quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O FLUIDO UNIVERSAL E AS MESAS GIRANTES


O FLUIDO UNIVERSAL(1) E AS MESAS GIRANTES(2)
Estudo feito na obra O Livro dos Médiuns, segunda parte, cap. IV, Teoria das Manifestações Físicas, itens 74 e 75.
Com base em respostas dada pelo Espírito São Luís.
Pesquisa: Elio Mollo


O fluido universal não é uma emanação da Divindade. Tudo foi criado, exceto Deus. O fluido universal é o princípio elementar de todas as coisas.

O fluido magnético ou fluido elétrico animalizado é o seu elemento.

Para encontrar o fluido universal na simplicidade absoluta seria preciso remontar aos Espíritos puros. No nosso mundo ele está sempre mais ou menos modificado, para formar a matéria compacta que nos rodeia. Podemos dizer, entretanto, que ele mais se aproxima dessa simplicidade no fluido que chamamos fluido magnético animal.

O fluido universal não é a fonte da inteligência, pois esse fluido só anima a matéria. É necessária a união do espírito e da matéria para dar inteligência a esta. Susceptível, por suas inumeráveis combinações, sob a ação do espírito, pode produzir infinita variedade de coisas. (3)

Sendo esse fluido que forma o perispírito (4), parece encontrar-se nele numa espécie de condensação que de certa maneira o aproxima da matéria propriamente dita, mas porque ele não possui todas as propriedades da matéria a sua condensação é maior ou menor, segundo a natureza dos mundos. (5)

Um Espírito pode mover um corpo sólido combinando uma porção de fluido universal com o fluido que se desprende do médium apropriado para esses efeitos.

Quando uma mesa se move é porque o Espírito evocado tirou do fluido universal o necessário para animar essa mesa de uma vida factícia. Assim preparada, o Espírito a atrai e a movimenta, sob a influência do seu próprio fluido, emitido pela sua vontade. Quando a massa que deseja mover é muito pesada para ele, pede a ajuda de outros Espíritos da sua mesma condição - quase sempre são seus iguais e acodem espontaneamente. Por sua natureza etérea, o Espírito propriamente dito não pode agir sobre a matéria grosseira sem intermediário, ou seja, sem o liame que o liga à matéria. Esse liame, que chamamos perispírito, oferece a chave de todos os fenômenos espíritas materiais. (6)

Geralmente, os Espíritos que produzem esses efeitos são sempre inferiores, ainda não suficientemente livres das influências materiais. Os Espíritos superiores possuem a força moral, como os outros possuem a força física. Quando necessitam, servem-se dos que a possuem, ou seja, servem-se dos Espíritos inferiores como nós, quando precisamos, nos servimos de carregadores. (7)

O princípio vital provém do fluido universal (8). O Espírito tira desse fluido o envoltório semimaterial do seu perispírito, e é por meio desse fluido que ele age sobre a matéria inerte, quer dizer, ele anima a matéria de uma vida factícia, artificial e a matéria se impregna de vida animal. A mesa que se move sob as nossas mãos vive como animal e obedece por si mesma ao ser inteligente. Não é o Espírito que a empurra com se fosse um fardo. Quando ela se eleva, não é o Espírito que a ergue com os braços: é a mesa animada que obedece à impulsão dada pelo Espírito.

Nesse fenômeno o fluido próprio do médium se combina com o fluido universal do Espírito, ou seja, é necessária a união de ambos, do fluido animalizado e do fluido universal, para dar vida à mesa.  Mas não se deve esquecer que essa vida é apenas momentânea, extinguindo-se com a mesma ação, e muitas vezes antes que a ação termine, quando a quantidade de fluido já não é mais suficiente para animar a mesa (9).

O Espírito pode agir à revelia do médium.  Isso quer dizer que muitas pessoas ajudam os Espíritos na realização de certos fenômenos, sem o saberem. O Espírito tira dessas pessoas, como de uma fonte, o fluido animal de que necessita. É dessa maneira que o concurso de um médium, como o entendemos, nem sempre é necessário, o que acontece sobretudo nos fenômenos espontâneos.

A mesa animada é como o bastão quando fazemos um sinal inteligente a alguém. Não pensa, mas a vitalidade de que está animado lhe permite obedecer ao impulso de uma inteligência. É bom saber que a mesa em movimento não se torna Espírito e não tem pensamento nem vontade (10).

A causa preponderante na produção deste fenômeno é o Espírito e o fluido é o seu instrumento. Ambos são necessários.

O papel da vontade do médium na produção deste fenômeno é chamar os Espíritos e ajudá-los a impulsionar os fluidos. A vontade do médium aumenta a potência, mas nem sempre é necessária, desde que pode haver o movimento, malgrado ou contra a vontade do médium, o que é uma prova da existência de uma causa independente. (11)

Os médiuns não podem todos produzir o mesmo efeito porque isso depende do organismo e da maior ou menor facilidade na combinação dos fluidos, e ainda da maior ou menor simpatia do médium com os Espíritos que nele encontram a potência fluídica necessária. Esta potência, como a dos magnetizadores (12), é maior ou menor. Encontramos, nesse caso, pessoas inteiramente refratárias, outras em que a combinação só se verifica pelo esforço da sua própria vontade, e outras, enfim, em que ela se dá tão natural e facilmente que nem a percebem, servindo de instrumentos sem o saberem. (13)

As pessoas ditas elétricas tiram de si mesmas o fluido necessário à produção dos fenômenos e podem agir sem auxílio dos Espíritos. Não são propriamente médiuns, no sentido exato da palavra. Mas pode ser também que um Espírito as assista e aproveite as suas disposições naturais. (14) Essas pessoas seriam como os sonâmbulos, que podem agir com ou sem o auxílio dos Espíritos. (15)

Ao mover os corpos sólidos, os Espíritos tanto podem penetrar na substância dos mesmos como permanecer fora dela, pois a matéria não é obstáculo para os Espíritos. Uma porção do seu perispírito se identifica, por assim dizer, com o objeto em que penetra. (16)

O Espírito não bate, não usa um objeto material nem usa os braços para erguer a mesa. Sua ferramenta é o fluido combinado que ele põe em ação, e pela sua vontade, faz a mesa se mover ou bater. Quando a move é a luz que transmite a visão do movimento; quando bate é o ar que transmite o som.

Concebemos isso quando se trata de um corpo duro. Mas, como pode o Espírito nos fazer ouvir ruídos ou sons através do ar? Ora, desde que age sobre a matéria, pode agir tanto sobre o ar como sobre a mesa. Quanto aos sons articulados, pode imitá-los como a todos os demais ruídos.

Em certas manifestações aparecem mãos a dedilhar teclados, movimentando as teclas e produzindo sons. Contudo, é um erro querer assemelhar às nossas, das maneiras dos Espíritos procederem. Os processos dos Espíritos devem estar sempre em relação com a sua organização, pois como dissemos o fluido do perispírito penetra na matéria e se identifica com ela, dando-lhe uma vida factícia. Assim, quando o Espírito movimenta as teclas com os dedos ele o faz realmente. Mas não é pela força muscular que faz a pressão. Ele anima a tecla, como faz com a mesa, e a tecla obedece à sua vontade e vibra a corda. Neste caso também ocorre um fato de difícil compreensão para nós. É que certos Espíritos são ainda tão atrasados e de tal forma materiais, em comparação com os Espíritos elevados, que conservam as ilusões da vida terrena e julgam agir como quando estavam no corpo. Não percebem a verdadeira causa dos efeitos que produzem como um pobre homem não compreende a teoria dos sons que pronuncia. Se perguntarmos como tocam o piano, dirão que com os dedos, pois assim creem fazer. Produzem o efeito de maneira instintiva, sem o saberem, e não obstante pela sua vontade. Quando falam e se fazem ouvir, é a mesma coisa.

