domingo, 10 de novembro de 2013

PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS


PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS
Estudo com base in O Livro dos Espíritos”, questões de 166 à 221
obra codificada por Allan Kardec
Outras obras estão indicadas nas notas.
Pesquisa: Elio Mollo
  

A reencarnação é a volta dos Espíritos à vida corporal. A reencarnação pode dar-se imediatamente depois da morte, ou após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual o Espírito permanece errante. Pode dar-se nesta Terra ou em outras esferas, mas sempre em um corpo humano, e nunca no de um animal. A reencarnação é progressiva ou estacionária; nunca retrograda. Em suas novas existências corporais o Espírito pode decair em posição social, mas não como Espírito, isto é, de senhor pode nascer servidor, de príncipe à artífice, de rico à miserável, mas progredindo sempre em ciência e moralidade. Deste modo o criminoso pode tornar-se homem de bem, mas o homem de bem não pode tornar-se criminoso.

Os Espíritos imperfeitos, que estão ainda sob a influência da matéria, nem sempre tem sobre a reencarnação ideias perfeitas. A explicação que oferecem se ressente de sua ignorância e dos preconceitos terrestres, pouco mais ou menos como se daria relativamente a um camponês a quem se perguntasse se é a Terra ou o Sol que gira. Eles tem apenas uma lembrança confusa de suas existências anteriores e o futuro se lhes apresenta extremamente vago (Sabe-se que a lembrança das existências passadas se elucida à medida em que o Espírito se purifica). Alguns falam ainda das esferas concêntricas que cercam a Terra e nas quais o Espírito, elevando-se gradativamente, chega ao sétimo céu, que é, para eles o apogeu da perfeição. Mas no meio da diversidade das expressões e da extravagância das figuras, uma observação atenta deixa reconhecer, facilmente, um pensamento dominante, o das provas sucessivas que o Espírito deve sofrer, e dos diversos graus que deve percorrer para chegar à perfeição e à suprema felicidade. Muitas vezes as coisas só nos parecem contraditórias porque não lhes sondamos o sentido íntimo. (1)

DA REENCARNAÇÃO

A alma que não atingiu a perfeição durante a vida corpórea, depura-se, submetendo-se a prova de uma nova existência. Ao se depurar, a alma sofre sem dúvida uma transformação, mas para isso necessita da prova da vida corpórea. A alma tem muitas existências corpóreas, ou seja, todos nós temos muitas existências. Desse princípio, resulta, que após ter deixado o corpo a alma toma outro. Dito de outra maneira, ela se reencarna num novo corpo.

A finalidade da reencarnação é a expiação, melhoramento progressivo da humanidade. Sem o que, onde estaria a justiça?

A cada nova existência o Espírito dá um passo na senda do progresso, quando se despojou de todas as suas impurezas não precisa mais das provas da vida corpórea.

O número das encarnações não é o mesmo para todos os Espíritos. Aquele que avança rapidamente poupa-se das provas. Não obstante, as encarnações sucessivas são sempre muito numerosas, porque o progresso é quase infinito.

O Espírito, depois da sua última encarnação se transforma em Espírito bem-aventurado, um Espírito puro.

JUSTIÇA DA REENCARNAÇÃO

O dogma natural da reencarnação se funda sobre a justiça de Deus e a revelação, pois um bom pai deixa sempre aos filhos uma porta aberta ao arrependimento. A razão não nos diz que seria injusto privar para sempre da felicidade eterna aqueles cujo melhoramento não dependeu deles mesmos? Todos os homens não são filhos de Deus? Somente entre os homens egoístas é que se encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem perdão.

Todos os Espíritos tendem a perfeição, e Deus lhes proporciona os meios de consegui-la com as provas da vida corpórea. Mas, na sua justiça, permite-lhe realizar, em novas existências, aquilo que não puderam fazer ou acabar numa primeira prova. 

Não estaria de acordo com a equidade, nem segundo a bondade de Deus, castigar para sempre aqueles que encontraram obstáculos ao seu melhoramento, independentemente de sua vontade, no próprio meio em que foram colocados. Se a sorte do homem fosse irrevogavelmente fixada após a sua morte, Deus não teria pesado as ações de todos na mesma balança e não os teria tratado com imparcialidade. 

A doutrina da reencarnação, que consiste em admitir para o homem muitas existências sucessivas, é a única que corresponde a ideia da justiça de Deus com respeito aos homens de condição moral inferior; a única que pode explicar o nosso futuro e fundamentar as nossas esperanças, pois oferece-nos o meio de resgatarmos os nossos erros através de novas provas. A razão assim nos diz, e é o que os Espíritos nos ensinam.

O homem que tem a consciência da sua inferioridade encontra na doutrina da reencarnação uma consoladora esperança. Se crê na justiça de Deus, não pode esperar que, por toda a eternidade, haja de ser igual aos que agiram melhor do que ele. O pensamento de que essa inferioridade não o deserdará para sempre do bem supremo, e do que ele poderá conquistá-lo através de novos esforços, o ampara e lhe reanima a coragem. Qual é aquele que no fim da sua carreira, não lamenta ter adquirido demasiado tarde uma experiência que já não pode aproveitar? Pois esta experiência tardia não estará perdida: ele a aproveitará numa nova existência.

