quinta-feira, 12 de setembro de 2013

DOS ESPÍRITOS


DOS ESPÍRITOS
Estudo com base in O Que é o Espiritismo,
Allan Kardec, cap. II - Noções Elementares de Espiritismo, itens de 7 à 21.
(em 12/09/2013)
   

Os Espíritos não são seres à parte na criação ou de uma natureza excepcional, mas são as almas daqueles que viveram sobre a Terra ou em outros mundos, onde deixaram seu envoltório corporal, que povoam os espaços, nos cercam e nos acotovelam sem cessar, e, entre eles, cada um pôde reconhecer, por sinais incontestáveis, seus parentes, seus amigos e aqueles que conheceu neste mundo. Pôde-se segui-los em todas as fases de sua existência de além-túmulo, desde o instante em que deixaram seus corpos, e observar sua situação segundo o gênero de morte e a maneira pela qual viveram sobre a Terra (1). Quem admitir a existência da alma sobrevivendo ao corpo, admite por isso mesmo a existência dos Espíritos. Negar os Espíritos seria negar a alma.

Geralmente, faz-se um ideia muito falsa do estado dos Espíritos. Eles não são, seres abstratos, vagos e indefinidos nem chamas como os fogos-fátuos, nem fantasmas como nos contos de almas do outro mundo, mas seres concretos e circunscritos, aos quais não falta senão serem visíveis para assemelharem-se aos humanos (2), tendo um corpo como o nosso, mas fluídico e invisível em seu estado normal, assim,  não há como dizer se os Espíritos são imateriais. Aliás, imaterial não é o termo apropriado, a definição incorpóreo, seria mais exato, pois devemos compreender que, sendo uma criação, o Espírito deve ser alguma coisa. É uma matéria quintessenciada (3), para a qual não dispomos de analogia, é tão eterizada, que não pode ser percebida pelos nossos sentidos. 

Quando a alma (4) está unida ao corpo, durante a vida, ela tem um duplo envoltório: um pesado, grosseiro e destrutível, que é o corpo; outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito.

Há no homem três coisas essenciais: 

1) a ALMA ou ESPÍRITO (elementar), princípio inteligente que abriga o pensamento, a vontade e o senso moral;

2) o CORPO, envoltório material que coloca o Espírito em relação com o mundo exterior; 

3) o PERISPÍRITO, envoltório fluídico, leve, imponderável, servindo de liame e de intermediário entre o Espírito e o corpo. 

Quando o envoltório exterior (corpo físico) está gasto e não pode mais funcionar, ele sucumbe e o Espírito dele se despoja, como o fruto se despoja de sua casca, a árvore de sua casca, a serpente de sua pele, em uma palavra, como se tira uma veste velha e imprestável. É o que chamamos de morte (do corpo físico).

A morte não é senão a destruição do envoltório material, assim, a alma abandona esse envoltório como a borboleta deixa sua crisálida; contudo, ela conserva seu corpo fluídico ou PERISPÍRITO.

A morte do corpo livra o Espírito do envoltório que o segurava à Terra, dessa forma, uma vez liberto desse fardo, ele não tem mais que seu corpo etéreo ou perispírito, que lhe permite percorrer o espaço e transpor as distâncias com a rapidez do pensamento.

14 –
·         A união da ALMA, do PERISPÍRITO e do CORPO MATERIAL constitui o homem;
·         A ALMA e o PERISPÍRITO separados do corpo constituem o ser chamado Espírito (5). 

Assim temos que:

·         A alma é, assim, um ser simples;
·         O Espírito um ser duplo e
·         O homem um ser triplo. (6) 

Seria portanto mais exato reservar a palavra alma para designar o princípio inteligente, e a palavra Espírito para o ser semimaterial formado desse princípio e do corpo fluídico. Mas como não se pode conceber o princípio inteligente sem ligação material, as palavras alma e Espírito são, no uso comum, indiferentemente empregadas uma pela outra; é a figura que consiste em tomar a parte pelo todo, da mesma forma que se diz que uma cidade é habitada por tantas almas, uma vila composta de tantas casas; porém, filosoficamente é essencial fazer-se a diferença.