Compreende-se, assim, que os Espíritos podem fazer tudo quanto fazemos, mas pelos meios correspondentes ao seu organismo. Algumas forças que lhes são próprias substituem os nossos músculos, da mesma maneira que a mímica substitui, nos mudos, a palavra que lhes falta.

Entre os fenômenos citados como provas da ação de uma potência oculta, há os que parecem ser evidentemente contrários a todas as leis conhecidas da Natureza. Mas, acontece que o homem está longe de conhecer todas as leis da Natureza; se as conhecesse, seria Espírito superior. Cada dia que passa surge um desmentido aos que tudo pensam saber, pretendendo impor limites à Natureza, e nem por isso eles se mostram menos orgulhosos. Desvendando incessantemente novos mistérios, Deus adverte ao homem que deve desconfiar das suas próprias luzes, pois chegará um dia em que a ciência do mais sábio será confundida. O exemplo disso é que existem máquinas dotadas de movimento capazes de superar a força de gravitação.

Essas explicações são claras, categóricas, sem ambiguidades. Delas ressalta o ponto capital de que o fluido universal, que encerra o princípio da vida, é o agente principal das manifestações, e que esse agente recebe seu impulso do Espírito, quer seja encarnado ou errante. O fluido condensado constitui o perispírito ou invólucro semimaterial do Espírito. (17) Na encarnação, o perispírito está ligado à matéria do corpo; na erraticidade está livre. Quando o Espírito está encarnado, a substância do perispírito está mais ou menos fundida com a matéria corpórea, mais ou menos colada a ela, se assim podemos dizer. (18) Em algumas pessoas há uma espécie de emanação desse fluido, em consequência de condições especiais de sua organização, e é disso, propriamente falando, que resultam os médiuns de efeitos físicos. A emissão do fluido animalizado pode ser mais ou menos abundante e sua combinação mais ou menos fácil, e daí os médiuns mais ou menos possantes. Mas essa emissão não é permanente, o que explica a intermitência da força. (19)

NOTAS:

(1) Fluido Universal - Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, é a trindade Universal. O espírito (Alma) é o princípio inteligente. Para que o Espírito possa exercer ação sobre a matéria tem que se juntar o fluido universal, pois, é ele que desempenha o papel intermediário entre o Espírito e a matéria grosseira. É lícito até certo ponto, classificar o fluido universal com o elemento material, porém, ele se distingue, deste por propriedades especiais. Este fluido deve ser considerado como sendo um elemento semimaterial, pois, está situado entre o Espírito e a matéria. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza; é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá. (Ver Allan Kardec, questão 27 de O Livro dos Espíritos).

(2) O efeito mais simples, e um dos primeiros a serem observados, foi o do movimento circular numa mesa.  Esse efeito se produz igualmente em qualquer outro objeto. Mas sendo a mesa o mais empregado, por ser o mais cômodo, o nome de mesas girantes prevaleceu na designação desta espécie de fenômenos. (Ver Allan Kardec, O Livro dos Médius, Segunda parte, cap. II, item 60.

(3) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro primeiro, cap. II, Espírito e Matéria, questão 27.

(4) O perispírito é o traço de união que liga o mundo espiritual ao mundo corpóreo. (Ver Allan Kardec, Revista Espírita, março 1866, Introdução ao estudo dos fluidos espirituais).

(5) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro segundo, cap. I, Perispírito, questão 94.

(6) Quando uma mesa se move, não é o Espírito que a prende com as mãos e a ergue com a força do braço, pela razão muito simples que, embora tenha um corpo como nós, esse é corpo fluídico e não pode exercer uma ação muscular propriamente dita. Ele satura a mesa com o seu próprio fluido, combinado com o fluido animalizado do médium; por esse meio, a mesa é momentaneamente animada de uma vida factícia; ela obedece então à vontade, como o faria um ser vivo; exprime, pelos seus movimentos, a alegria, a cólera e os diversos sentimentos do Espírito que dela se serve; não é ela que pensa, ela não é alegre nem colérica; não é o Espírito que se incorpora nela, porque ele não se metamorfoseia em mesa; ela não é para ele senão um instrumento dócil, obedecendo à sua vontade, como o bastão que um homem agita e com o qual exprime a ameaça ou diversos sinais. O bastão, nesse caso, é sustentado pelos músculos; mas a mesa, não podendo ser posta em movimento pelos músculos do Espírito, este a agita com o seu próprio fluido que lhe tem o lugar da força muscular. Tal é o princípio fundamental de todos os movimentos em semelhante caso. (Ver Allan Kardec, Revista Espírita, fevereiro de 1861, Senhor Squire, médium.

(7) A densidade do perispírito, se assim se pode dizer, varia de acordo com a natureza dos mundos, como já foi ensinado. (*). Parece variar também no mesmo mundo, segundo os indivíduos. Nos Espíritos moralmente adiantados ele é mais sutil e se aproxima do perispírito das entidades elevadas: nos Espíritos inferiores aproxima-se da matéria e é isso que determina a persistência das ilusões da vida terrena nas entidades de baixa categoria, que pensam e agem como se ainda estivessem na vida física, tendo os mesmos desejos e quase poderíamos dizer a mesma sensualidade. Essa densidade maior do perispírito, estabelecendo maior afinidade com a matéria, torna os Espíritos inferiores mais aptos para as manifestações físicas. É por essa razão que um homem refinado, habituado aos trabalhos intelectuais, de corpo frágil e delicado, não pode erguer pesados fardos como um carregador. A matéria de seu corpo é de alguma maneira menos compacta, os órgãos são menos resistentes, o fluido nervoso menos intenso. O perispírito é para o Espírito o que o corpo é para o homem. Sua densidade está na razão da inferioridade do Espírito. Essa densidade, portanto, substitui nele a força muscular, dando-lhe maior poder sobre os fluidos necessários as manifestações dos que o possuem os de natureza mais etérea. Se um Espírito elevado quer produzir esses feitos, faz o que fazem entre nós os homens refinados: incumbe disso um Espírito carregador.
(*) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro segundo, cap. I, Perispírito, questão 94 e cap. IV, Encarnação nos Diferentes Mundos, questão 187.

(8) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro primeiro, cap. IV, Seres Orgânicos e Inorgânicos, questão 65.

(9) Isto explica as interrupções inesperadas de comunicações. A falta de fluido faz a mesa cessar de mover-se, como se o Espírito comunicante se houvesse ausentado. (Nota de J. Herculano Pires).

(10) O bastão, como apêndice da mão, é animado facticiamente por esta. Lançado ao chão, não tem vida, não dá mais qualquer sinal inteligente. No mundo espiritual os objetos são de outra natureza. A mão pode pegar um bastão e movimentá-lo, mas o pensamento não pode fazer assim. Misturando o fluido animal do médium com o fluido universal do Espírito, temos um pouco da natureza humana e um pouco da espiritual, formando um elemento intermediário.  Impregnada a mesa com esse elemento, o fluido material se liga madeira e o fluido espiritual fica ligado ao pensamento do Espírito. Essa, ao que parece, a mecânica da levitação e essa a natureza do ectoplasma. Os parapsicólogos Wathely Carington e G. S. Soai, em sessão realizada na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, obtiveram o fenômeno de voz direta, com levitação do megafone. A comunicação foi interrompida em meio, sem que eles pudessem explicar o motivo. Como vemos nestas explicações, deve ter sido a falta de fluido ectoplásmico. (Nota de J. Herculano Pires).

