sábado, 7 de julho de 2012

O ESPIRITISMO EXIGE RESPONSABILIDADE


O ESPIRITISMO EXIGE RESPONSABILIDADE
Antonio Sérgio C. Picollo e Elio Mollo


Dentre as principais finalidades de um Centro Espírita, destacam-se, o amparo, o esclarecimento e o consolo, à luz da Doutrina Espírita, que se fornecem a todos os irmãos necessitados que o procuram. Em primeiro lugar é óbvio que se algum espírita pretende ajudar alguém, à luz do Espiritismo, é necessário que ele conheça seus fundamentos básicos. E neste ponto que verificamos que surgem muitos problemas, de forma muito comum, em diversos Centros Espíritas de todo o Brasil. Infelizmente, muitos dirigentes e trabalhadores da Seara Espírita não conhecem a fundo (às vezes, nem superficialmente) as obras básicas do Espiritismo codificadas por Allan Kardec e por isso mesmo tornam-se inaptos a orientar algum necessitado, ou mesmo a proferir uma palestra sobre Espiritismo. Parece-nos que muitos ainda não conhecem aquelas velhas frases: "Temos de começar pelo começo" ou "Não se inicia a construção de uma casa pelo telhado, e sim pelo alicerce".

É comum constatarmos que diversos Centros Espíritas e Federações de alguns Esta­dos, em seus cursos básicos de Espiritismo, ou até mesmo em palestras abertas ao público em geral, releguem as obras de Kardec a um segundo plano, dando franca preferência a outros livros psicografados. E ainda orientam pessoas iniciantes na Doutrina a começarem a ler esse tipo de literatura que, que­remos deixar bem claro, são importantes, louváveis e de inestimável valor, porém, para aqueles que já possuem conhecimento dos elementos básicos da Doutrina Espírita.

Não é raro assistirmos palestras públicas, onde muitas pessoas lá se encontram pela primeira vez, e vemos que o expositor espírita, após esclarecer que aquele local é uma “Casa Kardecista”, se põe a falar sobre os bônus-hora, de ministérios existentes nas colônias espirituais, dos veículos de locomoção lá existentes etc.. Ora, se alguém de bom-senso, leigo em conhecimentos espíritas, assistir a esse tipo de palestra, logo duvidará da seriedade do Espiritismo e dos espíritas, pois, com razão, achará que tudo aquilo é ilógico ou se trata de algum conto de ficção.

Não devemos nos esquecer de que todos os dias chegam aos Centros Espíritas pessoas oriundas de outras religiões, que nada conhecem sobre Espiritismo e por isso é que tanto em matéria de palestras, como em relação a orientar sobre leituras, é de suma importância que se dê ênfase às obras basilares da Doutrina, a saber: "O que é o Espiritismo", "O Livro dos Espíritos",  e, para que essas pessoas não se confundam e, sim, sejam esclarecidas. Depois desses conhecimentos bem assenta­dos em nossas mentes, é que pode­remos pensar em dar continuidade, em cursos separados do curso básico, ao estudo regular e metódico de "O Livro dos Médiuns" e de­mais obras de Kardec. Somente aí é que estaremos realmente em condições de estudarmos as importantes e verdadeiras obras subsidiárias da Doutrina Espírita. Como dissemos em relação a essas últimas nada te­mos contra, muito pelo contrário, porém, re­afirmamos que somente aqueles que já adquiriram conhecimentos das obras de Kardec serão capazes de absorver essas instruções. Caso contrário, estaremos orientando essas criaturas de forma distorcida e isso é uma ir­responsabilidade.

Como podemos nos considerar espíritas sem o conhecimento das obras de Kardec? Como ingressarmos numa faculdade de medicina, por exemplo, no quarto ano de graduação, sem termos conhecimento dos três primeiros anos básicos? Certamente, não entenderíamos muita coisa do restante do curso, senti­ríamos falta de conhecimentos básicos para compreendermos novas lições, e, se prosseguíssemos, sem dúvida, nos tornaríamos maus profissionais, pondo em risco a saúde dos pacientes, desprestigiando a medicina e os colegas de profissão. Esse simples exemplo serve como termo de comparação com o Centro Espírita. Se alguma pessoa ti­ver acesso a uma Casa Espírita e não lhe for apresentada corretamente a Doutrina Espírita, esta pessoa, caso continue a freqüentar esse local, continuará com falta de conhecimento e coragem para solucionar esses problemas e, no futuro, será um médium ou trabalhador inseguro, cheio de dúvidas, e ignorante dos conhecimentos que necessita para si e também para poder ajudar aos outros.

Não achamos válida a justificativa que muitos irmãos utilizam de que "Kardec é difícil de entender" ou que "As obras de Kardec são maçantes".  Recordamos textualmente as palavras do codificador na introdução de "O Livro dos Espíritos": "Mas jamais dissemos que esta ciência seja fácil nem que se possa aprendê-la brincando, como também não se dá como qualquer outra ciência. Nunca será demais repetir que ela exige estudo constante e quase sempre prolongado".

Se observarmos com profundidade as obras de Kardec chegaremos a conclusão de que ele sempre usou o bom senso e para não criar dúvidas procurou ser objetivo e simples durante a codificação. Devemos alertar que muitas obras de outros autores que são consideradas "fáceis de entender", além de muitas vezes conterem erros doutrinários, não nos tornam aptos a compreendermos correta e aprofundadamente a Doutrina Espírita, gerando, cedo ou tarde, dúvidas e confusão dentro de nós mesmos que preferimos o caminho "mais fácil". Daí a importância de termos dirigentes espíritas conscientes e responsáveis para essa difícil tarefa de conduzirem a Doutrina Espírita com o máximo de pureza doutrinária, de saberem criar cursos regulares de Espiritismo de maneira adequada e lógica, sempre à luz das obras de Kardec em primeiro lugar. Que nossos dirigentes respeitem o Espiritismo divulgando-o como ele é na realidade e não inserindo opiniões pessoais como sendo verdade. Daí também surge a necessidade gritante de se capacitarem melhor, se aprofundando nas obras de Kardec, de se atualizarem através de trocas de experiências com outros dirigentes de outras Casas Espíritas, da leitura e divulgação dos jornais espíritas, enfim, de estudar Kardec e entender melhor as lições Jesus para praticá-las com mais eficiência a cada dia que passa.

Pensemos nesta responsabilidade.

* * *

sexta-feira, 6 de julho de 2012

MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS


MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
Estudo com base in O Livro dos Espíritos,
livro segundo, cap. 1, questões de 76 à 92
obra codificada por Allan Kardec
Pesquisa: Elio Mollo


ORIGEM E NATUREZA DOS ESPÍRITOS

Podemos definir que os Espíritos são os seres inteligentes da Criação. Eles povoam o Universo, além do mundo material. (LE – 76) (#)

(#) LE é abreviatura referente ao “O Livro dos Espíritos”

Nota de Allan Kardec: A palavra Espírito é aqui empregada para designar os seres extra-corpóreos e não mais o elemento inteligente Universal. (--)

Os Espíritos são obra de Deus, precisamente como acontece com um homem que faz uma máquina; esta é obra do homem, e não ele mesmo. O homem, quando faz uma coisa bela e útil, chama-a sua filha, sua criação. Podemos dizer que dá-se o mesmo com Deus. Somos seus filhos porque somos sua obra. (LE – 77)

A lógica nos leva a deduzir que os Espíritos tiveram um começo, pois se os Espíritos não tivessem tido princípio, seriam iguais a Deus, mas pelo contrário, são sua criação, submetidos à sua vontade. Deus existe de toda a eternidade, isso é incontestável: mas quando e como ele criou, não o sabemos. Podemos dizer que não tivemos princípio, se com isso entendermos que Deus, sendo eterno, deve ter criado sem cessar; mas quando e como cada um de nós foi criado, ninguém o sabe; isso é um mistério para ser desvendado. (LE – 78)

