusa das paixões, abreviando o momento da sua morte, comete um suicídio moral. Na verdade, o homem neste caso, é duplamente culpado, pois há nele falta de coragem e bestialidade, e, além disso, o esquecimento de Deus. Podemos dizer que é mais culpado do que aquele que corta a sua vida por desespero, porque teve tempo de raciocinar sobre o seu suicídio. Aquele que o comete instantaneamente, há às vezes, uma espécie de desvario que se aproxima da loucura, enquanto o que abusa das paixões, será muito mais responsabilizado, porque os sofrimentos morais são sempre proporcionais ao peso da consciência das faltas cometidas.

Se um homem vê à sua frente uma morte inevitável e terrível, e por causa disso desejar abreviar por alguns instantes o seu sofrimento através de uma morte voluntária, será responsabilizado por não esperar o termo fixado por Deus. Aliás, qual a certeza de que sua vida tenha chegado malgrado as aparências, ao fim? Não poderá ele receber um socorro inesperado no derradeiro momento? E mesmo que a morte seja inevitável e que a vida só será abreviada por alguns instantes é sempre uma falta de resignação e de submissão à vontade do Criador. As consequências de tal ação poderá levar a uma expiação proporcional à gravidade da falta, segundo as circunstâncias.

Se alguma imprudência comprometeu a vida sem necessidade, mas não existiu a intenção e não houve desejo positivo de fazer o mal, podemos deduzir que neste caso não haverá culpabilidade.

As mulheres que em certos países se queimam voluntariamente sobre os corpos de seus maridos obedecendo a um costume geral, geralmente o fazem mais pela força do que pela própria vontade, acreditam cumprir um dever, o que não é característica do suicídio. A escusa desse ato está na falta de formação moral e na ignorância de quem a pratica. Essas usanças bárbaras e estúpidas desaparecerão naturalmente com o progresso moral da civilização.

Aquele que não podendo suportar a perda de pessoas queridas e se mata na esperança de se juntar a elas, o resultado desse objetivo pode ser bastante diverso do que ela esperava, pois em vez de se unir ao objeto de sua afeição, dela se afasta por tempo maior. Deus não pode recompensar um ato de covardia, pois é como um insulto que lhe é lançado duvidando da sua providência. Esse instante de loucura será pago com aflições ainda maiores do que aquelas que o levou abreviar a sua vida, e não terá para o compensar a satisfação que esperava. A perda de entes queridos atinge todas as classes sociais, ou seja, é uma prova ou expiação produzida por uma lei natural que atinge todos os seres que habitam este mundo. 

As consequências do suicídio são as mais diversas. Não há penalidades fixadas e em todos os casos elas são sempre relativas às causas que o produziram. Mas uma consequência a que o suicida não pode escapar é o desapontamento. De resto, a sorte não é a mesma para todos, dependendo das circunstâncias. Alguns expiam sua falta imediatamente, outros numa nova existência, que poderá ser pior do que aquela cujo curso interrompeu.

NOTA DE ALLAN KARDEC - A observação mostra, com efeito, que as consequências do suicídio não são sempre as mesmas. Há, porém, as que são comuns a todos os casos de morte violenta, as que decorrem da interrupção brusca da vida. É primeiro a persistência mais prolongada e mais tenaz do laço que liga o Espírito e o corpo, porque esse laço está quase sempre em todo o seu vigor no momento em que foi rompido, enquanto na morte natural se enfraquece gradualmente e em geral até mesmo se desata antes da extinção completa da vida. As consequências desse estado de coisas são o prolongamento da perturbação espírita, seguido da ilusão que, durante um tempo mais ou menos longo, faz o Espírito acreditar que ainda se encontra no número dos vivos.

SEPARAÇÃO DA ALMA E DO CORPO

A separação da alma e do corpo se opera desligando-se os liames que a retinham, assim, ela se desprende. A separação não se verifica instantaneamente, numa transição brusca; a alma se desprende gradualmente e não escapa como um pássaro cativo que fosse libertado. Os dois estados se tocam e se confundem, de maneira que o Espírito se desprende pouco a pouco dos seus liames; estes se soltam e não se rompem. (LE – 155)

NOTA DE ALLAN KARDEC - Durante a vida o Espírito está ligado ao corpo pelo seu envoltório material ou perispírito; a morte é apenas a destruição do corpo, e não desse envoltório, que se separa do corpo quando cessa a vida orgânica. A observação prova que no instante da morte o desprendimento do Espírito não se completa subitamente; ele se opera gradualmente, com lentidão variável, segundo os indivíduos. Para uns é bastante rápido e pode dizer-se que o momento da morte é também o da libertação, que se verifica logo após. Noutros, porém, sobretudo naqueles cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito mais demorado, e dura às vezes alguns dias, semanas e até mesmo meses, o que não implica a existência no corpo de nenhuma vitalidade, nem a possibilidade de retorno à vida, mas a simples persistência de uma afinidade entre o corpo e o Espírito, afinidade que está sempre na razão da preponderância que, durante a vida, o Espírito deu à matéria. É lógico admitir que quanto mais o Espírito estiver identificado com a matéria, mais sofrerá para separar-se dela. Por outro lado, a atividade intelectual e moral e a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida corpórea, e quando a morte chega é quase instantânea. Este é o resultado dos estudos efetuados sobre todos os indivíduos observados no momento da morte. Essas observações provam ainda que a afinidade que persiste, em alguns indivíduos, entre a alma e o corpo, é às vezes muito penosa, porque o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso é excepcional e peculiar a certos gêneros de morte, verificando-se em alguns suicídios.

O conhecimento do Espiritismo exerce uma grande e boa influência, pois faz o Espírito compreender antecipadamente a sua situação: contudo, são a prática do bem e a pureza de consciência as que exercem maiores e melhores influências. (LE - 165)

NOTA DE ALLAN KARDEC - No momento da morte, tudo, a princípio, é confuso; a alma necessita de algum tempo para se reconhecer; sente-se como atordoada, no mesmo estado de um homem que saísse de um sono profundo e procurasse compreender a situação. A lucidez das ideias e a memória do passado voltam, a medida que se extingue a influência da matéria e que se dissipa essa espécie de nevoeiro que lhe turva os pensamentos.