(11) Nem sempre é necessário o contato das mãos para mover um objeto. Ele basta, quase sempre, para dar o primeiro impulso.  Iniciado o movimento, o objeto pode obedecera vontade sem contato material. Isso depende da potência mediúnica ou da natureza dos Espíritos. Aliás, o primeiro contato nem sempre é necessário: temos a prova disso nos movimentos e deslocamentos espontâneos, que ninguém pensou em provocar. (Nota de Allan Kardec).

(12) Magnetizador, magnetista – esta última palavra é empregada por algumas pessoas para designar os adeptos do magnetismo, os que creem em seus efeitos. O magnetizador é o prático, o que exerce; o magnetista é o teórico. Pode-se ser magnetista sem ser magnetizador, mas não se pode ser magnetizador sem ser magnetista. Esta distinção parece-nos útil e lógica. (Allan Kardec, Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, Vocabulário).

(13) O magnetismo é, não há dúvida, o princípio desses fenômenos, mas não como geralmente se pensa. Temos a prova disso na existência de poderosos magnetizadores que não movimentam uma mesinha de centro, e de pessoas que não sabem magnetizar, até mesmo crianças, que bastam pousares dedos numa mesa pesada para que ela se agite.  Logo, se apetência mediúnica não depende da magnética, é que tem outra causa. (Nota de Allan Kardec).  (Ver, também, Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, cap. V, Manifestações Físicas Espontâneas).

(14) Ainda hoje se tenta negar a mediunidade alegando a existência dessas pessoas. Como se vê, o Espiritismo distingue perfeitamente a ação pessoal ou anímica dessas criaturas da impessoal dos médiuns. A sra.  Blavatsky, fundadora da Sociedade Teosófica, era uma dessas pessoas e quis negar a ação mediúnica nos fenômenos físicos, em virtude da sua capacidade de produzi-los. O animismo, como demonstrou Ernesto Bozzano (ver Animismo ou Espiritismo) e como hoje admite o parapsicólogo Rhine (ver O Novo Mundo da Mente) a existência do Espírito no homem ou de um elemento não físico, que supera as orgânicas. (Nota de J. Herculano Pires).

(15) Médiuns sonâmbulos são aqueles que em transe sonambúlico, são assistidos por Espíritos. (Ver mais in Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, cap. XIV, Médiuns Sonâmbulos, item 72 e seguintes).

(16) Da mesma maneira que nossa mão penetra num tubo para erguê-lo ou pega numa vara para sacudi-la. Não esquecer que o perispírito é o corpo espiritual. O Espírito faz aí uma comparação para dar-nos a explicação possível. (Nota de J. Herculano Pires).

(17) A teoria da condensação do fluido foi posta em ridículo por muitas pessoas, e ainda hoje o é. Mas convém assinalar que essa teoria é precisamente a da física atômica de hoje, para explicar a formação da matéria, que se dá pela condensação da energia. (Nota de J. Herculano Pires).

(18) Preferimos as palavras fundida e colada, em substituição às palavras ligada e aderente usadas literalmente em várias traduções, porque aquelas nos parecem corresponder melhor em nossa língua, ao sentido real do texto. (Nota de J. Herculano Pires tradutor da obra O Livro dos Médiuns, cuja edição, usamos para elaborar este estudo).

(19) Esta teoria da emanação e da emissão do fluido animalizado ou fluido perispirítico do médium, e de sua combinação mais ou menos fácil com o fluido universal do Espírito, para a produção dos fenômenos de efeitos físicos e consequentemente de materializações, exige atenção do leitor, para bem compreender o desenvolvimento dos fenômenos. A última frase é de grande importância para explicar as intermitências das funções mediúnicas, cuja causa é muitas vezes orgânica e se costuma atribuir a motivos morais. (Nota de J. Herculano Pires)

* * *

domingo, 17 de fevereiro de 2013

LIVRE-ARBÍTRIO E FATALIDADE


LIVRE-ARBÍTRIO E FATALIDADE
Estudo com base in O Livro dos Espíritos, Livro terceiro, cap. X, questões de 843 à 867.
Pesquisa: Elio Mollo


LIVRE-ARBÍTRIO (1)

Uma vez que sem tem a liberdade de pensar, se tem a de agir. Sem o livre-arbítrio o homem seria como uma máquina (2).

Há liberdade de agir desde que haja a liberdade de fazer. Nos primeiros tempos da vida a liberdade é quase nula; A criança vai evoluindo e seus objetivos mudam de acordo com o desenvolvimento das faculdades. A criança, tendo pensamentos relacionados com as necessidades de sua idade, aplica seu livre-arbítrio às escolhas que lhe são necessárias.

As predisposições instintivas são do Espírito antes de sua encarnação (3); conforme é mais ou menos adiantado, podem levá-lo a praticar atos condenáveis, e ele será auxiliado nisso pelos Espíritos com essas mesmas tendências, mas não há arrebatamento irresistível quando se tem a vontade de resistir. Neste caso podemos dizer que querer é poder.

As qualidades morais, boas ou más de um Espírito encarnado provêm de que; quanto mais o Espírito for puro, mais o homem é levado ao bem (4).

O Espírito está certamente influenciado pela matéria, ou seja, pelo seu organismo que o pode entravar em suas manifestações (5); eis por que, nos mundos onde os corpos são menos materiais, as faculdades se desenvolvem com mais liberdade. Porém, não é o instrumento que dá as faculdades. Além disso, é preciso separar aqui as faculdades morais das intelectuais; se um homem tem o instinto assassino, é seguramente seu próprio Espírito que o possui e o transmite, e não seus órgãos (6). Aquele que canaliza o pensamento para a vida da matéria torna-se semelhante ao irracional e, pior ainda, porque não pensa mais em se prevenir contra o mal, e é nisso que é culpado, uma vez que age assim por sua vontade.

Aquele cuja inteligência é perturbada por uma causa qualquer não é mais senhor de seu pensamento e assim não tem mais liberdade. Essa anormalidade é, muitas vezes, uma punição para o Espírito que, numa outra encarnação, pode ter sido fútil e orgulhoso e ter feito mau uso de suas faculdades. Ele pode renascer no corpo de um deficiente mental, como o escravizador no corpo de um escravo e o mau rico no de um mendigo. Porém, o Espírito sofreu esse constrangimento com perfeita consciência. Está aí a ação da matéria. (7) 

Os desatinos das faculdades intelectuais causadas pela embriaguez não é desculpa para atos condenáveis, porque o bêbado voluntariamente se privou de sua razão para satisfazer paixões brutais; em vez de uma falta, comete duas.

No homem primitivo, a faculdade dominante é o instinto (8), o que não o impede de agir com total liberdade em certas circunstâncias; como a criança, ele aplica essa liberdade às suas necessidades e ela se desenvolve com a inteligência. Porém, como vós, sois mais esclarecidos do que um selvagem e também mais responsáveis pelo que fazeis.

A posição social é, algumas vezes, um obstáculo à total liberdade dos atos. O mundo tem, sem dúvida, suas exigências. Deus é justo e tudo leva em conta, mas nos deixa a responsabilidade do pouco esforço que fazemos para superar os obstáculos.

FATALIDADE (9)

A fatalidade existe apenas na escolha que o Espírito fez ao encarnar e suportar esta ou aquela prova. E da escolha resulta uma espécie de destino, que é a própria consequência da posição que ele próprio escolheu e em que se acha. Falo das provas de natureza física, porque, quanto às de natureza moral e às tentações, o Espírito, ao conservar seu livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor para ceder ou resistir. Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode vir em sua ajuda, mas não pode influir de modo a dominar sua vontade (10). Um Espírito mau, ao lhe mostrar de forma exagerada um perigo físico, pode abalá-lo e assustá-lo. Porém, a vontade do Espírito encarnado está constantemente livre para decidir.