Uma vez que há dois elementos gerais do Universo: o inteligente e o material (1), podemos dizer que os Espíritos são formados do elemento inteligente (2), como os corpos inertes são formados do material. Os Espíritos são individualizações do princípio inteligente, como os corpos são individualizações do princípio material; a época e a maneira dessa formação é que desconhecemos. (LE – 79)

A criação dos Espíritos é permanente, não se verificou apenas na origem dos tempos, o que quer dizer que Deus jamais cessou de criar. (LE – 80)

Deus os criou os Espíritos, como a todas as outras criaturas, pela sua vontade, mas como já dissemos a sua origem é um mistério para ser desvendado. (LE – 81)

Não há como dizer se os Espíritos são imateriais. Como iremos definir uma coisa (3), quando não dispomos de termos de comparação e se usamos uma linguagem insuficiente? Um cego de nascença pode definir a luz? Imaterial não é o termo apropriado, a definição incorpóreo, seria mais exato, pois devemos compreender que, sendo uma criação, o Espírito deve ser alguma coisa. É uma matéria quintessenciada (4), para a qual não dispomos de analogia, é tão eterizada, que não pode ser percebida pelos nossos sentidos. (LE – 82)

Nota de Allan Kardec: Dizemos que os Espíritos são imateriais porque a sua essência difere de tudo o que conhecemos pelo nome de matéria. Um povo de cegos não teria palavras para exprimir a luz e os seus efeitos. O cego de nascença julga ter todas as percepções pelo ouvido, o olfato, o paladar e o tato; não compreende as idéias que lhe seriam dadas pelo sentido que lhe falta. Da mesma maneira, no tocante à essência dos seres super-humanos, somos como verdadeiros cegos. Não podemos defini-los, a não ser por meio de comparações sempre imperfeitas, ou por um esforço da imaginação [5].

Os Espíritos terão fim? Compreende-se que o princípio de que eles emanam seja eterno, mas a sua individualidade terá um termo? E, num dado tempo, mais ou menos longo, o elemento de que são formados não se desagregará e não retornará a massa de que saíram, como acontece com os corpos materiais?

Realmente, é difícil compreender que uma coisa que teve começo não tenha fim. Porém, há muitas coisas que ainda não compreendemos, porque a nossa inteligência é limitada: mas não é isso razão para as repelirmos. O filho não compreende tudo o que o pai compreende, nem o ignorante tudo o que o sábio compreende, mas neste caso podemos dizer que a existência dos Espíritos não tem fim: é tudo quanto somos levados compreender, por enquanto. (LE – 83)

MUNDO NORMAL PRIMITIVO

Os Espíritos constituem um mundo à parte, além daquele que vemos, o mundo dos Espíritos ou das inteligências incorpóreas. (LE – 84)

O mundo espírita ou o mundo corpóreo é o principal na ordem das coisas: ele preexiste e sobrevive a tudo. (LE – 85)

O mundo corpóreo poderia deixar de existir, ou nunca ter existido, sem com isso alterar a essência do mundo espírita, eles são independentes, e não obstante, a sua correlação é incessante, porque reagem incessantemente um sobre o outro. (LE – 86)

Os Espíritos estão por toda parte: povoam ao infinito os espaços infinitos (6). Há os que estão sem cessar ao nosso lado, observando-nos e atuando sobre nós, sem o sabermos: porque os Espíritos são uma das forças da Natureza, são os instrumentos de que Deus se serve para o cumprimento de seus desígnios providenciais: mas nem todos vão a toda parte, porque há regiões interditas aos menos avançados. (LE – 87)

FORMA E UBIQÜIDADE DOS ESPÍRITOS

Aos nossos olhos os espíritos não tem uma forma determinada, limitada e constante. Podemos dizer que eles são uma flama, um clarão ou uma centelha etérea (7). (vide q. 23, 23ª e 26 de O Livro dos Espíritos. (LE – 88)

Esta flama ou centelha varia do escuro ao brilho do rubi, de acordo com a menor ou maior pureza do Espírito. (LE – 88a) 

Nota de Allan Kardec: Representam-se ordinariamente os gênios, com uma flama ou uma estrela na fronte. É essa uma alegoria, que lembra a natureza essencial dos Espíritos. Colocam-na no alto da cabeça, por ser ali que se encontra a sede da inteligência.

Os Espíritos gastam tempo para atravessar o espaço, mas rápido como o pensamento (8). (LE – 89)

Quando o pensamento está em alguma parte, a alma também o está, pois é a alma que pensa. O pensamento é um atributo (9). (LE – 89a)

O Espírito que se transporta de um lugar a outro (10) e pode ter consciência da distância que percorre e dos espaços que atravessa e, subitamente se transportar para onde deseja ir, ambas as situações são possíveis, pois o Espírito pode perfeitamente, se o quiser, dar-se conta da distância que atravessa, mas essa distância pode também desaparecer por completo isso depende de sua vontade e também da sua Natureza, se mais ou menos depurada. (LE – 90)

A matéria não oferece obstáculo aos Espíritos (11), eles penetram tudo, o ar, a terra, as águas, o próprio fogo lhes são igualmente acessíveis. (LE – 91)

Os Espíritos não tem o dom da ubiqüidade, ou, em outras palavras, o mesmo Espírito não pode dividir-se ou estar ao mesmo tempo em vários pontos, pois não pode haver divisão de um Espírito, contudo cada um deles é um centro que irradia para diferentes lados, e é por isso que parecem estar em muitos lugares ao mesmo tempo. Vês o Sol, que não é mais do que um, e não obstante irradia por toda parte e envia os seus raios até muito longe. Apesar disso, ele não se divide (12). (LE – 92)

Os Espíritos não irradiam com o mesmo poder, bem longe disso, o poder de irradiação depende do grau de pureza de cada um. (LE – 92a) 

Nota de Allan Kardec: Cada Espírito é uma unidade indivisível; mas cada um deles pode estender o seu pensamento em diversas direções, sem por isso se dividir. É somente nesse sentido que se deve entender o dom de ubiqüidade atribuido aos Espíritos. Como uma fagulha que projeta ao longe a sua claridade e pode ser percebida de todos os pontos do horizonte. Como, dada, um homem que, sem mudar de lugar e sem se dividir, pode transmitir ordens, sinais e produzir movimentos em diferentes lugares.

* * *

NOTAS:

(1) Há então dois elementos gerais do Universo: a matéria e o Espírito e acima de tudo Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Deus, espírito e matéria constituem o princípio de tudo o que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material se tem que juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o Espírito e a matéria propriamente dita, por demais grosseira para que o Espírito possa exercer ação sobre ela. Embora, de certo ponto de vista, seja lícito classificá-lo com o elemento material, ele se distingue deste por propriedades especiais. Se o fluido universal fosse positivamente matéria, razão não haveria para que também o Espírito não o fosse. Está colocado entre o Espírito e a matéria; é fluido, como a matéria, e suscetível, pelas suas inumeráveis combinações com esta e sob a ação do Espírito, de produzir a infinita variedade das coisas de que apenas conheceis uma parte mínima. Esse fluido universal, ou primitivo, ou elementar, sendo o agente de que o Espírito se utiliza, é o princípio sem o qual a matéria estaria em perpétuo estado de divisão e nunca adquiriria as qualidades que a gravidade lhe dá.(q. 27 (LE))

Espírito           Fluido Universal            Matéria
[----------------------I-----------------------]

Esse fluido é suscetível de inúmeras combinações. O que chamamos de fluido elétrico, fluido magnético, são modificações do fluido universal, que não é, propriamente falando, senão matéria mais perfeita, mais sutil e que se pode considerar independente. (q. 27a (LE)).  