A duração da perturbação de após morte é muito variável: pode ser de algumas horas, como de muitos meses e mesmo de muitos anos. Aqueles em que é menos longa, são os que se identificaram durante a vida com o seu estado futuro, porque então compreendem imediatamente a sua posição.

Essa perturbação apresenta circunstâncias particulares, segundo o caráter dos indivíduos e sobretudo de acordo com o gênero de morte. Nas mortes violentas, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos, etc., o Espírito é surpreendido, espanta-se, não acredita que esteja morto e sustenta teimosamente que não morreu. Não obstante, vê o seu corpo, sabe que é dele, mas não compreende que esteja separado. Procura as pessoas de sua afeição, dirige-se a elas e não entende por que não o ouvem. Esta ilusão se mantém até o completo desprendimento do Espírito, e somente então ele reconhece o seu estado e compreende que não faz mais parte do mundo dos vivos.

Esse fenômeno é facilmente explicável. Surpreendido pela morte imprevista, o Espírito fica aturdido com a brusca mudança que nele se opera. Para ele, a morte é ainda sinônimo de destruição, de aniquilamento; ora, como continua a pensar, como ainda vê e escuta, não se considera morto. E o que aumenta a sua ilusão é o fato de se ver num corpo semelhante ao que deixou na Terra, cuja natureza etérea ainda não teve tempo de verificar. Ele o julga sólido e compacto como o primeiro, e quando se chama a sua atenção para esse ponto, admira-se de não poder apalpá-lo.

Assemelha-se este fenômeno ao dos sonâmbulos inexperientes, que não creem estar dormindo. Para eles, o sono é sinônimo de suspensão das faculdades; ora, como pensam livremente e podem ver, não acham que estejam dormindo. Alguns Espíritos apresentam esta particularidade, embora a morte não os tenha colhido inopinadamente; mas ela é sempre mais generalizada entre os que, apesar de doentes, não pensavam em morrer. Vê-se então o espetáculo singular de um Espírito que assiste os próprios funerais como os de um estranho, deles falando como de uma coisa que não lhe dissesse respeito, até o momento de compreender a verdade.

A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem: é calma e em tudo semelhante à que acompanha um despertar tranquilo. Para aquele cuja consciência não está pura é cheia de ansiedades e angústias.

Nos casos de morte coletiva observou-se que todos os que perecem ao mesmo tempo nem sempre se reveem imediatamente. Na perturbação que se segue à morte cada um vai para o seu lado ou somente se preocupa com aqueles que lhe interessam.

A afinidade que persiste entre o Espírito e o corpo produz, em alguns suicidas, uma espécie de repercussão do estado do corpo sobre o Espírito, que assim ressente, malgrado seu, os efeitos da decomposição, experimentando uma sensação cheia de angústias e de horror. Esse estado pode persistir tão longamente quanto tivesse de durar a vida que foi interrompida. Esse efeito não é geral; mas em alguns casos o suicida não se livra das consequências da sua falta de coragem e cedo ou tarde expia essa falta, de uma ou de outra maneira. É assim que certos Espíritos, que haviam sido muito infelizes na Terra, disseram haver se suicidado na existência precedente e estar voluntariamente submetidos a novas provas, tentando suportá-las com mais resignação. Em alguns é uma espécie de apego à matéria, da qual procuram inutilmente desembaraçar-se para se dirigirem a mundos melhores, mas cujo acesso lhes é interditado. Na maioria é o remorso de haverem feito uma coisa inútil, da qual só provam decepções.

A religião, a moral, todas as Filosofias condenam o suicídio como contrário à lei natural. Todas nos dizem, em princípio, que não se tem o direito de abreviar voluntariamente a vida. Mas por que não se terá esse direito? Por que não se é livre de pôr um termo aos próprios sofrimentos? Estava reservado ao Espiritismo demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram, que o suicídio não é apenas uma falta como infração a uma moral, consideração que pouco importa para certos indivíduos, mas um ato estúpido, pois que nada ganha quem o pratica e até pelo contrário. Não é pela teoria que ele nos ensina isso, mas pelos próprios fatos que coloca sob os nossos olhos [1].

Somente no dia em que abolirmos todos os abusos e os preconceitos da nossa sociedade é que não teremos mais suicídios.

FONTES:
Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro quatro, cap. I, questões de 943 à 957
__________, O Livro dos Espíritos, Livro dois, cap. III, questão 155.
__________, O Livro dos Espíritos, Livro dois, cap. III, questão 165.

[1] O argumento espírita contra o suicídio não é apenas moral, como se vê, mas também biológico, firmando-se no princípio da ligação entre o Espírito e o corpo. A morte, como fenômeno natural, tem as suas leis que o Espiritismo revelou através de rigorosa investigação. O sofrimento do suicida decorre do rompimento arbitrário dessas leis: é como arrancar à força um fruto verde da árvore. As estatísticas mostram que a incidência do suicídio é maior nos países e nas épocas em que a ambição e o materialismo se acentuam, provocando mais abusos e excitando preconceitos. A falta de organização social justa e de educação para todos é causa de suicídios e crimes. Ver o final do item 949: "... se abolirdes os abusos da vossa sociedade e os vossos preconceitos, não tereis mais suicídios." (Nota de J. Herculano Pires)

PESQUISA:

LOUCURA - SUICÍDIO - OBSESSÃO

Visitante – Certas pessoas consideram as ideias espíritas como de natureza a perturbarem as faculdades mentais, e, por esse motivo, acham prudente deter-lhes a divulgação.


A.K. – Conheceis o provérbio: quando se quer matar um cão, diz-se que ele está raivoso. Não é, pois, de espantar, que os inimigos do Espiritismo procurem se apoiar sobre todos os pretextos; este lhes pareceu apropriado para despertar os temores e as suscetibilidades, tomando-o zelosamente, embora ele caia diante do mais superficial exame. Ouvi, pois, sobre esta loucura, o raciocínio de um louco.