Há pessoas que parecem ser perseguidas por uma fatalidade, independentemente de seu modo de agir; são, talvez, provas que devem suportar e que escolheram. Mas definitivamente não devemos acusar o destino pelo que, frequentemente, é apenas a consequência de nossas próprias faltas. Nos males que nos afligem, esforcemo-nos para que nossa consciência esteja pura, e já nos sentiremos bastante consolados.

As ideias justas ou falsas que fazemos das coisas nos fazem vencer ou fracassar de acordo com nosso caráter e posição social. Achamos mais simples e menos humilhante para o nosso amor-próprio atribuir nossos fracassos à sorte ou ao destino, e não à nossa própria falta. Se a influência dos Espíritos (11) contribui para isso algumas vezes, podemos sempre nos defender dessa influência afastando as ideias que nos sugerem, quando são más.

Algumas pessoas mal escapam de um perigo mortal para logo cair em outro; parece que não teriam como escapar à morte, contudo e bom sempre lembrar disto: A fatalidade só existe, no verdadeiro sentido da palavra, apenas no instante da morte (12). Quando esse momento chega seja por um meio ou por outro, não o podemos evitar. Assim, qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morreremos se a hora não é chegada, e sobre isso há milhares de exemplos; mas quando a hora chegar, nada poderá impedir. Deus sabe por antecipação qual o gênero de morte que teremos na Terra e, muitas vezes, nosso Espírito também sabe, porque isso foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência.

Por causa da inevitável hora da morte, as precauções que se tomam para evitá-la não são inúteis. As precauções que tomamos nos são sugeridas para evitar a morte que nos ameaça, são meios para que ela não ocorra.

Quando nossa vida é colocada em perigo, é uma advertência que nós mesmo desejamos, a fim de nos desviarmos do mal e nos tornarmos melhor. Quando escapamos desse perigo, ainda sob a influência do risco que passamos, refletimos seriamente, conforme a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos sobre nós para nos melhorarmos. O mau Espírito, voltando a tentação (digo mau subentendendo o mal que ainda existe nele), pensa que escapará do mesmo modo a outros perigos e novamente deixa se dominar pelas paixões. Pelos perigos que corremos, Deus nos lembra de nossa fraqueza e a fragilidade de nossa existência. Se examinarmos a causa e a natureza do perigo, veremos que, muitas vezes, as consequências são a punição de uma falta cometida ou de um dever não cumprido. Deus nos adverte assim para nos recolhermos em nós mesmos e nos corrigirmos. (13)

O Espírito sabe que o gênero de vida escolhido o expõe a desencarnar mais de uma maneira do que de outra. Sabe igualmente quais as lutas que terá de enfrentar para evitá-la e, se Deus o permitir, não fracassará.

Há homens que enfrentam os perigos dos combates com a convicção de que sua hora não chegou. Frequentemente, o homem tem o pressentimento de seu fim, como pode ter o de que não morrerá ainda. Esse pressentimento vem por meio dos seus protetores, que querem adverti-lo para estar pronto para partir, ou estimulam sua coragem nos momentos em que é mais necessária. Pode vir ainda pela intuição que tem da existência escolhida, ou da missão que aceitou e sabe que deve cumprir. (14)

É o homem que teme a morte e não o Espírito; aquele que a pressente pensa mais como Espírito do que como homem: ele a compreende como sua libertação e a espera. Por isto tem menos medo da morte que outros.

Frequentemente os acidentes que nos atingem no decorrer da vida são pequenas coisas para as quais Deus nos previne e, algumas vezes, faz com que as evitemos, dirigindo nosso pensamento, porque não gosta de nos ver sofrer; mas isso é de pouca importância para a vida que escolhemos. A fatalidade, verdadeiramente, consiste apenas na hora em que devemos nascer e morrer.

Há fatos que, forçosamente, devam acontecer e que a vontade dos Espíritos não podem afastar, mas nós, antes de encarnar, vimos e pressentimos quando fizemos nossa escolha. Entretanto, não devemos acreditar que tudo o que acontece está escrito, como se diz. Um acontecimento é, muitas vezes, a consequência de um ato que praticamos por livre vontade, caso contrário o acontecimento não teria ocorrido. Se queimamos o dedo, é consequência de nossa imprudência e ação sobre a matéria. Apenas as grandes dores, os acontecimentos importantes que podem influir na evolução moral, são previstos por Deus, já que são úteis para a nossa depuração e instrução.

O homem, por sua vontade e ações, pode fazer com que os acontecimentos que deveriam ocorrer não ocorram, e vice-versa, desde que esse desvio aparente caiba na ordem geral da vida que escolheu. Depois, para fazer o bem, como é seu dever e único objetivo da vida, ele pode impedir o mal, especialmente aquele que poderia contribuir para um mal maior.

O homem que comete um homicídio não sabe, ao escolher sua existência, que se tornará um assassino. Sabe que, escolhendo uma determinada espécie de vida, poderá ter a possibilidade de matar um de seus semelhantes, mas não sabe se o fará porque há nele, quase sempre, uma decisão antes de cometer qualquer ação; portanto, aquele que delibera sobre uma coisa é sempre livre para fazê-la ou não. Se o Espírito soubesse antecipadamente que, como homem, deveria cometer um assassinato, é porque isso estava predestinado. Sabei que ninguém foi predestinado ao crime e todo crime, como todo e qualquer ato, é sempre o resultado da vontade e do livre-arbítrio. Além disso, confundimos sempre duas coisas bem distintas: os acontecimentos materiais da vida e os atos da vida moral. Se algumas vezes existe fatalidade, é nos acontecimentos materiais cuja causa está fora de nós e são independentes de nossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, esses emanam sempre do próprio homem, que sempre tem, consequentemente, a liberdade de escolha. Para esses atos, nunca existe fatalidade.

Existem pessoas para as quais nada sai bem e que um mau gênio parece perseguir em todas as suas ações. É uma fatalidade, se quisermos chamar assim, mas é decorrente da escolha que essa pessoa fez para a presente existência, porque há pessoas que quiseram ser provadas por uma vida de decepção, para exercitar sua paciência e sua resignação. Não acrediteis, entretanto, que essa fatalidade seja absoluta; muitas vezes é o resultado do falso caminho que tomaram e que nada têm a ver com sua inteligência e suas aptidões. Aquele que deseja atravessar um rio a nado sem saber nadar tem grande probabilidade de se afogar; assim é com a maioria dos acontecimentos da vida. Se o homem somente empreendesse coisas compatíveis e de acordo com suas capacidades, quase sempre teria êxito. O que faz com que se perca é seu amor-próprio e sua ambição, que o fazem sair de seu caminho e o induzem a considerar como vocação o desejo de satisfazer certas paixões. Ele fracassa e é por sua culpa; mas, em vez de admiti-la espontaneamente, prefere acusar sua estrela. Seria melhor ter sido um bom trabalhador e ganho honestamente a vida do que ser um mau poeta e morrer de fome. Haveria lugar para todos, se cada um soubesse se colocar em seu lugar.

São os homens que fazem os costumes sociais e não Deus. Se a eles se submetem, é porque lhes convêm, e isso é ainda um ato de seu livre-arbítrio, uma vez que, se quisessem, poderiam libertar-se deles; então, por que se lamentar? Não são os costumes sociais que devem acusar, mas seu tolo amor-próprio, que os leva a preferir morrer de fome a abandoná-lo. Ninguém levará em conta esse sacrifício feito à opinião pública, enquanto Deus levará em conta o sacrifício que fizerem à sua vaidade. Isso não quer dizer que seja preciso afrontar essa opinião sem necessidade, como fazem algumas pessoas que têm mais originalidade do que verdadeira filosofia. Há tanto desatino em alguém se fazer objeto de crítica ou parecer um animal selvagem quanto existe sabedoria em descer voluntariamente e sem reclamar, quando não se pode permanecer no topo da escala.