ENCARNAÇÃO NOS DIFERENTES MUNDOS

Nossas diferentes existências corpóreas não se passam todas na Terra, mas nos diferentes mundos. As deste globo não são as primeiras nem as últimas, porém as mais materiais e distantes da perfeição. 

A cada nova existência corpórea a alma passa de um mundo a outro, mas pode reviver muitas vezes num mesmo globo, se não estiver bastante adiantada para passar a um mundo superior. Assim, podemos reaparecer muitas vezes na Terra, bem como, podemos voltar a ela, depois de ter vivido em outros mundos. 

Não é uma necessidade reviver na Terra, mas se não progredimos o suficiente, podemos ir para outro mundo que não seja melhor, e que pode mesmo ser até pior.

Não há nenhuma vantagem particular em voltar a viver na Terra, a não ser que se venha em missão, pois então se progride, como em qualquer outro mundo. 

Não seria melhor continuar unicamente como Espírito, ficar-se-ia estacionário, e o objetivo maior é avançar para Deus. 

Os Espíritos, depois de se haverem encarnado em outros mundos, podem encarnar-se neste, sem jamais terem passado por aqui, como nós em outros globos. Todos os mundos são solidários: o que não se faz num, pode fazer-se noutro. Assim, existem homens que estão na Terra pela primeira vez, e em diversos graus.

Querer reconhecer, por um sinal qualquer, quando um Espírito se encontra pela primeira vez na Terra, isso não teria nenhuma utilidade.

Para chegar à perfeição e a felicidade suprema, que é o objetivo final de todos os homens, o Espírito não necessita passar pela série de todos os mundos que existem no Universo, porque há muitos mundos que se encontram no mesmo grau, e onde os Espíritos nada aprenderiam de novo.

Para explicar a pluralidade de existências num mesmo globo e que os Espíritos podem ali se encontrar, de cada vez, em posições bastante diferentes, que serão outras tantas ocasiões de adquirir experiência.

Os Espíritos podem renascer corporalmente num mundo relativamente inferior aquele em que já viveu, isso se dá quando têm uma missão a cumprir, para ajudar o progresso; e então aceitam com alegria as tribulações dessa existência, porque lhes fornecem um meio de se adiantarem.

Os Espíritos podem permanecer estacionários, mas nunca retrogradam; sua expiação, pois, é a de não avançar e ter de recomeçar as existências mal empregadas, no meio que convêm a sua natureza. Os que devem recomeçar a mesma existência são aqueles Espíritos que faliram em sua missão ou em suas provas.

Os seres que habitam cada mundo não estão todos no mesmo grau de perfeição. É como na Terra: há os que estão mais ou menos adiantados. 

Ao passar deste mundo para outro, o Espírito, sem dúvida, conserva a inteligência que tinha aqui, pois a inteligência nunca se perde. Mas ele pode não dispor dos mesmos meios para manifestá-la. Isso depende da sua superioridade e do estado do corpo que adquirir. (2)

Os seres que habitam os diferentes mundos têm corpos semelhantes aos nossos, porque é necessário que o Espírito se revista de matéria para agir sobre ela: mas esse envoltório é mais ou menos material, segundo o grau de pureza a que chegaram os Espíritos, e é isso que determina as diferenças entre os mundos que temos de percorrer. Porque há muitas moradas na casa de nosso Pai, e muitos graus, portanto. Alguns o sabem, e têm consciência disso aqui na Terra, mas outros nada sabem. 

Para conhecer o estado físico e moral dos diferentes mundos, os Espíritos não podem nos responder senão na medida do nosso grau de evolução. Quer dizer que eles precisam ter cautela de revelar certos conhecimentos a todos, porque nem todos estão em condições de compreendê-las. 

À medida que o Espírito se purifica o corpo que o reveste aproxima-se igualmente da natureza espírita. A matéria se torna menos densa, ele já não se arrasta penosamente pelo solo, suas necessidades físicas são menos grosseiras, os seres vivos não têm mais necessidade de se destruírem para se alimentar. O Espírito é mais livre, e tem, para as coisas distanciadas, percepções que desconhecemos: vê pelos olhos do corpo aquilo que só vemos pelo pensamento. 

A purificação dos Espíritos reflete-se na perfeição moral dos seres em que estão encarnados. As paixões animais se enfraquecem, o egoísmo da lugar ao sentimento fraternal. É assim que, nos mundos superiores ao nosso, as guerras são desconhecidas, os ódios e as discórdias não têm motivo, porque ninguém pensa em prejudicar o seu semelhante. A intuição do futuro, a segurança que lhes dá uma consciência isenta de remorsos fazem que a morte não lhes cause nenhuma apreensão: eles a recebem sem medo e como uma simples transformação. 

A duração da vida, nos diferentes mundos, parece proporcional ao seu grau de superioridade física e moral, e isso é perfeitamente racional. Quanto menos material é o corpo, menos sujeito está as vicissitudes que o desorganizam; quanto mais puro é o Espírito, menos sujeito as paixões que o enfraquecem. Este é ainda um auxílio da Providência, que deseja assim abreviar os sofrimentos.