Todas as grandes preocupações do espírito podem ocasionar a loucura; as ciências, as artes, e a própria religião fornecem seus contingentes. A loucura tem por princípio um estado patológico do cérebro, instrumento do pensamento: estando o instrumento danificado, o pensamento é alterado. A loucura, pois, é um efeito consecutivo, cuja causa primeira é uma predisposição orgânica que torna o cérebro mais, ou menos, acessível a certas impressões; isso é tão verdadeiro que tendes as pessoas que pensam demais e não se tornam loucas, enquanto que outras se tornam sob o domínio da menor superexcitação. Havendo uma predisposição à loucura, esta toma o caráter da preocupação principal, que se torna, então, uma ideia fixa. Essa ideia fixa poderá ser a dos Espíritos, naqueles que deles se ocupam, como poderá ser a de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma arte, de uma ciência, da maternidade, de um sistema político ou social. É provável que o louco religioso se tornasse um louco espírita, se o Espiritismo tivesse sido sua preocupação dominante. Um jornal disse, é verdade, que em uma única localidade da América, cujo nome não me recordo, contaram-se quatro mil casos de loucura espírita; mas sabe-se que, entre nossos adversários, é uma ideia fixa crerem-se os únicos dotados de razão, e isso é uma mania como as outras. Aos seus olhos nós somos todos dignos de um manicômio e, por conseguinte, os quatro mil espíritas da localidade em questão, deviam ser igualmente loucos. Nesse aspecto, os Estados Unidos têm centenas de milhares deles, e todos os outros países do mundo, um número bem maior. Esse mau gracejo começou a ser usado depois que se viu esta loucura ganhar as classes mais elevadas da sociedade. Fez-se grande alarde de um exemplo conhecido, de Victor Hennequin, esquecendo-se que, antes de se ocupar com o Espiritismo, ele tinha já dado provas de excentricidade das ideias. Se as mesas girantes não tivessem acontecido, o que, segundo um jogo de palavras bem espirituoso de nossos adversários, fizeram lhe girar a cabeça, sua loucura teria tomado outro curso.

Eu digo, pois, que o Espiritismo não tem nenhum privilégio a esse respeito; e vou mais longe: digo que, bem compreendido, é um preservativo contra a loucura e o suicídio.

Entre as causas mais frequentes de superexcitação cerebral, é preciso contar as decepções, os desgostos, as afeições contrariadas, que são, ao mesmo tempo, as causas mais frequentes de suicídios. Ora, o verdadeiro espírita vê as coisas deste mundo de um ponto de vista tão elevado, que as tribulações não são para ele senão os incidentes desagradáveis de uma viagem. O que, em outro, produziria uma emoção violenta, o afeta levemente. Ele sabe, aliás, que os sofrimentos da vida são provas que servem para o seu adiantamento, se as suporta sem reclamar, porque será recompensado de acordo com a coragem com a qual as tiver suportado. Suas convicções lhe dão, pois, uma resignação que o preserva do desespero, e, por conseguinte, de uma causa permanente de loucura e de suicídio. Por outro lado, ele sabe, pelo que vê nas comunicações com os Espíritos, da sorte deplorável daqueles que abreviam voluntariamente seus dias, e esse quadro basta para fazê-lo refletir; por isso é considerável o número daqueles que se detiveram sobre essa inclinação funesta. Eis aí um dos resultados do Espiritismo.

Ao número das causas de loucura, é preciso ainda acrescentar o medo, e o medo do diabo desarranjou mais de um cérebro. Sabe-se, acaso, o número de vítimas que se fez amedrontando-se imaginações fracas com esse quadro que se esforça em tornar mais assustador por detalhes hediondos? O diabo, diz-se, não assusta senão as crianças e é um freio para torná-las sábias; sim, como o bicho papão e o lobisomem, e quando elas não têm mais medo, tornam-se piores que antes. E, para esse belo resultado, não se conta o número de epilepsias causadas pela comoção de um cérebro delicado.

É preciso não confundir a loucura patológica com a obsessão. Esta não se origina de nenhuma lesão cerebral, mas da subjugação que Espíritos malfazejos exercem sobre certos indivíduos, e tem por vezes as aparências da loucura propriamente dita. Essa doença, que é muito frequente e independente de qualquer crença no Espiritismo, existiu em todos os tempos. Nesse caso, a medicação ordinária é ineficaz e mesmo nociva. O Espiritismo, fazendo conhecer esta nova causa de perturbação da saúde, dá ao mesmo tempo o único meio de triunfar sobre ela, agindo não sobre a doença, mas sobre o Espírito obsessor. Ele é o remédio e não a causa do mal.

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O SUÍCIDIO E A LOUCURA
In O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, itens de 14 à 17.

A calma e a resignação adquiridas na maneira de encarar a vida terrena, e a fé no futuro, dão ao Espírito uma serenidade que é o melhor preservativo da loucura e do suicídio. Com efeito, a maior parte dos casos de loucura são provocados pelas vicissitudes que o homem não tem forças de suportar. Se, portanto, graças à maneira porque o Espiritismo o faz encarar as coisas mundanas, ele recebe com indiferença, e até mesmo com alegria, os revezes e as decepções que em outras circunstâncias o levariam ao desespero, é evidente que essa força, que o eleva acima dos acontecimentos, preserva a sua razão dos abalos que o poderiam perturbar.

O mesmo se dá com o suicídio. Se excetuarmos os que se verificam por força da embriaguez e da loucura, e que podemos chamar de inconscientes, é certo que, sejam quais forem os motivos particulares, a causa geral é sempre o descontentamento. Ora, aquele que está certo de ser infeliz apenas um dia, e de se encontrar melhor nos dias seguintes, facilmente adquire paciência. Ele  se desespera se não ver um termo para os seus sofrimentos. E o que é a vida humana, em relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas aquele que não crê na eternidade, que pensa tudo acabar com a vida, que se deixa abater pelo desgosto e o infortúnio, só vê na morte o fim dos seus pesares. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar as suas misérias pelo suicídio.