Existem pessoas para as quais a sorte é contrária, outras parecem favorecidas, pois tudo lhes sai bem. Frequentemente, as que parecem favorecidas, é porque elas sabem orientar-se melhor; mas isso pode ser também um gênero de prova. O sucesso as embriaga; elas confiam em seu destino e frequentemente acabam pagando mais tarde esses mesmos sucessos com cruéis revezes, que poderiam ter evitado com a prudência.

Como explicar a sorte que favorece certas pessoas nas circunstâncias em que nem a vontade nem a inteligência interferem? O jogo, por exemplo? É que alguns Espíritos escolheram antecipadamente certas espécies de prazer; a sorte que os favorece é uma tentação. Quem ganha como homem perde como Espírito; é uma prova para seu orgulho e sua cobiça.

A fatalidade que parece marcar os destinos materiais de nossa vida é que nós mesmos escolhemos nossa prova; quanto mais for rude e melhor a suportarmos, mais nos elevaremos. Aqueles que passam a vida na abundância e na felicidade humana são Espíritos fracos, que permanecem estacionários. Assim, o número de desafortunados ultrapassa em muito o dos felizes neste mundo, já que os Espíritos procuram, na maior parte, a prova que será mais proveitosa. Eles vêm muito bem a futilidade de nossas grandezas e prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre inquieta, apesar da ausência da dor. (15) 

A expressão nascer sob uma boa estrela é uma velha superstição que ligava as estrelas ao destino de cada homem. É uma simbologia que algumas pessoas fazem a tolice de levar a sério. 

NOTAS:

(1) Livre arbítrio – liberdade moral do homem; faculdade que ele tem de se guiar pela sua vontade na realização de seus atos. Os Espíritos nos ensinam que a alteração das faculdades mentais, por uma causa acidental ou natural, é o único caso em que o homem fica privado de seu livre arbítrio. Fora disto é sempre senhor de fazer ou de não fazer. Ele goza desta liberdade no estado de Espírito, e é em virtude desta faculdade que escolhe livremente a existência e as provas que julga próprias para seu progresso; ele a conserva no estado corporal, a fim de poder lutar contra essas mesmas provas. Os Espíritos que ensinam esta doutrina não podem ser maus Espíritos. (Allan Kardec in Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, Vocabulário.)

(2) As almas são criadas simples e ignorantes, tendo todas assim um mesmo ponto de partida, o que está conforme à justiça; o que sabemos ainda, é que o livre arbítrio não se desenvolve senão pouco a pouco e depois de numerosas evoluções na vida corpórea. Assim, quando a alma passa a desfrutar do seu livre arbítrio, a responsabilidade cresce em razão do desenvolvimento de sua inteligência. Durante longos períodos, a alma encarnada está submetida à influência exclusiva dos instintos de conservação; pouco a pouco esses instintos se transformam em instintos inteligentes, ou, para melhor dizer, se equilibram com a inteligência; mais tarde, e sempre gradualmente, a inteligência domina os instintos; é então somente que começa a responsabilidade séria. (Allan Kardec in Revista Espírita, janeiro 1864, Progresso nas primeiras encarnações.)

(3) Tendências inatas – tendências, ideias ou conhecimentos não adquiridos que, parece, trazemos ao nascer. Há muito tempo discutem-se as tendências inatas, cuja realidade é combatida por certos filósofos que pretendem sejam todas adquiridas. Se assim fosse, como explicar certas disposições naturais que se revelam muitas vezes desde a mais tenra idade e independentemente de qualquer educação? Os fenômenos espíritas lançam uma grande luz sobre esta questão. A experiência não deixa dúvida alguma, hoje em dia, sobre estas espécies de tendências que encontram sua explicação na sucessão das existências. Os conhecimentos adquiridos pelo Espírito nas existências anteriores se refletem nas existências posteriores através do que denominamos tendências inatas. (Allan Kardec in Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas, Vocabulário.)

(4) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro segundo, cap. VII, Faculdades Morais e Intelectuais, questão 361.

(5) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro segundo, cap. VII, Influência do Organismo, questão 368.

(6) O exercício das faculdades depende dos órgãos que servem de instrumento ao Espírito encarnado; elas são enfraquecidas pela grosseria da matéria. O envoltório material é um obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, assim como um vidro opaco se opõe à livre emissão da luz. Pode-se ainda comparar a ação da matéria grosseira do corpo sobre o Espírito à da água lamacenta, que tira a liberdade dos movimentos aos corpos nela mergulhados. Os órgãos são os instrumentos de manifestação das faculdades da alma. Essas manifestações se encontram subordinadas ao desenvolvimento e ao grau de perfeição desses mesmos órgãos, como a boa qualidade de um trabalho, à boa qualidade da ferramenta. O Espírito tem sempre as faculdades que lhe são próprias; não são os órgão que dão as faculdades, mas as faculdades que conduzem ao desenvolvimento dos órgãos. As qualidades do Espírito, que pode ser mais ou menos avançado, são o princípio, mas é preciso ter em conta a influência da matéria que entrava, mais ou menos, o exercício dessas faculdades.

O Espírito, ao encarnar, traz certas predisposições, admitindo-se para cada uma um órgão correspondente no cérebro; o desenvolvimento desses órgãos será um efeito e não uma causa. Se as faculdades tivessem seu princípio nos órgãos, o homem seria uma máquina sem livre-arbítrio e sem responsabilidade por seus atos. Seria preciso admitir que os maiores gênios, os sábios, poetas, artistas, são gênios apenas porque o acaso lhes deu órgãos especiais, e que sem esses órgãos não seriam gênios. Assim, o maior imbecil poderia ser um Newton, um Virgílio1 ou um Rafael 2, se tivesse possuído certos órgãos. Essa suposição é mais absurda ainda quando aplicada às qualidades morais. Assim, conforme esse sistema, um São Vicente de Paulo, dotado por natureza desse ou daquele órgão, poderia ter sido um criminoso, e faltaria ao maior criminoso apenas um órgão para ser um São Vicente de Paulo. Admiti, ao contrário, que os órgãos especiais, se é que existem, são uma consequência, que se desenvolvem pelo exercício da faculdade, assim como os músculos, pelo movimento, e não tereis nada de irracional. Façamos uma comparação simples, mas verdadeira: por meio de certos sinais fisionômicos, reconheceis o homem dado à bebida; são esses sinais que o tornam ébrio, ou é a embriaguez que faz surgirem esses sinais? Pode-se dizer que os órgãos recebem a marca das faculdades. (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, questões de 367 à 370.)