·         Os Espíritos revestidos de corpos materiais constituem a Humanidade ou mundo corporal visível;
·         Despojados desses corpos, eles constituem o mundo espiritual ou mundo invisível. 

Assim, os Espíritos despojados de seus corpos físicos povoam o espaço no meio do qual vivemos, sem disso suspeitarem, como vivemos no meio do mundo dos infinitamente pequenos que não supúnhamos antes da invenção do microscópio (7). 

Os Espíritos têm todas as percepções que tinham sobre a Terra, mas em mais alto grau, porque suas faculdades não estão mais amortecidas pela matéria, assim, eles têm sensações que para nos encarnados são desconhecidas (8), veem e ouvem coisas que nossos sentidos limitados não nos permitem nem ver, nem ouvir. Para eles não há obscuridade, salvo para aqueles cuja punição é de estarem temporariamente nas trevas. Todos os nossos pensamentos repercutem neles, que os leem como em um livro aberto, ou seja, aquilo que podemos ocultar a qualquer outra pessoa, não podemos fazer o mesmo com os Espíritos. 

Os Espíritos estão por toda parte (9): entre nós, ao nosso lado, nos acotovelando e nos observando incessantemente. Pela sua presença permanente em nosso meio, os Espíritos são os agentes de diversos fenômenos, desempenhando um papel importante no mundo moral e, até um certo ponto, no mundo físico, constituindo, assim, uma das forças da Natureza.

Desde que se admita a sobrevivência da alma ou do Espírito, é racional admitir-se a sobrevivência das afeições (10); sem isso as almas de nossos parentes e de nossos amigos estariam perdidas para sempre, para nós.

Uma vez que os Espíritos podem ir por toda parte, é igualmente racional admitir-se que aqueles que nos amaram durante sua vida terrestre, nos amem ainda depois da morte, venham para perto de nós, desejem se comunicar conosco, servindo-se para isso dos meios que estão à sua disposição.

Isso é o que a experiência confirma. A experiência prova, com efeito, que os Espíritos conservam as afeições sérias que tinham sobre a Terra, e se alegram em vir até aqueles que amaram, sobretudo quando são atraídos pelo pensamento e sentimentos afetuosos que se lhes dirige, enquanto que são indiferentes para aqueles que não lhes têm senão indiferença.

O Espiritismo tem por objetivo a constatação e o estudo da manifestação dos Espíritos, de suas faculdades, de sua situação feliz ou infeliz, e do seu futuro (11); em uma palavra, o conhecimento do mundo espiritual. Essas manifestações sendo confirmadas, têm por resultado a prova irrecusável da existência da alma, de sua sobrevivência ao corpo, de sua individualidade depois da morte, quer dizer, da vida futura. Por isso mesmo, é a negação das doutrinas materialistas, não mais pelo raciocínio, mas pelos fatos.

Uma ideia mais ou menos geral entre as pessoas que não conhecem o Espiritismo, é de crer que os Espíritos, só porque estão livres da matéria, devem saber tudo e possuir a soberana sabedoria. Há aí um erro grave. Os Espíritos, não sendo outros senão as almas dos homens, não possuem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; o saber de cada Espírito está limitado ao seu grau de adiantamento e a sua opinião não tem senão o valor de uma opinião pessoal. (12)

Os Espíritos não adquirem a perfeição porque deixaram o seu envoltório terrestre. O progresso do Espírito se realiza com o tempo, sucessivamente, passo a passo. É assim, que ele irá se despojando de suas imperfeições e adquirindo os conhecimentos que lhe faltam. Seria também ilógico admitir-se que o Espírito de um selvagem, ou de um criminoso, torne-se de repente sábio e virtuoso, como seria contrário à justiça de Deus pensar que ele ficaria perpetuamente em sua inferioridade.