De um mundo para outro a infância é por toda parte uma transição necessária, mas não é sempre tão ingênua como é na Terra. 

O Espírito nem sempre pode escolher o novo mundo em que vai habitar, mas pode pedir e obter o que deseja, se o merecer. Porque os mundos só são acessíveis aos Espíritos de acordo com o grau de sua elevação. Se o Espírito nada pede, o que determina o mundo onde irá reencarnar-se é o seu grau de elevação. 

O estado físico e moral dos seres vivos não é perpetuamente o mesmo, em cada globo, pois os mundos também estão submetidos à lei do progresso. Todos começaram como na Terra, por um estado inferior, e a Terra mesma sofrerá uma transformação semelhante, tornando-se um paraíso terrestre, quando os homens se fizerem bons.

Assim, as raças que atualmente povoam a Terra desaparecerão um dia e serão substituídas por seres mais e mais perfeitos. Essas raças transformadas sucederão às atuais como esta sucedeu a outras que eram mais grosseiras.

Há mundos em que o Espírito, cessando de viver num corpo material, só tem por envoltório o perispírito, e esse envoltório torna-se de tal maneira etéreo que para nós é como se não existisse eis então o estado dos Espíritos puros. Disso resulta que não existe uma demarcação precisa entre o estado das últimas encarnações e o do Espírito puro. A diferença se dilui pouco a pouco e se torna insensível, como a noite se dilui ante as primeiras claridades do dia. 

A substância do perispírito não é a mesma em todos os globos, é mais eterizada em uns do que em outros. Ao passar de um para outro mundo, o Espírito se reveste da matéria própria de cada um, com mais rapidez que o relâmpago. 

Os Espíritos puros habitam determinados mundos, mas não estão confinados a eles como os homens a Terra; eles podem, melhor que os outros, estar em toda parte. (3)

TRANSMIGRAÇÃO PROGRESSIVA

Desde o princípio da sua formação o Espírito não goza da plenitude de suas faculdades, porque o Espírito, como o homem, tem também a sua infância. Em sua origem, os Espíritos não têm mais do que uma existência instintiva, possuindo apenas a consciência de si mesmos e de seus atos. Só pouco a pouco a inteligência se desenvolve. 

O estado da alma em sua primeira encarnação pode ser comparado ao estado da infância na vida corpórea. Sua inteligência apenas desabrocha: ela ensaia para a vida. 
As almas dos nossos selvagens estão no estado de infância relativa, pois são almas já desenvolvidas, dotadas de paixões. 

As paixões indicam desenvolvimento, mas não perfeição. São um sinal de atividade e de consciência própria, enquanto na alma primitiva a inteligência e a vida estão em estado de germes.

A vida dos Espíritos, no seu conjunto, segue as mesmas fases da vida corpórea; passa gradativamente do estado de embrião ao de infância, para chegar, por uma sucessão de períodos, ao estado de adulto, que é o da perfeição, com a diferença de que nesta não existe o declínio nem a decrepitude da vida corpórea; que a sua vida, que teve um começo, não terá fim; que lhe é necessário, do nosso ponto de vista, um tempo imenso para passar da infância espírita a um desenvolvimento completo, e o seu progresso realizar-se, não sobre uma esfera apenas, mas através de diversos mundos. A vida do Espírito constitui-se, assim, de uma série de existências corporais, sendo cada qual uma oportunidade de progresso, como cada existência corporal se compõe de uma série de dias, nos quais o homem adquire maior experiência e instrução. Mas, da mesma maneira que na vida humana há dias infrutíferos, na do Espírito há existências corpóreas sem proveito, porque ele não soube conduzi-las.

Por uma conduta perfeita não podemos vencer já nesta vida todos os graus e tornar-nos Espírito puro, sem passar pelos intermediários, pois o que o homem julga perfeito está longe da perfeição: há qualidades que ele desconhece e nem pode compreender. Pode ser tão perfeito quanto a sua natureza eterna o permita, mas esta não é a perfeição absoluta. Da mesma maneira que uma criança, por mais precoce que seja, deve passar pela juventude, antes de chegar à maturidade, e um doente deve passar pela convalescença, antes de recuperar a saúde. Além disso, o Espírito deve adiantar-se em conhecimento e moralidade, e se ele não progrediu senão num sentido, é necessário que o faça no outro, para chegar ao alto da escala. Entretanto, quanto mais o homem se adianta na vida presente, menos longas e penosas serão as provas seguintes. 

O homem pode assegurar-se nesta vida uma existência futura menos cheia de amarguras, sem dúvida, inclusive, pode abreviar o caminho e reduzir as dificuldades. Somente o desleixado fica sempre no mesmo ponto.

Um homem pode descer em suas novas existências quanto a sua posição social, mas como Espírito, não. 

A alma de um homem de bem não pode animar, noutra encarnação, o corpo de um celerado, pois a alma não pode degenerar. Contudo, a alma de um homem perverso pode transformar-se na de um homem de bem, se ela se arrepender, e então será uma recompensa.