(7) Ver estudo sobre Idiotismo e Loucura:

(8) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro primeiro, cap. IV, Inteligência e Instinto, questões 71 e seguintes.
      http://www.aeradoespirito.net/OLivrodosEspiritos/O_LIVRO_DOS_ESPIR_L1_C4.html 

(9) Ver Revista Espírita, julho de 1868, no artigo A Ciência da Concordância dos Números e a Fatalidade:    

(10) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro Segundo, capítulo IX, Anjos da Guarda, Espíritos Protetores, Familiares ou Simpáticos:
       http://www.aeradoespirito.net/OLivrodosEspiritos/O_LIVRO_DOS_ESPIR_L2_C9_SC6.html

(11) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Livro Segundo, capítulo IX:

(12) Todas as leis que regem o conjunto dos fenômenos da Natureza têm consequências necessariamente fatais, quer dizer, inevitáveis, e esta fatalidade é indispensável à manutenção da harmonia universal. O homem, que sofre essas consequências, está, pois, em certos aspectos, submetido à fatalidade em tudo o que não depende de sua iniciativa; assim, por exemplo, ele deve fatalmente morrer: é a lei comum à qual não pode se subtrair, e, em virtude desta lei, pode morrer em toda idade, quando sua hora é chegada; mas se ele apressa voluntariamente a sua morte pelo suicídio ou por seus excessos, ele age em virtude de seu livre-arbítrio, porque ninguém o pode constranger a fazê-lo. Ele deve comer para viver: é da fatalidade; mas se come além do necessário, pratica ato de liberdade. – Ver Allan Kardec, Revista Espírita, julho 1868, no artigo A Ciência da Concordância dos Números e a Fatalidade:

(13) Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, questão 526 e 532:

(14) Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, questão 411 e 522:

(15) Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, questão 258 e seguintes:.

* * *

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

VESTUÁRIO E OBJETOS DOS ESPÍRITOS


VESTUÁRIO E OBJETOS DOS ESPÍRITOS
Estudo com base no O Livro dos Médiuns, cap. VIII, Laboratório do Mundo Invisível, itens de 126 à 131.
Obra codificada por Allan Kardec.
Pesquisa: Elio Mollo


Em relatos de aparições de Espíritos é comum perguntar-se onde eles encontram roupas inteiramente semelhantes às que usavam em vida, com todos os acessórios do traje?

É evidente que não levaram esses objetos com eles. De onde provêm então os que eles usam no outro mundo? Esta questão é bastante intrigante, se bem que para muitas pessoas não passa de uma simples curiosidade. Não há dúvida de que se trata de fenômeno extraordinário, mas o que o ultrapassa é a produção de matéria sólida persistente, provada por numerosos fatos autênticos.

Acreditamos que esse problema é de grande importância, e isso nos levou a estudar O Livro dos Médiuns na busca de uma resposta que satisfizesse a nossa dúvida. Sigamos então adiante:

Na Revista Espírita de agosto de 1859, encontramos no artigo Mobiliário de Além-Túmulo a seguinte carta que um dos correspondentes do Departamento do Jura enviou à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas:

“...um fato pessoal que aconteceu comigo, em maio de 1858. Foi a aparição do Espírito de uma pessoa viva que ficou muito admirada por ter vindo me visitar. Eis as circunstâncias: Eu estava muito doente e há tempos não dormia, quando vi, às dez horas da noite, um amigo da família sentado perto de meu leito. Manifestei-lhe minha surpresa por sua visita àquela hora. Disse-me ele: ‘Não fale; venho velá-la; não fale; é preciso dormir.’ E estendeu a mão sobre a minha cabeça. Abri os olhos várias vezes para saber se ele ainda estava lá, e de cada vez me fazia sinal para os fechar e calar-me. Ele girava uma caixa de rapé entre os dedos e, de quando em quando, tomava uma pitada, como o fazia costumeiramente. Por fim adormeci e, ao despertar, a visão havia desaparecido. Diferentes circunstâncias me provaram que no momento dessa visita inesperada eu estava perfeitamente acordada, e que aquilo não era um sonho. Quando de fato me visitou pela primeira vez apressei-me em agradecer-lhe. Trazia a mesma caixa de rapé e, ao escutar-me, estampava o mesmo sorriso de bondade que eu notara quando me velava. Como me garantiu não ter vindo, o que aliás não me foi difícil acreditar, porquanto não teria havido nenhum motivo que o impelisse a vir a tal hora passar a noite junto a mim, compreendi que apenas o seu Espírito tinha vindo visitar-me, enquanto seu corpo repousava tranquilamente em sua casa.” (1)

Os fatos de aparição pertencem às leis da Natureza, portanto, nada têm de maravilhoso. Citamos o caso acima, descrevendo um caso de aparição do Espírito de pessoa viva e que esse Espírito tinha uma tabaqueira e tomava pitadas. Contudo, apesar de aparecer com a tabaqueira ele não experimentava a sensação provocada pelo rapé. (2) Explicaremos melhor: A tabaqueira tinha a mesma forma da que ele usava habitualmente, mas essa tabaqueira nas mãos desse homem no momento da aparição à essa senhora, era apenas uma aparência. Era para ser notada, ou seja, para que a aparição não fosse tomada por alucinação produzida pelo estado de saúde da vidente. O Espírito queria que a senhora acreditasse na sua presença e tomou todas as aparências da realidade.

Uma aparência nada tem de real, é como uma ilusão de ótica, contudo, nessa tabaqueira havia algo de material, assim, foi com a ajuda desse princípio material que o Espírito aparentou-se usando a tabaqueira e vestido com roupas semelhantes às que usava quando vivo.

Para aparecer com a solidez de um corpo vivo o Espírito combina uma parte do fluido universal (3) com o fluido (de natureza semimaterial) que se desprende de um médium apto para esse efeito (4). Obedecendo a vontade do Espírito, o fluido toma a forma que ele deseja, mas a forma com que aparece geralmente é impalpável.

O Sr. Sanson, um dos membros da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, faz observar que na imagem reproduzida no espelho há qualquer coisa de real; se ela não fica nele é que nada a fixa; mas se fosse projetada sobre uma chapa do daguerreótipo (5) deixaria uma impressão, prova evidente de que é produzida por uma substância qualquer e não simplesmente uma ilusão de óptica. (6)

Em caso destes tipos devemos entender a palavra aparência no seu sentido de aspecto, de imitação, ou seja, a tabaqueira real não estava com o Espírito. A que ele segurava era apenas a sua representação. Era, assim, uma aparência, em relação ao original, embora construída por um princípio material.

A experiência ensina que não devemos tomar sempre ao pé da letra as expressões usadas pelos Espíritos. Interpretando-as segundo as nossas ideias, corremos o risco de nos expor a grandes decepções. É por isso que precisamos aprofundar o sentido de suas palavras quando apresentam a menor ambiguidade. Essa recomendação os próprios Espíritos nos fazem constantemente. Sem esta explicação à palavra aparência, constantemente repetida nos casos semelhantes poderá ser falsamente interpretada. (7)

O fenômeno acima descrito acontece porque o Espírito dispõe, sobre os elementos materiais dispersos por todo o espaço da atmosfera, de um poder que estamos longe de suspeitar. Ele pode concentrar esses elementos pela sua vontade e dar-lhe a forma aparente que convenha às suas intenções. Assim, nessa aparição as roupas do Espírito são alguma coisa como o próprio perispírito é alguma coisa. Resulta desta explicação que os Espíritos submetem a matéria etérea às transformações que desejam. Assim, por exemplo, no caso da tabaqueira o Espírito não a encontrou feita, mas ele mesmo a produziu, quando dela necessitou, por um ato da sua vontade, e da mesma maneira a desfez. É isso mesmo que se dá com todos os outros objetos, como as roupas, as joias, etc.

Essa tabaqueira foi vista pela senhora como se fosse real. Contudo, se o desejasse o Espírito poderia, também, torná-la tangível, e se fosse o caso, a senhora poderia pegá-la acreditando ter nas mãos uma tabaqueira real e se ela o abrisse, provavelmente encontraria tabaco, e se o tomasse espirraria. Então, se necessário, o Espírito pode dar não somente a forma do objeto, mas também as suas propriedades especiais. Com isso, podemos deduzir que o Espírito exerce sobre a matéria uma ação que ainda estamos longe de imaginar.