(2) Observações importantes:

in O Livro dos Espíritos, q. 23.

Que é o espírito? (*)
“O princípio inteligente do Universo.”

(*) Alma ou espírito elementar fazendo abstração do perispírito.

In O que é o Espiritismo, Cap. II, item 9, 10 e 14 – Allan Kardec observa que:

Quando a alma está ligada ao corpo, durante a vida, tem duplo envoltório: um pesado e grosseiro e perecível, que é o corpo; o outro fluídico, leve e indestrutível, chamado perispírito.

Existem, portanto, no homem, três elementos essenciais:

1º. A alma ou espírito, princípio inteligente onde residem o pensamento, a vontade e o senso moral (vide qq. 23, 25 e 26 de LE);

2º. O corpo, envoltório material que põe o espírito em relação com o mundo exterior; (vide q. 25 de LE)

3º. O perispírito, invólucro fluídico, leve, imponderável, servindo de liame e de intermediário entre o espírito (alma) e o corpo.”

A união da alma, do perispírito, e do corpo material constitui o homem. A alma e o perispírito separados do corpo constituem a ser a que chamamos Espírito. (vide qq. 27, 135 e 135a  de LE)

NOTA DE ALLAN KARDEC referindo-se aos itens acima citados:

• A alma é assim um ser simples;
• O Espírito um ser duplo, e
• O homem um ser triplo.

Seria portanto mais exato reservar a palavra alma para designar o princípio inteligente, e a palavra Espírito para o ser semimaterial formado desse princípio e do corpo fluídico. Mas como não se pode conceber o princípio inteligente sem ligação material, as palavras alma e Espírito são, no uso comum, indiferentemente empregadas uma pela outra; é a figura que consiste em tomar a parte pelo todo, da mesma forma que se diz que uma cidade é habitada por tantas almas, uma vila composta de tantas casas; porém, filosoficamente é essencial fazer-se a diferença (**). 

(**) Fazendo a diferença sugerida por Kardec, deduzimos que:
Alma = espírito = principio inteligente = ser simples, primitivo. Neste caso espírito se escreve com "e" minúsculo).
Espírito = elemento inteligente individualizado = ser semimaterial = ser duplo (alma + perispírito) – o ser inteligente da criação (Coletivamente povoam o Universo, fora do mundo material.). Neste caso Espírito se escreve com "E" maiúsculo.
Homem = Espírito encarnado = ser triplo (alma + perispírito + corpo físico).Espírito Errante = Espírito (alma + perispírito) que aguarda uma encarnação.

(3) Aos nossos olhos os espíritos não tem uma forma determinada, limitada e constante. Podemos dizer que eles são uma flama, um clarão ou uma centelha etérea [1] (LE – 88). (vide q. 23, 23ª e 26 de O Livro dos Espíritos.

(4) in dicionário UOL (http://www2.uol.com.br/michaelis/)
quin.tes.sên.cia  sf  (fr quintessence) Veja quinta-essência
quin.ta-es.sên.cia  sf  (quinta+essência)
1 Substância etérea e sutil, considerada pelos alquimistas como um quinto elemento, além da água, da terra, do fogo e do ar, e obtida após cinco destilações sucessivas.
2 Extrato retificado, refinado e apurado ao extremo.
3 A parte mais pura, mais delicada; excelente, sutil.
4 Requinte, auge, grau mais elevado. Pl: quinta-essências. Var: quintessência.

[5] Os Espíritos revestidos do perispírito são o objeto desta referência. Sem o perispírito, nada tem de material, como podemos ver na resposta à questão 79 do “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, obra codificada por Allan Kardec. Nota de J. Herculano Pires.

(6) Podemos definir que os Espíritos são os seres inteligentes da Criação. Eles povoam o Universo, além do mundo material. (LE – 76)

(7) Todo este trecho se refere ao espírito puro, alma, princípio inteligente fazendo abstração do perispírito, segundo J. Herculano Pires é necessário atentar para essas variações (2), a fim de não confundirmos as explicações.

(8) Kardec in nota a resposta dada pelos Espíritos à resposta 662, diz que: “Possuímos, em nós mesmos, pelo pensamento e a vontade um poder de ação que se estende além dos limites da nossa esfera corporal.

(9) O pensamento é um dos atributos do Espírito; a possibilidade de agir sobre a matéria, de impressionar nossos sentidos e, por conseguinte, transmitir seu pensamento, resulta, se podemos nos  exprimir  assim, da sua constituição fisiológica: portanto, não  há  nesse  fato  nada   de sobrenatural, nada de  maravilhoso. (Allan Kardec in O Livro dos Médiuns, PRIMEIRA PARTE - CAPÍTULO II - O MARAVILHOSO E O SOBRENATURAL)

Allan Kardec in nota à resposta dada pelos Espíritos à questão 71 de O Livro dos Espíritos observa que: “A inteligência é uma faculdade especial, própria de certas classes de seres orgânicos e que lhes dá, com o pensamento, a vontade de agir, a consciência de sua existência e de sua individualidade, assim como os meios de estabelecer intercâmbio com o mundo exterior e de prover às suas necessidades.”

(10) Sobre as sensações e percepções do espírito Kardec in Revista Espírita - janeiro 1866 (A JOVEM CATALÉPTICA DE SOUABE), diz que: “Da visão à distância, que resulta no transporte da alma ao lugar que ela descreve; da lucidez sonambúlica, etc.”

(11) ...para o Espírito, a matéria não oferece obstáculos, pois ele a atravessa livremente. (LE – 429)

(12) Para responder, ao mesmo tempo, às perguntas que lhe são dirigidas, o Espírito se divide ou tem o dom da ubiqüidade
R - O Sol é um só e, no entanto, irradia ao seu derredor, levando longe seus raios,sem se dividir. Do mesmo modo, os Espíritos. O pensamento do Espírito é como uma centelha que projeta longe a sua claridade e pode ser vista de todos os pontos do horizonte. Quanto mais puro é o Espírito tanto mais o seu pensamento se irradia e se estende, como a luz. Os Espíritos inferiores são muito materiais; não podem responder senão a uma única pessoa de cada vez, nem vir a um lugar, se são chamados em outro. 

Um Espírito superior, chamado ao mesmo tempo em pontos diferentes, responderá a ambas as evocações, se forem ambas sérias e fervorosas. No caso contrário, dá preferência à mais séria. (O LIVRO DOS MÉDIUNS – 62ª. ed. – Allan Kardec (GUIA DOS MÉDIUNS E DOS EVOCADORES) (Paris - 1861), 2ª parte, item 282, questão 30)

* * *

(--) Para ler mais sobre este item, acione os < link’s > abaixo indicados:


INCONVENIENTES E PERIGOS DA MEDIUNIDADE


INCONVENIENTES E PERIGOS DA MEDIUNIDADE.
Estudo com base in O Livro dos Médiuns,
segunda parte, Capítulo XVIII (Allan Kardec).
Pesquisa: Elio Mollo e Claudia C


INFLUÊNCIA DO EXERCÍCIO DA MEDIUNIDADE SOBRE A SAÚDE,
SOBRE O CÉREBRO E SOBRE AS CRIANÇAS

A faculdade mediúnica é algumas vezes indício de um estado anormal, mas não patológico, pois há médiuns de saúde vigorosa. Se há doentes o são por outros motivos e não por causa da faculdade mediúnica. A doença é proveniente de uma imperfeição da matéria.

O exercício muito prolongado da faculdade mediúnica pode causar fadiga, aliás, o exercício de qualquer trabalho mais prolongado do que o normal produz fadiga e, com a mediunidade acorre o mesmo, principalmente com a de efeitos físicos. Esta ocasiona um dispêndio de fluidos que leva o médium à fadiga, mas que pode ser reparado pelo repouso.