A marcha dos Espíritos é progressiva e jamais retrógrada. (4) Eles se elevam gradualmente na hierarquia, e não descem do plano atingido. Nas suas diferentes existências corporais podem descer como homens, mas não como Espíritos. Assim, a alma de um poderoso da Terra pode mais tarde animar um humilde artesão, e vice-versa. Porque as posições entre os homens são frequentemente determinadas pelo inverso da elevação dos sentimentos morais. Herodes era rei, e Jesus carpinteiro.

Aquele que pensa que a possibilidade de se melhorar numa outra existência pode levar certas pessoas a permanecerem no mau caminho, com o pensamento de que poderão corrigir-se mais tarde, não acredita em nada, e a ideia de um castigo eterno não o coibiria mais, porque a sua razão a repele e essa ideia conduz a incredulidade. Se apenas se houvessem empregado os meios racionais para orientar os homens, não existiriam tantos céticos. Um Espírito imperfeito pode pensar como dizes, em sua vida corporal, mas uma vez liberto da matéria pensará de outra maneira, porque logo perceberá que calculou mal, e é então que trará, numa nova existência, um sentimento diverso. É assim que se efetiva o progresso. E eis porque tendes na Terra uns homens mais adiantados que outros. Uns já têm uma experiência que os outros ainda não tiveram, mas que adquirirão pouco a pouco. Deles depende impulsionar o próprio progresso ou retardá-lo indefinidamente.

O homem que se encontra numa posição má deseja mudá-la o mais rapidamente possível. Aquele que se persuadiu de que as tribulações desta vida são a consequência de suas próprias imperfeições procurará assegurar-se uma nova existência menos penosa. E este pensamento o desviará mais da senda do mal, que o pensamento do fogo eterno, no qual não acredita.

Os Espíritos podendo melhorar-se pelo sofrimento e as tribulações da existência corporal, segue-se que a vida material seria uma espécie de crivo ou de depurador, pelo qual devem passar os seres do mundo espírita, para chegarem a perfeição. Os Espíritos melhoram através dessas provas, evitando o mal e praticando o bem. Mas somente depois de muitas encarnações ou depurações sucessivas é que atingem, num tempo mais ou menos longo, e segundo os seus esforços, o alvo para o qual se dirigem.

O Espírito é tudo, o corpo é apenas uma veste que apodrece com o tempo.

Temos, no suco da vinha, uma imagem material dos diferentes graus de depuração da alma. Ele contém o licor chamado espírito ou álcool, mas enfraquecido por grande quantidade de matérias estranhas que lhe alteram a essência, e não chega à pureza absoluta senão depois de muitas destilações em cada uma das quais se despoja de alguma impureza. O alambique é o corpo no qual ele deve entrar para se depurar; as matérias estranhas são como o perispírito, que se purifica a si mesmo, à medida que o Espírito se aproxima da perfeição.

SORTE DAS CRIANÇAS APÓS A MORTE

Às vezes, o Espírito de uma criança morta em tenra idade, é bem mais adiantado do que o de um adulto, porque pode ter vivido muito mais e possuir maiores experiências, sobretudo se progrediu. 

É bastante frequente o Espírito de uma criança ser mais adiantado que o do seu pai ou mãe. 

Não é pelo fato de uma criança ter morrido em tenra idade, e que não teve tempo de fazer nenhum mal na Terra, que agora pertence ao grau dos Espíritos Superiores, porque se não fez o mal, também não fez o bem, e Deus não o afasta das provas que porventura terá que passar. Se é puro, não é pelo fato de ter sido criança, mas porque já se havia adiantado. 

A vida se interrompe com frequência na infância porque a duração da vida da criança pode ser, para o seu Espírito, o complemento de uma vida interrompida antes do termo devido, e sua morte é frequentemente uma prova ou uma expiação para os pais.
O Espírito de uma criança morta em tenra idade, sucede o recomeço de uma nova existência. 

Se o homem só tivesse uma existência, e se após essa sua sorte fosse fixada para a eternidade, qual seria o merecimento da metade da espécie humana, que morre em tenra idade, para gozar sem esforço da felicidade eterna? E com que direito seria ela libertada das condições, quase sempre duras impostas à outra metade? Uma tal ordem de coisas não poderia estar de acordo com a justiça de Deus. Pela reencarnação faz-se a igualdade para todos: o futuro pertence a todos, sem exceção e sem favoritismo, e os que chegaram por último só poderão queixar-se de si mesmos. O homem deve ter o mérito das suas ações, como tem a sua responsabilidade.

Não é, aliás, razoável, considerar-se a infância como um estado de inocência. Não se veem crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que a educação ainda não pode exercer a sua influência? Não se veem algumas que parecem trazer inatos a astúcia, a falsidade, a perfídia, o instinto mesmo do roubo e do assassínio, e isso não obstante os bons exemplos do meio? A lei civil absolve os seus erros, por considerar que elas agem mais instintivamente do que por deliberado propósito. Mas de onde podem provir esses instintos, tão diferentes entre as crianças da mesma idade, educadas nas mesmas condições e submetidas às mesmas influências? De onde vem essa perversidade precoce, a não ser da inferioridade do Espírito, pois que a educação nada tem com ela?