Suponhamos que o Espírito quisesse fazer uma substância venenosa que uma pessoa a tomasse. O Espírito poderia fazê-la, mas teria enorme dificuldade porque isso não lhe seria permitido, porém, poderia fazer uma substância salutar, apropriada à cura de uma doença, e isso já aconteceu muitas vezes em trabalhos de cura. (8)

Poderia, da mesma maneira, fazer uma substância alimentar. Suponhamos que fizesse uma fruta ou uma iguaria qualquer. Alguém poderia comê-la e sentir-se saciado. Mas acontece que a questão da saciedade é neste caso muito importante. Como uma substância que só tem existência e propriedades temporárias e de certa maneira convencionais pode produzir a saciedade? Essa substância, em seu contato com o estômago, produz a sensação da saciedade, mas não a saciedade propriamente dita que resulta da plenitude. Se essa substância pode agir na economia orgânica e modificar um estado mórbido, pode também agir sobre o estomago e provocar uma sensação de saciedade. Mas pedimos aos senhores farmacêuticos e donos de restaurantes para não se enciumarem nem pensarem que os Espíritos lhes venham fazer concorrência. Esses casos são raros, excepcionais, e não dependem jamais da vontade de alguém, pois do contrário todos se alimentariam e curariam de maneira vantajosa. Se os Espíritos possuem instrumentos mais perfeitos que os nossos, eles, também, os usam conforme prevê a Lei Natural, ou para entender melhor, conforme a vontade e a permissão de Deus.

Os objetos que a vontade do Espírito tornou tangíveis poderiam permanecer nesse estado e ser usados, mas isso não se faz porque é contrário às leis naturais.

Quanto mais elevado é o Espírito, mais facilmente consegue produzir objetos tangíveis, mas isso também depende das circunstâncias.

Os Espíritos inferiores, por seu apego as coisas materiais, produzem estes tipos de fenômenos com maior frequência. E por sua inferioridade, o Espírito nem sempre possui consciência da maneira pela qual produz as suas roupas ou os objetos que torna aparentes. Na maioria das vezes forma os objetos tangíveis por uma ação instintiva, que ele mesmo não compreende, porque ainda não está suficientemente esclarecido para isso.

Se o Espírito pode tirar do elemento universal os materiais para essas produções, dando a essas coisas uma realidade temporária com suas propriedades, pode também tirar o necessário para escrever, o que nos daria a chave do fenômeno de escrita direta..

Se o objeto material for volumoso a matéria de que o Espírito se serve não persistem, nem poderiam tornar-se de uso, porque na realidade não possuem a mesma densidade material dos nossos corpos sólidos, mas se são sinais escritos, como na escrita direta ou pneumatografia (9), se for útil conservar eles se conservam, mesmo porque, de uma certa maneira, foram somente marcas deixadas num corpo material.

Essa teoria pode ser resumida assim:

·        O Espírito age sobre a matéria tirando da matéria cósmica universal os elementos necessários para formar, como quiser, objetos com a aparência dos diversos corpos da Terra.
·        Pode também operar, pela vontade, sobre a matéria elementar, uma transformação íntima que lhe dê certas propriedades.
·        Essa faculdade é inerente à natureza do Espírito, que a exerce muitas vezes de maneira instintiva e, portanto, sem o perceber, quando se faz necessário.
·        Os objetos formados pelo Espírito são de existência passageira, que depende da sua vontade ou da necessidade: ele pode fazê-los e desfazê-los a seu bel-prazer.
·        Esses objetos podem, em certos casos, parecer para os vivos perfeitamente reais, tornando-se momentaneamente visíveis e mesmo tangíveis. Trata-se de formação e não de criação, pois o Espírito não pode tirar nada do nada.

A existência de uma matéria elementar única é hoje quase geralmente admitida pela ciência e os Espíritos a confirmam, como acabamos de ver. Essa matéria dá origem a todos os corpos da Natureza. As suas transformações determinam as diversas propriedades os corpos. É assim que uma substância salutar pode tornar-se venenosa por uma simples modificação. A Química nos oferece numerosos exemplos nesse sentido.

Todos sabem que duas substâncias inofensivas, combinadas em certas proporções, podem resultar numa deletéria. Uma parte de oxigênio e duas de hidrogênio, ambas inofensivas, formam a água. Basta acrescentar um átomo de oxigênio e teremos um líquido corrosivo. Mesmo sem alterar as proporções, muitas vezes é suficiente uma simples modificação na forma de agregação molecular para mudar as propriedades. É assim que um corpo opaco pode tornar-se transparente e vice-versa. Desde que o Espírito, através apenas da sua vontade, pode agir tão decisivamente sobre a matéria elementar, compreende-se que possa formar substâncias e até mesmo desnaturar as suas propriedade, usando a própria vontade como reativo. (10)

Esta teoria nos dá a solução de um problema do magnetismo (11), bem conhecido, mas até hoje inexplicado, que é o fato da modificação das propriedades da água pela vontade. O Espírito agente é o do magnetizador, na maioria das vezes assistido por um Espírito desencarnado. Ele opera uma transmutação por meio do fluido magnético que, como já dissemos, é a substância que mais se aproxima da matéria cósmica ou elemento universal. E se ele pode produzir uma modificação nas propriedades da água, pode igualmente faze-lo no tocante aos fluidos orgânicos, do que resulta o efeito curativo da ação magnética convenientemente dirigida.

Sabe-se o papel capital da vontade em todos os fenômenos magnéticos. Mas como explicar a ação material de um agente tão sutil? A vontade não é uma entidade, uma substância e nem mesmo uma propriedade da matéria mais eterizada: é o atributo essencial do Espírito, ou seja, do ser pensante. Com a ajuda dessa alavanca ele age sobre a matéria elementar e em seguida reage sobre os seus componentes, com o que as propriedades íntimas podem ser transformadas.

A vontade é atributo do Espírito encarnado ou errante. Daí o poder do magnetizador, que sabemos estar na razão da força da vontade. O Espírito encarnado pode agir sobre a matéria elementar e portanto modificar as propriedades das coisas dentro de certos limites. Assim se explica a faculdade de curar pelo contato e a imposição das mãos, que algumas pessoas possuem num elevado grau. (12)

(1) O fato descrito nesta carta pode ser lido também em O Livro dos Médiuns, segunda parte, cap. VII, Bicorporeidade e Transfiguração, item 116, Allan Kardec.

(2) A configuração deste estudo estão com base e respostas oferecidas à perguntas feita por Allan Kardec para o Espírito São Luís em O Livro dos Médiuns, segunda parte, cap. VIII, Laboratório do Mundo Invisível, item 128 e Revista Espírita, junho de 1858, Teoria das Manifestações Físicas, parte II.

(3) Fluido Universal - Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, é a trindade Universal. O espírito (Alma) é o princípio inteligente. Para que o Espírito possa exercer ação sobre a matéria tem que se juntar o fluido universal, pois, é ele que desempenha o papel intermediário entre o Espírito e a matéria grosseira. É lícito até certo ponto, classificar o fluido universal com o elemento material, porém, ele se distingue, deste por propriedades especiais. Este fluido deve ser considerado como sendo um elemento semimaterial, pois, está situado entre o Espírito e a matéria. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza; é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá. (Ver Allan Kardec, questão 27 de O Livro dos Espíritos)

(4) É esse fluido que compõe o perispírito fazendo a ligação do Espírito com a matéria. O perispírito é o invólucro semimaterial do Espírito depois da sua separação do corpo. Nos encarnados serve de liame ou intermediário entre o Espírito e a matéria. (Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos – item 257 (Ensaio Teórico sobre a sensação nos Espíritos, O Livro dos Médiuns, cap. XXXII, Instruções Práticas Sobre as manifestações Físicas - Vocabulário Espírita. Obras de Allan Kardec.)