A parapsicologia através de pesquisas e estudos concluiu que os diversos fenômenos paranormais não são patológicos, mas eles são os resultados de uma faculdade comum e natural do homem. A mesma concluiu também que a fadiga experimentada diz respeito aos órgãos do corpo do médium e não ao seu espírito, motivo pelo qual pode ser reparado pelo repouso.

O exercício da mediunidade pode ter alguns riscos quanto às condições de saúde, excluindo-se os casos de abuso, demonstrando que há casos em que é prudente e mesmo necessário abster-se ou pelo menos moderar o seu exercício. Estes riscos dependem do estado físico e moral do médium, que geralmente o percebe, desta forma quando ele começa a sentir-se fatigado, deve abster-se do uso da mediunidade.

É sempre bom repetir esta idéia para que fique claro, se existir algum risco à saúde do médium ele será dependente do estado físico e moral do médium. Há pessoas que devem evitar qualquer causa de superexcitação, e a prática mediúnica seria uma delas. Sendo assim, os médiuns de pouco vigor e demasiadamente sensíveis devem abster-se de comunicações com Espíritos de ações rápidas ou violentas, cuja sensação será desagradável, por causa da fadiga resultante.

A mediunidade não produz a loucura, mais do que qualquer outra coisa, quando a fraqueza do cérebro não oferecer predisposição para isso, ou seja, se esta já não existir em germe. Mas se o seu princípio já existe, o que facilmente se conhece pelas condições psíquicas e mentais da pessoa, o bom senso nos diz que devemos ter todos os cuidados necessários, pois nesse caso qualquer abalo será prejudicial.

Podemos fazer uma analogia para melhor compreender esta questão, atualmente alguns jogadores de futebol tem morrido em decorrência de morte súbita no meio de partidas ou treinos. Baseado nisto seria um equívoco afirmar que o futebol pode causar risco à saúde das pessoas, porém podemos dizer que se uma pessoa possui seu organismo debilitado e apresenta, por exemplo, problemas ou uma pré disposição a problemas cardíacos, a prática esportiva feita sem controle e responsabilidade pode ocasionar um risco à saúde desta pessoa.

As idéias espíritas não têm, a respeito da loucura, maior influência que as ciências, as artes, e a própria religião donde fornecem seus contingentes. A loucura tem por princípio um estado patológico do cérebro, instrumento do pensamento: estando o instrumento danificado, o pensamento é alterado. A loucura, pois, é um efeito consecutivo, cuja causa primeira é uma predisposição orgânica que torna o cérebro mais, ou menos, acessível a certas impressões; isso é tão verdadeiro que existem pessoas que pensam demais e não se tornam loucas, enquanto que outras se tornam sob o domínio da menor superexcitação. Havendo uma predisposição à loucura, esta toma o caráter da preocupação principal, que se torna, então, uma idéia fixa. Essa idéia fixa poderá ser a dos Espíritos, naqueles que deles se ocupam como poderá ser a de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma arte, de uma ciência, da maternidade, de um sistema político ou social. É provável que o louco religioso se tornasse um louco espírita se o Espiritismo tivesse sido sua preocupação dominante. O Espiritismo não tem nenhum privilégio a esse respeito, e podemos dizer com segurança, que bem compreendido é e será sempre um preservativo contra a loucura e o suicídio. (1 e 5)

É de bom-senso evitar desenvolver a mediunidade das crianças. Porque seus organismos são frágeis e delicados e seriam muito abalados e sua imaginação infantil superexcitada. Assim, os pais prudentes as afastarão naturalmente dessas idéias, ou pelo menos só lhes falarão a respeito no tocante às conseqüências morais (2). Contudo, quando a faculdade se manifesta espontânea numa criança, é que pertence à sua própria natureza e que a sua constituição é adequada. Não se dá o mesmo quando a mediunidade é provocada e excitada. Observe-se que a criança que tem visões geralmente pouco se impressiona com isso. As visões lhe parecem muito naturais, de maneira que ela lhes dá pouca atenção e quase sempre as esquece. Mais tarde a lembrança lhe volta à memória e será facilmente explicada, se ela aprender a conhecer o Espiritismo.

Não há limite preciso na idade para a prática mediúnica, isso depende inteiramente do desenvolvimento físico e mais particularmente do desenvolvimento psíquico (3). Há crianças de doze anos que seriam menos impressionadas que algumas pessoas já formadas. Refiro-me à mediunidade em geral, pois a de efeitos físicos é mais fatigante para o corpo. Quanto à escrita há outro inconveniente, que é a falta de experiência da criança, no caso de querer praticá-la sozinha ou fazer dela um brinquedo.

A prática do Espiritismo requer muito tato para se desfazer o embuste dos Espíritos mistificadores. Se homens experientes são por eles enganados, a infância e a juventude estão ainda mais expostas a isso, por sua inexperiência. Sabe-se também que o recolhimento é condição essencial para se tratar com Espíritos sérios. As evocações feitas levianamente ou por divertimento constituem verdadeiramente uma falta de respeito, e abre as portas para os Espíritos zombeteiros ou malfazejos. Como não se pode esperar de uma criança a gravidade necessária a um ato semelhante, seria de temer que, entregue a si mesma, ela o transformasse num brinquedo. Mesmo nas condições mais favoráveis, é de se desejar que uma criança dotada de mediunidade só a exerça sob a vigilância de pessoas experimentadas, que lhe ensinarão, por exemplo, o respeito devido às almas dos que se foram deste mundo.

Vê-se, pois, que o problema da idade está subordinado tanto às condições do desenvolvimento físico, quanto às do caráter ou amadurecimento moral (4). Entretanto, o que ressalta claramente do que foi dito acima é que não se deve forçar o desenvolvimento da faculdade mediúnica nas crianças, quando ela não se desenvolver de maneira espontânea, e que em todos os casos é necessário empregá-la somente com grande circunspecção, não se devendo jamais provocá-la ou encorajar o seu exercício por pessoas fracas. Devem-se afastar as crianças da prática mediúnica por todos os meios possíveis, principalmente, as que apresentem os menores sinais de excentricidade nas idéias ou de enfraquecimento das faculdades mentais, porque evidentemente elas ficarão predispostas a alguma perturbação psíquica, motivada por qualquer superexcitação além do normal ou de que esse tipo de criança é capaz.

NOTAS:
(1) Allan Kardec, O Que é o Espiritismo?, Segundo Diálogo – O Cético, Loucura, Suicídio, Obsessão. Sugerimos ver, também, a Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita in O Livro dos Espíritos.

(2) Este é um problema de psicologia infantil, que serve para mais uma vez comprovar a natureza e a atitude científica do Espiritismo no trato dos problemas psíquicos. Há crianças que revelam precocemente suas faculdades mediúnicas, mas seria errôneo querer desenvolvê-las de maneira sistemática. O que se deve dar às crianças em geral é o ensino oral do Espiritismo, preparando-as para uma vida bem orientada pelo conhecimento doutrinário, sem qualquer excitação prematura das faculdades psíquicas, que se desenvolverão no tempo devido. Nos casos tratados no item 7 temos o desenvolvimento espontâneo, que é diferente. (Nota de J. Herculano Pires)

(3) Nas traduções em geral repetem a expressão francesa développement moral, mas a palavra moral não tem entre nós a mesma amplitude de sentido do francês. Não se trata de desenvolvimento moral, segundo geralmente entendemos a expressão, mas do desenvolvimento psíquico da criança, como o próprio texto o indica. (Nota de J. Herculano Pires)

(4) O texto francês se refere a circonstances lant riu tempérament que du caractere, expressões que têm sido traduzidas literalmente, mas que não possuem em português o mesmo sentido. (Nota de J. Herculano Pires)