Aqueles que são viciosos, e que progrediram menos e tem então de sofrer as consequências, não dos seus atos da infância, mas das suas existências anteriores. É assim que a lei se mostra a mesma para todos e a justiça de Deus a todos abrange.

Se a existência atual fosse a única e só ela decidisse o futuro da alma na eternidade, qual seria a sorte das crianças que morrem em tenra idade? Não havendo praticado nem o bem nem o mal, não merecem nem recompensas nem punições. Segundo as palavras do Cristo, sendo cada um recompensado conforme suas obras, não tem direito à felicidade perfeita dos anjos nem merecem ser afastadas dela. Basta dizer que poderão, em uma outra encarnação, realizar o que não puderam fazer na que foi abreviada, e já não haverá mais exceções.

Pelo mesmo motivo, qual seria a sorte dos cretinos e idiotas? Não tendo consciência do bem nem do mal, eles não tem nenhuma responsabilidade pelos seus atos. Seria Deus justo e bom criando almas estúpidas para votá-las a uma existência miserável e sem compensação? Admitindo-se, porém, que a alma do cretino e do idiota é um Espírito em punição num corpo sem capacidade para transmitir-lhe o pensamento, no qual se encontra como um homem forte amarrado, não haverá mais nada que não esteja conforme a Justiça de Deus.

O Espírito, em suas encarnações sucessivas, tendo-se despojado pouco a pouco de suas imperfeições e tendo-se aperfeiçoado através do trabalho, chega ao termo de suas existências corpóreas. Pertence então à ordem dos Espíritos puros ou anjos, é goza ao mesmo tempo da vida puramente espiritual e de uma felicidade sem mácula, por toda a eternidade. (5) 

SEXO NOS ESPÍRITOS

Os Espíritos não possuem sexo da maneira como nós o entendemos, porque os sexos dependem da constituição orgânica. Há entre os Espíritos amor e simpatia, mas fundamentados na afinidade de sentimentos.

O Espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher, numa nova existência, e vice-versa, pois são os mesmos Espíritos que animam homens e mulheres.

O Espírito encarna num corpo de homem ou de mulher, obedecendo a necessidade das provas que ele tiver de passar. 

Os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não tem sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo como cada posição social, oferece-lhes provas e deveres especiais e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem, só saberia o que sabem os homens.

Resposta dada pelo Espírito do Sr. Sanson na Sociedade Espírita de Paris em 25 de abril de 1862 através do médium, Sr. Leymarie sobre o sexo nos Espíritos e publicada na Revista Espírita de junho de 1862:

Pergunta: Os Espíritos não tem sexo. Entretanto, como há poucos dias éreis homem, no vosso novo estado tendes antes a natureza masculina que a feminina? Dá-se o mesmo com um Espírito que deixou o corpo há muito tempo?

Resposta: - Não nos atemos a ser de natureza masculina ou feminina: os Espíritos não se reproduzem. Deus os criou à sua vontade e se, na sua maravilhosa sabedoria, quis que os Espíritos se reencarnem na terra, teve que estabelecer a reprodução das espécies para macho e a fêmea, mas compreendeis, sem necessidade de explicação, que os Espíritos não podem ter sexo. 

Allan Kardec faz a seguinte observação para esta resposta: Sempre foi dito que os Espíritos não têm sexo: os sexos só são necessários para a reprodução dos corpos; porque os Espíritos não se reproduzem, o sexo lhes seria inútil. Nossa pergunta não visava constatar o fato; mas, em vista da morte recente do Sr. Sanson, queríamos saber se perdurava a impressão do seu estado terreno. Os Espíritos depurados se dão conta perfeitamente de sua natureza; mas entre os Espíritos inferiores, não desmaterializados, muitos ainda se consideram como eram na Terra e conservam as mesmas paixões e os mesmos desejos. Estes ainda se creem homens ou mulheres e por isso alguns disseram que os Espíritos têm sexo. É assim que certas contradições provêm do estado mais ou menos adiantado dos Espíritos que se comunicam. O erro não é dos Espíritos, mas daqueles que os interrogam e não se dão ao trabalho de aprofundar no assunto. (6) 

PARENTESCO, FILIAÇÃO

Os pais não transmitem aos filhos nenhuma porção de sua alma,  transmitem somente a vida animal, porque a alma é indivisível. Um pai estúpido pode ter filhos inteligentes, e vice-versa.

A sucessão das existências corporais estabelece entre os Espíritos laços que remontam às existências anteriores. Daí, muitas vezes, decorrem as causas da simpatia entre certos Espíritos que nos parecem estranhos. 

A doutrina da reencarnação não destrói os laços de família, ao contrário, ela os estende. A parentela estando baseada  sobre as afeições interiores, os laços que unem os membros de uma família são menos precários. Ela aumenta os deveres da fraternidade, visto que, entre os vizinhos ou entre os servidores, pode se encontrar um Espírito que esteve ligado a vós pelos laços consanguíneos. 