(5) Louis Daguerre (1787 - 1851), nasceu na França, foi pintor, cenógrafo, físico e inventor do daguerreótipo, algo que poderíamos chamar de uma máquina fotográfica bem primitiva. Daguerre foi o primeiro a conseguir uma imagem fixa gerada pela luz, ou seja, uma fotografia.

(6) Ver Allan Kardec, Revista Espírita de agosto de 1859, no artigo Mobiliário de Além-Túmulo.

(7) Esta observação de Kardec é da maior importância para todos os que se dedicam ao Espiritismo prático. Os Espíritos estão num mundo diferente do nosso e mesmo quando usam a nossa linguagem esta nem sempre corresponde à nossa maneira de ver. Precisamos estar atentos ao que dizem e provocar todos os esclarecimentos que nos parecem necessários. O problema da linguagem dos Espíritos, já levantados por Kardec, requer estudos aprofundados que ainda estão por ser feitos. (Nota de J. Herculano Pires in tradução de O Livro dos Médiuns de sua autoria)
Fig.: Daguerreótipo


(8) O meio seguro de se subtrair da influência dos maus fluidos que pululam em nossa volta depende da vontade do próprio homem que traz consigo o preservativo necessário, ou seja, pelo esforço que faz para dominar suas más tendências, pois os fluidos unem-se em razão da similitude de sua natureza e os fluidos antagônicos se repelem, assim, existe uma incompatibilidade entre os bons e os maus fluidos, como entre o óleo e a água. Saneia-se um mal fluido, purificando-o, destruindo o centro dos miasmas combatendo os eflúvios insalubres por correntes de ar salutares mais fortes. À invasão dos maus fluidos é preciso, pois opor-lhes bons fluidos; e como cada qual tem em seu próprio perispírito uma fonte fluídica permanente traz-se o remédio consigo mesmo; basta depurar esta fonte e dar-lhe qualidades tais que sejam para as más influências uma resistência, em lugar de ser uma força atrativa. O perispírito é, assim, uma couraça à qual é preciso dar a melhor têmpera possível; ora, como as qualidades do perispírito são, em razão, qualidades da alma, torna-se necessário trabalhar em sua própria melhoria, porque são as imperfeições da alma que atraem os maus fluidos.

O fluido universal é o elemento primitivo do corpo carnal e do perispírito que, apenas são transformações.  Pela identidade de sua natureza, este fluido pode fornecer ao corpo os princípios reparadores.

O fluido vital que tem como fonte o fluido universal é o mesmo que o fluido elétrico animalizado, designado, também, sob os nomes de fluido magnético, fluido nervoso, etc.

A quantidade de fluido vital não é fator absoluto para todos os seres orgânicos; varia segundo as espécies e, não é fator constante, seja no mesmo indivíduo, seja nos indivíduos da mesma espécie. Existem alguns que são, por assim dizer, saturados, enquanto outros dispõem apenas de uma quantidade suficiente; daí, para alguns, a vida é mais ativa, mais vibrante e, de certo modo superabundante.

Quando a quantidade de fluido vital se esgota; pode a vir a ser insuficiente para manter a vida, se não renovado pela absorção e a assimilação das substância que o contém.

O fluido vital se transmite de um indivíduo para o outro. Aquele que tem o bastante, pode dá-lo aquele que tem pouco e, em certos casos restabelecer a vida prestes a se apagar. (Ver Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita e em nota referindo-se as questões de 68 a 70 LE.)

Assim, estando condensado no perispírito, o agente propulsor é o Espírito encarnado ou desencarnado, que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância de seu envoltório fluídico. A cura se opera pela substituição de uma molécula insalubre por outra molécula sadia. O poder curador estará, pois, em razão da pureza da substância inoculada; ela depende ainda da energia e da vontade que provoca uma emissão fluídica mais abundante e dá ao fluido uma força maior de penetração; enfim, das intenções que animam aquele que quer curar, quer seja homem ou Espírito. Os fluidos que emanam de uma fonte impura são como substâncias médicas alteradas. (Ver mais in Allan Kardec, A Gênese, Cap. XIV, itens: 21, 31 à 34 e O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4. Ver também exemplos de curas instantâneas reportadas na Revue Spirite: O Príncipe de Hohenlohe, dez. 1866; Jacob, out. e nov. 1867; – Simonet, ago. 1867; – Caid Hassan, out. 1867; – o pároco Gassner, nov. 1867.

(9) Pneumatografia é a escrita produzida diretamente pelo espirito, sem nenhum intermediário. Difere da psicografia porque esta é a transmissão do pensamento de um Espírito pela mão de um médium. (Ver Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, segunda parte, cap. XII, item 146.)

(10) Todas estas questões estão sendo hoje sancionadas pelo avanço da Ciência em seus vários ramos. O desenvolvimento da Física nuclear ampliou as possibilidades acima referidas por Kardec. Hoje se sabe que a matéria elementar é uma realidade e sua natureza não é atômica, mas subatômica. O fluido universal dos Espíritos, tão ridicularizados até há pouco, já é admitido pela Ciência com outros nomes: o oceano de elétrons livres da teoria de Dirac, os campos de força, o poder desconhecido que está por trás da energia, segundo Arthur Compton e que parece ser pensamento, etc. Quanto à ação da vontade sobre a matéria a Medicina Psicossomática e a Parapsicologia se incumbiram de prová-la, mesmo nos encarnados. (Nota de J. Herculano Pires in tradução de O Livro dos Médiuns de sua autoria)

(11) Magnetismo animal, também chamado de Mesmerismo (notadamente nos séculos XVIII e XIX) é o estado ou o resultado de alguém, obtido ao ser mesmerizado (ou magnetizado), com um dos significados acima listados. seria, segundo o seu descobridor, Franz Anton Mesmer, um estado particular de vibração (ou tom de movimento, em suas palavras) do fluido universal.

"Nem a luz, nem o fogo, nem a eletricidade, nem o magnetismo e nem o som são substâncias, mas sim efeitos do movimento nas diversas séries do fluido universal", definiu Mesmer.
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Magnetismo_animal)

Magnetismo animal (do gr. e do lat. magnes, ímã) – assim chamado por analogia com o magnetismo mineral. Tendo a experiência demonstrado que esta analogia não existe, ou é apenas aparente, esta denominação deixa de ser exata. Todavia, como está consagrada por um uso universal, e como, além disso, o epíteto que se lhe acrescenta não permite equívoco, haveria mais inconveniência do que utilidade em mudar este nome. Algumas pessoas substituem-na pela palavra Mesmerismo; entretanto esta expressão até agora não prevaleceu.

O magnetismo animal pode ser assim definido: ação recíproca de dois seres vivos por intermédio de um agente especial chamado fluido magnético. (Allan Kardec, Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas)

O magnetismo produzido pelo fluido do homem é o magnetismo humano; aquele que provém do fluido dos Espíritos é o magnetismo espiritual.

O fluido magnético tem, pois, duas fontes muito distintas: os Espíritos encarnados e os Espíritos desencarnados. Essa diferença de origem produz uma diferença muito grande na qualidade do fluido e em seus efeitos. (Allan Kardec, Revista Espírita , setembro1865, Da mediunidade curadora.)

(12) Ver Allan Kardec, O Livro dos Médiuns, segunda parte, cap. XVI, sobre os Médiuns, no item 189, o tópico referente a médiuns curadores. Ver ainda na Revista Espírita, n°. de julho de 1859, os artigos O zuavo de Magenta e Um Oficial do Exército da Itália.)

Para ler mais sobre este tema acionar os Link’s abaixo:



* * *