(5) Há livros inteiros, de médicos eminentes, atribuindo ao Espiritismo a causa da maioria dos casos de loucura. Kardec, entretanto, já havia advertido, desde a publicação de O Livro dos Espíritos, em 1857, que a causa real não está nas idéias ou nas crenças da pessoa, mas na sua condição mental ou cerebral. O seu conselho de precauções na prática da mediunidade serviu, embora a contra-senso, para fundamentar as acusações contra o Espiritismo. Hoje, felizmente, nos meios científicos atualizados, chegou-se à compreensão da verdade ensinada por Kardec. As pesquisas parapsicológicas, por sua vez, vêm confirmando a tese kardeciana. Só o fanatismo ou a ignorância podem justificar hoje a repetição dessas acusações absurdas. (Nota de J. Herculano Pires)

* * *

quarta-feira, 4 de julho de 2012

PRINCÍPIOS BÁSICOS DO ESPIRITISMO


PRINCÍPIOS BÁSICOS DO ESPIRITISMO
Estudo com base nas obras codificadas por Allan Kardec
Pesquisa: Elio Mollo
(Atualizado em 25/05/2014)


EXISTÊNCIA DE Deus, Inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. (eterno, imutável, imaterial, único.) (1)

Existência E IMORTALIDADE DA ALMA. (O espírito ou alma é, a bem dizer, o princípio inteligente, imperceptível e indefinido como o pensamento. Pelo pensamento representa-se um Espírito, mas não se representa uma alma (ou espírito elementar fazendo abstração do perispírito).) (Ser simples e imortal) (2) O Espiritismo é a prova patente da existência da alma, da sua individualidade depois da morte, da sua imortalidade e do seu futuro. (3)

Existência dos Espíritos (seres inteligentes da Criação que povoam o Universo, além do mundo material). (Elementos compostos de alma + perispírito) (4)

Existência do perispírito. (laço que faz a ligação do Espírito à matéria do corpo físico, que o tira do meio ambiente, do fluido universal. Contém ao mesmo tempo da eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. O perispírito é uma condensação do fluido cósmico universal em torno de um foco de inteligência, ou Alma. Considerado a quintessência da matéria.) (5)

Reencarnação OU pluralidade das existências. (Volta dos Espíritos à vida corporal. A reencarnação pode dar-se imediatamente depois da morte, ou após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual o Espírito permanece errante. Pode dar-se nesta Terra ou em outras esferas, mas sempre em um corpo humano, e nunca no de um animal. A reencarnação é progressiva ou estacionária; nunca retrograda. Provas sucessivas que o Espírito deve sofrer, e dos diversos graus que deve percorrer para chegar à perfeição e à suprema felicidade.) (6)

Pluralidade dos mundos habitados. (Deus povoou os mundos de seres vivos, e todos concorrem para o objetivo final da Providência.) (7)

Progressão dos Espíritos (os espíritos melhorando-se a cada existência, passam de uma ordem inferior para uma superior.) (8)

Comunicabilidade entre o mundo físico e espiritual e vice-versa.
((evocações e comunicações espontâneas dos Espíritos) os seres inteligentes, que de alguma maneira vivem entre nós (os encarnados), embora naturalmente invisíveis, demonstram a sua presença por algum meio (diversos tipos de mediunidade)). (9)

LEI DE CAUSA E EFEITO. O Espiritismo ensina que o cultivo do amor ao próximo eleva os seres na natureza espiritual e que o egoísmo e o orgulho exacerbados os mantém presos as coisas da materialidade gerando toda espécie de vícios, Ensina, também, que não há faltas irremissíveis, que não possam ser apagadas pela expiação. Assim, o espírito encontra o meio necessário nas diferentes existências, que lhe permitem avançar, segundo o seu desejo e os seus esforços, na via do progresso, em direção à perfeição que é o seu objetivo principal. (10)

ESQUECIMENTO DO PASSADO. Pelo esquecimento do passado o Espírito encarnado se mostra tal qual ele é. A cada nova existência o Espírito tem mais inteligência e pode melhor distinguir o bem e o mal. Quando o Espírito entra na sua vida de origem (o mundo espírita), toda a sua vida passada se desenrola diante dele; vê as faltas cometidas e que são causa do seu sofrimento, bem como aquilo que poderia tê-lo impedido de cometê-las; compreende a justiça da posição que lhe é dada e procura então a existência necessária para reparar a que acaba de escoar-se. Procura provas semelhantes àquelas por que passou, ou as lutas que acredita apropriadas ao seu adiantamento. Contudo, o Espírito encarnado, se não tem, durante a vida corpórea, uma lembrança precisa daquilo que foi, e do que fez de bem ou de mal em suas existências anteriores, tem, entretanto, a sua intuição. Suas tendências instintivas são uma reminiscência do seu passado, às quais a sua consciência, que representa o desejo por ele concebido de não mais cometer as mesmas faltas. A consciência que é onde está escrita a lei de Deus, o adverte que deve resistir para não cometer as mesmas faltas do passado. Isto se dá segundo o grau de perfeição a que tenha chegado e conforme a sua capacidade de conservar a lembrança intuitiva. (11)

CARIDADE. O verdadeiro sentido da palavra caridade é benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas. O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: "Amai-vos uns aos outros, como irmãos". A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes, quer se trate de nossos inferiores, iguais ou superiores.

O Espírito, qualquer que seja o seu grau de adiantamento, sua situação como reencarnado ou na erraticidade, está sempre colocado entre um superior que o guia e aperfeiçoa e um inferior perante o qual tem deveres iguais a cumprir, sendo assim, o homem verdadeiramente bom procura elevar o inferior aos seus próprios olhos, diminuindo a distância entre ambos.

A ação dos seres é necessária à marcha do Universo, desta forma, Deus, na sua sabedoria, quis que eles tivessem, nessa mesma ação, um meio de progredir e de se aproximarem d'Ele. É assim que, por uma lei admirável da sua providência, tudo se encadeia, tudo se solidáriza na Natureza.

É preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer.  (12)

NOTAS:
(1) Allan Kardec - O Livro dos Espíritos, Livro 1, caps. I à III, qq. de 1 à 13.
(2) __________  - O Livro dos Espíritos, Livro 1, cap. II, q 23 e O que é o Espiritismo - Cap. II, itens 9, 10 e 14.
(3) __________  - O que é o Espiritismo - Cap.I, Diálogo com o cético, Utilidade Prática das Manifestações.
(4) __________  - O Livro dos Espíritos, Livro 2, cap. I, q. 76.
(5) __________  - O Livro dos Espíritos, Livro 2, cap. I, da q. 93 em diante.
(6) __________  - O Livro dos Espíritos, Livro 2, cap. IV, da q. 166 em diante.
(7) __________  - O Livro dos Espíritos, Livro 1, cap. III, da q. 55 em diante.
(8) __________  - O Livro dos Espíritos, Livro 2, cap. I, da q. 114 em diante.
(9) __________  - O Livro dos Espíritos, Livro 2, caps. VIII e IX e O Livro dos Médiuns (completo).
(10)_________  - O Livro dos Espíritos,, Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita (Resumo da Doutrina Espírita)..
(11)_________  - O Livro dos Espíritos, Livro 2, cap. VII, da q. 392 em diante e Livro 3, cap. I, da q. 620 em diante.
(12)_________  - O Livro dos Espíritos, Livros 2 cap. II, nota de Kardec para a q. 132 e 3, cap. I, q. 642 e cap. IX, qs. 886 e 888a..