A incredulidade, a simples dúvida quanto ao futuro, as ideias materialistas, em uma palavra, são os maiores incentivadores do suicídio: elas produzem a frouxidão moral. Quando vemos, pois, homens de ciência, que se apoiam na autoridade do seu saber, esforçarem-se para provar aos seus ouvintes ou aos seus leitores, que eles nada têm a esperar depois da morte, não o vemos tentando convencê-los de que, se são infelizes, o melhor que podem fazer é matar-se? Que poderiam dizer para afastá-los dessa ideia? Que compensação poderão oferecer-lhes? Que esperanças poderão propor-lhes? Nada além do nada! De onde é forçoso concluir que, se o nada é o único remédio heroico, a única perspectiva possível, mais vale atirar-se logo a ele, do que deixar para mais tarde, aumentando assim o sofrimento.

A propagação das ideias materialistas é, portanto, o veneno que inocula em muitos a ideia do suicídio, e os que se fazem seus apóstolos assumem uma terrível responsabilidade. Com o Espiritismo, a dúvida não sendo mais permitida, modifica-se a visão da vida. O crente sabe que a vida se prolonga indefinidamente para além do túmulo, mas em condições inteiramente novas. Daí a paciência e a resignação, que muito naturalmente afastam a ideia do suicídio. Daí, numa palavra, a coragem moral.

O Espiritismo tem ainda, a esse respeito, outro resultado igualmente positivo, e talvez mais decisivo. Ele nos mostra os próprios suicidas revelando a sua situação infeliz, e prova que ninguém pode violar impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem abreviar a sua vida. Entre os suicidas, o sofrimento temporário, em lugar do eterno, nem por isso é menos terrível, e sua natureza dá o que pensar a quem quer que seja tentado a deixar este mundo antes da ordem de Deus. O espírita tem, portanto, para opor à idéia do suicídio, muitas razões: a certeza de uma vida futura, na qual ele sabe que será tanto mais feliz quanto mais infeliz e mais resignado tiver sido na Terra; a certeza de que, abreviando sua vida, chega a um resultado inteiramente contrário ao que esperava; que foge de um mal para cair noutro ainda pior, mais demorado e mais terrível; que se engana ao pensar que, ao se matar, irá mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo à reunião, no outro mundo, com as pessoas de sua afeição, que lá espera encontrar. De tudo isso resulta que o suicídio, só lhe oferecendo decepções, é contrário aos seus próprios interesses. Por isso o número de suicídios que o Espiritismo impede é considerável, e podemos concluir que, quando todos forem espíritas, não haverá mais suicídios conscientes. Comparando, pois, os resultados das doutrinas materialista e espírita, sob o ponto de vista do suicídio, vemos que a lógica de uma conduza ele, enquanto a lógica de outra o evita, o que é confirmado pela experiência.

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PRECE POR UM SUICIDA
In O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVIII, itens de 71 e 72.

PREFÁCIO - O homem não tem jamais o direito de dispor da sua própria vida, pois só a Deus compete tirá-lo do cativeiro terreno, quando o julgar oportuno. Apesar disso, a justiça divina pode abrandar o seu rigor, em virtude de certas circunstâncias, reservando, porém, toda a sua severidade para aquele que quis furtar-se às provas da existência. O suicida assemelha-se ao prisioneiro que escapa da prisão antes de cumprir a sua pena, e que ao ser preso de novo será tratado com mais severidade. Assim acontece, pois, com o suicida, que pensa escapar às misérias presentes e mergulha em maiores desgraças.

PRECE - Sabemos qual a sorte que espera os que violam a vossa lei, Senhor, para abreviar voluntariamente os seus dias! Mas sabemos também que a vossa misericórdia é infinita. Estendei-a sobre o Espírito de Fulano, Senhor! E possam as nossas preces e a vossa comiseração abrandar as amarguras dos sofrimentos que sua porta, por não ter tido a coragem de esperar o fim das suas prova. Bons Espíritos, cuja missão é assistir os infelizes, tomai-o sob a vossa proteção; inspirai-lhe o remorso pela falta cometida, e que a vossa assistência lhe dê a força de enfrentar com mais resignação as novas provas que terá de sofrer, para repará-la. Afastai dele os maus; Espíritos, que poderiam levá-lo novamente ao mal, prolongando os seus sofrimentos, ao fazê-lo perder o fruto das novas experiências. E a ti, cuja desgraça provoca as nossas preces, que possa a nossa comiseração adoçar a tua amargura, fazendo nascer em teu coração a esperança de um futuro melhor! Esse futuro está nas tuas próprias mãos: confia na bondade de Deus, que espera sempre por todos os que se arrependem, e só é severo para os de coração empedernido.

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sexta-feira, 4 de maio de 2012

SOBRE O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO


 
SOBRE O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
FONTES DESTA PESQUISA
REVISTA ESPÍRITA
Ano 7 – março/abril/agosto/dezembro 1864 – nºs. 3, 4, 8, 11 e Ano 8 – novembro 1865 – nº. 11
O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
OBRAS PÓSTUMAS, 2ª parte, 1890

 
Pesquisa: Elio Mollo

 
 
IMITAÇÃO DO EVANGELHO.
OBRAS PÓSTUMAS, 2ª parte, 1890

(Ségur, 9 de agosto de 1863, médium sr. D’A...)

 NOTA. – Eu não tinha comunicado a ninguém o assunto do livro no qual trabalhava; tivera-lhe o título de tal modo em segredo que o editor, Sr. Didier, não o conheceu senão quando da impressão. Esse título foi de início, para a primeira edição: Imitação do Evangelho. Mais tarde, sobre as observações reiteradas do Sr. Didier, e de algumas outras pessoas, foi mudado para o de: O Evangelho segundo o Espiritismo. As reflexões contidas nas comunicações seguintes não poderiam ser o resultado de idéias preconcebidas do médium. 