A importância que alguns dão à sua genealogia, dizendo que a reencarnação a destrói, visto que, pode ter por pai um Espírito pertencente a outra raça e vindo de uma condição diferente, se baseia no orgulho. O que a maioria honra em seus ancestrais, são os títulos, posição e fortuna. Muitos de nós, sentiria vergonha de haver tido um avô sapateiro honesto, mas nos vangloriaríamos de descender de um gentil-homem debochado. Mas digam ou façam o que quiserem, não impedirão que as coisas sejam como são, porque Deus regulou as leis da Natureza pela nossa vaidade. 

Desde que não há filiação entre os Espíritos dos descendentes de uma mesma família, o culto dos antepassados seguramente não seria uma coisa ridícula, porque devemos sentir-nos felizes de pertencer a uma família na qual se encarnam Espíritos elevados. Embora os Espíritos não procedam uns dos outros, não tem menos afeição pelos que estão ligados a eles por laços de família, porque os Espíritos são frequentemente atraídos a esta ou aquela família por causa de simpatias ou ligações anteriores, Os Espíritos dos antepassados não se sentem absolutamente honrados com o culto oferecido por orgulho. O mérito não recai sobre ninguém senão na medida em que existir esforço por seguir os seus bons exemplos. Somente assim a lembrança lhes pode ser, não apenas agradável, mas até mesmo útil.  

O esquecimento das existências precedentes é um benefício de Deus, que em sua bondade quis poupar ao homem lembranças que lhe são quase sempre penosas. Em cada nova existência o homem é o que ele próprio fez de si mesmo. É para ele um novo ponto de partida. Percebe seus defeitos atuais. Sabe que esses defeitos são resultantes do seu estado de atraso; daí conclui o mal que já cometeu, o que o ajuda a esforçar-se por corrigir-se. Se teve em outras épocas defeitos que já não possui, não tem mais que se preocupar com eles; tem ainda muitas imperfeições consigo.

Se a alma já não tivesse vivido é que teria sido criada ao mesmo tempo que o corpo. Supondo-se isto, não pode ela ter nenhuma relação com as almas que a precederam. Pergunta-se como é que Deus, sendo soberanamente justo e bom, pode tê-la feito responsável pelo pecado cometido pelo pai do gênero humano, incriminando-a do pecado original que ela não cometeu?  Dizendo-se, ao contrário, que ela traz ao renascer o gérmen das imperfeições  de suas existências anteriores,  que ela sofre na existência atual as consequências de fatos passados, dá-se uma explicação lógica ao pecado original, explicação que qualquer um pode compreender e admitir, porque a alma só se torna responsável pelos seus próprios atos. (5)

SEMELHANÇAS FÍSICAS E MORAIS

Frequentemente os pais transmitem aos filhos a semelhança física, mas não a conformidade moral, pois, se trata de almas diferentes. O corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito. Entre os descendentes das raças nada mais existe do que consanguinidade. 

As semelhanças morais que existem às vezes entre os pais e os filhos, e que são Espíritos simpáticos, atraídos pela afinidade de suas inclinações. 

Os Espíritos dos pais exercem muitas influências sobre o(s) filho(s), após o nascimento, pois, os Espíritos devem concorrer para o progresso recíproco. Pois bem: Os Espíritos dos Pais tem a missão de desenvolver o do(s) filho(s) pela educação: isso é para eles uma tarefa, se falharem, se sentirão culpados. 

Não é raro que um mau Espírito peça lhe que lhe sejam dados bons pais, na esperança de que os seus conselhos o dirijam por um caminho melhor, e muitas vezes Deus o atende. 

Os pais não poderão, pelos pensamentos e as suas preces, atrair para o corpo do filho um bom Espírito, em lugar de um Espírito inferior. Mas podem melhorar o Espírito  da criança a que deram nascimento e que lhes foi confiada. Esse é o seu dever; filhos maus são uma prova para os pais. 

A semelhança de caráter que existe frequentemente entre irmãos, sobretudo os gêmeos, é que são Espíritos simpáticos, que se aproximam pela similitude de seus sentimentos e que se sentem felizes por estarem juntos. 

Nas crianças cujos corpos nascem ligados, e que tem certos órgãos comuns, existem dois Espíritos, ou melhor duas almas, e sua semelhança faz que muitas vezes pareçam existir somente uma. 

Não é uma regra que os gêmeos tenham de ser Espíritos simpáticos, às vezes se notam aversões entre eles, pois, Espíritos maus podem quererem lutar juntos no teatro da vida. 
As histórias de crianças que lutam no ventre da mãe é pura imaginação, imagens poéticas, contos, que muitas vezes, foram usadas como exemplo, para figurar que o seu ódio era muito antigo, fazendo remontar à fase anterior ao nascimento. 

O caráter distintivo que se observa em cada povo, é que os Espíritos também formam grandes famílias pelas semelhanças de suas tendências, de evolução diversa,  segundo a sua elevação. Resumindo: um povo é uma grande família em que se reúnem Espíritos simpáticos. A tendência que tem os membros dessas famílias a se unirem é a origem da semelhança que existe no caráter distintivo de cada povo. Não devemos julgar que Espíritos bons e humanitários procurem um povo duro e grosseiro. Os Espíritos simpatizam com as coletividades como simpatizam com os indivíduos, isto é, cada um procura o ambiente que lhe é próprio.