* * *

DA LEI DE JUSTIÇA, DE AMOR E DE CARIDADE


DA LEI DE JUSTIÇA, DE AMOR E DE CARIDADE.
Estudo com base in O LIVRO DOS ESPÍRITOS
Livro III - Cap. XI, itens de 873 à 892.
obra codificada por Allan Kardec

Pesquisa: Elio Mollo


JUSTIÇA E DIREITOS NATURAIS

O sentimento da justiça está na Natureza de tal modo em a Natureza, que nos revoltamos à simples idéia de uma injustiça. É fora de dúvida que o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá. Deus o pôs no coração do homem. Daí vem que, freqüentemente, em homens simples e incultos nos deparamos com noções mais exatas da justiça do que nos que possuem grande cabedal de saber. (873)

Sendo a justiça uma lei da Natureza, a explicação de que os homens a entendam de modos tão diferentes, considerando uns justo o que a outros parece injusto é porque a esse sentimento se misturam paixões que o alteram, como sucede à maior parte dos outros sentimentos naturais, fazendo que os homens vejam as coisas por um prisma falso. (874).

A definição de justiça é que a justiça consiste em cada um respeitar os direitos dos demais. E o que determina esses direitos são duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens formulado leis apropriadas a seus costumes e caracteres, elas estabeleceram direitos mutáveis com o progresso das luzes. Hoje as nossas leis, aliás imperfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Entretanto, esses direitos antiquados, que agora se nos afiguram monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. Nem sempre, pois, é acorde com a justiça o direito que os homens prescrevem. Demais, este direito regula apenas algumas relações sociais, quando é certo que, na vida particular, há uma imensidade de atos unicamente da alçada do tribunal da consciência." (875)

Posto de parte o direito que a lei humana consagra, a base da justiça, segundo a lei natural: Disse o Cristo: “Queira cada um para os outros o que quereria para si mesmo”. No coração do homem imprimiu Deus a regra da verdadeira justiça, fazendo que cada um deseje ver respeitados os seus direitos. Na incerteza de como deva proceder com o seu semelhante, em dada circunstância, trate o homem de saber como quereria que com ele procedessem, em circunstância idêntica. Guia mais seguro do que a própria consciência não lhe podia Deus haver dado. (876) 

Nota de Allan Kardec: Efetivamente, o critério da verdadeira justiça está em querer cada um para os outros o que para si mesmo quereria e não em querer para si o que quereria para os outros, o que absolutamente não é a mesma coisa. Não sendo natural que haja quem deseje o mal para si, desde que cada um tome por modelo o seu desejo pessoal, é evidente que nunca ninguém desejará para o seu semelhante senão o bem. Em todos os tempos e sob o império de todas as crenças, sempre o homem se esforçou para que prevalecesse o seu direito pessoal. A sublimidade da religião cristã está em que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo.

Da necessidade que o homem tem de viver em sociedade, nascem-lhe obrigações especiais e a primeira de todas é a de respeitar os direitos de seus semelhante. Aquele que respeitar esses direitos procederá sempre com justiça. No nosso mundo, porque a maioria dos homens não pratica a lei de justiça, cada um usa de represálias. Essa a causa da perturbação e da confusão em que vivem as sociedades humanas. A vida social outorga direitos e impões deveres recíprocos. (877)

Podendo o homem enganar-se quanto à extensão do seu direito, o que lhe fará conhecer o limite desse direito com relação a si mesmo é reconhecer ao seu semelhante, em idênticas circunstâncias e reciprocamente. Mas, dirão alguns: se cada um atribuir a si mesmo direitos iguais aos de seu semelhante, que virá a ser da subordinação aos superiores? Não será isso a anarquia de todos os poderes? Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde os de condição mais humilde até os de posição mais elevada. Deus não fez uns de limo mais puro do que o de que se serviu para fazer os outros, e todos, aos Seus olhos, são iguais. Esses direitos são eternos. Os que o homem estabeleceu perecem com as suas instituições. Demais, cada um sente bem a sua força ou a sua fraqueza e saberá sempre ter uma certa deferência para com os que o mereçam por suas virtudes e sabedoria. É importante acentuar isto, para que os que se julgam superiores conheçam seus deveres, a fim de merecer essas deferências. A subordinação não se achará comprometida, quando a autoridade for deferida à sabedoria. (878)

O caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza seria a do verdadeiro justo, a exemplo de Jesus, porquanto praticaria também o amor do próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça. (879) 

DIREITO DE PROPRIEDADE. ROUBO.

O primeiro de todos os direitos naturais do homem é o de viver. Por isso é que ninguém tem o de atentar contra a vida de seu semelhante, nem de fazer o que quer que possa comprometer-lhe a existência corporal. (880)

O direito de viver dá ao homem o de acumular bens que lhe permitam repousar quando não mais possa trabalhar, mas ele deve fazê-lo em família, como a abelha, por meio de um trabalho honesto, e não como egoísta. Há mesmo animais que lhe dão o exemplo de previdência. (881)

Tem o homem o direito de defender os bens que haja conseguido juntar pelo seu trabalho desde que siga estas instruções: Dos mandamentos ditados a Moisés por Deus: “Não roubarás.” E de Jesus: “Dai a César o que é de César.” (882)

Nota de Allan Kardec: O que, por meio do trabalho honesto, o homem junta constitui legítima propriedade sua, que ele tem o direito de defender, porque a propriedade que resulta do trabalho é um direito natural, tão sagrado quando o de trabalhar e de viver.

É natural o desejo de possuir, mas quando o homem deseja possuir para si somente e para sua satisfação pessoal, o que há é egoísmo. Há homens insaciáveis, que acumulam bens sem utilidade para ninguém, ou apenas para saciar suas paixões. Julgas que Deus vê isso com bons olhos? Aquele que, ao contrário, junta pelo trabalho, tendo em vista socorrer os seus semelhantes, pratica a lei de amor e caridade, e Deus abençoa o seu trabalho. (883)

O caráter da legítima propriedade é unicamente a que foi adquirida sem prejuízo de outrem. (884)

808. A desigualdade das riquezas não se originará da das faculdades, em virtude da qual uns dispõem de mais meios de adquirir bens do que outros?
"Sim e não. Da velhacaria e do roubo, que dizeis?"

808 a. Mas, a riqueza herdada, essa não é fruto de paixões más.
"Que sabes a esse respeito? Busca a fonte de tal riqueza e verás que nem sempre é pura. Sabes, porventura, se não se originou de uma espoliação ou de uma injustiça? Mesmo, porém, sem falar da origem, que pode ser má, acreditas que a cobiça da riqueza, ainda quando bem adquirida, os desejos secretos de possuí-la o mais depressa possível, sejam sentimentos louváveis? Isso o que Deus julga e eu te asseguro que o Seu juízo é mais severo que o dos homens." 

Nota de Allan Kardec: Proibindo-nos que façamos aos outros o que não desejáramos que nos fizessem, a lei de amor e de justiça nos proíbe, ipso facto, a aquisição de bens por quaisquer meios que lhe sejam contrários.

Tudo o que legitimamente se adquire constitui uma propriedade. Mas, como havemos dito, a legislação dos homens, porque imperfeita, consagra muitos direitos convencionais, que a lei de justiça reprova. Essa a razão por que eles reformam suas leis, à medida que o progresso se efetua e que melhor compreendem a justiça. O que num século parece perfeito, afigura-se bárbaro no século seguinte. (885)

795. Qual a causa da instabilidade das leis humanas?
"Nas épocas de barbaria, são os mais fortes, que fazem as leis e eles as fizeram para si. À proporção que os homens foram compreendendo melhor a justiça, indispensável se tornou a modificação delas. Quanto mais se aproximam da vera justiça, tanto menos instáveis são as leis humanas, isto é, tanto mais estáveis se vão tornando, conforme vão sendo feitas para todos e se identificam com a lei natural."

CARIDADE E AMOR DO PRÓXIMO

O verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus: Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas. (886) 

Nota de Allan Kardec: O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça. pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos.