P. – Que pensais da nova obra em que trabalho neste momento?
 R. – Esse livro das doutrinas terá uma influência considerável; nele abordas questões capitais, e não só o mundo religioso nele encontrará as máximas que lhe são necessárias, mas a vida prática das nações nele haurirão excelentes instruções. Fizeste bem em abordar questões de alta moral prática do ponto de vista dos interesses gerais, dos interesses sociais e dos interesses religiosos. A dúvida deve ser destruída; a Terra e as suas populações civilizadas estão preparadas; já faz bastante tempo que os teus amigos de além-túmulo a desbravaram; lança, pois, a semente que te confiamos, porque é tempo de que a Terra gravite na ordem irradiante das esferas, e que saia, enfim, da penumbra e dos nevoeiros intelectuais. Acaba a tua obra, e contem com a proteção de teu guia, nosso guia de todos, e com o concurso devotado de teus mais fiéis Espíritos, no número dos quais queira muito sempre me contar.

 P. – Que dirá disso o clero?
 R. – O clero clamará à heresia, porque verá que nele atacas firmemente as penas eternas e outros pontos sobre os quais apóia a sua influência e o seu crédito, clamará tanto mais que se sentirá muito mais ferido do que pela publicação de O Livro dos Espíritos, do qual a rigor, podia aceitar os princípios dados; mas, no presente, vais entrar num novo caminho onde ele não poderá te seguir. O anátema secreto tornar-se-á oficial, e os Espíritas serão rejeitados junto aos Judeus e aos Pagãos pela Igreja romana. Em compensação, os Espíritas verão seu número aumentar, em razão dessa espécie de perseguição, sobretudo vendo os padres acusarem de obra absolutamente demoníaca uma Doutrina cuja moralidade brilhará como um raio de Sol pela publicação mesma de teu novo livro, e daqueles que o seguirão.

 Eis que a hora se aproxima em que será preciso declarar abertamente o Espiritismo por aquilo que ele é, e mostrar a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo; a hora se aproxima em que, diante do céu e da Terra, deverás proclamar o Espiritismo como a única tradição realmente cristã, a única instituição verdadeiramente divina e humana. Escolhendo-te, os Espíritos sabiam da solidez de tuas convicções, e que a tua fé, como uma muralha de bronze, resistiria a todos os ataques.

 No entanto, amigo, se a tua coragem ainda não faliu na tarefa tão pesada que aceitaste, fica sabendo bem que comeste o teu pão branco principal, e que eis chegada a hora das dificuldades. Sim, caro Mestre, a grande batalha se prepara; o fanatismo e a intolerância, levantados pelo sucesso de tua propaganda, vão disparar, sobre ti e os teus, com armas envenenadas. Prepara-te para a luta. Mas tenho fé em ti, como tens fé em nós, e porque a tua fé é daquelas que transporta as montanhas e faz caminhar as águas sobre elas. Coragem, pois, e que a tua obra se realize. Conta conosco, e conta sobretudo com a grande alma do nosso Mestre de todos, que te protege de um modo tão particular. 

(Paris, 14 de setembro de 1863.)

 NOTA. – Tinha solicitado para mim uma comunicação, sobre um assunto qualquer, e pedi que me fosse enviada para o meu retiro de Sainte-Adresse.

 "Quero muito te falar de Paris, embora a utilidade disso não me pareça demonstrada, tendo em vista que as minhas vozes íntimas se fazem ouvir ao teu redor, e que o teu cérebro percebe as nossas inspirações com uma facilidade da qual tu mesmo não desconfias. Nossa ação, sobretudo a do Espírito de Verdade, é constante ao teu redor, e tal que não podes recusá-la. É por que não entrarei em detalhes ociosos a respeito do plano de tua obra que tens, segundo os meus conselhos ocultos, tão largamente e tão completamente modificado. Compreendes agora porque tínhamos necessidade de tê-lo sob a mão, livre de toda outra preocupação senão daquela da Doutrina. Uma obra como a que elaboramos juntos, tem necessidade de recolhimento e de isolamento sagrado. Sigo com um vivo interesse os progressos de teu trabalho, que são um passo considerável para a frente, e abrem, enfim, ao Espiritismo, o largo caminho das aplicações úteis para o bem da sociedade. Com essa obra, o edifício começa a se livrar de seus alicerces, e já se pode entrever a sua cúpula se desenhar no horizonte. Continua, pois, sem impaciência, como sem cansaço; o monumento estará acabado na hora fixada.

 Já nos entretivemos com questões incidentes do momento, quer dizer, com questões religiosas. O Espírito de Verdade falou-te das revolta que ocorrem nesta hora; essas hostilidades previstas são necessárias para manter desperta a atenção dos homens, tão fáceis em se deixar desviar de um assunto sério. Aos soldados que combatem pela causa vão se juntar, incessantemente, novos combatentes, cujas palavras e cujos escritos farão sensação, e levarão a perturbação e a confusão às fileiras de nossos adversários.

 Adeus, caro companheiro de outros tempos, discípulo fiel da verdade, que continua, através da vida, a obra à qual juramos outrora, nas mãos do grande Espírito que te ama e que te venera, consagrar as nossas forças e as nossas existências até que ela esteja acabada. Saudação a ti."

NOTA. – O plano da obra fora, com efeito, completamente modificado, o que, seguramente, o médium não poderia saber, uma vez que estava em Paris e eu em Sainte-Adresse; também não poderia saber que o Espírito de Verdade me falara a respeito da revolta do Bispo de Alger e outros. Todas essas circunstâncias estavam bem feitas para me confirmarem a parte que os Espíritos tomavam em meus trabalhos.