Como há homens de todos os graus de saber e de ignorância, de bondade e de maldade, ocorre o mesmo com os Espíritos. Há os que não são senão espertos e ágeis, outros são mentirosos, trapaceiros, hipócritas, maus, vingativos; outros, ao contrário, possuem as mais sublimes virtudes e o saber em grau desconhecido sobre a Terra. Essa diversidade na qualidade dos Espíritos é um dos mais importantes pontos a considerar, porque ela explica a natureza boa ou má das comunicações que se recebem; é preciso, sobretudo, se interessar em distingui-las. (13)

NOTAS:

(1) Ver Allan Kardec, O que é o Espiritismo, Segundo Diálogo - O Cético, cap 1, Origem das Ideias Espíritas Modernas.

(2) O Que é o Espiritismo, Noções Elementares de Espiritismo, Dos Espíritos, item 16.

(3) quin.tes.sên.cia  sf  (fr quintessence)
quin.ta-es.sên.cia  sf  (quinta+essência
1 Substância etérea e sutil, considerada pelos alquimistas como um quinto elemento, além da água, da terra, do fogo e do ar, e obtida após cinco destilações sucessivas.
2 Extrato retificado, refinado e apurado ao extremo.
3 A parte mais pura, mais delicada; excelente, sutil.
4 Requinte, auge, grau mais elevado. Pl: quinta-essências. Var: quintessência.
(4) Espírito elementar ou princípio inteligente, conforme resposta a questão 23 de O Livro dos Espíritos (Allan Kardec).

(5) Os Espíritos são os seres inteligentes da Criação. Eles povoam o Universo, além do mundo material. (Resposta a questão 76 de O Livro dos Espíritos (Allan Kardec).

(6) A alma é o ser simples, primitivo; o Espírito é o ser duplo; o homem é o ser triplo; confundindo-se o homem com suas roupas, ter-se-á um ser quádruplo. Nas circunstâncias das quais se trata, a palavra Espírito é a que corresponde melhor à coisa expressa.  Pelo pensamento, representa-se um Espírito, não se representa uma alma. (Allan Kardec, Revista Espírita de maio de 1864, A alma pura de minha irmã Henríette).

(7) Os Espíritos são os seres inteligentes da Criação. Eles povoam o Universo, além do mundo material.

Nesta situação a palavra Espírito é empregada para designar os seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente Universal ou princípio Inteligente; o ser simples e primitivo.

(8) A alma, uma vez no mundo dos Espíritos, tem ainda as percepções que tinha nesta vida, inclusive, outras que não possuía, porque o seu corpo era como um véu que a obscurecia. A inteligência é um atributo do Espírito, mas se manifesta mais livremente quando não tem entraves. (Resposta a questão 237 de O Livro dos Espíritos (Allan Kardec).

(9) Os Espíritos estão por toda parte: povoam ao infinito os espaços infinitos. Há os que estão sem cessar ao nosso lado, observando-nos e atuando sobre nós, sem o sabermos: porque os Espíritos são uma das forças da Natureza, e os instrumentos de que Deus se serve para o cumprimento de seus desígnios providenciais: mas nem todos vão a toda parte, porque há regiões interditas aos menos avançados. (Resposta a questão 87 de O Livro dos Espíritos (Allan Kardec).

(10) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro segundo, Mundo Espírita ou dos Espíritos, Cap. VI, Vida Espírita - Relações Simpáticas e Antipáticas. Metades Eternas, questão 291 e seguintes.

(11) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro quarto, Esperanças e Consolações, Cap. II, Penas e Gozos Futuros - Paraíso, Inferno, Purgatório. Paraíso Perdido, questão 1011 e seguintes.

(12) Um dos primeiros resultados de minhas observações foi que os Espíritos, não sendo outros senão as almas dos homens, não tinham a soberana sabedoria, nem a soberana ciência; que o seu saber estava limitado ao grau de seu adiantamento, e que a sua opinião não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Essa verdade, reconhecida desde o princípio, me preservou do grande escolho de crer em sua infalibilidade, e me impediu de formular teorias prematuras sobre o dizer de um só ou de alguns. (Allan Kardec, in Obras Póstumas, Minha primeira iniciação no Espiritismo.)

(13) (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, nº. 100, Escala Espírita. - O Livro dos Médiuns, cap. XXIV).

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