 A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores. Ela nos prescreve nós mesmos, e nos proíbe que humilhemos os desafortunados, contrariamente ao que se costuma fazer. Apresente-se uma pessoa rica e todas as atenções e deferências lhe são dispensadas. Se for pobre, toda gente como que entende que não precisa preocupar-se com ela. No entanto mais lastimosa seja a sua posição, tanto maior cuidado devemos pôr em lhe não aumentarmos o infortúnio pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa.

Jesus também disse: Amai mesmo os vossos inimigos. Ora, ninguém pode votar aos seus inimigos um amor terno e apaixonado. Não foi isso o que Jesus entendeu de dizer. Amar os inimigos é perdoar-lhes e lhes retribuir o mal com o bem. O que assim procede se torna superior aos seus inimigos, ao passo que abaixo deles se coloca , se procura tomar vingança. (887)

“Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseia na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa-vontade de alguns.

“A esmola não merece reprovação, o que merece reprovação é a maneira por que habitualmente é dada. O homem de bem, que compreende a caridade de acordo com Jesus, vai ao encontro do desgraçado, sem esperar que este lhe estenda a mão.

"A verdadeira caridade é sempre bondosa e benévola; está tanto no ato, como na maneira por que é praticado. Duplo valor tem um serviço prestado com delicadeza. Se o for com altivez, pode ser que a necessidade obrigue quem o recebe a aceitá-lo, mas o seu coração pouco se comoverá.

"Lembrai-vos também de que, aos olhos de Deus, a ostentação tira o mérito ao benefício. Disse Jesus: "Ignore a vossa mão esquerda o que a direita der." Por essa forma, ele vos ensinou a não tisnardes a caridade com o orgulho.

"Deve-se distinguir a esmola, propriamente dita, da beneficência. Nem sempre o mais necessitado é o que pede. O temor de uma humilhação detém o verdadeiro pobre, que muita vez sofre sem se queixar. A esse é que o homem verdadeiramente humano sabe ir procurar, sem ostentação.

"Amai-vos uns aos outros, eis toda a lei, lei divina, mediante a qual governa Deus os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados. A atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.

"Não esqueçais nunca que o Espírito, qualquer que seja o grau de seu adiantamento, sua situação como encarnado, ou na erraticidade, está sempre colocado entre um superior, que o guia e aperfeiçoa, e um inferior, para com o qual tem que cumprir esses mesmos deveres. Sede, pois, caridosos, praticando, não só a caridade que vos faz dar friamente o óbolo que tirais do bolso ao que vo-lo ousa pedir, mas a que vos leve ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes com os defeitos dos vossos semelhantes. Em vez de votardes desprezo à ignorância e ao vício, instruí os ignorantes e moralizai os viciados. Sede brandos e benevolentes para com tudo o que vos seja inferior. Sede-o para com os seres mais ínfimos da criação e tereis obedecido à lei de Deus."  São Vicente de Paulo (888)

Há homens que se vêem condenados a mendigar por culpa sua, sem dúvida, mas, se uma boa educação moral lhes houvera ensinado a praticar a lei de Deus, poderia lhes ter evitado cair nos excessos causadores da sua perdição. Disso, sobretudo, é que depende a melhoria do nosso planeta. (889)

707. É freqüente a certos indivíduos faltarem os meios de subsistência, ainda quando os cerca a abundância. A que se deve atribuir isso?
"Ao egoísmo dos homens, que nem sempre fazem o que lhes cumpre. Depois e as mais das vezes, devem-no a si mesmos. Buscai e achareis; estas palavras não querem dizer que, para achar o que deseje, basta que o homem olhe para a terra, mas que lhe é preciso procurá-lo, não com indolência, e sim com ardor e perseverança, sem desanimar ante os obstáculos, que muito amiúde são simples meios de que se utiliza a Providência, para lhe experimentar a constância, a paciência e a firmeza." 

534. Será por influência de algum Espírito que, fatalmente, a realização dos nossos projetos parece encontrar obstáculos?
"Algumas vezes é isso efeito da ação dos Espíritos; muito mais vezes, porém, é que andais errados na elaboração e na execução dos vossos projetos. Muito influem nesses casos a posição e o caráter do indivíduo. Se vos obstinais em ir por um caminho que não deveis seguir, os Espíritos nenhuma culpa têm dos vossos insucessos. Vós mesmos vos constituís em vossos maus gênios."

AMOR MATERNO E FILIAL

O amor materno pode ser uma virtude como pode ser um sentimento instintivo, comum aos homens e aos animais. A Natureza deu à mãe o amor a seus filhos no interesse da conservação deles. No animal, porém, esse amor se limita às necessidades materiais; cessa quando desnecessário se tornam os cuidados. No homem, persiste pela vida inteira e comporta um devotamento e uma abnegação que são virtudes. Sobrevive mesmo à morte e acompanha o filho até no além-túmulo. Bem vedes que há nele coisa diversa do que há no amor do animal. (890)

235. Enquanto permanecem nos mundos transitórios, os Espíritos progridem?
"Certamente. Os que vão a tais mundos levam o objetivo de se instruírem e de poderem mais facilmente obter permissão para passar a outros lugares melhores e chegar à perfeição que os eleitos atingem."

385. Que é o que motiva a mudança que se opera no caráter do indivíduo em certa idade, especialmente ao sair da adolescência? É que o Espírito se modifica?
"É que o Espírito retoma a natureza que lhe é própria e se mostra qual era.

"Não conheceis o que a inocência das crianças oculta. Não sabeis o que elas são, nem o que foram, nem o que serão. Contudo, afeição lhes tendes, as acaricias, como se fossem parcelas de vós mesmos, a tal ponto que se considera o amor que uma mãe consagra a seus filhos como o maior amor que um ser possa votar a outro. Donde nasce o meigo afeto, a terna benevolência que mesmo os estranhos sentem por uma criança? Sabeis? Não. Pois bem! Vou explicá-lo."

"As crianças são os seres que Deus manda a novas existências. Para que não lhe possam imputar excessiva severidade, dá-lhes Ele todos os aspectos da inocência. Ainda quando se trata de uma criança de maus pendores, cobrem-se-lhe as más ações com a capa da inconsciência. Essa inocência não constitui superioridade real com relação ao que eram antes, não. É a imagem do que deveriam ser e, se não o são, o conseqüente castigo exclusivamente sobre elas recai.

"Não foi, todavia, por elas somente que Deus lhes deu esse aspecto de inocência; foi também e sobretudo por seus pais, de cujo amor necessita a fraqueza que as caracteriza. Ora, esse amor se enfraqueceria grandemente à vista de um caráter áspero e intratável, ao passo que, julgando seus filhos bons e dóceis, os pais lhes dedicam toda a afeição e os cercam dos mais minuciosos cuidados. Desde que, porém, os filhos não mais precisam da proteção e assistência que lhes foram dispensadas durante quinze ou vinte anos, surge-lhes o caráter real e individual em toda a nudez. Conservam-se bons, se eram fundamentalmente bons; mas, sempre irisados de matizes que a primeira infância manteve ocultos.

"Como vedes, os processos de Deus são sempre os melhores e, quando se tem o coração puro, facilmente se lhes apreende a explicação.