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Na Revista Espírita de março de 1864

NOTÍCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Uma nova obra do Sr. Allan Kardec, mais ou menos do mesmo volume de O Livro dos Espíritos, está no prelo desde dezembro. Deveria aparecer em fevereiro, mas atrasos involuntários na impressão, e os cuidados que esta exige, não o permitiram. Tudo nos faz esperar que poderemos anunciar a sua venda no próximo número. Destina-se a substituir a obra anunciada sob o título: As vozes do mundo invisível, cujo plano primitivo foi radicalmente mudado.

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Na Revista Espírita de abril de 1864

BIBLIOGRAFIA

À VENDA

IMITAÇÃO DO EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO

Contendo a explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e sua aplicação às diversas circunstâncias da vida.

Por ALLAN KARDEC

Com esta epígrafe: “Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.”

Abstemo-nos de qualquer reflexão sobre esta obra, limitando-nos a extrair da introdução a parte que indica o seu objetivo.

“Podem dividir-se em quatro partes as matérias contidas nos Evangelhos:

          1) os atos comuns da vida do Cristo;
          2) os milagres;
          3) as predições; e
          4) o ensino moral. 

“As três primeiras partes têm sido objeto de controvérsias; A ÚLTIMA, porém, CONSERVOU-SE CONSTANTEMENTE INATACÁVEL. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É TERRENO ONDE TODOS OS CULTOS PODEM REUNIR-SE, ESTANDARTE SOB O QUAL PODEM TODOS COLOCAR-SE, QUAISQUER QUE SEJAM SUAS CRENÇAS, porquanto jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda parte se originaram das questões dogmáticas. Aliás, se o discutissem, nele teriam as seitas encontrado sua própria condenação, visto que, NA MAIORIA,ELAS SE AGARRAM MAIS À PARTE MÍSTICA DO QUE À PARTE MORAL, que EXIGE DE CADA UM A REFORMA DE SI MESMO. Para os homens, em particular, constitui aquele código UMA REGRA DE PROCEDER QUE ABRANGE TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS DA VIDA PRIVADA E DA VIDA PÚBLICA,O PRINCÍPIO BÁSICO DE TODAS AS RELAÇÕES SOCIAIS QUE SE FUNDAM NA MAIS RIGOROSA JUSTIÇA. É finalmente e acima de tudo, O ROTEIRO INFALÍVEL PARA A FELICIDADE VINDOURA, o levantamento de uma ponta do véu que nos oculta a vida futura. Essa parte é a que será objeto exclusivo desta obra.

“Toda a gente admira a moral evangélica; todos lhe proclamam a sublimidade e a necessidade; muitos, porém, assim se pronunciam por fé, confiados no que ouviram dizer, ou firmados em certas máximas que se tornaram proverbiais. Poucos, no entanto, a conhecem a fundo e menos ainda são os que a compreendem e lhe sabem deduzir as conseqüências. A razão está, em grande parte, na dificuldade que apresenta o entendimento do Evangelho que, para o maior número dos seus leitores,é ininteligível. A forma alegórica e O INTENCIONAL MISTICISMO DA LINGUAGEM fazem que a maioria o leia por desencargo de consciência e por dever,como lêem as preces,sem as entender,isto é,sem proveito. PASSAM-LHES DESPERCEBIDOS OS PRECEITOS MORAIS, disseminados aqui e ali, intercalados na massa das narrativas. Impossível, então, se lhes apanhar o conjunto e tomá-los para objeto de leitura e meditações especiais.

“É certo que tratados já se hão escrito de moral evangélica; mas, O ARRANJO EM MODERNO ESTILO LITERÁRIO LHE TIRA A PRIMITIVA SIMPLICIDADE que, ao mesmo tempo, lhe constitui o encanto e a autenticidade. Outro tanto cabe dizer-se das máximas destacadas e reduzidas à sua mais simples expressão proverbial. Desde logo, já não passam de aforismos, privados de uma parte do seu valor e interesse, pela ausência dos acessórios e das circunstâncias em que foram enunciadas.

“Para obviar a esses inconvenientes, REUNIMOS, NESTA OBRA, OS ARTIGOS QUE PODEM COMPOR, A BEM DIZER, UM CÓDIGO DE MORAL UNIVERSAL, SEM DISTINÇÃO DE CULTO. Nas citações, conservamos o que é útil ao desenvolvimento da idéia, pondo de lado unicamente o que se não prende ao assunto. Além disso, RESPEITAMOS ESCRUPULOSAMENTE A TRADUÇÃO ORIGINAL DE SACY, assim como a divisão em versículos. Em vez, porém, de nos atermos a uma ordem cronológica impossível e sem vantagem real para o caso, grupamos e classificamos metodicamente as máximas, segundo as respectivas naturezas, de modo que decorram umas das outras, tanto quanto possível. A indicação dos números de ordem dos capítulos e dos versículos permite se recorra à classificação vulgar, em sendo oportuno.

“Esse, entretanto, seria um trabalho material que, por si só, apenas teria secundária utilidade. O ESSENCIAL ERA PÔ-LO AO ALCANCE DE TODOS, mediante a explicação das passagens obscuras e o desdobramento de todas as conseqüências, tendo em vista a aplicação dos ensinos a todas as condições da vida. Foi o que tentamos fazer, com a ajuda dos Espíritos bons que nos assistem.

“Muitos pontos dos Evangelhos, da Bíblia e dos autores sacros em geral só são ininteligíveis, parecendo alguns até irracionais, por falta da chave que faculte se lhes apreenda o verdadeiro sentido. ESSA CHAVE ESTÁ COMPLETA NO ESPIRITISMO, como já o puderam reconhecer os que o têm estudado seriamente e como todos, mais tarde, ainda melhor o reconhecerão. O Espiritismo se nos depara por toda parte na antiguidade e nas diferentes épocas da Humanidade. Por toda parte se lhe descobrem os vestígios: nos escritos, nas crenças e nos monumentos. Essa a razão por que, ao mesmo tempo que rasga horizontes novos para o futuro,projeta luz não menos viva sobre os mistérios do passado.