Pode acontecer de o homem conservar, em suas novas existências, os traços do caráter moral de suas existências anteriores. Mas, em se melhorando, ele muda. Sua posição social pode, também, não ser a mesma; se de senhor passa a escravo, seus gostos serão diferentes e haverá dificuldade em reconhecê-lo. Sendo o mesmo Espírito nas diversas encarnações, suas manifestações, podem ter, de uma para outra, certas semelhanças, modificadas, todavia, pelos costumes de sua nova posição, até que um aperfeiçoamento notável venha a mudar completamente o seu caráter. De orgulhoso e mau, pode tornar-se humilde e humano, desde que se tenha arrependido. 

Sendo o Espírito sempre o mesmo, nas diversas encarnações, podem existir certas semelhanças entre as suas manifestações. O corpo é destruído e o novo corpo não tem nenhuma relação com o antigo. Embora seja este apenas matéria, é modelado pela qualidades do Espírito, que lhe imprimem um certo caráter, principalmente ao semblante, sendo pois, com razão que se apontam os olhos como o espelho da alma, o que quer dizer que o rosto, mais particularmente, reflete a alma. Porque há pessoas excessivamente feias, que no entanto, tem alguma coisa que agrada, quando encerram um Espírito bom, sensato, humano, enquanto há belos semblantes que nada despertam, ou até mesmo provocam repulsa. Poderíamos supor que só os corpos perfeitos encarnam Espíritos mais perfeitos que eles, quando encontramos todos os dias, homens de bem sob aparências disformes? Sem haver uma semelhança pronunciada, a similitude de gostos e de pendores pode, pois, dar o que se chama “um ar de familiar”. 

O corpo que reveste a alma numa nova encarnação, não tendo nenhuma relação necessária com a anterior, pois que pode provir de origem muito diversa, seria absurdo supor-se uma sucessão de existências ligadas por uma semelhança apenas eventual. Não obstante, as qualidades do Espírito modificam quase sempre, os órgãos que servem para as suas manifestações, imprimindo no rosto, e mesmo no conjunto das maneiras um cunho inconfundível. É assim que, sob o envoltório mais humilde, pode-se encontrar a expressão da grandeza e da dignidade, enquanto sob o hábito do grande senhor veem-se algumas vezes a da baixeza e da ignomínia. Certas pessoas, saídas da mais ínfima posição, adquirem sem esforços os hábitos e as maneiras da alta sociedade, parecendo que reencontram o seu elemento, enquanto outras, malgrado seu nascimento e sua educação, estão ali sempre deslocadas. Como explicar esse fato de outra maneira, senão pelo reflexo daquilo que o Espírito foi?

Há mundos apropriados aos diferentes graus de adiantamento dos Espíritos,  onde a existência corpórea tem condições muito diferentes. Quanto menos adiantado for o Espírito, mais pesados e grosseiros são os corpos que reveste. Ã medida que vai se purificando, passa para mundos superiores moral e fisicamente. A Terra não é nem o primeiro nem o último desses mundos, mas é dos mais atrasados. (5)

IDÉIAS INATAS

Ao Espírito encarnado resta-lhe uma vaga lembrança, das percepções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas existências sucessivas, que lhe dá o que chamamos ideias inatas. 

A teoria das ideias inatas não é quimérica, pois os conhecimentos adquiridos em cada existência não se perdem; o Espírito, liberto da matéria, sempre se recorda. Durante a encarnação, pode esquecê-los em parte, momentaneamente, mas a intuição que lhe fica ajuda o seu adiantamento. Sem isso, ele sempre teria que recomeçar. A cada nova existência, o Espírito toma como ponto de partida aquele em que se achava na precedente. 

Nem sempre há uma grande conexão entre duas existências sucessivas, porque as posições são quase sempre muito diferentes, e no intervalo de ambas o Espírito pode progredir. 

A origem das faculdades extraordinárias dos indivíduos que, sem estudo prévio, parecem ter a intuição de certos conhecimentos, como as línguas, o cálculo, etc. é a lembrança do passado; progresso anterior da alma, mas do qual ela mesma não tem consciência. Os corpos mudam, mas o Espírito não, embora troque a vestimenta. 

Com a mudança dos corpos, podem perder-se certas faculdades intelectuais, deixando-se de ter, por exemplo, o gosto pelas artes, desde que se tenha desonrado essa faculdade, empregando-a mal. Uma faculdade pode, também, ficar adormecida durante uma existência, porque o Espírito queira exercer outra, que não se relacione com ela. Nesse caso, permanece em estado latente, para reaparecer mais tarde.