"Com efeito, ponderai que nos vossos lares possivelmente nascem crianças cujos Espíritos vêm de mundos onde contraíram hábitos diferentes dos vossos e dizei-me como poderiam estar no vosso meio esses seres, trazendo paixões diversas das que nutris, inclinações, gostos, inteiramente opostos aos vossos; como poderiam enfileirar-se entre vós, senão como Deus o determinou, isto é, passando pelo tamis da infância? Nesta se vêm confundir todas as idéias, todos os caracteres, todas as variedades de seres gerados pela infinidade dos mundos em que medram as criaturas. E vós mesmos, ao morrerdes, vos achareis num estado que é uma espécie de infância, entre novos irmãos. Ao volverdes à existência extraterrena, ignorareis os hábitos, os costumes, as relações que se observam nesse mundo, para vós, novo. Manejareis com dificuldade uma linguagem que não estais acostumado a falar, linguagem mais vivaz do que o é agora o vosso pensamento. (319) 

319. Já tendo o Espírito vivido a vida espírita antes da sua encarnação, como se explica o seu espanto ao reingressar no mundo dos Espíritos?
"Isso só se dá no primeiro momento e é efeito da perturbação que se segue ao despertar do Espírito. Mais tarde, ele se vai inteirando da sua condição, à medida que lhe volta a lembrança do passado e que a impressão da vida terrena se lhe apaga." (N°s. 163 e seguintes.)

163 A alma, ao deixar o corpo, tem imediatamente consciência de si mesma?
– Consciência imediata não. Ela passa algum tempo como num estado de perturbação.

164 Todos os Espíritos experimentam, no mesmo grau e com a mesma duração, a perturbação que se segue à separação da alma e do corpo?
– Não, isso depende de sua elevação. Aquele que já está depurado reconhece a sua nova situação quase imediatamente, porque já se libertou da matéria durante a vida do corpo, enquanto o homem carnal, aquele cuja consciência não é pura, conserva durante muito mais tempo as sensações da matéria.

165 O conhecimento do Espiritismo tem alguma influência sobre a duração, mais ou menos longa, dessa perturbação?
– Uma influência muito grande, uma vez que o Espírito já compreendia antecipadamente sua situação. Mas a prática do bem e a consciência pura exercem maior influência.

Nota de Allan Kardec: No momento da morte, tudo é inicialmente confuso; a alma necessita de algum tempo para se reconhecer. Ela fica atordoada, semelhante à situação de uma pessoa que desperta de um profundo sono e procura se dar conta da situação. A lucidez das idéias e a memória do passado voltam à medida que se apaga a influência da matéria da qual acaba de se libertar e à medida que se vai dissipando uma espécie de névoa que obscurece seus pensamentos.

O tempo da perturbação que se segue à morte do corpo é bastante variável. Pode ser de algumas horas, de muitos meses ou até mesmo de muitos anos. É menos longa para aqueles que se identificaram já na vida terrena com seu estado futuro, porque compreendem imediatamente sua posição.

Essa perturbação apresenta circunstâncias particulares de acordo com o caráter dos indivíduos e, principalmente, com o gênero de morte. Nas mortes violentas, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos, etc., o Espírito fica surpreso, espantado e não acredita estar morto. Sustenta essa idéia com insistência e teimosia. Entretanto, vê seu corpo, sabe que é o seu e não compreende que esteja separado dele. Procura aproximar-se de pessoas que estima, fala com elas e não compreende por que não o escutam. Essa ilusão dura até o completo desprendimento do perispírito. Só então o Espírito reconhece o estado em que se encontra e compreende que não faz mais parte do mundo dos vivos. Esse fenômeno se explica facilmente. Surpreendido pela morte, o Espírito fica atordoado com a brusca mudança que se operou nele. A morte é, para ele, sinônimo de destruição, de aniquilamento. Mas, como ainda pensa, vê, escuta, não se considera morto. O que aumenta ainda mais sua ilusão é o fato de se ver num corpo semelhante ao anterior, cuja natureza etérea não teve ainda tempo de estudar. Acredita que seja sólido e compacto como o primeiro; e quando percebe esse detalhe, se espanta por não poder apalpá-lo. Esse fenômeno é semelhante ao que acontece com os sonâmbulos inexperientes que não acreditam dormir, porque, para eles, o sono é sinônimo de suspensão das atividades, e, como podem pensar livremente e ver, julgam não estar dormindo. Alguns Espíritos apresentam essa particularidade, embora a morte não tenha acontecido inesperadamente. Porém, é sempre mais generalizada naqueles que, apesar de estar doentes, não pensavam em morrer. Vê-se, então, o singular espetáculo de um Espírito assistir ao seu enterro como sendo o de um estranho e falando sobre o assunto como se não lhe dissesse respeito, até o momento em que compreende a verdade.

A perturbação que se segue à morte nada tem de pesaroso para o homem de bem! É calma e muito semelhante à de um despertar tranqüilo. Para aquele cuja consciência não é pura, a perturbação é cheia de ansiedade e angústias que aumentam à medida que reconhece a situação em que se encontra.

Nos casos de morte coletiva, tem-se observado que os que perecem ao mesmo tempo nem sempre se revêem imediatamente. Na perturbação que se segue à morte, cada um vai para seu lado, ou apenas se preocupa com aqueles que lhe interessam.

Crisálida: estado intermediário entre lagarta e borboleta. No contexto, significa a transformação, o vir a ser (N. E.).

Apoplexia: lesão cerebral aguda; derrame cerebral (N. E.).

"A infância ainda tem outra utilidade. Os Espíritos só entram na vida corporal para se aperfeiçoarem, para se melhorarem. A delicadeza da idade infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão de dar contas.

"Assim, portanto, a infância é não só útil, necessária, indispensável, mas também conseqüência natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo." (385)

Mesmo estando na Natureza o amor materno, ainda há mães que odeiam os filhos e, não raro, desde a infância destes. Isto acontece porque às vezes, é uma prova que o Espírito do filho escolheu, ou uma expiação, se aconteceu ter sido mau pai, ou mãe perversa, ou mau filho, noutra existência (392). Em todos os casos, a mãe má não pode deixar de ser animada por um mau Espírito que procura criar embaraços ao filho, a fim de que sucumba na prova que buscou. Mas, essa violação das leis da Natureza não ficará impune e o Espírito do filho será recompensado pelos obstáculos de que haja triunfado. (891)

392. Por que perde o Espírito encarnado a lembrança do seu passado?
"Não pode o homem, nem deve, saber tudo. Deus assim o quer em Sua sabedoria. Sem o véu que lhe oculta certas coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transição, saísse do escuro para o claro. Esquecido de seu passado ele é mais senhor de si.”

Quando os filhos causam desgostos aos pais, não têm estes desculpa para o fato de lhes dispensarem a ternura de que os fariam objeto, em caso contrário, porque isso representa um encargo que lhes é confiado e a missão deles consiste em se esforçarem por encaminhar os filhos para o bem (582-583). Demais, esses desgostos são, amiúde, a conseqüência do mau feitio que os pais deixaram que seus filhos tomassem desde o berço. Colhem o que semearam. (892)

582. Pode-se considerar como missão a paternidade?
"É, sem contestação possível, uma verdadeira missão. É ao mesmo tempo grandíssimo dever e que envolve, mais do que o pensa o homem, a sua responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam pela senda do bem, e lhes facilitou a tarefa dando àquele uma organização débil e delicada, que o torna propício a todas as impressões. Muitos há, no entanto, que mais cuidam de aprumar as árvores do seu jardim e de fazê-las dar bons frutos em abundância, do que de formar o caráter de seu filho. Se este vier a sucumbir por culpa deles, suportarão os desgostos resultantes dessa queda e partilharão dos sofrimentos do filho na vida futura, por não terem feito o que lhes estava ao alcance para que ele avançasse na estrada do bem."

583. São responsáveis os pais pelo transviamento de um filho que envereda pelo caminho do mal, apesar dos cuidados que lhe dispensaram?
"Não; porém, quanto piores forem as propensões do filho, tanto mais pesada é a tarefa e tanto maior o mérito dos pais, se conseguirem desviá-lo do mau caminho."

583 a. Se um filho se torna homem de bem, não obstante a negligência ou os maus exemplos de seus pais, tiram estes daí algum proveito?
Deus é justo."

* * *