“Como complemento de cada preceito, acrescentamos algumas instruções escolhidas, dentre as que os Espíritos ditaram em vários países e por diferentes médiuns. Se elas fossem tiradas de uma fonte única, houveram talvez sofrido uma influência pessoal ou a do meio, enquanto a diversidade de origens prova que os Espíritos dão indistintamente seus ensinos e que ninguém a esse respeito goza de qualquer privilégio.

“ESTA OBRA É PARA USO DE TODOS. Dela podem todos haurir os meios de conformar com a moral do Cristo o respectivo proceder. Aos espíritas oferece aplicações que lhes concernem de modo especial. Graças às relações estabelecidas, doravante e permanentemente, entre os homens e o mundo invisível, a lei evangélica, que os próprios Espíritos ensinaram a todas as nações, já não será letra morta, porque cada um a compreenderá e se verá incessantemente compelido a pô-la em prática, a conselho de seus guias espirituais. As instruções que promanam dos Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens e convidá-los à imitação do Evangelho.”

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Na Revista Espírita de agosto de 1864

Para todos os casos de obsessão,de possessão e de quaisquer manifestações desagradáveis,chamamos a atenção sobre o que, a respeito, diz O Livro dos Médiuns, capítulo da Obsessão; sobre os artigos da Revista relativos a Morzine e referidos acima; sobre nossos artigos dos meses de fevereiro, março e junho de 1864, concernentes à jovem obsedada de Marmande; enfim, sobre os nº.s 325 a 335 (*) da Imitação do Evangelho. Aí  encontrarão as instruções necessárias para se guiarem em circunstâncias análogas. 

(*) Cap. XXVIII, Prece pelos obsedados.

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Na Revista Espírita de dezembro de 1864

COMUNICAÇÃO ESPÍRITA
  
A PROPÓSITO DA IMITAÇÃO DO EVANGELHO
(Bordeaux, maio de 1864. Grupo de São João – Médium:: Sr. Rul.)

Acaba de aparecer um novo livro; é uma luz mais brilhante que vem clarear a vossa marcha. Há dezoito séculos, por ordem de meu Pai, vim trazer a palavra de Deus aos homens de boa vontade. Esta palavra foi esquecida pela maioria dos homens, e a incredulidade, o materialismo vieram abafar o bom grão que eu tinha depositado em vossa Terra. Hoje, por ordem do Eterno, os Espíritos bons, seus mensageiros, vêm a todos os pontos do globo fazer ouvir a trombeta retumbante. Escutai suas vozes; são destinadas a vos mostrar o caminho que conduz aos pés do Pai celestial. Sede dóceis aos seus ensinos; os tempos preditos são chegados; todas as profecias serão cumpridas.

Pelos frutos se conhece a árvore. Vede quais são os frutos do Espiritismo: casais onde a discórdia tinha substituído a harmonia voltaram à paz e à felicidade; homens que sucumbiam ao peso de suas aflições, despertados pelos acordes melodiosos das vozes de além-túmulo, compreenderam que seguiam o caminho errado e, envergonhados de suas fraquezas, arrependeram-se e pediram força ao Senhor para suportarem as suas provações.

Provações e expiações, eis a condição do homem na Terra. Expiação do passado, provações para o fortalecer contra a tentação, para desenvolver o Espírito pela atividade da luta, habituá-lo a dominar a matéria e prepará-lo para as alegrias puras que o esperam no mundo dos Espíritos.

Há muitas moradas na casa de meu Pai, disse-lhes eu há dezoito séculos. O Espiritismo veio tornar compreensíveis estas palavras. E vós, meus bem-amados, trabalhadores que suportais o calor do dia, que credes ter de vos lamentar da injustiça da sorte, abençoai vossos sofrimentos; agradecei a Deus, que vos dá meios de quitar as dívidas do passado. Orai, não com os lábios, mas com o coração melhorado, a fim de que possais ocupar melhor lugar na casa de meu Pai. Como sabeis, os grandes serão humilhados, mas os pequenos e os humildes serão exaltados. 

O Espírito de Verdade

OBSERVAÇÃO – Sabe-se que não levamos em consideração o nome dos seres que se comunicam, sobretudo os que se apresentam sob nomes venerandos. Não garantimos mais esta assinatura do que muitas outras, limitando-nos a entregar esta comunicação à apreciação de todo espírita esclarecido. Diremos, contudo, que não se pode negar a elevação do pensamento, a nobreza e a simplicidade das expressões, a sobriedade da linguagem e a ausência de toda superfluidade. Se se compara às que são dadas na Imitação do Evangelho (prefácio e capítulo III: O Cristo Consolador), e que levam a mesma assinatura, embora obtidas por médiuns diferentes e em épocas diversas, nota-se entre elas uma analogia impressionante de tom, de estilo e de pensamentos, que acusam uma origem única. Para nós, dizemos que pode ser do Espírito de Verdade, porque é digna dele, enquanto temos visto massas assinadas por este nome venerado ou o de Jesus, cuja prolixidade, verborragia, vulgaridade, por vezes mesmo a trivialidade das idéias, traem a origem apócrifa aos olhos dos menos clarividentes. Só uma fascinação completa pode explicar a cegueira dos que se deixam apanhar,quando não, também, o orgulho de julgar-se infalível e intérprete privilegiado dos Espíritos puros, orgulho sempre punido, mais cedo ou mais tarde, pelas decepções, mistificações ridículas e por desgraças reais nesta vida. À vista desses nomes venerados, o primeiro sentimento do médium modesto é o da dúvida, porque não se julga digno de tal favor. 

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Na Revista Espírita de novembro de 1865

NOTÍCIAS BIBLIOGRÁFICAS

No Prelo, Para Aparecer em Alguns Dias:

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO (1)
por  Allan Kardec

3ª. Edição
Revista, Corrigida e Modificada.

Esta edição foi objeto de um remanejamento completo da obra. Além de algumas adições, as principais alterações consistem numa classificação mais metódica, mais clara e mais cômoda das matérias, o que torna sua leitura e as buscas mais fáceis.