O homem conserva a lembrança daquilo que sabia como Espírito, mesmo no estado selvagem, do sentimento instintivo da lembrança de Deus e do pressentimento da vida futura; mas o orgulho frequentemente abafa esse sentimento. É a mesma lembrança que se devem a certas crenças relativas à Doutrina Espírita encontradas em todos os povos. Essa doutrina é tão antiga quanto o mundo. É por isso que a encontramos por toda a parte, e é esta uma prova da sua veracidade. O Espírito encarnado, conservando a intuição do seu estado de Espírito, tem a consciência instintiva do mundo invisível. Mas quase sempre ela é falseada pelos preconceitos, e a ignorância mistura  a ela a superstição. (7) 

A diversidade das aptidões inatas, morais e intelectuais, é prova de que a alma já viveu outras vidas. Se ela tivesse sido criada ao mesmo tempo que seu corpo atual, isso não estaria de acordo com a bondade de Deus que teria feito umas adiantadas que outras. Por que existem selvagens e civilizados, bons e maus, tolos e inteligentes? Tudo se explica dizendo que uns viveram mais do que outros e fizeram mais aquisições. (5) 

NOTAS:

(1) Ver Allan Kardec, Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas

(2) A matéria não é mais que o envoltório do Espírito, como a roupa é o envoltório do corpo. O Espírito, ao unir-se ao corpo, conserva os atributos da natureza espiritual. Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, questão 367, Influência do Organismo.

(3) De todos os globos que constituem o nosso sistema planetário segundo os Espíritos, a Terra é daqueles cujos habitantes são menos adiantados, física e moralmente; Marte lhe seria ainda inferior, e Júpiter, muito superior, em todos os sentidos. O Sol não seria um mundo habitado por seres corpóreos, mas um lugar de encontro de Espíritos superiores, que de lá irradiam seu pensamento para outros mundos, que dirigem por intermédio de Espíritos menos elevados, com os quais se comunicam por meio do fluído universal. Como constituição física, o Sol seria um foco de eletricidade. Todos os sois, ao que parece, estariam nas mesmas condições. 

O volume e o afastamento do Sol não tem nenhuma relação necessária com o grau de desenvolvimento dos mundos, pois parece que Vênus está mais adiantado que a Terra e Saturno menos que Júpiter. 

Muitos Espíritos que animaram pessoas conhecidas na Terra disseram estar reencarnados em Júpiter, um dos mundos mais próximos da perfeição. E é de se admirar que num globo tão adiantado se encontrem homens que a opinião terrena não considerava tão elevados. Isto, porém, nada tem de surpreendente, se considerarmos que certos Espíritos, que habitam aquele planeta, podiam ter sido enviados a Terra em cumprimento de uma missão que, aos nossos olhos, não os colocaria no primeiro plano; em segundo lugar, entre a sua existência terrena e a de Júpiter podiam ter tido outras, intermediárias, nas quais se tivessem melhorado; em terceiro lugar, naquele mundo, como no nosso, há diferentes graus de desenvolvimento, e entre esses graus pode haver a distância que separa entre nós o selvagem do homem civilizado. Assim, do fato de habitarem Júpiter não se segue que estejam no nível dos seres mais evoluídos, da mesma maneira que uma pessoa não está no nível de um sábio do Instituto, pela simples razão de morar em Paris. 

As condições de longevidade não são, por toda parte, as mesmas da Terra, não sendo possível a comparação de idades. Uma pessoa falecida há alguns anos, quando evocada, disse haver encarnado, seis meses antes, num mundo cujo nome nos é desconhecido. Interpelada sobre a idade que tinha nesse mundo, respondeu: "Não posso calcular, porque não contamos o tempo como vós, além disso, o nosso meio de vida não é o mesmo: desenvolvemo-nos muito mais rapidamente; tanto assim, que há apenas seis dos vossos meses nele me encontro, e posso dizer que, quanto a inteligência, tenho trinta anos da idade terrena." 

Muitas respostas semelhantes foram dadas por outros Espíritos e nada há nisso de inverossímil. Não vemos na Terra tantos animais adquirirem em poucos meses um desenvolvimento normal? Por que não poderia dar-se o mesmo com o homem, em outras esferas? Notemos, por outro lado, que o desenvolvimento alcançado pelo homem na Terra, na idade de trinta anos, talvez não seja mais que uma espécie de infância, comparada no que ele deve atingir. É preciso ter uma visão bem curta para nos considerarmos os protótipos da Criação, e seria rebaixar a Divindade acreditar que, além de nós, nada mais poderia criar.

(4) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, itens 118 e 778 e Revista Espírita, junho de 1863, Do Princípio da Não-Retrogradação dos Espíritos.

(5) Ver Allan Kardec, O Espiritismo em sua mais Simples Expressão

(6 Ver Allan Kardec, Revista Espírita - Jornal de Estudos Psicológicos - junho de 1862.

(7) Os Espíritos aludem à eternidade espiritual da doutrina e sua permanente projeção na Terra. Mas devemos distinguir entre as suas manifestações falseadas, no passado, e a manifestação pura que se encontra neste livro. Os traços da doutrina espírita marcam o roteiro da evolução humana na Terra, mas só com este livro ela se apresentou definida e completa. Por isso, o Espiritismo é na Terra uma doutrina moderna, embora não seja “uma invenção moderna”, como acentua Kardec, mesmo porque ninguém a inventou. (Nota de J. Herculano Pires). 

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