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(1) Um vol. grande in-12.Livraria dos Srs. Didier &Cia, 35, quai des Grands-Augustins; Ledoyen, no Palais-Royal, no escritório da Revista Espírita. Preço: 3 fr. 50 c.

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OBJETIVO DA OBRA
(O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO)

Podemos dividir as matérias contidas nos Evangelhos em cinco partes:

1) os atos comuns da vida do Cristo:
2) os milagres:
3) as profecias:
4) as palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja:
5) o ensino moral.

Se as quatro primeiras partes têm sido objeto de discussões, a última PERMANECE INATACÁVEL. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. E o terreno em que TODOS OS CULTOS podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, por mais diferentes que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de disputas religiosas, sempre e por toda a parte PROVOCADA PELOS DOGMAS. Se o discutissem, as seitas teriam, aliás, encontrado nele a sua própria condenação, porque A MAIORIA DELAS SE APEGARAM MAIS A PARTE MÍSTICA DO QUE À PARTE MORAL, que EXIGE A REFORMA DE CADA UM.  Para os homens, em particular É UMA REGRA DE CONDUTA QUE ABRANGE TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS DA VIDA PRIVADA E PUBLICA, O PRINCÍPIO DE TODAS AS RELAÇÕES SOCIAIS fundadas na mais RIGOROSA JUSTIÇA. É, por fim, e acima de tudo O CAMINHO INFALÍVEL DA FELICIDADE A CONQUISTAR, uma ponta do véu erguida sobre a vida futura. É essa parte que constitui o objeto exclusivo desta obra.

Todo o mundo admira a moral evangélica; todos proclamam a sua sublimidade e a sua necessidade, mas muitos o fazem confiando naquilo que ouviram, ou apoiados em algumas máximas que se tornaram proverbiais, pois poucos a conhecem a fundo, e menos ainda a compreendem e sabem tirar-lhes as conseqüências. A razão disso está em grande parte, nas dificuldades apresentadas pela leitura do Evangelho, ininteligível para a maioria. A forma alegórica, O MISTICISMO INTENCIONAL DA LINGUAGEM, fazem que a maioria o leiam por desencargo de consciência e por obrigação, como lêem as preces sem as compreender, o que vale dizer sem proveito. OS PRECEITOS DE MORAL, espalhados no texto, misturados com as narrativas, PASSAM DESPERCEBIDOS. Torna-se impossível apreender o conjunto e fazê-los objeto de leitura e meditação separadas.

Fizeram-se, é verdade, tratados de moral evangélica, mas A ADAPTAÇÃO ao estilo literário moderno tira-lhe a ingenuidade primitiva, que lhe dá, ao mesmo tempo, encanto e autenticidade. Acontece o mesmo com as máximas destacadas, reduzidas a mais simples expressão proverbial, que não passam então de aforismos, PERDENDO UMA PARTE DE SE VALOR e de seu INTERESSE, pela falta dos acessórios e das circunstâncias em que foram dadas.

Para evitar esses inconvenientes, REUNIMOS nesta obra os TRECHOS QUE PODEM CONSTITUIR, propriamente falando, UM CÓDIGO MORAL UNIVERSAL, sem distinção de cultos. Nas citações, CONSERVAMOS TUDO o que era de UTILIDADE ao desenvolvimento do pensamento, suprimindo apenas as coisas estranhas ao assunto. Além disso, RESPEITAMOS ESCRUPULOSAMENTE a tradução original de Sacy, assim como a divisão por versículos. Mas, em vez de nos prendermos a uma ordem cronológica impossível, e sem vantagem real em semelhante assunto, as máximas foram agrupadas e distribuídas metodicamente segundos sua natureza, de maneira a que umas se deduzam das outras, tanto quanto possível. A indicação dos números de ordem dos capítulos e dos versículos permite recorrer à classificação comum, caso se julgue conveniente.

Esse seria apenas um trabalho material, que por si só não teria mais do que uma utilidade secundária. O essencial era pô-lo ao alcance de todos, pela explicação das passagens obscuras e o desenvolvimento de todas as suas conseqüências, com vistas à aplicação às diferentes situações da vida.  Foi o que procuramos fazer, com a ajuda dos bons Espíritos que nos assistem.

Muitas passagens do Evangelho, da Bíblia, e dos autores sagrados em geral são ininteligíveis, e muitas mesmo parecem absurdas por falta de uma chave que nos dê o seu verdadeiro sentido. Essa chave está inteirinha no Espiritismo, como já se convenceram os que estudaram seriamente a doutrina, e como ainda melhor se reconhecerá mais tarde. O Espiritismo se encontra por toda parte, na Antigüidade, e em todas as épocas da humanidade. Em tudo encontramos seus traços, nos escritos, nas crenças e nos monumentos, e é por isso que, se ele abre novos horizontes para o futuro, lança também uma viva luz sobre os mistérios do passado.

Como complemento de cada preceito, damos algumas instruções, escolhidas entre as que foram ditadas pelos Espíritos em diversos países, através de diferentes médiuns. Se essas instruções tivessem surgido de uma fonte única, poderiam ter sofrido uma influência pessoal ou do meio, enquanto diversidade de origens prova que os Espíritos dão os seus ensinamentos por toda parte, e que não há ninguém privilegiado a esse respeito.

ESTA OBRA É PARA O USO DE TODOS; cada qual pode dela tirar os meios de conformar sua conduta à moral do Cristo. Os espíritas nela encontrarão, além disso, as aplicações que lhes concernem mais especialmente. Graças às comunicações estabelecidas, de agora em diante, de maneira permanente, entre os homens e o mundo invisível, a lei evangélica, ensinada a todas as nações pelos próprios espíritos, não será mais letra morta, porque cada qual a compreenderá, e será incessantemente solicitado a pô-la em prática, pelos conselhos de seus guias espirituais. As instruções dos Espíritos são verdadeiramente as vozes do céu que vêm esclarecer os homens e convidá-los á prática do Evangelho.

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(Tradução de J. Herculano Pires)
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